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sábado, 29 de janeiro de 2011

Florações Evangélicas-Divaldo Pereira Franco

FLORAÇÕES EVANGÉLICAS

DIVALDO PEREIRA FRANCO

DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS


FLORAÇÕES EVANGÉLICAS

Nestes dias tumultuosos, quando o homem so­fre o impacto de várias vicissitudes e os conceitos tradicionais experimentam severa crítica, dando sur­gimento à nova ética, é mister que se faça uma pausa nas atividades complexas quão apressadas no dia-a-dia, para indispensáveis reflexões.

A rebeldia e a violência que irrompem em todos os campos como de todos os lados, parecem amea­çar as estruturas antiquadas, malgrado asseve­rando a necessidade de mudanças radicais, não apresentem qualquer programa merecedor de consi­deração, que valha a pena respeitar, pelo menos inicialmente.

Dizem, porém, os partidários da chamada “re­volução das idéias novas” que o essencial é tudo mudar de imediato, renovando as fórmulas, por es­tarem erradas as soluções vigentes.

O futuro, afir­mam algo incoerentes, dirá, posteriormente, o que se deverá fazer. Este seria o momento de modificar, de destruir os ídolos da ficção e da mentira, con­vocando o homem, desde a mais jovem idade à rea­lidade, aos valôres legítimos da vida, conquanto não deixem de ser transitórios.

Indubitavelmente, muita coisa merece, deve ser transformada e o será a seu tempo.

Em qualquer época de renovação social — como só acontecer a êste período histórico, já previsto há um século pelo Codificador do Espiritismo (*) — a queda das Instituições ultramontanas, dos podê­res arbitrários, superados pelas próprias finalidades e realizações, sempre mereceu destaque no pro­grama dos paladinos encarregados das demolições para as conseqüentes reedificações a benefício da nova sociedade, em outras bases favoráveis ao homem e à comunidade.

Ocorre, porém, que os remanescentes dos idea­listas de todos os tempos se deixaram hoje fascinar pelas aberrações de variada expressão, elegendo mini-conceitos e mini-valôres, sem dúvida, que a êles próprios, sequer, não conseguem convencer.

São divulgadas com entusiasmo as conquistas intelectuais, e nos laboratórios os modernos investi­gadores sonham com uma genética a seu bel-prazer, que lhes sofra incursões da mais ampla aventura como da fantasia, e, estimulados pelos resultados a que chegaram as Ciências modernas, eliminam a ética que deve vigir no âmago de tôdas as reali­zações, apresentando-se, êles mesmos, atormentados, sediciosos, inquietos...

Substituindo as expressões da cultura, cunham-se vocábulos que traduzam as aspirações e usos da atualidade: “onda”, “embalo”, “curtição”, “fossa”, “ca­fonice”, partindo-se de imediato para as questões palpitantes que descem a vulgaridades inconseqüen­tes, tais como o “adultério”, o “homossexualismo”,

(*) «O Espiritismo não cria a renovação social: a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas Vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por isso é ele contem­porâneo desse movimento». «A Génese», de Allan Kardec, 14ª Edição da FEB — Capítulo 18º — Item 25. - Nota da Autora espiritual.

o “divórcio”, a “inseminação”, o “bebê-de-proveta», o “abôrto”, a “prostituição”, a “toxicomania” como que estimula mais a alucinação que domina em quase todos os departamentos humanos da Terra, na atualidade.

O homem, assim, conquista o Sistema Solar em que se encontra localizado o domicílio terrestre, mas perde a paz.

Descobre o mecanismo da vida e malbarata a existência.

Realiza Incursões vitoriosas nas partículas cons­titutivas do átomo, porém desagrega-se interiormente.

Sonha com o amor, todavia entorpece-se nas paixões -

Aspira à felicidade, entretanto intoxica-se nos gozos brutalizantes -

Estudos, técnicas, programas para verificação e avaliação do nOvo “status” engendrados por orga­nismos especializados apresentam relatórios, suge­rem fórmulas; apesar disso os resultados redundam inóquos, quando não se revelam simplesmente nu­los...

Faleceram, sim, os valOres morais, substituidos por uma pseudomoralidade e as conquistas inesti­máveis, resultantes dos tempos e dos esforços herói­cos, parecem impotentes para deter as aberrações.

Verdadeiramente, de tOda a mixórdia que de­corre dêstes dias de transição, surgirão os nobres valores da evolução inadiável, cujo investimento su­perior a Divina Misericórdia desde há muito vem aplicando através do Senhor da Vida, mui sàbia­mente.

Tarefa inapreciável está reservada ao Espiri­tismo nestes dias em que o progresso moral, e somente êle, poderá assegurar a verdadeira felicidade, por dispor dos meios hábeis para suplantar e ven­cer as paixões predominantes ainda em a natureza humana. Ao Espiritismo, sim, porque Cristianismo redivivo que é, através da sua estrutura doutrinária, científica, filosófica, religiosa e moral e das diretri­zes iluminativas de que se constitui, está destinado o dever de contribuir com eficácia para o trabalho de construção da geração porvindoura, conduzindo, em conseqüência, a nova mentalidade e desarticu­lando o materialismo.

Por isso, reverenciando e atualizando os ensina­mentos cristãos, “O Evangelho Segundo o Espiri­tismo”, em estudando as lições morais de Cristo, apresenta-se como a ética legítima para o hoje como para o amanhã da Humanidade, que não é possível subestimar.

Através destas páginas (**) — que nada adicio­nam aos sublimes ensinos de Jesus Cristo nem às nobres lições de Allan Kardec — trazemos a lume mais uma dentre as muitas florações evangélicas, como resultante do carinho do Jardineiro Divino em trabalho contínuo no campo fértil das almas humanas, fazendo que espouquem côres, aromas e belezas evocativos do Reino de Deus, que em fu­turo já presumível e não muito remoto se estabe­lecerá na Terra, ora balizada para a Era Feliz a que todos aspiramos.

Joana de Ãngelis

Salvador, 13 de setembro de 1971.

(**) Oportunamente, à medida que as escrevíamos, diversas das páginas que constituem o presente volume apare­ceram na Imprensa Espírita. Agora, porém, tôdas foram revisadas por nós própria, para melhor entro­samento no conjunto, às quais ora adicionamos os textos que nos inspiraram ao grafá-las, conforme estão insertos em «O Novo Testamento, e em «O Evangelho Segundo o Espiritismo», de Allan Kardec, 52ª Edição da FEB. - Nota da Autora espiritual.


1

SEMEADOR DE LUZ

Esparzem os raios de luz que. espoucam na tua alma, junto ao solo dos corações, enquanto medram soberanas sombras e imprecações.

Malgrado estejam feridas tuas mãos pelo caja­do das lutas quotidianas, não seja isto empecilho para o mister da sementeira. Pelo contrário, per­mite que as gôtas de suor da face cansada e as bagas sanguinolentas, caindo na terra das almas se transformem na umidade generosa que desenvolve o embrião a dormir no casulo do amor latente em todos.

Embora os pés assinalados pela presença dos espinhos e da urze, avança na direção do Infinito, alargando a vereda que se estreita à frente para que os da retaguarda possam avançar também.

Não fales de cansaço nem arroles decepção. Aquêles que entesouram o amor podem desdobrar em milhares as moedas da coragem, para continua­rem ricos de entusiasmo.

Multiplicam os haveres na razão em que os doam e quanto mais distribuem mais possuem, conseguindo o milagre da felicidade onde se encontram.

Passam muitas vêzes combatidos pela indolência de uns e perseguidos pela rebeldia de outros, mas não se detêm.

Utilizando o tempo com propriedade, por re­conhecerem que a hora da semeação passa breve e é necessário aproveitar o momento azado, não se rebelam, nem recalcitram, insistindo e perseverando com otimismo.

Semeador da luz: não temas a treva nem a discórdia, a precipitação ou a preguiça.

Muitos se dizem cansados no campo; outros se afirmam desiludidos; vários desejam renovar emo­ções caracterizando-se por inusitada saturação; al­guns simplesmente desertaram, e onde medravam as primeiras plântulas a erva daninha triunfa e a desolação governa... Prossegue tu, porém, insisten­temente, mesmo que te suponhas abandonado, a sós

* * *

Há aquêles que semeiam animosidades e depa­ram idiossincrasias.

Abundam os que espalham a ira e defrontam resíduos de ódios onde chegam.

Na alfândega da vida muitos apresentam dis­farçadas as sementes da maledicência e da infâmia esperando liberação.

O imposto da impertinência, porém, cobra taxas pesadas àqueles que se fazem fiscais em nome da impiedade.

Por isso, na gleba imensa dos homens surgem e ressurgem tantos afligentes e afligidos disputando espaço na ribalta da ilusão fisiológica. Passam dis­farçados, enganadores ou enganados, na busca do desencanto. São, também, semeadores do desconcêr­to que defrontarão adiante...

Mesmo os cardos se enflorescem, algumas vê­zes, e as pedras refulgem quando lapidadas.

Semeia, pois, a luz da esperança, ainda e sem­pre, desde que se te depare oportunidade feliz.

* * *

Um dia, um Homem Sublime abandonou por um pouco um jardim de estrêlas para depositar nas criaturas da Terra gemas de refulgente esperança em torno do Seu Reino.

Ímpios e caídos, hipócritas e pecadores, nobres e plebeus, gentes simples e prepotentes receberam Sua dádiva e fizeram que mergulhassem na terra das suas vidas os raios da Sua luz, transformando-se em sóis de bênçãos que, desde então, clareiam os destinos da Terra. E ele mesmo, quando foi desde­nhado numa cruz, fulgurou numa excelente madru­gada, continuando a semear a luz da imortalidade na mente e no coração dos que jaziam na sombra da saudade e do medo.

*

“Pondo-vos a caminho, pregai que está pró­ximo o Reino dos Céus”.

Mateus: capítulo 10º, versículo 7.

*

“As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concêrto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes e que, num hino sagrado, elas se estendam e re­percutam de um extremo a outro do Universo”.

Prefácio, parágrafo 3.


2

PRESENÇA

E Ele veio!

Multissecularmente aguardado como a esperan­ça de Israel, ei-Lo que surge no período em que a História repete as glórias de Péricles e o pensamen­to cultiva as belezas, conquanto a barbaria coman­dasse homens e governos, estabelecendo um marco nOvo para a contagem das Idades em relação ao porvir.

Não que os tempos fOssem diferentes. Herodes, na sua jactância, não passava de subalterno áulico de César, guindado à posição de relêvo graças à im­piedade de que se fazia instrumento. A política de dominação, em tOda parte, estabelecia a exploração do homem pelo homem e a opressão da fôrça em detrimento do direito. A sociedade desvairava e o valor do homem eram as suas posses transitórias. As ambições se avolumavam traçando as diretrizes do poder e estiolavam as mais nobres florações do sen­timento...

As artes e a cultura, porém, desabrochavam nes­ses dias, ensejando maiores ideais na capital do Império que exportava conceitos de paz e beleza não obstante o clangor da guerra e o aríete das arbi­trariedades...

... E Ele veio!

A Sua presença assinalou de paz o período da nova Era. Não a paz externa, lavrada em audaciosos conciliábulos e sustentada pela usurpação do crime: Era uma aragem de ventura que penetrava os Espíritos e os pacificava interiormente, predispondo-os ao amor.

Seu verbo manso e ameno, marchetado da se­veridade que dimana do conhecimento da Vida e da Verdade, modificou a estrutura do pensamento filosófico e social, desde então traçando nova pauta para as criaturas do porvir.

Perseguições e calúnias — miasmas dos peque­nos homens de todos os tempos — não Lhe dimi­nuiram a grandeza do ensino nem a elevação do serviço. E mesmo crucificado não foi vencido...

Submisso pela humildade excelsa nunca apare­ceu alquebrado, curvado ante os contemporâneos.

Erecto esteve na Cruz, donde partiu para a Pátria Verdadeira, ooncitando-nos a segui-Lo.

* * *

Ainda hoje Jesus é a esperança que se tornou realidade.

Israel desejava um Rei arbitrário e vingador.

A Humanidade tentou fazê-Lo dominador e cruel através dos séculos.

Israel aguardava e ainda espera um Enviado implacável no seu ódio de raça e de ambição.

A Humanidade procurou torná-Lo senhor de to­dos, esmagando os insubmissos e rebeldes...

Hoje também ainda é assim.

Jesus, porém, nestes dias de inquietação e de­sassossêgo, é a esperança que domina os espíritos e a paz que penetra os corações.

O homem subjuga o homem, os governos se entrechocam no domínio das armas, a fome amea­ça e dizima milhões de vidas cada ano, as enfermidades espalham pavores, a escassez de amor en­louquece, no entanto, neste clima sócio-moral da atua­lidade, Jesus retorna e convida a outras cogitações.

Canta um nôvo e permanente Natal no burgo das almas da Terra que O esperam.

Estado interior, Jesus é comunhão de alma pa­ra alma a emboscar-se nos homens confiantes.

O Cristo amansa as paixões e suaviza as In­quietações da vida, fixando naqueles que O conhecem os caracteres iniludiveis da Sua presença.

* * *

Sentindo a mensagem dEle no espírito que agora se volta para as coisas elevadas da vida — após o cansaço e o desgôsto das investidas infrutí­feras na vivência da ilusão — não te permitas con­taminar pelos fluídos maléficos dêstes dias turbu­lentos. Movimenta os braços e atua na ação eno­brecedora a benefício dos que sofrem.

E, se ao te reclinares ao leito estiveres assina­lado por alguma dor ou desencantado por qualquer afronta, mergulha o pensamento na mensagem dEle e busca escutá-lo no coração.

Fazendo o necessário silêncio interior, ouvirás a Sua voz em acalanto de ternura e alento, encorajando-te para prosseguir, constatando que em verdade Ele veio e demora-se ao teu lado, esperando, hoje como on­tem, que o mundo moral da Terra modifique o seu clima e haja paz perene entre todos os homens, através dos teus sacrifícios desde agora.

*

Segui-me, e eu farei que vos torneis pescadores de homens”.

Marcos: capítulo 1º, versículo 17.

*

“Mas o papel de Jesus não foi o de um simples legislador moralista, tendo por exclusiva autoridade a sua palavra. Cabia-Lhe dar cumprimento às profecias que Lhe anunciaram o advento; a autoridade Lhe vinha da natureza excepcional do Seu Espí­rito e da Sua missão divina”.

Capítulo 1º — Item 4.


3

CRISTO EM CASA

Contrapondo-se à onda crescente da loucura que irrompe avassaladora de tõda parte, e domina, penetrando os lares e os destroçando, o Evangelho de Jesus, hoje como no passado, abre larga faixa para a esperança, facultando a visão de um futuro promissor onde os desassossegos do coração não terão ensejo de medrar.

A par da lascívia e do moderno comércio do erotismo, que consomem as mais elevadas aspirações humanas na Indústria da devassidão, as se-mentes luminosas da Boa Nova, plantadas na inti­midade do conjunto familiar, desdobram-se em em­briões de amor que enriquecem os espíritos de paz, recuperando os homens portadores das enfermida­des espirituais de longo curso e medicando-os com as dádivas da saúde.

Enquanto campeia a caça desassisada aos estupe­facientes e barbitúricos a os narcóticos e aos exces­sos do sexo em desalinho, a mensagem do Reino de Deus cada semana, na família, representa placebo valioso que consegue recompor das distonias psí­quicas aquêles que jazem anestesiados sob o jugo de forças ultrizes e vingadoras de existências preté­ritas.

Há mais enfermos no mundo do que se supõe que existam. Isto porque, no reduto familiar rara­mente fecundam a conversação edificante, o enten­dimento fraterno, a tolerância geral, o amor de­sinteressado... Vinculados por compromissos vigorosos para a própria evolução, os espíritos reencar­nam-se no mesmo grupo cromossomático, endividados entre si, para o necessário reajustamento, trazendo nos refolhos da memória espiritual as recordações traumáticas e as lembranças nefastas, deixando-se arrastar, invariàvelmente, a complexos processos de obsessão recíproca, graças ao ódio mantido, às ani­mosidades conservadas e nutridas com as altas contribuições da rebeldia e da violência.

Em razão disso, o desrespeito grassa, a revolta se instala, a indiferença insiste e a aversão as­soma...

A família, em tais circunstâncias, se trans­forma em palco de tragédias sucessivas, quando não se faz aduana de traições e desídias...

Estimulando os desajustes que se encontram inatos nos grupos da consangüinidade, a hodierna técnica da comunicação malsã tem conspirado poderosamente contra a paz do lar e a felicidade dos homens.

* * *

Cristo, porém, quando se adentra pelo portal do lar, modifica a paisagem espiritual do recinto.

As cargas de vibrações deletérias, os miasmas da intolerância, os tóxicos nauseantes da ira, as palavras azedas vão rareando, ao suave-doce contá­gio do Seu amor e se modificam as expressões da desarmonia e do desconfôrto, produzindo natural condição de entendimento, de alegria, de refazi­mento.

Cristo no lar significa comunhão da esperança com o amor.

A Sua presença produz sinais evidentes de paz, e aquêles que antes experimentavam repulsa pelo ajuntamento doméstico descobrem sintomas de identificação, necessidade de auxílio mútuo.

Com Jesus em casa acendem-se as claridades para o futuro, a iluminar as sombras que campeiam desde agora.

* * *

Abre o “livro da vida” e medita nos “ditos do Senhor» pelo menos uma vez na semana, entre aquêles que vivem contigo em conúbio familiar. Mergulha a mente nas suas lições, embriaga o espírito na esperança, sorve a água lustral da “fonte viva” generosa e abundante, esquece os painéis tu­multuados que são habituais e marcha na direção da alegria.

Se não consegues a companhia dos que te re­partem a consangüinidade para tal ministério, não desfaleças. Faze-o, assim mesmo.

Se assomam óbices inesperados não descoro­çoes, insistindo, ainda assim.

Se surprêsas infelizes conspiram à hora do teu encontro semanal com Ele, não desesperes e retoma as tentativas, perseverando...

Quando Cristo penetra a alma do discípulo, refá-la, quando visita a família em prece, sustenta-a.

Faze do teu lar um santuário onde se possa aspirar o aroma da felicidade e fruir o néctar da paz.

* * *

Sob o dossel das estrêlas, no passado, o Senhor, enquanto conosco, instaurou nos lares humildes dos discípulos o convívio da prece, da palestra edifi­cante, inaugurando a era da convivência pacífica, da discussão produtiva, do intercâmbio com o Mundo Excelso...

Abrindo-lhe o lar uma vez que seja, em cada sete dias, experimentarás com Ele a inexcedível ventura de aprender a amar para bem servir e crescer para a liberdade que nos alçará além e acima das próprias limitações, integrando-nos na família universal em nome do Amor de Nosso Pai.

*

“Senhor, não sou digno de que entres em minha casa”.

Mateus: capítulo 8º, versículo 8.

*

“Um dia, Deus, em sua inesgotável cari­dade, permitiu que o homem visse a verdade varar as trevas. Esse dia foi o do ad­vento do Cristo. Depois da luz viva, volta­ram as trevas. Após alternativas de verda­de e obscuridade, o mundo novamente se perdia. Então, semelhantemente aos profe­tas do Antigo Testamento, os Espíritos se puseram a falar e a adverti-los, O mundo está abalado em seus fundamentos; reboard o trovão. Sêde firmes!”

Capítulo 1º — Item 10.


4

OBREIROS DA VIDA

Enquanto soam as melodias da esperança, cantando a música do trabalho nos ouvidos da vida, porfia na fidelidade ao dever.

Enquanto a Terra se reverdece e uma primavera brota do caos das dissipações generalizadas, pre­nunciando o largo dia do Senhor, prossegue em atividade.

Enquanto as perspectivas sombrias do desastre e da guerra campeiam, curva-te ante as leis de se­leção que realizam o Ministério Divino, a fim de modificar a estrutura do Orbe na sua inevitável transformação para Mundo Regenerador. E não obstante a ingente tarefa a que és convocado, sê daqueles que adquirem dignidade no culto da rea­llzação nobre produzindo em profundidade e com a perfeição possível.

Armado como te encontras, com os sublimes instrumentos do discernimento e da razão, sobre a estrutura de fatos inamovíveis, sê dos que edifi­cam o santuário da paz universal sôbre os pilotis da renúncia, vencendo as ambições desmedidas e as vaidades Injustificáveis.

Não te importes saber donde vieste, não te con­vém examinar o que és; interessa-te em observar o que produzes e o que deixas de produzir.

Se os teus celeiros de luz se encontram abarro­tados pelos grãos da Misericórdia ou com o feno inútil que os transformou em depósito de treva e de dissensões a responsabilidade é tua.

Se até ontem padronizaste o comportamento pelo equívoco, não te é lícito doravante repetir en­ganos e insistir em engodos. Vives na Terra o ins­tante definitivo da grande batalha e Jesus necessita de alguns estóicos servidores que a Ele se en­treguem totalmente, para o combate final.

* * *

Estão espalhadas em vários pontos do Planeta as fortalezas da esperança onde se resguardam os lidadores do amanhã.

Convém ressaltar que o Senhor nos reuniu a todos, não pelo império caprichoso do acaso, nem pela ingestão mirabolante do descuido, ou pela contingência precária das nossas manifestações gregárias alucinadas, mas por uma pré-determinação de Sua sabedoria, que nos convocou, devedores e credores reunidos, cobradores inveterados e calce­tas para a regularização dos débitos pesados a fim de nos reajustarmos à lei sublime do Amor, longe das subalternidades das paixões. Não permi­tamos, assim, que medrem sentimentos inferiores na nossa gleba de luz, não deixemos que o descuido de uns ou a invigilância de outros nos supreendam no pôsto do nosso combate, transcorridas tantas lutas, assinaladas pelas ações nobres, após tantos anos de perseverança no dever, depois de tantas esperan­ças que fomos obrigados a adiar e tantas ilusões que asfixiamos na realidade da vida.

Não disseminemos os grãos da desídia nem deixemos que a semente nefária da emotividade subalterna desenvolva em nosso lar, em nossa fa­mília ampliada, os gérmens virulentos das manifestações amesquinhantes, capazes de nos enferma­rem o organismo ciclópico da alma, tombando-nos adiante e deixando-nos na retaguarda.

Todos nós, nós todos, somos peças importantes quão valiosas das determinações divinas neste mo­mento azado e estamos sob vigilância rigorosa da fatuidade e da idiossincrasia, sofrendo a pressão das fôrças baixas da animalidade, que pretendem conspirar contra o espírito do Cristo, que vive den­tro de nós, em tôrno de nós, conduzindo-nos a todos.

É necessário não negligenciar atitude, não ce­der ao mal e orar, orar sempre.

Não há porquê recearmos, sejam quais forem as conjunturas, mesmo as aparentemente adversas que nos sitiem, pois não temos sequer um motivo falso para sob êle nos albergarmos justificando a ausência da excelsa misericórdia Divina que nos protege, que nos ampara, aquiescendo nas negocia­tas da usurpação e do êrro, da frivolidade e do conúbio com a insensatez. Não estamos diante de uma gleba cuidada por “meninos espirituais”.

Assim sendo, melhor seria que nos alijássemos espontâneamente do dever, a que nos constituamos pedra de tropêço na Obra do Cristo, neste mo­mento de decisão.

Impõe-se examinar as suas disposições para adquirires maioridade espiritual nas tuas decisões imortalistas, diante das tarefas assumidas com o Senhor, na pauta do teu progresso espiritual, com a visão colocada no futuro dilatado.

* * *

Esforça-te, vencendo o adversário oculto que reside na plataforma do eu enfêrmo, e, combaten­do-o aguerridamnente com as armas superiores do amor e da perseverança, não recalcitres mais, não te permitas a negligência da ociosidade, nem o so­nho utópico do prazer chão que obscurece os pai­néis da alma e entorpece as aspirações para vôos mais altos.

Como as “más palavras, corrompem os costumes”, os pensamentos frívolos intoxicam o espírito.

Um dia, o sublime Espírito do Cristo desceu à Terra para fundar um Reino e atirou os alicerces da sua construção na alma humana dando início à edificação de um País como jamais alguém houvera sonhado - O Reino dEle está em todos nós, pedras angulares que nos tornamos, do edifício da esperança, para a futura humanidade feliz.

Enquanto raia nova aurora para o homem melhor, levanta-te obreiro da Vida para o trabalho sublime do Reino de Deus que já está na Terra e no qual te encontras engajado desde ontem para o breve término, quando o Senhor tomará das tuas e das nossas mãos alçando-nos, pelas asas da prece, à plenitude vitoriosa do espírito vencedor da ma­téria e da morte.

*

“Pois digno é o trabalhador do seu salário”

Lucas: capítulo 10º, versículo 7

*

“Á cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. Não constrói a formiga o edifício de sua república e imperceptíveis animálculos não elevam continentes? Começou a nova cruzada. Apóstolos da paz universal, que não de uma guerra, modernos São Ber­nardos, olhai e marchai para a frente: a lei dos mundos é a do progresso”. Fénelon (Poitiers, 1861.)

Capítulo 1º — Item 10, parágrafo 3.


5

ILUSÕES

Como se demoram no invólucro carnal, em que a ilusão dos sentidos predomina, têm dificuldade de agir com inteireza e crer integralmente, em re­gime de tranqüilidade.

Graças às equívocas atitudes que no consenso social lhes permitem triunfos enganosos, transferem tal comportamento, quase sempre para a fé que es­posam, acreditando-se resguardados nos sentimentos íntimos.

Porque produziram com acêrto nas tarefas en­cetadas onde se encontram assumindo posições con­troversas, ora de leviandade, ora de siso, supõem poder prosseguir com o mesmo procedimento quan­do se adentram nas tarefas espíritas, que os fasci­nam de pronto. E porque se acostumaram à infor­mação de que os Espíritos são invisíveis ou perten­cem ao Imaginoso reino do sobrenatural, tratam-nos como se assim fosse, olvidados de que conquanto invisíveis para alguns homens, estão sempre pre­sentes ao lado de todos, ou apesar de tidos por gênios e encantados pertencem à Criação do Nosso Pai, em incessante marcha evolutiva.

Constituindo o Mundo Espiritual, já estiveram na Terra; são as almas dos homens ora vivendo a existência verdadeira.

Vêem, ouvem, sentem, compreendem e somente têm as diversas faculdades obnubiladas ou entor­pecidas quando narcotizados pelas reminiscências do corpo somático, demorando-se em perturbação.

* * *

Estuda com sinceridade as lições espíritas para libertar-te da ignorância espiritual. Elas te faculta­rão largo tirocínio e invejável campo de liberdade interior, promovendo meios de ação superior que produz paz e harmonia pessoal. Dir-te-ão o que fa­zer, como realizar e porque produzir com eficiência.

Cada Espírito é o que aprendeu, o que realizou, quanto conquistou. Não poderá oferecer recursos que não possui nem liberar-te das dores e provas que a si mesmo não se pode furtar.

Se algum te inspirar ociosidade ou apoiar-te em ilício, não te equivoques: é um ser enganado que prossegue en­ganando. Para poupar-te o desaire mediante a constatação dolorosa neste capítulo, não transfiras para os Espíritos as tuas tarefas, não os sobrecar­regues com as tuas lides. Nem exijas, — pois é sandice, — nem te subordines, — pois representa fascinação.

Mantém-te em respeitável conduta, em ação eno­brecida e êles, os Espíritos bons e simpáticos ao teu esforço, virão em teu auxílio, envolvendo-te em inspiração segura e amparo eficaz.

Rompe com a ilusão e não acredites que te sejam subalternos aos caprichos os Desencarnados, exceto os que são mais infelizes e ignorantes do que tu mesmo.

Evolve e conquista para ser livre.

* * *

Jesus, antes de assomar ao lado das aflições de qualquer porte, junto a encarnados ou desencarna­dos, cultivou a prece e a meditação. E ao fazê-lo sempre se revestiu de respeito e piedade. No Tabor ou em Gadara a Sua nobreza se destacava na pai­sagem emocional dos diálogos inesquecíveis que foram mantidos.

Acende, também, a luz legítima da verdade no coração e, em contato com os Espíritos ou os homens, sê leal sem afetação, franco sem rudeza e nobre sem veleidades. Os Desencarnados te co­nhecem e os homens te conhecerão hoje ou mais tarde, não valendo, pois, o esfôrço de iludir-se ou iludi-los.

*

“Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela.)

Mateus: capítulo 7º, versículo 13.

*

“Pelo simples fato de duvidar da vida fu­tura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao pre­sente. Nenhum bem divisando mais pre­cioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos”.

Capítulo 2º, — Item 5, parágrafo 2.


6

INVESTIMENTOS

Na desenfreada correria da ambição, a que se vê impelido, o homem moderno investe.

Investimento na bôlsa de valôres, perseguindo moedas, acumulando títulos contábeis.

Investimento nas loterias, tentando as raras explosões da “sorte”.

Investimento em negócios mirabolantes, bus­cando resultados de alta compensação.

Investimento nos jogos cambiais, ante as pers­pectivas da oscilação freqüente da moeda-ouro, na balança internacional, para os cometimentos da estroinice.

Investimento em empresas audaciosas, aspiran­do às promoções no campo dos altos negócios do utilitarismo.

Investimento no mercado de capitais, para os grandes jogos financeiros, de modo a alcançar as altas metas do poder terreno.

Investimento da saúde nas competições despor­tivas, disputando primazia.

Investimento da paz, nos complexos mecanis­mos da usura como da desonestidade, por cujos processos supõe e quer vencer...

E não poucos são vencidos em tais investimen­tos, padecendo neuroses angustiantes, aflições ino­mináveis, desgovernos odientos.

* * *

A máquina publicitária, muito bem trabalhada para estimular a ganância dos incautos que sintonizam com os refrões da moda negocista, estimula o comércio hediondo do sexo desgovernado, conspi­rando afrontosamente contra as fontes genésicas, abastardando-as, ante a conivência e aceitação mais ou menos generalizada.

A onda alucinógena, invadindo lares e educan­dários, reduz as aspirações da inteligência e as ex­pressões da emotividade, conduzindo todos às fugas espetaculares da realidade objetiva, facultando ine­vitáveis conúbios obsessivos com desencarnadoS do mesmo teor, em intercâmbio nefário.

A pregação da filosofia cínica encarrega-se de descoroçoar os ideais da beleza, fomentando os campeonatos da insensatez como da desordem, re­duzindo a cultura e a moral à condição de ultrapassadas pelo impositivo da nova ordem em que os valôres apresentados são destituídos de valor real.

* * *

Indubitavelmente o progresso é imperiosa ne­cessidade de crescimento.

Progressos, no entanto, na vertical das conquis­tas superiores e não na horizontalidade das paixões animalizantes e dos agentes dissociativOs da comu­nidade, da família, do indivíduo.

Investe, porém, tu, no espírito imortal.

Sem que abandones o campo de trabalho onde fôste convidado a operar, lembra-te dos tesouros inesgotáveis da vida e aplica algum capital de ho­ras, de valôres monetários, morais, intelectuais e da saúde nos sublimes comércios com a Espiritua­lidade Superior.

Com certeza, no jôgo dos investimentos chega­rá a hora da prestação de contas, e então com­preenderás que os investimentos imediatos ficarão retidos nas aduanas da Terra, enquanto os da vida abundante e somente estes, seguirão contigo por todo o sempre.

*

“Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos”.

Mateus: capítulo 25º, versículo 28.

*

“Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquêle cujos pensa­mentos se Concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera”.

Capítulo 2º, — Item 6, parágrafo 3.


7

PROBLEMAS PESSOAIS

Os teus são problemas iguais aos de tôdas as pessoas. Por mais te creias infeliz, há outros que jazem em grabatos de maiores dores ou que estão encurralados em sombras mais espessas. Mesmo que teimes em ignorar, desfilam ao teu lado na passarela da ilusão os campeões do infortúnio e brilham nas disputas sociais os ases do sofrimento sob cargas de desespero que não suportarias.

Os teus são os problemas do quotidiano, que todos experimentam, mas que se avolumam e agravam por leviandade ou rebeldia da tua parte.

Não desconheces que o renascimento é condição impostergável e que ele é exigido a todos os espí­ritos endividados para benefício dêles mesmos. Ao revés de punição é precioso auxílio que lhes faculta liberação dos pesados débitos contraídos nos dias da ignorância.

Nenhum de nós tem estado isento de ressarcir... Trânsfugas da reta conduta, somos o que merecemos. A exceção única é Jesus, nosso Modelo e Guia. Mesmo assim, Ele enfrentou pro­blemas sõbre problemas até o triunfo na Res­surreição.

* * *

A semente que se beneficia e se desdobra no solo fértil enfrenta o problema da terra que a esmaga.

O rio cantarolante, que esparze linfa preciosa para a manutenção da vida, experimenta o problema do leito em que corre.

A ave, que chilreia e adorna a natureza, padece o problema da subsistência e do agasalho.

A flor, que aromatiza, sofre o problema do in­seto que lhe suga a vitalidade e a fecunda com outro pólen.

A vida em todas as manifestações é uma suces­são de testes e exames a que são submetidos os aprendizes da evolução.

* * *

Poupa os teus amigos à litania improdutiva dos teus problemas. Eles também os têm, conquanto não se queixem aos teus ouvidos.

Medita as lições evangélicas e supera-te, ba­nhando teu espírito no precioso lenitivo da mensagem sublime.

Quando, porém, as tuas dificuldades se fizerem maiores e os teus problemas se tornarem mais dificeis de serem suportados, em atitude de respeito ao teu amigo ou irmão, busca narrá-los com serie­dade, sem as complicações do pieguismo nem as rebeldias da alucinação, ouvindo-lhe, depois, os con­selhos, as sugestões, as boas palavras. Se te con­vierem ou não as diretrizes recebidas toma o ca­minho que melhor te aprouver.

Evita azorragar a bondade dos que te escutam com a imposição do que pensas ou a exigência do que desejas. Não desconsideres o teu interlocutor, gerando debate ou desídia. Teu ouvinte é, também, — não te esqueças, — alguém que luta e sofre sob maior quota de resignação e paciência, digno, por­tanto, de ser amado e acreditado por ti.

Na via dolorosa, ante as mulheres que o cho­ravam, Jesus advertiu: “Filhas de Jerusalém: não choreis por mim, mas chorai por vós mesmas e por vossos filhos... “, caracterizando a necessidade da reflexão e do robustecimento de ânimo de cada um para o invariável compromisso de enfrentar e libe­rar-se de problemas.

*

“No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.

João: capítulo 16º, versículo 33.

*

“O Espiritismo dilata o pensamento e lhe rasga horizontes novos. Em vez dessa visão, acanhada e mesquinha, que o concentra na vida atual, que faz do instante que vi­vemos na Terra único e frágil eixo do porvir eterno, êle, o Espiritismo, mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador”.

Capítulo 2º — Item 7.


8

PRESUNÇÃO

Sutil quão traiçoeiro é miasma de fácil assimi­lação, que produz danos graves nos tecidos deli­cados da alma.

Herança dos vícios pretéritos de que somente a pouco e pouco se liberta, o espírito que empreende a tarefa do aprimoramento não deve poupar esforços contra inimigo vigoroso e disfarçado qual êsse.

Apresenta-se multiface e sabe afivelar másca­ras de hediónda feição, sorrindo nas situações em que se vê descoberto e chorando nos momentos de que se deveria utilizar para a libertação, adquirindo fõrças novas com inusitada selvageria para conti­nuar os desmandos a que se afeiçoa.

Reponta aqui na condição de melindre, em cuja exagerada suscetibilidade encontra campo para ge­neralizar suas argumentações falsas, com graves danos para quem lhe enseja a penetração.

Apresenta-se como ufania exacerbada e apro­pria-se dos requisitos morais daquele que se lhe faz vítima, conquistando láureas à própria incúria.

Alma gêmea do orgulho, é filho especial do egoísmo, inimigo sórdido de tôda construção moral do homem, comprazendo-se em desequilibrar e malsinar.

Discreto, enreda mentes invigilantes, e, soez, ma­quina estranhos raciocínios que distraem os seus cultores.

Imantado à própria natureza animal do homem, investe contra a natureza espiritual sob disfarces inesperados.

Esse revel, atro e torvo inimigo do espírito, éa presunção.

* * *

Se alguém admoesta com carinho, objetivando ajudar, êle instila, malsão, odiosa irritabilidade no ouvinte, inspirando que ali se encontra um mau caráter desejando humilhar o indefeso lidador...

Quando o amigo convida ao serviço com man­suetude o outro amigo, ei-lo a informar que alquile deseja dêste fazer besta de carga. - -

Se o patrão, por impositivo da ordem, observa o servidor descuidado, eis que a sua maléfica pre­sença degenera o alvitre fazendo que o reprochável subalterno se transforme em inimigo silencioso...

Quando o cooperador do serviço de elevação adverte o Irmão de trabalho, por esta ou aquela razão, sua voz brada, na acústica da alma: — “Ele toma esta atitude porque é com você”...

E prossegue arregimentando vítimas que lhe dão guarida às Insinuações infelizes, até o desespero em que se verão a braços mais tarde.

* * *

Abstém-te do convívio da presunção e arrebenta-lhe o cêrco nefando.

Faze honesta fiscalização íntima à luz do Evan­gelho e descobri-la-á.

Na tarefa de muitos, se te isolas; no agrupa­mento fraterno, se te supões desconsiderado; na atividade encetada, se reclamas falta de auxílio; na comunidade, se te tens na conta de humilhado; na realização do bem, se suspeitas de deslealdades siste­màticamente; e se te afirmas desamado, cuidado! —a presunção está corroendo-te por dentro.

Examina Jesus e toma-O como modêlo, situan­do-te no devido lugar, e se prossegues acreditando que necessitas lapidar a alma da incessante faina do bem, com otimismo e perseverança, estarás combatendo êsse verdugo ominoso que tanto po­derás chamar presunção como orgulho, melindre ou suscetibilidade, mas que em resumo é, sem dú­vida, um dos piores Inimigos da tua evolução.

*

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque dêles é o reino dos céus”.

Mateus: capítulo 5º, versículo 3.

*

“O orgulho me perdeu na Terra”.

Capítulo 2º — Item 8.


9

NAS MÃOS DE DEUS

A injustiça experimentada foi semelhante a gu­me afiado que retalhou os tecidos sutis do espírito, deixando escombros nos painéis da esperança onde antes se desenhavam edificações nobilitantes.

O veneno da calúnia logo alcançou o teu co­ração, deu início à ação nefanda da destruição, lobrigando atingir os melhores propósitos que aca­lentavas, produzindo o inenarrável prejuízo da des­moralização em torno dos elevados programas de santificação -

O abandono a que te relegaram pode ser com­parado ao desprezo a que se atirasse uma plântula débil mas cheia de vitalidade, que as intempéries, os insetos e a erva daninha se encarregariam de destruir, tal é a situação em que agora te achas ante as circunstâncias várias que poderiam aniqui­lar-te.

O ciúme ferino produziu o câncer da suspeita conduzindo os sonhos de tua esperança à condição de pesadelo ultriz que agora se converte em enfer­midade demorada, a corroer-te interiormente.

A malquerença acercou-se da porta do teu lar, e de convidada pela negligência da família tornou-se residente e senhora da casa, aliciando a leviandade generalizada à infeliz peleja em que todos se atiram, inimigos gratuitos que se transformaram en­tre si.

Quantas outras experiências anotas, como re­sultado das lutas que vens travando nas províncias do mundo íntimo!

Acumulas a borra do desânimo e destilas o ácido da amargura logo és convidado a programas novos.

Relegas a Religião a plano secundário e apo­quentas-te por nonadas, infeliz, desesperançado.

Tudo parece sombrio, desanimador, ao teu lado.

Retempera as experiências com os condimentos do otimismo e as poções da prece bem urdida na emoção reajustada.

Modificar-se-ão as concepções, aragem agradá­vel perfumada pelo aroma da paz produzirá har­monia íntima, e constatarás que tudo está nas mãos de Deus e a Êle deves entregar problemas e aflições, fazendo, porém, a tua parte a benefício próprio

* * *

A Via-Láctea, serena, bordada de bilhões de astros, gravita sob a segura diretriz das mãos de Deus.

O carvão, transformando-se paulatinamente através dos milênios em diamante que luzirá claridades coruscantes, segue o esquema das mãos de Deus.

A vida infinitesimal que pulsa na molécula e o impulso que aciona o eléctron encontram-se sub­metidos às seguras linhas, inabordáveis, tracejadas pelas mãos de Deus.

O destino do homem é a perfeição, seu fanal é a glória imarcescível.

As lutas que apequenam os fracos, ajudam-nos a adquirir fOrça para conquistas outras e desdobram as possibilidades no forte agigantando-o para o futuro.

Não te aferres, desse modo, aos incidentes la­mentáveis da jornada evolutiva.

Problema é teste à aprendizagem moral e dor significa exame em face às conquistas do espírito.

Assim, liberta-te dos que te escravizaram com os seus atos à angústia que teima por dilacerar-te, abre os braços no rumo do amanhã e avança tran­qüilo.

Jesus não é apenas oportunidade redentora, representa, também, lição viva que não pode ser desconsiderada.

* * *

Quando os amigos O abandonaram, experimen­tando inenarrável soledade; à hora em que todos os Seus ditos foram deturpados; face à constrição decorrente da fuga dos beneficiários dos Seus atos; diante do azedume de uns e da impiedade de quase todos; nas sombras a obsessão coletiva que àquela hora campeava triunfalmente, contemplou todos e repassou pela memória atos e palavras, culminando por ensinar a mais preciosa lição no instante mais grave: — entregou-se às mãos de Deus e perma­neceu confiante até o fim.

*

“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.

Lucas: capítulo 23º, versículo 46.

*

“A casa do Pai é o Universo”.

Capítulo 3º — Item 2.


10

DISSENSÃO

Medra com fácilidade por encontrar os ele­mentos que lhe facultam o enriquecimento da vitalidade, multiplicando dissabores e contribuindo pa­ra a destruição dos mais elevados ideais.

A princípio tem o aspecto de melindre insano e logo se transforma em agastamento fomentador de inimigos cruéis e acirrados do espírito humano. Suas raízes, no entanto, se cravam com vigor no “eu” enfêrmo criador de condicionamentos infelizes, teimando por impor as diretrizes que acredita se­rem as melhores, porque partidas do seu querer.

Infelizmente, em todos os setores das ativida­des humanas, ocorrem dissensões e debates, alguns dos quais se fazem fatores de ordem e evolução.

Dissentir, porém, não é separar. Discordar de opinião, não significa provocar querela ou balbúr­dia, divisão ou anarquia.

É lamentável considerar que a dissensão cam­peia porque os elementos constitutivos do grupo social se caracterizam por qualidades que supõem possuir mas que não se esforçam sequer por con­quistar.

A maioria se acredita formada de “campeões da humildade”; grande parte se pressupõe “azes do dever retamente cumprido»; excessiva massa se nomeia como “líder do trabalho”, no entanto, raros desejam ser apenas “servidor”, o melhor título que se pode disputar, considerando que o Mestre Jesus outra coisa não fêz que se tornar o servidor de todos por excelência.

* * *

Diante dos dissidentes contumazes e dos que se adornam de melindres — enfermos habituais ca­recentes de compaixão por se alimentarem de vene­nos destruidores — mantém a serenidade e não te agastes com êles. Esquecem-se do “lado bom” que possuem e se aferram à natureza inferior que nêles predomina. tornando-se algozes impiedosos de si mesmos.

Estão sempre contra.

Cultivam o amor próprio com esmêro.

Uns ofendem com fácilidade e se arrependem com precipitação. Outros se agarram aos revides que receberam e se pretextam no que lhes disseram, esquecidos do que disseram, para fugir espetacularmente ao serviço encetado.

Não vês com eles, nem os sigas mentalmente sequer. Aprenderão amanhã ou mais tarde com a vida ou por si próprios.

Quase sempre são falazes, inconvenientes. Ameaçam “tudo contar” e mentem, refugiando-Se na própria alucinação como se justificando o desequi­líbrio que os aflige.

Dissensões — sempre houve, em todos os cam­pos e por muito tempo as haverá.

Sê tu cordato, não, porém, subserviente; hu­milde, contudo, não vulgar; bondoso, sem a preocupação de conquistar afeição por êsse meio. A amizade é o salário honroso que os socorridos po­dem tributar aos seus benfeitores. Se são ingratos, não poderás receber nem esperar outra coisa senão o ultraje.

* * *

Considerar as dores que afligiam o Amigo Di­vino, ante as dissensões que dividiam os que o acompanhavam; escutar as querelas miúdas dos que disputavam a Terra, enquanto Ele, ao lado, ensinava o Reino; sentir os ciúmes mórbidos do desamor que apenas desejava aparecer, embora ele se apagasse para apresentar o Pai; atender aos exploradores que desejavam utilizar-se dos Seus recursos; conhecer as imperfeições dos companhei­ros convidados e, no entanto, amá-los, estimulando-os pelo lado bom de modo a se levantarem da infe­rioridade em que se compraziam para ascenderem aos cimos da paz que ele oferecia. Assim, também encontrarás no teu caminho as dissensões e fugas ao dever. Quem não puder seguir contigo, não po­derás exigi-lo. Ajuda, portanto, e passa, prosseguin­do no rumo da paz, apesar de tôdas as dissensões e ofensas que te chegarem na tarefa maior da tua redenção.

*

“Havia dissensão entre eles”.

João: capítulo 9º, versículo 16.

*

“A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão porque aí vive o homem a braços com tantas misérias”

Capítulo 3º — Item 4.


11

COM REGOZIJO

Sempre que sejas defrontado por intrincados problemas na senda que percorres, busca soluções na informação cristalina do Espiritismo, que te aclarará o entendimento, traçando diretrizes eficazes para dirimires quaisquer dificuldades.

Solicitado intempestivamente à dor, dirige-te ao ensinamento espírita, em cuja vitalidade defronta­rás a segurança, a fim de porfiares desassombrada­mente sob qualquer constrição.

Surpreendido nos ideais pela chuva da incom­preensão ou banido do labor edificante por pedradas contundentes, marcha na direção da fé espírita em cuja lição dulcificadora receberás o lenitivo do reconfôrto e a estabilidade da segurança para não desanimares, nem te excederes.

* * *

O homem que reencontrou a fé consoladora, através das lições dos imortais, vive em regozijo. Examina as atitudes pretéritas e estabelece nor­mativas diretoras com olhos postos no futuro. Quando reconhece os próprios erros envida esforços para os não repetir e diàriamente faz um exame de atitudes de modo a melhorar-se sempre e in­cessantemente, bafejado pelo consôlo da vida es­piritual, fonte geratriz da verdadeira felicidade.

E não obstante as dificuldades do caminhar entre os homens, destaca-se na comunidade pelas preciosas lições de renúncia a que se impõe e pelos salutares exercícios de abnegação a que se entrega, fazendo-se irmão de todos, sem a expressão malsi­nante do reproche enquanto ajuda, nem a falsa aus­teridade da censura enquanto serve.

Ninguém se pode atribuir a posição de ser ina­tacável, não lhe sendo facultado o direito de acusa­dor impertinente ou contumaz ante a fragilidade do próximo a quem lhe compete ajudar e edificar, ofe­recendo a luz nova do Espiritismo revelador. Doa o esfôrço não como quem ajuda, mas em condição de quem se ajuda a si mesmo, pois que tôda edi­ficação imortalista que o homem consegue, aplica-a na realização da própria paz, para a qual necessà­riamente utiliza o material de sacrifício que o eno­brece e liberta.

* * *

O regozijo de quem encontrou Jesus decorre da certeza inapelável de que a ilusão já lhe não é mais comensal e a realidade áspera não o atordoa, apre­sentando a contínua madrugada da esperança, conquanto a demorada noite dos resgates demorando-se em sombras.

— “Regozijai-vos!” — disse Jesus.

— “Regozijai-te, companheiro da ação enobre­cida, na continuidade da luta em que forjas a tua liberdade intransferível e não te detenhas a arrolar as imperfeições alheias, nem as tuas próprias limi­tações.

Evita considerar-te desventurado porque o rio das tuas necessidades não trouxe a embarcação das surprêsas diante da qual poderias apresentar tesou­ros transitórios que a ficção aplaude e a realidade devora.

És filho de Deus, e nenhum título é maior do que este: o da filiação divina que te irmana a Ele, a Fonte Excelsa de onde procedes, o colo generoso no qual te encontras, o ar sublime de que te nutres!

E se alguém te humilha graças ao teu desvalor e se os óbices te obstruem o caminho por tua inép­cia, ou se a tua pequeneZ não te permite agigantar-te quanto gostarias, regozija-te ainda mais uma vez, porque já encontraste o meio-dia da vida em plena meia-noite das tuas aflições.

Os que viram aquêle magote constituído por uma farândola de sofredores, gargalharam, zombe­teiros, pôr estarem êles colocando na Terra os ali­cerces do Reino de Deus. Os que acompanharam a marcha dos pescadores simples que abandonaram as rêdes por escutarem aquela voz, chasquinaram e os perseguiram até ao cansaço, nunca porém lobri­garam extingui-los. E, todavia, foram êles os he­róis da Era Melhor, continuando a ser os modelos que deves seguir em regozijo, como em regozijo o fizeram, seguindo as pegadas do Modêlo Divino, que se deixou crucificar em testemunho de amor por um mundo melhor.

*

“Mas não vos regozijeis em que os EspíritOS se vos submetem, antes regozijai-VOS em que os vossos nomes estão escritos no céu”.

Lucas: capítulo 10º, versículo 20.

*

“Naqueles outros (mundos venturosos) não há necessidade desses contrastes. A eterna luz, a eterna beleza e a eterna serenidade da alma proporcionam uma alegria eterna, livre de ser perturbada pelas angústias da vida material, nem pelo contacto dos maus, que lá não têm acesso”.

Capítulo 3º — Item 11.


12

EXAMINANDO A DESENCARNAÇÃO

Fatalidade biológica, a morte, ou seja a mu­dança de uma forma para outra, por impositivo da necessidade de transformações incessantes, começa quando ocorrem as primeiras expressões da vida.

No homem, por exemplo, em cada segundo, no seu aparêlho circulatório, morrem um milhão de hemácias que são aproveitadas por células especiais, no fígado, para a elaboração de outras, graças ao ferro que é delas extraído.

Segundo alguns biólogos, em cada sete anos, o corpo humano se renova quase integralmente, à exceção das células nervosas, graças ao processo de transformação ou morte que ocorre na estru­tura somática.

Modificações incessantes em que a matéria assume a forma energética e esta se adensa em novas expressões físicas, a, morte da aparência éuma constante indispensável à evolução.

Do resfriamento da energia que se condensa em matéria, da dissociação das moléculas para o re­tôrno à energia, no homem, o espírito, que é o modelador da forma, sofre na sua intimidade os diversos fenômenos de aglutinação e desagregaçãO estrutural.

Morrer, portanto, ou desencarnar, significa, só-mente, mudar de estado.

* * *

A desencarnação tem início de dentro para fora do corpo, nos tecidos sutis do perispírito, que condicionado a vibrações especiais, encarregadas de manterem a vitalidade físiopsíquica, começam a perder a sintonia, por cuja exteriorização mantêm nas suas órbitas as moléculas constitutivas da matéria.

Mesmo nas ocorrências da desencarnação vio­lenta, por circunstâncias de vária ordem, não obs­tante a morte fisiológica por interrupção da cor­rente mantenedora da vitalidade, o processo desen­carnatório só a pouco e pouco se consuma, através da liberação dos liames psicossomáticos que se encontram imantados ao corpo.

Disso decorrem as sensações violentas, danosas, aflitivas que experimentam os desencarnados, ainda imantados à carne, que são à violência arrancados da estrutura material, sem o correspondente desli­gamento dos núcleos vitalizadores pelo processo paulatino da dissociação liberativa.

As expressões cadavéricas, em tais casos, tran­sitam em forma de dor ou angústia, dos tecidos em decomposição ao espírito, mediante a complexa rêde de filamentos semi-materiais que se fixam nas intimidades celulares, encarregadas do processo aglutinador dos átomos nas realidades das funções e formas fisiológicas.

Expressiva a contribuição da mente no processo desencarnatório. Seja o hábito salutar do des­prendimento, exercitado pelo espírito encarnado, seja a lembrança mental dos que se vinculam aos desencarnados, as vibrações se transformam em sensações, produzindo, obviamente, liberação ou cativeiro do espírito às formas materiais, conquan­to muitas vêzes reduzidas a resíduos já em fase final de fusão na química inorgânica do subsolo ou nas carneiras em que jazem.

Comumente, após o desaparecimento da forma, as construções mentais, elaboradas em contínuas fixações nos centros da memória espiritual, se encarregam de reproduzir nas telas sensíveis do perispírito as formas-pensamento que se transfor­mam em suplício de demorado curso, — fantasmas que se corporificam e se atam ao desencarnado, an­gustiando-o e atemorizando-o — até que a dor cor­retiva, por paulatino processo de coercitivo desgaste das imagens vitalizadas, desapareça dos painéis mentais.

O mesmo ocorre no campo da organização se­mática, quando o espírito sofre a constrição das elaborações mentais, a elas submetendo-Se, e expe­rimentando o efeito do seu efeito —, círculo vicioso, dominante — que somente se modifica ao império da renovação interior, através de registros salutares que realizarão o ministério da paz, como resul­tante das conseqüências favoráveis que decorrem dessas causas edificantes.

* * *

Descontrai-te, libertando-te do mêdo, das paixões, das limitações e voa na direção das paisagens superiores, a fim de que a desencarnação, cujo processo lento já experimentas sem que o saibas, em se consumando, não te agrilhoe ao mundo das formas de que necessitas desvincular-te.

Dia chegará em que o teu processo reencarna­tório culminará com a cessação dos ciclos vibratórios no corpo e terás que pairar além e acima das cir­cunstâncias materiais, desencarnado, porém vivo, morto na forma, no entanto, em transformações de dentro para fora, prosseguindo na direção da Vida Abundante.

*

“O que ore em mim, ainda que esteja morto, viverá”.

João: capítulo 11º, versículo 25.

*

“A própria destruição, que aos homens pa­rece o têrmo final de tôdas as coisas, é apenas um meio de chegar-se, pela trans­formação, a um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada sofre o aniquilamento”.

Capítulo 3º — Item 19.


13

CONFIANÇA EM DEUS

Em qualquer circunstância, mantém tua con­fiança em Deus, que rege o Universo e guarda tua vida.

Nunca te revoltes, seja qual fôr o problema que te surpreenda.

Fora do teu sofrimento sofrem também outros filhos de Deus sob estigmas de aflições que des­conheces.

Normalmente relacionas as provações que te alcançam e derrapas em regime de rebeldia caindo nos alçapões das inconseqüências de vária ordem.

Deixas-te intoxicar pelos vapôres da felonia e afasta-te da diretriz do bem, fugindo para lugar algum onde sofres mais por desespêro injustificável do que pela Intensidade do padecer que te atinge.

No entanto, êles estão ao teu lado, os irmãos do carneiro da agonia.

Disputam casebres miseráveis pendurados em morros onde fermentam ódios ou aglutinados em declives e baixas infectas onde dominam sombras, acondicionando retalhos de velhas latas e tábuas imundas, que transformam em lar e ali se rebolcam em inenarrável desesperação.

Dormem sob as pontes das estradas ou nas calçadas das vielas sombrias em espaços exíguos à mercê do abandono.

Espiam por olhos que se apagaram e não têm possibilidade de ver, marchando em densas trevas.

Agitam-se em corpos mutilados e anseiam alu­cinadamente por conseguir andar, abraçar, mover-se em alguma direção.

Perderam a razão, um sem número dêles, e cor­rem pelos dédalos da loucura indimensional, sob pesadelos horrendos, em que seguem até à idiotia.

Experimentam fome contínua e sentem a cons­trição da máquina orgânica, desajustada ao império das necessidades que se sucedem.

Têm o espírito dilacerado por diagnósticos de enfermidades que sabem irreversíveis e, piorando-lhes a situação, não estão preparados para a de­sencarnação.

Aguardam notícias funestas que os alcançarão logo mais e expungem as agonias sem nome sor­vendo o veneno da amargura, revoltados sem lograrem a extinção do Sofrer...

Faze um giro além das fronteiras do “eu” en­fermiço e tristonho a que te recolhes.

Abre os olhos e espia na direção da Terra perto e longe de ti. Há poemas de beleza na paisagem em festa e tragédias nos bastidores dos corações em comunhão com as torpezas morais em agitação. Pensarás, então, que o homem e somente êle éinfeliz numa esfera de luz e côres como a da Na­tureza.

Em verdade ainda é a Terra a abençoada es­cola de redenção. Contrastando com as necessida­des de cada aluno, ela se mantém festiva para en­sejar uma visão panorâmica convidativa para o bem e para a ação integral que facultam a supe­ração das dificuldades.

Todos aquêles calcêtas que lhe desconsideraram as classes ontem, ora retornam para refazer e aprender fixando em definitivo as lições superiores de amor e vida que desprezaram.

* * *

Após examinares tôdas as circunstâncias prova­cionais do caminho da evolução, bendirás o que tens no corpo e na alma, utilizando-te com meri­diana sabedoria dos dons incomparáveis de que te encontras investido, elaborando condições novas interiormente, para superar os óbices naturais e agradecer as excessivas concessões que fruis e das quais inapelavelmente prestarás contas mais tarde ao Excelso Administrador, como já lhes sofrem os resultados êstes que ora resgatam mais em regime carcerário, porém que aguardam a dádiva do teu auxílio para diminuir-lhes as aflições superlativas.

Tem, pois, confiança em Deus, alma irmã! Ama e agradece o quinhão de dor que te chega para o próprio aprimoramento espiritual e prossegue sere­no ajudando aquêles outros espíritos igualmente ou mais atribulados que tu mesmo a seguirem pela rota abençoada da reencarnação.

*

“Confia em Deus”.

Mateus: capítulo 27º, versículo 43.

*

“Os (Espíritos) que se conservam livres velam pelos que se acham em cativeiro. Os mais adiantados se esforçam por fazer que os retardatários progridam”.

Capítulo 4º — Item 18, parágrafo 2.


14

PROVAÇÃO REDENTORA

A voz que laboraste por modular docemente agora se transforma em brado de acusação im­piedosa; as mãos que uniste muitas vêzes dentro das tuas, em gesto de ternura, parecem prontas a esbordoar-te; o rosto tantas vêzes osculado com meiguice surge congestionado diante da tua pre­sença; os gestos que plasmaste com incansável de­votamento, fazem-se bruscos e violentos em desafio à tua serenidade; aquêles olhos que enxugaste com desvêlo, quando choravam, fitam-te com chispas de ódio; o corpo que embalaste noites a-fio, ora freme de revolta e se agiganta diante do teu atual cari­nho; todo aquêle ser que cumulaste de amor, então, se contorce sob o gás da rebeldia e não trepida em malsinar-te, ferindo as mais caras aspirações que demoradamente acalentaste, bem como os nobres objetivos que tõda a vida perseguiste — a meta da tua realização interior.

Insultado por tão grotesca reação tentas, ainda, acercar-te do ser querido, escondendo a decepção e a dor íntima; no entanto, não consegues transpor a barreira entre ti e êle, colocada propositadamente para produzir distância, não obstante o êxito dêle depender do teu suor e da tua soledade, das tuas lágrimas e dos teus silêncios.

Permite-se acusar-te, censurar-te, e não te con­cede a condição ao menos de “ser humano”.

Reserva-se o direito de magoar-te e explora os teus sentimentos para pisoteá-los logo depois.

Enquanto o envolves em otimismo, há muito tempo a inferioridade dêle espezinha-te com recal­ques cruéis, que procedem de vidas consumidas no passado do espírito e não te oferece a concessão das queixas ou das justas censuras que são descar­gas da tensão que te atormenta.

E dizer que te deste com o melhor que possuias, oferecendo-te todo por êle, para a felicidade dêle!

Retempera, porém, o ânimo e insiste no dever que te cabe ou que assumiste, mesmo incompreen­dido, apesar de sitiado pela ingratidão com que êle te retribui o carinho demorado.

* * *

Seja quem fôr o ingrato — filho, amigo, afeto, companheiro —, é alguém vitimando-se com o ácido que o destruirá logo depois.

A ingratidão é enfermidade de erradicação di­fícil e demorada; a rebeldia reflete distonia espi­ritual; o azedume exterioriza infelicidade interior; a agressão atesta primitivismo; a cólera é morbidez de complexa definição no campo da mente em de­salinho. Todo aquêle que se permite conduzir por tais famanazes da indisciplina e do orgulho me­rece caridade pelo tratamento do amor que ora e socorre, insiste ao lado e não revida mal por mal.

Ele, aquêle que te acicata o espírito, caminhará pela estrada da experiência, avançando na rota do futuro.

Aprenderá inevitavelmente e tornar-se-á brando.

Não é necessário que o desejes: a vida se en­carrega de nós todos, cada um a seu turno...

* * *

É pena — e sofres com isso — que te não saibas valorizar o amor, aquêle que hoje te fere e subestima.

Jesus, porém, experimentou, e em grau muito maior, a ingratidão e o desinterêsse dos compa­nheiros mais amados. Medita nEle, na Sua vida e não te abales com a provação redentora. Felizes são os que amam, e amam sempre, reco­nhecidos, fiéis, Os outros, dentre os quais o ser que ora não te retribui amor por amor, já estão justiçados em si mesmos, sorvendo a amargura da inquietação e o tóxico da insegurança pessoal, que os envenenam paulatinamente.

*

“Mas na hora de provação volta atrás”.

Lucas: capítulo 8º, versículo 13.

*

“Os que, ao contrário, usam mal da liber­dade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que de­monstrem, podem prolongar indefinidamen­te a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo”. São Luiz. (Paris 1859).

Capítulo 4º — Item 25, parágrafo 2.


15

SEM PARAR

Agora que assumiste compromissos no movi­mento espírita, que te comove e abrasa, percebes. Registras, com a alma dorida, que os companheiros de ideal — salvas expressivas exceções — ainda se encontram em dubiedade, face à decisão de transporem a aduana da luz.

Conquanto se digam es­píritas, longe se encontram de manter as enobre­cedoras atitudes do verdadeiro crente, aquêle que, impregnado pela fé, pauta a conduta nas linhas da convicção esposada.

Antes supunhas que nos arraiais espiritistas a paz houvera feito morada... Pareciam-te resigna­dos e felizes, lutadores intrépidos os novos discí­pulos do Evangelho. No entanto, observas como estão transidos de amargura, quando não rebelados, ante a dor, e interrogas: que fazem da fé cla­ra e pura? por que ferem, quando conhecem de perto as realidades das leis de “causa e efeito”? como se deixam conduzir pelos obsessores!...

Sem dúvida, porque em se, assenhoreando da fé, a fé sublimada dêles não se assenhoreou.

Fica­ram apenas mimetizados mas não penetrados. Apressados, não mergulharam realmente o espíri­to nas lides do conhecimento da Doutrina liber­tadora.

Alguns se fazem notados, mas não conseguiram as íntimas e reais transformações para melhor. Projetaram-se, sem se renovarem. E derrapam com facilidade nos mesmos equívocos, quando contra­riados, sofridos ou simplesmente não considerados quanto se supõem merecedores...

São homens e preferem continuar a sê-lo, quan­do se poderiam tornar cristãos...

O Espiritismo é a doutrina do amor por exce­lência e tem a caridade por meio e meta. Eles sabem disto, mas apenas sabem. Não vivem a vida que dizem saber e crer, por estarem acostumados a outra conduta. Mudaram de conceito religioso mas não de comportamento moral.

Não os estranhes, nem os censures para que não incidas nos erros dêles.

Sensibilizado pelas lições imortalistas que es­tudas, vive-as cordialmente, sejam quais forem as circunstâncias.

* * *

Repetidamente falarão os Desencarnados sôbre e contra os obsessores que perseguem e dificul­tam a obra do bem, detidos na Erraticidade inferior. E os há em número incontável.

Outros tantos, po­rém, estão em regime carnal, no domicilio orgâni­co. Atenazam, perseguem, cruciam, afligem não por­que estejam sob obsessões, mas porque são obses­sores reencarnados. Procedem de baixos círculos vibratórios e a diferença existente é a da matéria que os envolve na Terra. Certamente se fazem instrumentos dos outros — os desencarnados — por um fenômeno natural de afinidade, o que os tornam ainda mais violentos.

Diante disso, não acuses os Espíritos de mente atribulada que estagiam no Mundo Espiritual, ten­do em vista aquêles que, ao teu lado, no corpo, continuam acumpliciados com os antigos sequazes, em regime de conúbio espontâneo -

Estes, os da caminhada carnal, atingir-te-ão mais vêzes, por estarem domiciliados nas mesmas faixas vibratórias em que te demoras.

Acautela-te, orando e trabalhando incessantemente - Não serás poupado, pois que o êxito da tua produção fraterna na Vinha do Senhor incomo­da-os, irrita-os, e, na falta de argumentos justos, usarão estranhas armadilhas e conceitos infelizes para se realizarem ante a chuva de amargura e fel que desabe sôbre a tua cabeça. Não obstante, pros­segue, sereno e confiante -

* * *

Não apenas os sacerdotes e políticos em Israel, a soldadesca e os bandoleiros crucificados ao Seu lado, zombaram, sarcasticamente, de Jesus.

Não somente os estranhos conspiraram antes para colocarem-No perdido.

Foram os amigos invigilantes, os comensais do Seu amor, aquêles que O conheciam e sabiam, que o entregaram, para logo após fugirem.

Diante dessa comovedora realidade, refugia-te nEle e compreende, integrando-te no Evangelho Restaurado, a necessidade de viver pelo exemplo o Espiritismo que o descerra para ti e não olhes para trás, não reclames, não te defendas quando acusado, nem te justifiques — ama, e serve sem parar.

*

“Todavia, quem perseverar até o fim, esse será salvo”.

Mateus: capítulo 24º, versículo 13.

*

“A encarnação, aliás, precisa ter um fim útil”.

Capítulo 4º — Item 26, parágrafo 3.


16

DESGRAÇAS TERRENAS

Tôda vez que uma desgraça se abate sôbre um homem, a verdadeira desgraça para êle é não sa­ber receber devidamente o infortúnio que lhe chega.

Desgraça, realmente, é o mal, o prejuízo, o dano que se pode praticar contra alguém e não o que se recebe ou se sofre.

O que muitas vêzes tem aparência de desgraça — e isto quase sempre — é resgate intransferível e valioso que assoma à alfândega do devedor, co­brando-lhe os débitos livremente assumidos e acei­tos. Das mais duras provações sempre resultam be­nefícios valiosos para o espírito imortal. Há que considerar cada um a própria posição que mantém na vida terrena para avaliar com acêrto os acon­tecimentos que o visitam.

Quando somente se experimentam as emoções físicas e conceituamos os valôres imediatos, des­graças, em realidade, para tais, são os pequenos caprichos não atendidos, as veleidades vaidosas não respeitadas, as ambições ridículas não satisfei­tas que assumem papel preponderante e se trans­formam em infelicidades legítimas, porqüanto, igno­rando propositalmente as realidades superiores, êsses descuidados se apegam às menores coisas e aos recursos de nenhuma monta, derrapando para a irritabilidade, as paixões, a loucura, o suicídio: desgraças que levam o espírito às províncias de amarguras inomináveis, a vencerem tempo sem limite em etapas de dor sem nome...

* * *

As desgraças que foram convencionadas como:

perda de saúde, prejuízos financeiros, ausência de pessoas amadas, desemprêgo, acidentes, abandono por parte de queridos afetos, se constituem áspero testemunho que chega ao ser em jornada reden­tora, se transformam também em portal que trans­posto estõicamente decerra a dádiva da felicidade permanente e enseja paz sem refrega de luta em atmosfera de harmonia interior.

Quando o infortúnio não resulta de imediato desatino ou leviandade é bênção da Vida à vida, facultando vitória próxima.

Nesse particular os Espíritos Superiores levam em alta consideração os sofrimentos humanos, as desgraças que abatem homens, famílias, povos e, pressurosos, em nome da Misericórdia Divina, acor­rem a ajudar e socorrer êsses padecentes, dando-lhes fôrças e coragem para permanecerem firmes e confiantes, buscando diminuir nêles a intensidade da dor, e, noutras circunstâncias, tendo em vista os novos méritos que resultam das conquistas in­dividuais ou coletivas, desviando-as, atenuando-as, impedindo mesmo que se realize, pela constrição do sofrimento, a depuração espiritual, o que fa­culta meios de crescimento pelo amor em bênçãos edificantes capazes de anular o saldo devedor cons­tritivo e perseverante, porque se a Justiça Divina é rigorosa e imutável, a Divina Misericórdia se consubstancia no amor, tendo-se em vista que Deus, nosso Pai Excelso, “é amor”.

*

“Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados”.

Mateus: capítulo 5º, versículo 4.

*

“De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distin­guir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida”.

Capítulo 5º — Item 4.


17

ANTE À DOR

Quando a alma mergulhou na carne referta de vibrações, desejou transmitir tôda a musicalidade que conduzia virgem, e para que o tumulto do ambiente não lhe perturbasse a evocação, perdeu, paulatinamente, os registros auditivos para somente escutar nas telas da mente os acordes sublimes da natureza e de Deus — e Beethoven ficou surdo!

Para expressar a melancolia suave e a pungente saudade de algo que não se pode identificar, Chopin experimentou a amargura do coração perdido entre desejos e decepções.

Destinado a ferir as cordas da emoção e tan­gê-las com habilidade, o espírito retornou ao palco de antigas lutas para defrontar-se com inimigos acirrados e vencê-los através da auto-doação, en­chendo a Terra de musicalidade superior. Inquieto, todavia, fraquejando sem cessar, Schumann deixou-se arrastar pela caudal da obsessão, conquanto fi­zesse incomparável legado, através do Lied e das nobres melodias para piano -

* * *

Oh! dor bendita, libertadora de escravos, dis­creta amiga dos orgulliosos, irmã dos santos, men­sageira da verdade, tanto necessitamos do teu concurso, que se nos afiguras um anjo caído, a serviço da misericórdia para sustentar-nOS na luta redentora! Ensina-nOS a descobrir a rota da humildade para avançarmos com acêrtO.

* * *

A dor é a mensageira da esperança que após a crucificação do JustO vem ensinando como se pode avançar com segurança. Recebamo-la, pacientes, sejam quais forem as circunstâncias em que a de­frontemos, nesta hora de significativas transformações para o nosso espírito em labor de sublimação.

O sofrimento de qualquer natureza, quando aceito com resignação — e tõda aflição atual pos­sui as suas nascentes nos atos pretéritos do espírito rebelde — propicia renovação interior com amplas possibilidades de progresso, fator preponderante de felicidade.

A dor faculta o desgaste das imperfeições, pro­piciando o descobrimento dos valiosos recursos, inexoráveis, aliás do ser.

Após a lapidação fulgura a gema.

Burilada a aresta ajusta-se a engrenagem.

Trabalhado, o metal converte-se em utilidade.

Sublimado pelo sofrimento reparador o espírito liberta-se.

*

“De tal modo brilhe a vossa luz diante dos homens, para que êles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus.

Mateus: capítulo 5º, versículo 16.

*

“Daí se segue que nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal”.

Capítulo 5º — Item 5.


18

TESTEMUNHO

Que se dirá do médico que teme o contato com a enfermidade que desfigura o semblante do doente; do advogado que receia a convivência com os mal­feitores; do mestre que abomina ensinar a crianças difíceis; do juiz que se poupa a examinar contendas e desdenha enfrentá-las; do amigo que foge aos en­sejos de ser útil; do servidor que ressona em pleno serviço; do aprendiz que desrespeita o ensino; do cristão que, no exercício da caridade, zelando pelo equilíbrio pessoal, se furta ao trabalho eficiente ao lado de infelizes e desajustados?

Qual o homem que se pode dizer realizado sem se conhecer a si mesmo; que se pode considerar vitorioso sem haver saído triunfador da luta íntima; que espera o deleite da paz sem haver modificado as disposições bélicas do espírito; que aspira a amplos horizontes e não é capaz de caminhar atra­vés de pequenas rotas com segurança; que espera triunfos e não se permite ajudar; que aguarda Jesus e ainda não sabe descobrir o Cristo nos corações atribulados que defronta pelo caminho?

Que se pode pensar de um crente que se debate, amargurado, quando afligido por naturais proble­mas; que se revolta ante as dificuldades que todos defrontam na jornada; que se afaga nos vasilhames da queixa improdutiva; que se desespera ante as oportunidades do aprendizado e que se deixa vencer pela cólera, quando no exercício do socorro ao próximo?

* * *

O Evangelho, como sempre, apresenta no Ex­celso Mestre a resposta transparente e nobre!

Instado ao desespêro por dificuldades de tôda natureza e acoimado por famanazes do poder tem­poral, a situações difíceis, perseguido pela inveja e desconsiderado pelos que O não podiam entender, conduzido ao sarcasmo e à zombaria, vez alguma se deixou descoroçoar no ministério de amor em­preendido ou se permitiu isolar-se da comunhão com os aflitos. Em tôda e qualquer circunstância estêve ao lado dos sofridos e desamparados, conquanto reconhecesse que isto lhe custaria a vida - Não te­meu, não se evadiu...

Mesmo quando injustamente foi arrastado àinfame punição indébita pela Crucificação, dignificou as traves de madeira, transformando-as, desde então, no símbolo perfeito da redenção e do martírio para quantos tenham os olhos postos na glória da Imortalidade.

*

“As obras que eu faço em nome de meu Pai, dão testemunho de mim”.

João: capítulo 10º, versículo 25.

*

“Não há crer, no entanto, que todo sofri­mento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vêzes são simples provas buscadas pelo Espírito, para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso”.

Capítulo 5º — Item 9.


19

EXAMINANDO A SERENIDADE

Em face das dificuldades inadiáveis que surgem e ressurgem, senda afora por onde avanças, reveste-­te de serenidade para prosseguir.

Surpreendido pelas contingêncías afligentes que chegam a cada instante ao país do teu coração, en­volve-te na serenidade para discernir.

Diante das inforniações malsãs que te são en­dereçadas com o sal da impiedade ou a pimenta do despeito, examina a serenidade para acertar.

Conquanto inquietudes te assaltem produzindo sulcos de dor e agonia na tua alma, não te situes a distância da serenidade, para atingir o êxito que te propões, na tarefa do equilíbrio.

Serenidade é também medida que resulta de uma atitude reflexiva!

A serenidade não é uma posição estática que transcorre entre dias parados e atitudes indefinidas em volta da tua existência.

O rio singelo, que passa modulando entre seixos e pedregulhos, eriçando pequeninas ondas e es­praiando-as pelas margens, transmite agradável sen­sação de serenidade sObre o leito conquistado.

Serenidade é atitude rítmica de ação que não atinge altissonâncias nem reflui em pianíssimos que logo desaparecem. A serenidade resulta de uma vida metódica, postulada nas ações dinâmicas do bem e na austera disciplina da vontade.

O espírito pacificado pode ser comparado ao solo que foi trabalhado demoradamente, arrancando escalracho e urze, drenando cursos violentos dáguas e semeando, em derredor, sebes protetoras para que as plantas do seminário nôvo possam desenvolver-se com harmonia em direção do alto.

* * *

Diante da turbamulta que rogava, esfomeada, pães e peixes, Jesus, imperturbável, examinou as possibilidades de que dispunha no momento e mul­tiplicou o repasto...

Surpreendido em colóquio afetivo com os párias encontrados na sua rota se manteve tranqüilo, sem anuir às acusações indébitas de que Ele tratava com gente de má vida e sem jactar-se de ser o salvador dos infelizes...

Exaltado pelo entusiasmo transitório dos que Lhe receberam o carinho salutar, conservou-se se­reno, na direção do bem sem limite de que se fizera o instrumento excelente do Pai...

Aclamado pelo delírio popular na entrada de Jerusalém, refletiu, no semblante contristado, a dor que o aguardava após o torvelinho da exaltação da massa em desassossêgo.

Inquirido pelos condutores de varapaus, após o beijo de Judas, se era Ele o buscado, não titubeou em assentir, afirmando: — “Eu o sou”.

Experimentando as mais cruas acusações sem uma palavra de defesa, na mais dura soledade, sem uma só exigência, Jesus deu o testemunho mais pesado através da agonia pelo amor, e, sem qual­quer constrangimento, se manteve em serenidade admirável, para ensinar que a dinâmica da vitória sôbre si mesmo é resultante do auto-descobrimento e da aplicação das próprias fôrças no exercício do perdão incondicional a situações, pessoas e coisas da rota evolutiva.

* * *

Em qualquer situação em que te vejas colo­cado impostergàvelmente, considera a serenidade dinâmica que produz equilíbrio e que resulta da ponderação demorada, para agires com acêrto e atingires o ápice da tua integração no apostolado do amor verdadeiro.

*

“Vai-te em paz”.

Lucas: capítulo 7º, versículo 50.

*

“Aquele, pois, que muito sofre deve reco­nhecer que muito tinha a expiar e deve regoeijar-se à idéia da sua próxima cura. Dêle depende, pela resignação, tornar pro­veitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar”.

Capítulo 5º — Item 10.


20

RETORNO

Retornarás!

Por mais longos sejam os teus dias na Terra, durante a abençoada jornada corpórea, dia luze em que retornarás à Pátria espiritual que é o teu berço de origem e a sagrada morada onde permanecerás nas emprêsas do porvir...

Medita!

Absorvida pela atmosfera, a linfa cantante flutua na nuvem ligeira para retornar ao seio gentil da terra que a conduzirá logo mais aos imensos lençÓis dágua do subsolo, que afloram em correnteza can­tante, mais além.

A semente exuberante enclausurada no fruto que balouça nos dedos da árvore retorna ao âmago do solo generoso donde prevejo.

Também o homem.

Afastado do círculo donde procede em excursão de lazer ou refazimento, de trabalho ou produtivi­dade, de estudo ou repouso sente o chamado lon­gínquo dos amôres da retaguarda, retornando logo para o labor em que as emoções se renovam e as esperanças se realizam.

Muitos cantam a Pátria com o seu magnetismo e as suas tradições, explicando as evocações e os impulsos heróicos dos homens, seus sonhos de glória e suas lutas de sacrifício. Assim, também, a Pátria do Espírito sempre presente nos painéis mentais como paisagens etéreas, porém vivas, lon­gínquas, no entanto latejantes, murmurejando sal­modias, que se transmudam, às vêzes, em melanco­lias longas e tormentosas ou excitantes expectativas que exaltam o ser a providências sublimantes...

Considera a lição necessária do retôrno.

Como organizas equipagem, mimos e lembran­ças, arquivas roteiros e assinalas fatos para futuras narrações e imediatos aprestos, prepara a bagagem com apuro e justeza, demorando-te em vigília para quando chegue o esperado momento da volta.

Retornarás, sim! Vive, pois, de tal modo, na laboriosa escola do corpo disciplinado e em equilíbrio, que facultem uma valiosa colheita de bênçãos a se transformarem em luzeiro clarificante para o caminho espiritual por onde retornarás.

*

“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida”.

1ª Epístola de João: capítulo 3º, versículo 14.

*

“Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: “Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho”; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor próprio e nos gozos mundanos: “Nada vos toca, pois que rece­bestes na Terra o vosso salário. Ide e re­começai a tarefa”.

Capítulo 5º — Item 12, parágrafo 5.


21

MEDO

Esmagadora maioria das criaturas padece a rigorosa constrição do mêdo. Adversário dos mais cruéis, o mêdo é responsável por tragédias inomi­náveis que varrem a Terra em tôdas as direções, ge­rando clima nefando de atrocidades de classificação muito complexa.

Sob o comando do mêdo, homens e mulheres se atiram a dissipações venenosas, entregando-se a paulatino aniquilamento, do qual dificilmente se libertam.

Jovens em todos os hemisférios do planêta sofrem na atualidade os miasmas do mêdo, que os intoxicam, enlouquecendo-os de surpresa.

Não obstante as superiores conquistas do pen­samento, as largas expressões da comunicação os debates francos e livres, as liberdades dos costumes, as realizações tecnológicas preciosas para o con­texto humano, nos dias modernos, falecem os ideais do enobrecimento e as linhas da sóbria razão, gra­ças às tenazes do mêdo dominante em todos os campos da ação.

A fuga espetacular dos deveres e os desregramen­tos sexuais são portas falsas pelas quais enveredam as hodiernas comunidades subitamente transforma­das em manicômios de largas proporções, permitindo-se os jovens, em razão disso, encontros periódicos e maciços para se sentirem uns aos outros e, ao impacto da música selvagem como dos entorpecen­tes, esquecer, sonhar, embalar aspirações para êles irrealizáveis na sociedade chamada de consumo...

O mêdo de enfrentar problemas e solvê-los, co­mo conseqüência do falso paternalismo do passado, empurra as mentes novas a formas diversas de ex­pressão, muitas delas inspiradas por outras mentes desencarnadas que intercambiam psiquicamente em clima obsidente de longo curso entre as duas es­feras: aquém e além da morte.

Alimentado ou esmagado nos painéis da alma, raramente vencido nos combates face a face de cada dia, o mêdo se alonga e prossegue, mesmo quando o espírito desencarna, permanecendo atado às re­miniscências infelizes, anestesiado pela hipnose do pavor.

Dizimando em largas faixas da experiência hu­mana, o mêdo não tem recebido o necessário in­vestimento do estudo psicológico na Terra, quanto às suas raízes, que se encontram cravadas nos re­cessos íntimos do espírito, bem como não tem me­recido a justa apreciação para combatê-lo com os hábeis recursos, específicos, capazes de o vencer e destruir.

* * *

O criminoso inqualificável que mata com re­quintes de sadismo e o suicida melancólico que in­veste, cobarde, contra a própria vida, sofrem a psicose do mêdo.

O grupo anarquista que consuma agressões re­voltantes em nefastas maquinações da crueldade e o pai de família insensível no lar, ocultam-se nos rebordos do mêdo, buscando ignorar a enfermidade que os desequilibra.

Na quase totalidade dos crimes que explodem, opressivos, encontram-se os rastros do mêdo sem­pre presente.

As constrições morais pungentes, econômicas apavorantes, sociais caóticas, educacionais de solu­ção difícil, das enfermidades de caráter irreversível, se fazem fatôres preponderantes para que grasse o mêdo, soberano. Em tal particular, desempenharam relevante papel as normas religiosas do passado que ensinavam o “temor” em detrimento do amor” a Deus, os preconceitos exacerbados ante os quais a gravidade do êrro era ser êste conhecido e não apenas praticado, desde que se demorasse ig­norado, contribuíram expressivamente para a atmos­fera que hoje se espalha célere e morbífica.

Contudo, as informações espíritas responsáveis pela natural realidade do além-túmulo, desvelando os falsos “mistérios” e elucidando os enigmas onto­lógicos, são portadoras do antídoto ao mêdo, me­diante a confiança que ministra aos que se abebe­ram da sua água lustral, penetrando de paz quan­tos se comprazam em meditar e agir com seguran­ça nas diretrizes de fácil aplicação.

O labor fraternal, o culto doméstico do Evan­gelho, o pensamento de otimismo freqüente e o recolhimento da oração, a par do uso da água magnetizada e do passe, produzem expressiva tera­pêutica valiosa e de imediatos resultados para a

aquisição da saúde e da renovação, combatendo o mêdo.

* * *

Retornando da sepultura vazia, disse Jesus aos discípulos amedrontados: “Sou eu, não temais”.

Todo o Evangelho é lição viva de sadia tran­qüilidade e elevado otimismo.

Ora reeditado através do Espiritismo, é o mais eficaz processo psicológico atuante, capaz de edifi­car nos corações e nos espíritos conturbados do presente a consubstanciação das promessas de Jesus:

“Eu vos dou a minha paz.

“Eu ficarei convosco por todo o sempre.

“Vinde a mim os cansados e oprimidos.

“Tende bom ânimo: eu venci o mundo!”

Reflitamos, e, sem receio, avancemos construindo com o amor a fim de que o amor nos responda à sementeira de esperança, com a floração da paz e da alegria a benefício de todos.

*

“Não temais: ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me hão de ver”.

Mateus: capítulo 28º, versículo 10.

*

“A calma e a resignação hauridas da ma­neira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade, que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio”.

Capítulo 5º — Item 14.


22

INCOMPREENSÃO E FIDELIDADE

A consideração que desfrutavas, sübitamente desapareceu e passaste a engrossar as fileiras dos que padecem difamações, entre doestos sibilinos e acusações impiedosas.

As palavras bordadas de melodias que canta­vam aos teus ouvidos, agora chegam agressivas, arrasadoras, como trovoada que prenuncia tem­pestade imediata.

Os sorrisos murcharam em muitos lábios, hoje contraídos em ríctus de amargura, quando não de cólera prestes a explodir em fúria destrutiva.

As afeições que insinuavam segurança e as amizades que produziam ruido, sem que possas explicar, se converteram em sombrias ameaças como tiranos soezes, que não ocultam os senti­mentos acalentados interiormente.

As mãos da fraternidade sempre distendidas a fim de envolver-te, recolheram-se e cederam lugar a tenazes que poderiam dilacerar-te com inusitada crueza.

A alfândega da cordialidade que trazia as por­tas abertas para os tesouros da tua alegria, jaz cerrada, e fiscais impenitentes conferem as suas bagagens, comprazendo-se em afligir-te demasiada­mente, através de referências odientas quão incon­cebíveis.

Estranha amargura domina as ambições e os sonhos do teu espírito, enquanto sombras densas comandam os teus painéis mentais.

Não estranhes o cometimento necessário de dor e o suplemento de agonia que te chegam. Cons­tituem indispensável processo de burilamento que não podes postergar.

Facilidade é sinônimo de amolentamento do caráter.

Cicatriz é ônus que a ferida exige ao organismo para liberá-lo.

Teste, avaliação de fôrça e capacidade são medi­das aplicáveis para verificação de aprendizagem.

* * *

Em nenhum momento Jesus prometeu a Terra dos homens aos seguidores da Boa Nova.

Tôdas as suas doações se referem ao Reino dos Céus, que ora está sendo levantado entre as criaturas, tendo em vista que as suas fundações só a pouco e pouco penetram na rocha dura das almas.

Disse Êle que o “caminho é apertado” e “a porta estreita”, reservando àqueles que lhe fôssem fiéis o mesmo cálice que sorveu.

Não é, portanto, estranhável, desde que O si­gas em regime de fidelidade, que te sintas deslo­cado, expulso da roda da comodidade pelos sal­teadores da paz alheia, cultivadores da insensatez, usurpadores dos bens de todos.

Renteando com êles, enquanto não te conheciam e criam na possibilidade de subornar-te a alma sensível, para envileceres a mensagem de que te fazes portador, por coerência, mensageiro do Se­nhor, utilizavam-se de oferenda mentirosa das apa­rências para conquistar-te.

Constatando, porém, que o Evangelho é luz, e o Senhor é Rei, ante a impossibilidade de os destruírem, planejam destroçar-te, silenciando-te o verbo, ferindo-te até as entranhas, calcinando tuas horas ou amordaçando-te.

Pigmeus não enfrentam gigantes. Traem-nos ou aliciam outras fôrças para engendrarem o com­bate, no qual seriam esmagados, não fOssem utili­zadas a astúcia e a intriga, que pensam dominar as cidadelas da força nobre por dentro, Invencíveis, todavia, na sua nobre estrutura.

Liga-te, mais, portanto, ao Senhor.

Passaram os enganosos favores que supunhas receber. Também passarão as débeis perseguições que ora experimentas

Içando o Espírito ao Amigo Divino, dar-te-á Êle desconhecida coragem e ignorada resistência, re­vestindo-te de dúlcida alegria, enquanto perseveres no cumprimento do dever reto, no qual avanças na direção das estrêlas.

Se sentires, nessa luta, o cêrco de outras fôrças conjugadas àquelas que pertencem aos teus anti­gos amigos, hoje transformados em irmãos ator­mentados, recorda dos Espíritos Infelizes, que se rebolcam além do túmulo em desespero e rebeldia, comprazendo-se em os afligir e os azucrinar — como fuga para a própria desdita —, envolvendo-os na luz da oração, de modo a ajudá-los, conquanto não te compreendam o gesto fraternal nem creiam na honestidade dêle, entregando-os todos ao Excelso Benfeitor em regime de totalidade, a fim de perma­neceres em paz.

*

“Bem-aventurados sois, quando vos injuria­rem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa”.

Mateus: ´capítulo 5º, versículo 11.

*

“Quando vos advenha uma causa de sofri­mento ou de contrariedade, sobre ponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido domi­nar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespêro, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: “Fui o mais forte”.

Capítulo 5º — Item 18 parágrafo 2.


23

ACUSAÇÕES E ACUSADORES

Quando o estudante da Boa Nova se adentrou pela senda luminosa do esclarecimento renovador, sentiu-se dominado por ignota emoção, permitindo-se arrastar por aspirações superiores, planejando programas abençoados a favor da própria paz e em volta dos passos que pretendia imprimir pela rota.

Tudo sorriam flõres, ofertando largas dádivas de alegrias: amigos gentis, esclarecedores, de se­gura aparência interior, como se se encontrassem realmente forjados nos altos fornos do sofrimento e da abnegação; tarefas múltiplas favoráveis, em clima de fraternidade convidativa; oportunidades felizes de exercitar as lições vivas do Mestre no convívio comunitário...

Entusiasmo singular dominou-o com as mais agradáveis impressões que se convertiam em con­vites à doação total.

Legitimamente concitado à construção dos pos­tulados formosos no dia-a-dia das lutas, envidou esforços e entregou-se ao labor.

A princípio, incipiente, era dirigido pelos com­panheiros mais experimentados, desconhecendo a escolha de serviços e a todos se entregando com alto espírito de abnegação.

Passou a despertar interêsse e granjeou simpatias, inspirando respeito A ociosidade que estava à espreita, vigilante, bradou por uma bôca malsã: “Tudo no comêço é fácil. Vejamos daqui a alguns anos”.

Não obstante a decepção sofrida, o candidato ao bem afervorou-se mais e insistiu na realização dos serviços nobres.

A maledicência que lhe seguia os passos, alme­jando ensejo, não aguardou mais tempo e blasonou:

“Parece o dono da Casa, e apenas chegou ontem. Presunçoso e fingido, dará o golpe, quando menos se espere”.

O estudante da lição evangélica anotou o apon­tamento soez e, embora sofrendo, superou os pró­prios melindres, laborando Infatigável.

A inveja que lhe não perdoava a ação elevada, surpreendeu-o através dos companheiros de tra­balho e destilou veneno: “Interesseiro e falso que é. Será que pretende tomar todo o trabalho nas suas mãos? Não pergunta nada a ninguém e crê-se auto-suficiente. Merece desprêzo e expulsão antes que seja tarde demais”.

O servidor da gleba, coração ralado, asfixiou as lágrimas e, orando pelos ofensores, prosseguiu confiante.

A viciação segura das vitórias incessantes a que se acostumara nas continuas investidas à fra­queza humana, fêz cerrado sitio e requisitou a seu serviço a sensualidade, que após os primeiros co­metimentos foi rechaçada.

Ferida no brio, convocou a vaidade que envol­veu o lidador no incenso da palavra vã, esparzindo os fluídos do egoísmo em forma de ardilosas insi­nuações que redundaram Inoperantes. O subõrno pelo dinheiro foi, então, estimulado, e como não conseguisse desligar da órbita dos deveres o discí­pulo afervorado, êste, com os recursos de que dispunha, passou a engendrar dificuldades, multipli­cando óbices e malquerenças onde medrava o des­peito e campeava a disputa das cogitações infe­riores.

Embrulhado, todavia, nas vibrações da prece, o seareiro da luz insistiu no serviço edificante, apesar da dor que o trespassava interiormente.

Nesse ínterim, porém, a calúnia resolveu com­parecer ao campo das ações variadas, e, afrontosa, se impôs o compromisso de cravar as garras nas carnes da alma do operário incansável, O ácido da acusação indébita, produzindo a impiedade, desve­lou os inimigos que jaziam ocultos e o fel do descrédito cobriu-lhe as pegadas; o enfado anteci­pou-lhe o avanço e malquerença, abraçada à ig­norância, armou áspera e alta muralha; todavia, cansado e humilhado, o servo do Cristo se negou saltá-la, deixando-se abater, então, pelos ardis da calúnia hàbilmente manejada pelas mãos da men­tira que, confundindo os frívolos e os vãos, esta­beleceu primado, transformando o antes verde campo de esperança em caos de dor e reduto de animalidade...

* * * .

Entrega-te a Deus, Nosso Pai, e deixa-te con­duzir por Ele docilmente, confiantemente, até o momento da tua libertação...

Eles, também, os teus acusadores experimen­tarão em breve o trânsito para a própria libertação. Perdoa-os, e insiste no bem, haja o que haja, certo de que Jesus, a Quem amas, continuará com êles, mas contigo também.

*

“Não te envolvas na questão dêste Justo”.

Mateus: capítulo 27º, versículo 19.

4

“O Senhor apôs o seu sêlo em todos os que nêle crêem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquêle que sofre, e tem a fé por amparo, ficará sob a sua égide e não mais sofrerá.

Capítulo 5º — Item 19 parágrafo 4.


24

MÁGOA

Síndrome alarmante, de desequilíbrio, a pre­sença da mágoa faculta a fixação de graves enfer­midades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha.

A mágoa pode ser comparada à ferrugem per­niciosa que destrói o metal em que se origina.

Normalmente se instala nos redutos do amor próprio ferido e paulatinamente se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vítimar o hospedeiro.

De fácil combate, no início, pode ser expulsa mediante a oração singela e nobre, possuindo, to­davia, o recurso de, em habitando os tecidos deli­cados do sentimento, desdobrar-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engendrando cânce­res morais irreversíveis. Ao seu lado, instala-se, qua­se sempre, a aversão, que estimula o ódio, etapa grave do processo destrutivo.

A magoa, não obstante desgovernar aquêle que a vitaliza, emite verdadeiros dardos morbíficos que atingem outras vítimas incautas, aquelas que se fizeram as causadoras conscientes ou não do seu nascimento...

Bôrra sórdida, entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo-lhe o ministério consolador.

Hábil, disfarça-se, utilizando-se de argumentos bem urdidos para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento.

Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa, que, gerando altas cargas tóxicas sôbre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo psíquico com lamentáveis conseqüên­cias nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso...

O homem é, sem dúvida, o que vitaliza pelo pensamento. Suas idéias, suas aspirações constituem o campo vibratório no qual transita e em cujas fontes se nutre.

Estiolando os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar o ressentido, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes de outras pessoas.

* *

Caça implacavelmente êsses agentes Inferiores, que conspiram contra a tua paz.

O teu ofensor merece tua compaixão, nunca o teu revide.

Aquêle que te persegue sofre desequilíbrios que ignoras e não é justo que te afundes, com êle, no fôsso da sua animosidade.

Seja qual fôr a dificuldade que te impulsione à mágoa, reage, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores.

Através do cultivo de pensamentos salutares, pairarás acima das viciaçôes mentais que agasalham êsses miasmas mortíferos que, infelizmente, se alastram pela Terra de hoje, pestilenciais, danosos, aniquiladores.

Incontáveis problemas que culminam em tragé­dias quotidianas são decorrência da mágoa, que vi­rulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário.

* * *

Se já registras a modulação da fé raciocinada nos programas da renovação interior, apura aspira­ções e não te aflijas.

Instado às paisagens Inferiores, ascende na direção do bem.

Malsinado pela Incompreensão, desculpa.

Ferido nos melhores brios, perdoa.

Se meditares na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não terás outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras da tua vida as balizas da sua província infeliz.

*

“Quando estiverdes orando, se tiverdes algu­ma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas”.

Marcos: capítulo 11º, versículo 25.

*

“Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em tôdas as posições sociais. Isto, meus caros filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”.

Capítulo 5º — Item 20.


25

VELÓRIOS

Diante do corpo de alguém que demandou a Pátria Espiritual, examina o próprio comportamen­to, a fim de que não te faças pernicioso, nem resva­les pelas frivolidades, que nesse instante devem ser esquecidas.

O velório é um ato de fraternidade e de afeição aos recém-desencarnados que, embora continuem vinculados aos despojos, não poucas vêzes perma­necem em graves perturbações.

Imantados à organização somática, da qual são expulsos pelo impositivo da morte, que os sur­preende com o “milagre da vida”, não obstante em outra dimensão, desesperam-se, experimentando as­fixia e desassossegos de difícil classificação, acom­panhando o acontecimento, em crescente inquietude.

Raras pessoas estão preparadas para entender o fenômeno da morte, ou possuem suficientes recur­sos de elevação moral a fim de serem trasladadas do local mortuário, de modo a serem certificadas do ocorrido em circunstâncias favoráveis, benignas.

No mais das vêzes, atropelam-se com outros desencarnados, interrogam os amigos que lhes vêm trazer o testemunho último aos despojos carnais, caindo, quase sempre, em demorado hebetamento ou terrível alucinação...

Em tais circunstâncias, medita a posição que desfrutas nos quadros da vida orgânica, consideran­do a inadiável imposição do teu regresso à Espiri­tualidade.

* * *

Se desejas ajudar o amigo em trânsito, cujo corpo velas, ora por êle.

No silêncio a que te recolhes, evoca os acon­tecimentos felizes a que êle se encontrava vincula­do, os gestos de nobreza que o caracterizaram, as renúncias que se impôs e os sacrifícios a que se submeteu... Recorda-o lutando e renovando-se.

Não o lamentes, arrolando os insucessos que o martirizaram, as aflições em rebeldia que experimentou.

O chôro do desespero como as observações ma­lévolas, as imprecações quanto às blasfêmias ferem-nos à semelhança de ácido derramado em chagas abertas.

De forma alguma registres mágoas ou desaires entre ti e êle, os vínculos da ira ou as cicatrizes do ódio ainda remanescentes.

Possivelmente êle te ouvirá as vibrações men­tais, sem compreender o que se passa, ou sofrerá a constrição das tuas memórias que acionarão des­conhecidas fôrças na sua memória, que, então, sin­tonizará contigo, fazendo que as paisagens lem­bradas o dulcifiquem — se são reminiscências fe­lizes — ou o requeimem interiormente — se são amargas ou cruéis — fomentando estados íntimos que se adicionarão ao que já experimenta.

A frivolidade de muitos homens tem transfor­mado os velórios em lugares de azêdas recrimina­ções ao desencarnado, recinto de conversas malsãs, cenáculo de anedotário vinagroso e picante, sala de maledicências insidiosas ou agrupamento para regabofes, onde o respeito, a educação, a conside­ração à dor alheia, quase sempre batem em reti­rada...

E não pode haver uma dor tão grande na Terra, quanto a que experimenta alguém que se despede de outrem, amado, pela desencarnação!

* * *

Sem embargo, o desencarnado vive.

Ajuda-o nesse transe grave, que defrontarás também, quando, quiçá, êsse por quem oras hoje seja as duas mãos da cordialidade que te receberão no além ao iniciares, por tua vez, a vida nova...

Unge-te, pois, de piedade fraternal nas vigílias mortuárias, e comporta-te da forma como gostarias que procedessem para contigo nas mesmas cir­cunstâncias.

*

“Deixai que os mortos enterrem os seus mortos”.

Lucas: capítulo 9º, versículo 60.

*

“Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo”.

Capítulo 5º — Item 21, parágrafo 5.


26

DIRETRIZES

Cresce a planta atraida pelo sol. Avança o rio buscando o mar.

Renova-se a árvore desdobrando ramos e enrijando fibras.

Engrandece-se o amor distribuindo bênçãos.

Sofre o homem sublimando aspirações.

A manifestação da misericórdia divina chega à Terra em diretrizes imutáveis que são leis inamovíveis, fomentando o progresso.

No limiar da vida, o princípio sspiritual são fascículos de luz.

No mineral a vida repousa e dorme. No vegetal a vida sonha e sente.

No animal a vida se desenvolve e adquire ins­tintos que a resguardam.

No homem a vida se levanta e compreende. No anjo a vida se liberta e engrandece.

A constante diretriz é crescer, superar, aperfei­çoar.

* * *

Modela-se o vaso saindo da lama desprezada graças às ágeis mãos do oleiro; a utilidade domés­tica toma forma sob a lâmina vigorosa do instru­mento que fere a madeira, aprimorando-a para se tornar comodidade e confôrto; encandece-se o minério e se faz moldável ao império do calor que o aquece; aprimora-se o homem através dos atos que lhe traçam os dias na terra, plasmando nêle os valôres da ascensão ou da queda, aos quais se afeiçoe.

Em tudo palpita a ordem, em todo lugar vibra o equilíbrio, se manifesta Q vigor da Lei.

O chicote que vergasta nem sempre está punin­do; não poucas vêzes trabalha pela retificação do infrator.

A reprimenda não tem caráter de humilhação; antes é advertência para evitar nôvo êrro.

A bitola que limita também ministra a bênção da direção, tanto quanto o trilho que obriga a máquina a deslizar nêle imprime-lhe diretriz segura para atingir o objetivo ao qual se destina.

É necessário, pois, que em nossos atos esteja presente sempre a ordem, essa filha da obediência e irmã da disciplina, formando uma harmônica tríade para o nosso sucesso na materialização dos objetivos elevados que perseguimos.

Examinemos com a necessária atenção o ensi­namento do Mestre que, desejando administrar-nos preciosa lição, sintetizou sublimes discursos na singeleza dêste postulado:

“Conhece-se a árvore pelo fruto”, deixando que se compreendesse que os seus seguidores se fariam identificar pelos atos.

Para que te possas tornar conhecido como dis­cípulo do Senhor é necessário agires no bem, infa­tigàvelmente. Para tal é imprescindível que impri­mas em todos os compromissos a austera diretriz do Evangelho vivo e vibrante como normativa segura para a própria felicidade.

*

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.

João: capítulo 13º, versículo 35

*

“Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o êrro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados, à paz que lhes não pode dar glória, nem promoção!”

Capítulo 5º — Item 24, parágrafo 5.


27

SACRIFÍCIO

Não cogites de eliminar da órbita das ativida­des a que te vinculas, objetivando a redenção do próprio espírito, o sacrifício, que é cantinho de redenção.

Todos os pés que transitam pelas dificuldades aprendem a contornar obstáculos e a vencer impedimentos. As mãos que se calejam no afã subli­me da produtividade perdem a sensibilidade às coisas vãs que agradam a cobiça e a insensatez, e o corpo, em geral, disciplinado pela continência e educado na contenção, transforma-se em veículo dúctil e nobre ao cumprimento dos deveres supe­riores da vida.

Sacrifício é, também, atestado inequívoco de devoção ao bem e à verdade.

Examina a história dos crucificadores e vê-los-ás triunfantes sob o aplauso da ilusão enlouquecida, carregados em triunfo momentaneamente, enquanto os crucificados permanecem em silêncio. Logo, po­rém, êles passam e aquêles que foram as suas ví­timas levantam-se do olvido para perpetuarem, através do martírio de que foram instrumento, os ideais nobilitantes da vera Humanidade.

* * *

Falar-te-ão da necessidade de poupares as tuas energias quando aplicadas ao Bem; conclamar-te-ão à inutilidade do nada e à vaidade enganosa, como explicando a nulidade do investimento homem, nos turbulentos dias da atualidade; estimular-te-ão emo­ções grosseiras, o cultivo de idiossincrasias, fazen­do-te aferrado ao azedume, à intolerância e à perniciosidade.

Outras bõcas apresentarão aos teus ouvidos os convites da felicidade, qual estupefaciente que ab­sorvido produz o sonho ilusório, antecedendo o despertar da crua e inditosa realidade...

Quando, porém, fascinado pela quimera perce­beres o engôdo em que caíste e desejares retornar; quando descobrires que tudo não passou de um sonho de loucura acalentado numa hora de angústia; ao perceberes que estes na Terra e que por enquanto o Planêta se mantém sob o fragor das provações e o sôpro dos sofrimentos e desejares buscar aquêles que foram comparsas da tua desdita, possivelmente não os encontrarás receptivos nem ate­veis ao teu lado...

Consultados dir-te-ão: “Não sabias? Que espe ravas do mundo, tu que emboscaste o Cristo no coração e o atiraste fora, no lôdo da paixão? Agora, caro amigo, é contigo”.

Verificarás, então, somente na via da soledade, o pêso do remorso e o travo de amargura sem nome. Nessa hora, todavia, com sacrifício te imporás o recomêço difícil e necessário.

Sacrifica-te, pois, antes, renunciando, não ce­dendo ao mal, olvidando vaidades e superstições. Sacrifica à vida a tua vida para que a paz te ente­soure as moedas da harmonia interior.

Chegarás, depois, à conclusão do porque Ele, teu Amigo Divino, preferiu o sacrifício a todo ins­tante, desde as palhas úmidas de um estábulo po­bre, às jornadas a pé sob sol causticante, o encon­tro e a convivência com as pessoas mal cheirosas dos caminhos, em regime de misericórdia para com os pecadores e infelizes até a hora da cruz de igno­mínia e de horror, sacrificando-se sempre para a fulguração perene como Rei Excelso em plena Glória Solar.

*

“O reino dos céus é tomado à fôrça, e os que se esforçam, são os que o conquistam”.

Mateus: capítulo 11º, versículo 12.

*

“O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida se fôr necessário”

Capítulo 5º — Item 29, parágrafo 2.


28

GRATULAÇÃO

No torvelinho das aflições, fácil é para o ho­mem esquecer-se das doações superiores com que o Senhor da Vida o aquinhoou.

Por qualquer insignificante problema, a con­trariedade lhe tisna a lucidez, fazendo que blasfeme ou se desgaste em injustificável rebelião.

Diz-se comumente que a vida não merece ser vivida, pois que somente decepções e lutas se amon­toam por todo lado, em tôrva conspiração contra a paz.

E há tanta beleza e harmonia na Terra!

No entanto, acostumado às bênçãos, não as aquilata devidamente, reportando-se ao seu valor somente quando as circunstâncias o privam de qualquer uma dessas concessões.

Necessário é, portanto, sair um pouco do castelo do eu para examinar com lucidez a Casa do Pai Criador e valorizar os tesouros de que pode dispor, exaltando a glória do viver.

* * *

Se possuís visão, recorda os que a perderam. Se dispões da audição, pensa nos que não con­seguem ouvir.

Se podes movimentar-te, evoca os limitados na paralisia.

Se desfrutas saúde, considera os padecentes das múltiplas enfermidades.

Se és aquinhoado com um lar, examina a situação dos desabrigados.

Se te fizeste pai ou mãe, tem em mente os que não lograram fruir tal aspiração.

Se reténs os valôres transitórios, medita a res­peito dos que nada possuem.

Mas se te escasseia esta ou aquela dádiva, tem paciência e espera.

Ninguém na Terra se encontra afortunadamente completo, como ninguém há que esteja em aban­dono total.

Aquêles que te parecem felizes, apenas parecem. E os que se te afiguram desgraçados, estão temporariamente resgatando dívidas, dirigidos por sábios desígnios.

Gratidão é rara moeda entre os homens. Habi­tuados à ambição desenfreada, da vida somente desejam gozar, sem outra aspiração, aquela que conduz à plenitude permanente, a dos valôres imperecíveis.

* * *

Os problemas são frutos da inércia do próprio homem que, negligente, acumula dificuldades, por egoísmo, desaire ou precipitação -

A vida é um desafio que merece carinhoso es­fôrço de coragem e significativa contribuição de trabalho.

Ser grato pela oportunidade de crescer, signi­fica o mínimo que se pode responder a êsse em­preendimento que é a reencarnação.

Todos rogam atingir novas metas, sem embargo não se fazem reconhecidos do Senhor pelos alvos lobrigados.

Gratidão, por isso, nas horas da agonia, como do testemunho, mediante a humildade ante as pro­vações redentoras, necessárias.

Em qualquer situação em que te encontres, agradece a Deus, abençoando por meio da confiança no futuro as horas difíceis do presente.

Convidado diretamente ao desespêro, não olvi­des as alegrias fruídas, e, conduzido à rebeldia, recua na direção da paz já desfrutada.

Reconhecido ao Pai Amantíssimo, Jesus, mesmo perseguido, incompreendido, atormentado, permane­ceu tranqüilo e fiel em confiança absoluta, como a expressar Sua sublime gratidão.

*

“Um dêles, vendo-se curado, voltou, dando glória a Deus, em alta voz, o prostrou se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe”.

Lucas capítulo 17º, versículos 15 e 16.

*

“Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados, encontram consolação em a fé no futuro, em a confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sôbre aquêle que, ao contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições caem com todo o seu peso e nenhuma esperança lhes mitiga o amargor - Foi isso que levou Jesus a dizer: Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos aliviarei”.

Capítulo 6º — Item 2.


29

LOUVOR AO LIVRO ESPÍRITA

Fixa-se na epopéia da Boa Nova o verbo divino relatado pela palavra dos evangelistas, retratando a jornada do inesquecível Rabi Galileu, ensejando à posteridade de todos os tempos a incomparável mensagem de redenção para os homens.

Antes disso, desde Hamurábi, que registrava em estelas de pedras a intuição do Alto, dando origem aos códigos de moral que norteariam os passos das criaturas na direção do bem, homens inspirados, heróis do pensamento e santos da ação relevante, gravaram as instruções do Mundo Superior, em tijolos, pedras, papiros, peles, pergaminhos, madeiras e papel, oferecendo preciosos legados para as idades futuras, como contribuição inalienável da felicidade humana.

Em todas as épocas, desde as mais recuadas, o verbo, ora na eloqüência do discurso oral, ora através do livro abençoado, tem sido mensagem de Deus que chega à Terra, a fim de conclamar mentes e corações ao nobre ministério da evolução -

Retratando estágios das diversas civilizações, construindo idéias, levantando impérios, a palavra sadia é semente de luz atirada ao solo dos séculos pela excelsa providência de Nosso Pai, atestando a Sua comunhão com as criaturas.

Foi por essa razão que os Espíritos Superiores, encarregados de apresentar ao emérito Codificador do Espiritismo as linhas básicas da Religião da Humanidade para o porvir, foram peremptórios nos postulados do amor e da instrução, como corolários essenciais da Caridade.

No amor o homem sublima os sentimentos e marcha no rumo nobilitante da felicidade, amparando e ajudando em nome de Jesus.

Mediante a instrução, a criatura se liberta das amarras da ignorância, estabelecendo a ponte de luz entre os abismos que o separam dos objetivos que persegue.

A instrução, no sentido superior da educação, que é construção e preservação da paz no íntimo, consegue conduzir o amor, para que este não se entorpeça nem se envileça ante as paixões individuais ou as expressões poderosas de grupos, refletindo aquele sentimento com o qual Jesus nos amou.

Assim considerando, ontem como hoje, o livro é pão da vida, preparado com o trigo da sabedoria para sustentação das criaturas todos os dias.

* * *

Quando o canhão ameaça e a bomba dizima, o livro consegue silenciosamente modificar o statu quo e erguer os ideais que jazem amortalhados sob o pavor ou dormem em baixo das cinzas da destruição, ou vencidos pelas labaredas do ódio, de modo a renovar as expressões da criatura em nome da paz, da liberdade e do amor.

O livro espírita, nesse sentido, guarda o hálito superior da vida para a manutenção das aspirações da Terra, no justo momento em que desajustados, os indivíduos se atiram em louca e desabalada correria pelos sombrios meandros da indiferença, do descaso, do cinismo e da criminalidade.

O livro espírita, preservando a palavra do Mundo Maior para a clarificação do mundo menor, transcende a própria contextura, pois que nele são registradas as experiências dos que passaram pela Terra e superaram o portal de cinza e lama da sepultura.

Bem-aventurado seja, pois, aquele que esparze alegria, o que doa pão, o que oferta medicamento, o que distende linfa generosa, o que concede agasalho, mas, sobretudo, o que planta o futuro, luarizando com a palavra espírita inserta no livro libertador a grande noite da ignorância, na qual padecem os espíritos jugulados ao passado delituoso ou atados às reminiscências dolorosas sob o talante com que renasceram para resgatar e libertar-se.

Jesus, o Mestre por excelência, até hoje trabalha, ensina e, tomando a Natureza como motivação superior, dela faz um livro divino para ofertar-nos preciosas lições de amor e sabedoria com que prossegue conclamando-nOS à ventura plena e à paz integral.

Semeemos, pois, o livro espírita, e estaremos libertando desde agora o mundo de amanhã, com a madrugada da Era Nova de que o Espiritismo se faz mensageiro.

*

“Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito”.

João: capítulo 14º, versículo 26.

*

“Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me, O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem que lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz com que germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: Vinde a mim, todos vós que sofreis”.

Capítulo 6º — Item 5.


30

RESIGNAÇÃO

Na atual conjuntura intelectual do planêta e considerando-se o clima de rebeldia que irrompe virulenta por tôda a parte, a resignação para os aficcionados da violência e do prazer é manifestação patológica que tipifica as personalidades anômalas.

Diante do conceito disparatado e frágil, muitos se auto-afirmam pelos desmandos, quando convida­dos às paisagens da reflexão, pelo sofrimento, ge­rando males muito mais danosos do que aquêles dos quais pretendem fugir -

Porque os seus planos colimam resultados di­versos aos que aguardavam, atiram-se ao desalento, quando não partem para as reações abastardantes da crueldade ou do cinismo.

Se as enfermidades chegam, exasperam-Se, ban­deando para a revolta, intoxicando-se interiormente com as emanações venenosas do inconformismo.

Quando os insucessos lhes drenam as ambições desmedidas, desgarram-se para os “sonhos róseos” dos estupefacientes e barbitúricos.

Diante das necessárias provações que os colo­cariam nas corretas engrenagens da máquina da vida, vituperam, ferozes e se destroçam nos abusos do sexo e do álcool, em dissipações inomináveis a que se arrojam.

Suas resistências são tôdas comandadas pelos impulsos da ira ou da insatisfação, distantes das reações construtivas da inteligência que discerne, lógica e produz.

A resignação para êles é cobardia moral no entanto, fogem à realidade até que a desencarna­ção os surpreende tardiamente com as realidades verdadeiras da vida, das quais se afastaram, ence­tando a partir daí longos períodos de sombra, dor e desassossego inimaginável.

* * *

Tu que ouviste a voz da mansuetude do Cristo e que te encorajaste face à grandeza da Sua vida, resigna-te, fortalecendo o ânimo, ante qualquer cometimento que te produza dor e que seja rotu­lado como desgraça ou infortúnio.

Nada ocorre por capricho pernicioso da vida. Recebemos conforme damos, assim como colhemos consoante a qualidade dos grãos que ense­mentamos.

Resignação significa coragem e fôrça na vora­gem do desespêro. Somente os cristãos autênticos e os homens possuidores de elevados ideais se fa­zem capazes de resignar-se quando o desalento e a alucinação já se apossaram de outros seres.

Os que se encastelam nas chacinas e nos des­vãos da anarquia, dizendo-se superiores, são meninos medrincas, que não dispõem de energias para se reorganizarem e prosseguirem na atitude reta.

Se te convidam ao revide — resigna-te e ora.

Se te convocam ao ódio — resigna-te e confia.

Se te afrontam com agressões — resigna-te e agradece a Deus.

Os dias sempre e inevitavelmente se sucedem para bons e maus, e ninguém se eximirá jamais ao amanhã que a todos alcança, refletindo na clari­dade forte e pujante do tempo a manifestação — resposta dos nossos atos nas mesmas expressões com que desde hoje as produzimos.

Resignação, também, é vida, e vida abundante, na direção da vida eterna.

*

“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregadOS, que eu vos aliviarei.

Mateus: capítulo 11º, versículo 28.

*

“O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao Espírito e resignação. O coração bate então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se sente, quanto mais profundamente golpeado é o Espírito”. — O ESPÍRITO DE VERDADE. (Havre, 1863).

Capítulo 6º — Item 8.


31

AINDA A HUMILDADE

A fôrça da humildade!

Grandiosa, passa na maioria das vêzes como fraqueza, ante os conceitos gastos da falsa moral. Tão nobre que se desconhece a si mesma.

Atravessa uma existência sem despertar aten­ção, e nisso reside a essência do seu valor.

Serva fiel do dever, não malbarata o tempo nas frivolidades habituais que exaltam os ouropéis. Avança sempre, produzindo com objetividade na direção dos fins que busca colimar.

A humildade é muito ignorada.

Virtude excelente é precioso aroma de sutil característica que vitaliza os que a conduzem.

Toma diversas aparências conforme as neces­sidades das circunstâncias em que se manifesta.

Aqui é renúncia, cedendo a benefício geral, esque­cida de si mesma.

Adiante é perdão a serviço da paz de todos.

Além é bondade discreta, produzindo esperança.

Hoje é indulgência para oferecer nova oportunidade.

Amanhã é beneficência para manter a misericórdia.

É sempre a presença de Jesus edi­ficando a felicidade onde quer que escasseie a colheita de luz.

A humildade, porém, somente é possível quando inspirada nos ideais da verdade.

Enquanto o homem não se abrasa da certeza da vida superior, a humildade não lhe encontra guarida.

Sabendo que a Terra é uma escola de expe­riências e ensaios da vida para a verdade, do mundo somente lhe vê as oportunidades de progresso, com­preendendü a necessidade de aproveitar as horas.

Todos os grandes heróis do pensamento, os mártires da fé e os santos da renúncia para lobrigarem o êxito dos objetivos a que ligaram a exis­tência, se firmaram na humildade por saberem do pouco valor que representavam ante as grandes diretrizes da vida.

A humildade em última análise representa submissão à vontade de Deus, doação plena e to­tal às Suas mãos, deixando-se conduzir pela Sua Diretriz segura que governa o Universo.

* * *

No culto da humildade não tenhas a presunção de resolver todos os problemas que te chegam. Preocupa-te em desincumbir-te fielmente dos deve­res que te dizem respeito.

Qualquer tarefa, por mais insignificante que te pareça, é de alta impor­tância no conjunto geral. Faze, portanto, a tua função no concêrto das coisas consciente de que tua colaboração é preciosa e deve ser doada.

Não ambiciones a tarefa que te não diz res­peito. Aprende a considerar o labor alheio e produze o teu serviço cônscio da significação do que realizas, adornando de belezas o que passe pelo crivo do teu interêsse e do teu zêlo.

Responderás diante da vida não pelo que gos­tarias de ter proporcionado, mas pelo que tiveste diante das possibilidades e de como te comportaste ante a ensancha.

Cultiva a humildade.

A humildade pela força da sua fraqueza nunca vai ser atingida: a lisonja não a envaidece, e a zombaria não a humilha. É inatingível pelo mal em qualquer expressão como se apresente.

Olha o firmamento e faze um paralelo: as es­trêlas faiscantes e tu! Compreenderás o valor da humildade.

* * *

Conquanto Jesus fôsse o Arquiteto Sublime da Terra, não desconsiderou a carpintaria singela de José; caminhou imensos trechos descampados de solos agrestes a serviço do amor; conviveu com os mais difíceis caracteres sem melindres, sem falsa superioridade. Tão igual se fêz aos infelizes que o acompanhavam que nem todos acreditaram fôsse Ele “o escolhido”.

No entanto, ainda aí não usou a presunção de convencer a ninguém, fazendo tudo aquilo para quanto veio e depois retornou, sereno. sem abandonar os a quem veio amar.

Lição viva e desafiadora, a Sua vida é convite para que meditemos e vivamos, incorporando à nossa existência essa pérola sublime da redenção espiritual: a humildade!

*

“Aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo”.

Mateus: capítulo 20º, versículo 27.

*

“A humildade é virtude muito esquecida entre vós. Bem pouco seguidas são os exemplos que dela se vos têm dado. En­tretanto, sem humildade, podeis ser cari­dosos com o vosso próximo?”

Capítulo 7º — Item 11, parágrafo 3.


32

COM DISCERNIMENTO

Não somente os espinhos, mas as rosas também.

Não apenas os pedregulhos, igualmente a es­trada.

Não exclusivamente as sombras, porém a cla­ridade do dia.

Não só a enfermidade, também a saúde.

Não unicamente os desencantos, senão as espe­ranças e as alegrias.

* * *

O espinho que fere defende a rosa, e esta ignora que se evolando no leve ar da manhã aromatiza em derredor.

Os pedregulhos dilaceram os pés, entretanto, são parte da segurança na estrada, que oferece possibilidades de avanço na direção dos objetivos.

As sombras amedrontam, todavia, facultam, também, os recursos para o repouso, de modo a oferecerem forças para as atividades da luz.

A enfermidade que macera ajuda a valorizar a saúde e desperta o homem para a própria fragili­dade orgânica, trabalhando pelo seu labor imorta­lista.

Os desencantos doem, enquanto convocam a mente e o sentimento para as esperanças e as alegrias da vida espiritual.

Todos os que deambulam no carro fisiológico, enganados momentâneamente pelas limitações da caminhada humana, gostariam de estar guindados aos tronos da vaidade, sob as luzes abundantes quão transitórias dos refletores da glória, que provocam inveja e trabalham pela loucura.

Afadigados sob o peso das ambições, aparecem de sorrisos largos os cultores da alegria efêmera e coração estilhaçado pela ansiedade. Profissionais do bom humor experimentam o travo insolvente do cansaço que não podem revelar, obrigados pela compulsória da bajulação popular a desvios da realidade até às alucinações odientas.

São afáveis por compromisso dos interêsses imediatos, trabalhando para a insânia das vacuidades impreenchíveis, que o despertar próximo ou remoto transformará em travas de desesperação.

Invejados são também invejosas, sempre em guarda contra os outros que, segundo êles, são constante ameaça ao trono onde brilham e se des­gastam.

Cercados por amôres compulsórios, que os utilizam para suas próprias ambições, frustram-se, e experimentam soledade interior, malgrado as multidões que os ovacionam.

* * *

A rebeldia contra o sofrimento é minoridade espiritual.

O desespêro face às lutas caracteriza as dispo­sições inferiores do ser.

A ansiedade descabida pelo triunfo na Terra significa desequilíbrio da razão.

A acrimônia contumaz responde pelo prima­rismo de quem a cultiva.

As paixões de qualquer natureza vinculam o espírito às formas primeiras, impedindo-o de plainar acima das vicissitudes.

Considera que exame é teste de avaliação das conquistas.

Prova constitui técnica de valorização dos bens adquiridos nos empreendimentos do caminho humano.

Sofrimento, portanto, dêste ou daquele matiz, também significa desgaste para mudança de tom vibratório, no ritmo da evolução.

Ninguém confia responsabilidades maiores àqueles que não se permitiram promover antes as inquirições selecionadoras dos tipos e das realiza­ções conseguidas.

* * *

Não te facultes espezinhar, quando convidado aos testemunhos da vida, essas abençoadas oportu­nidades de superação de ti mesmo. O labor de qualquer natureza afere as resistências de quem se propõe a maiores realizações.

Em tôda parte defrontarás a dor trabalhando silenciosamente os espíritos, mesmo quando rebelados, a fim de os alçar à felicidade que aspiram e não sabem como por ela esforçar-se.

Dêsse modo, ludibriado ou aparentemente ven­cido, perdendo o que se convencionou chamar “a oportunidade de gozar”, evita o desânimo e desatre­la-te do carro da amargura.

Fortemente vinculado ao espírito da vida, que avança sem cessar e adorna tudo; inspirado pelo ideal do amor, que representa a Paternidade Divina no teu coração; e orando pelo pensamento e atra­vés dos atos, poderás alcançar a fortuna da paz interior e acumular os tesouros da alegria plena, que bastarão para a concretização da felicidade do teu espírito.

* * *

Nos espinhos está a segurança das rosas.

Nos pedregulhos o refôrço da estrada.

Nas sombras a oportunidade da meditação.

Na enfermidade o convite à prece.

Nos desencantos a superação da forma física.

Reflete, assim, para discernimento na jornada do Rabi, em que não faltaram espinhos de ingratidão, pedregulhos de maldade, sombras de perse­guição, enfermidades da inveja e desencantos da de­serção dos companheiros mais queridos, enquanto Ele prosseguiu sem desfalecimentos até o fim, de modo a legar-nos a lição da resistência contra o mal, em qualquer lugar e em qualquer circunstância.

*

“Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu, e não podeis discernir os sinais dos tempos?”

Mateus: capítulo 16º, versículo 3,

*

“A natureza do instrumento não está a indi­car a que utilização deve prestar-se? A enxada que o jardineiro entrega a seu aju­dante não mostra a êste último que lhe cumpre cavar a Terra? Que diríeis, se êsse ajudante, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu patrão? Diríeis que é horrível e que êle merece ser expulso”.

Capítulo 7º — Item 13.


33

UM CORAÇÃO AFÁVEL

A complexidade da vida moderna parece cons­pirar contra a tua paz interior e, maquinalmente conduzido pela multifária engrenagem, sentes ver­dadeira conjuração dos fatõres que conseguem, por fim, sulcar a tua face com os sinais da intranqüilidade, da revolta, do azedume.

Não obstante o confôrto que deriva das facilidades ao acesso de grande parte dos homens, experimentas sérias conjunturas afligentes que te molestam, solapando os alicerces da tua estrutura emocional.

Todavia, se te permitires ligeira análise das pos­sibilidades que fluem ao teu alcance, modificarás as disposições negativas e te renovarás.

Enseja-te um coração afável.

Experimenta aplicar esses valôres desconside­rados que são a palavra gentil, o gesto simpático, o sorriso delicado, a paciência generosa, e fortunas de verdadeira alegria espalharão moedas de bem-estar através de ti, envolvendo-te, também num halo de felicidade interior.

Francisco de Assis, embora enfêrmo e asceta, caminhando por sendas de cruas dificuldades, con­seguia cantar as belezas da “irmã natureza”, dos “irmãos animais”, dos “irmãos pássaros”...

Helen Keller, conquanto limitada pela surdez, pela cegueira e pela mudez, péde exaltar a beleza das paisagens, a claridade das manhãs, a fragrância das flôres, fazendo da existência um hino de louvor à vida...

Gandhi, apesar de dispor de vastos recursos para o triunfo mundano, abraçou a causa da “não violência” e deu-se integralmente aos aflitos e ne­cessitados em constantes recitativos de amor à vida e abnegação pela vida.

Corações afáveis!

Quantas oportunidades desperdiças de semear júbilos fora e dentro de ti mesmo, porque insignifi­cante problema toldou a luz do teu amanhecer, ou irritação por coisa de monta insignificante produziu um mal-estar na execução do teu programa? Lu­taste para conservar a mágoa, disputando a tarefa de parecer e ser infeliz, esquecendo as fartas con­cessões que o teu coração, tornado afável, poderia conseguir!

Simplifica o teu roteiro de ação, dilata a visão do bem no panorama das tuas horas, e com o preço mínimo de um sorriso considera a coleta de júbilos que dêle se deriva e que poderás colher.

Jesus, dilatando o seu coração afável, contou as mais belas hipérboles e hipérbatos, parábolas e poemas que o homem jamais escutou. Um grão de mostarda, uma moeda insignificante, algumas varas, uma pérola luminosa, peixes e rêdes, talen­tos e sementes receberam da sua afabilidade um toque especial de beleza que comoveram, a princí­pio, uma mulher atormentada por obsessão pertinaz, um príncipe petulante e douto, um cobrador de impostos rejeitado, jovens homens da terra e ve­lhos marujos decididos, sensibilizando, depois, incontáveis corações para com êles inaugurar um reino diferente de amor, que até hoje é a mais fascinante História da Humanidade.

Começa, dêsse modo, desde agora, a experiên­cia de manter um coração afável, disseminando bênçãos.

*

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque êles verão a Deus”.

Mateus: capítulo 5º, versículo 8.

*

“A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui tôda idéia de egoísmo e de orgulho”

Capítulo 8º — Item 3.


34

ACIDENTES

Talvez possas evitá-los.

Surgem impulsionados por fôrças descontrola­das, por injunções negativas, produzindo acerbas dores de conseqüências quase sempre funestas.

Na atualidade convulsionada por fôrças tirani­zantes que conspiram contra o equilíbrio geral, ocorrem inumeráveis e adversos, graças à densida­de populacional e à expressiva soma de veículos que transitam pelas ruas do mundo, desabalada­mente.

Cada minuto as estatísticas registram expressões alarmantes de acidentados que resgatam, em ago­nias longas, velhos processos espirituais que os atingem, incoercível, inevitàvelmente.

Em face disso, refugia-te na oração e entrega-te às mãos sublimes do Cristo, facultando que os Seus mensageiros conduzam os teus passos com segurança e tranqüilidade pelas rotas em que tens de avançar na direção do futuro.

Surprêsas dolorosas espiam nas esquinas das ruas e se guardam nos alcouces das mentes alucinadas.

Muitos daqueles que cruzam com os teus pas­sos ou te provocam reações inesperadas estão ultra­jados pelos Espíritos Infelizes, iguais a êles mesmos, atormentando-os, quanto atormentados se encontram.

Não revides ante provocações, nem te extremu­nhes conduzindo vibrações molestas contigo.

Raciocina crestamento tendo em vista que és valioso na economia do Planêta e que a tua vida é patrimônio de alta significação, que não deves ar­riscar nos jogos das frivolidades.

O discípulo do Cristo é alguém em programa de reajustamento e renovação tropeçando com o passado culposo, que reaparece em mil apresenta­ções conspirando contra a paz ou sugerindo repara­ção edificante mediante o teu esfôrço enobrecido.

* * *

Acidentes, acidentados!

Acidentes do trabalho quais bigorna e malho de aflições esfaceladoras, advertindo.

Acidentes de veículos em desgovernos de equi­pamentos ou desajustes emocionais dos seus con­dutores, ou surpresas do inesperado, gritando avi­sos que não podes deixar de examinar com respeito e atenção.

Acidentes nas multidões, em forma de agressão da ferocidade, da rapina, do terrorismo, da loucura de todo jaez em conúbio com a desagregação da esperança e da paz, como escarmento necessário.

Acidentes da Natureza em maremotos e terre­motos, furacões e calamidades, chamando o homem à meditação dos substanciais quão Intransferíveis deveres de cuidar do espírito na sua oportunidade redentora, transitória, que passa célere.

Acidentes da alma invigilante sob acúleos da insensatez e sObre pedrouços da desconsideração do patrimônio da vida carnal, nos quais, não raro, desperdiças os mais expressivos tesouros que se convertem em escassez dolorosa que conduz o de­sassisado às sombras do desespêro tardio.

* * *

Em Jesus encontrarás a segurança inabalável e na Sua mensagem de amor terás sempre o manancial de sustentação capaz de ajudar-te, lenindo sofrimentos da tua alma e preparando-te para o retorno, através da desencarnação, que a seu turno é acidente orgânico da máquina que se nega a prosseguir, libertando o prisioneiro, o qual, na vida espiritual, seguirá tranqüilo e feliz ou ficará retido na aflição desconcertante de que não se desejou desvincular.

*

“Melhor para vós será que entreis na vida tendo um só Ôlho, do que terdes dois e serdes precipitados no fogo do inferno”.

Mateus: capítulo 5º, versículo 30.

*

«Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da justiça de Deus, que não inflige punições arbitrárias pois quer que a pena esteja sempre em correlação com a falta”.

Cap, 8º — Item 21.


35

CIZÂNIA

Os lexicógrafos definem a cizânia como sendo “rixa, desarmonia, discórdia entre pessoas de ami­zade”.

A cizânia constitui, pela sua própria estrutura, adversário ferino da obra de edificação do bem, onde quer que se manifeste. Parte integrante da personalidade humana, o espírito da cizânia facilmente se instala onde o homem se encontra. Estimulada pelo egoísmo, distende com muitas possibilidades as suas tenazes, surpreendendo quan­tos incautos se permitem, por invigilância, trucidar.

Soez, persistente, contínua, a cizânia, ao mani­festar-se, divide o corpo coletivo em falsos grupos de eleição, que logo se entredisputam primazia, es­tabelecendo o combate aguerrido e franco sob os disfarces da pusilanimidade ou da simulação.

A cizânia deve ser combatida frontalmente onde quer que o bem instaure o seu reinado.

Para tanto, faz-se mister que cada membro ativo do grupo da ação nobilitante compreenda o impositivo da hu­mildade. Como a característica essencial da hu­mildade é fazer-se identificar sempre carecente de aprimoramento, enquanto se luta por adquiri-la, as farpas da inveja não se cravam no seu corpo o as disputas infelizes não vicejam.

Ante o esfôrço para a fixação da humildade legítima, a cizânia não consegue proliferar, isto porque é muito mais produtivo ser taxado de ingênuo ou tolo, porém pacífico e cordato, a dúctil e lúcido, no entanto, combativo e promovedor da dis­córdia.

* * *

Não esqueças que mesmo no Colégio Galileu, não poucas vêzes êsse tóxico letal foi identificado, pernicioso, pelo Incomparável Senhor, que, não obstante o alto patrimônio da Sua elevação, teve que enfrentá-la com energia e humildade.

Vigia, espírito dedicado, nas nascentes do labor que desdobras, na tarefa empreendida, e sê daqueles cujo serviço pode prosseguir sem tua cooperação, embora não possas marchar sem êle, por indispen­sável à tua elevação.

Oferece a quota do teu trabalho, compreen­dendo que no cômputo geral a importância de cada um está na medida do esfôrço despendido, nunca em relação à função exercida.

Impossível fulgir a jóia não houvesse sido êsse brilho precedido pelo esfôrço do garimpeiro ignorado, que se adentrou pela mina perigosa a buscá-la.

A pérola pálida a refulgir ostenta sua beleza graças ao estoicismo do mergulhador que desceu às águas abissais para arrancá-la da ostra ergastulada nas rochas submarinas -

No trabalho renovador ao qual te afervoras, não te olvides dos que atuam nas funções modestas, todavia indispensáveis ao serviço que desdo­bras.

O rei não poderia rodear-se de confôrto e grandeza sem o concurso do operário humilde que lhe ergueu o trono ou a cozinheira que lhe sustenta a manutenção do equilíbrio orgânico.

E a estabili­dade do seu império estaria sempre ameaçada não fôsse a fidelidade dos que o mantêm, vigilantes, e muitas vêzes ignorados.

A cizânia nasce sempre no seio da vaidade que se faz nutrir pela presunção.

Esquece, portanto, os títulos e valôres a que te apegas, pois que êles nada valem diante dAquêle a quem serves ou a quem procuras servir.

A obra do bem tem passado sem ti e depois que passes ela prosseguirá passando.

Reage à cizânia, impedindo que ela te domine no pensar, no falar, a fim de que não se desdobre através do agir.

* * *

Examina o íntimo do espírito para que as mentes geratrizes da cizânia, vitalizadas pelo preté­rito infeliz e corporificadas em grupos de pertur­badores do Mundo Espiritual, não encontrem na tua mente açulada o campo para as cogitações da cen­sura injustificada aos que não podem ser iguais a ti, quer estejam abaixo ou acima do teu nível de produtividade. Não olvides que ao mais esclarecido é exigida maior dose de tolerância, de compreensão e de misericórdia.

Quantas vêzes o amigo, habitualmente fiel, em se voltando para agredir não se encontra enfêrmo? Neste momento, não há outras alternativas senão piedade e socorro para êle.

Se desejas realmente, como apregoas, que cresça o trabalho do Cristo, não faças perniciosa distinção entre os servidores, não sugiras separa­tivismos, não confrontes mediante opiniões que criam ciümes ou açulam vaidades vãs pelo elogio gratuito, indiscriminado e improcedente, porque todo coração é maleável à palavra da bajulação dourada como todo espírito é acessível à referência azeda da impiedade, ao licor embriagante da per­versão.

Mantém, por tua vez, o compromisso da doação da palavra amiga e estimulante, quanto da advertência gentil, a fim de que possas prosseguir, seguro, na diretriz do equilíbrio.

Recorda que foi a cizânia dos homens que levou Jesus à cruz, atra­vés da invigilância de um companheiro enganado.

*

“Eu, porém, vos digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão merecerá ser condenado no juízo”.

Mateus: capítulo 5º, versículo 22.

*

“A benevolência para com os seus seme­lhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura que lhe são as formas de manifestar-se”.

Capítulo 9º — Item 6.


36

PERDOAR

Sim, deves perdoar! Perdoar e esquecer a ofensa que te colheu de surprêsa, quase dilacerando a tua paz. Afinal, o teu opositor não desejou ferir-te realmente, e, se o fêz com essa intenção, perdoa ainda, perdoa-o com maior dose de compaixão e amor. Ele deve estar enfêrmo, credor, portanto, da misericórdia do perdão.

Ante a tua aflição, talvez ele sorria. A insanidade se apresenta em face múltipla e uma delas é a impiedade, outra o sarcasmo, podendo revestir-se de aspectos muito diversos.

Se êle agiu, cruciado pela ira, assacando as armas da calúnia e da agressão, foi vitimado por cilada infeliz da qual poderá sair desequilibrado ou comprometido orgãnicamente.

Possivelmente, não irá perceber êsse problema, senão mais tarde.

Quando te ofendeu deliberadamente, conduzindo o teu nome e o teu caráter ao descrédito, em ver­dade se desacreditou êle mesmo. Continuas o que és e não o que ele disse a teu respeito.

Conquanto justifique manter a animosidade contra tua pessoa, evitando a reaproximação, alimenta miasmas que lhe fazem mal e se abebera da alienação com indisfarçável presunção.

Perdoa, portanto, seja o que fôr e a quem fôr.

O perdão beneficia aquêle que perdoa, por pro­piciar-lhe paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental.

* * *

Felizes são os que possuem a fortuna do per­dão para a distender largamente, sem parcimônia.

O perdoado é alguém em débito; o que perdoou é espírito em lucro.

Se revidas o mal és igual ao ofensor; se perdoas, estás em melhor condição; mas se perdoas e amas aquêle que te maltratou, avanças em marcha inve­jável pela rota do bem.

Todo agressor sofre em si mesmo. É um espí­rito envenenado, espargindo o tóxico que o vitima. Não desças a êle senão para o ajudar.

Há tanto tempo não experimentavas aflição ou problema — graças à fé clara e nobre que esflora em tua alma — que te desacostumaste ao convívio do sofrimento. Por isso, estás considerando em demasia o petardo com que te atingiram, valorizando a ferida que podes de imediato cicatrizar.

Pelo que se passa contigo, medita e compreen­derás o que ocorre com êle, o teu ofensor.

O que te é inusitado, nêle é habitual.

Se não te permitires a ira ou a rebeldia —perdoarás!

* * *

A mão que, em afagando a tua, crava nela espinhos e urze que carrega, está ferida ou se ferirá simultaneamente. Não lhe retribuas a atitude, usan­do estiletes de violência para não aprofundares as lacerações.

O regato singelo, que tem o curso Impedido por calhaus e os não pode afastar, contorna-os ou pára, a fim de ultrapassá-los e seguir adiante.

A natureza violentada pela tormenta responde ao ultraje reverdescendo tudo e logo multiplicando flôres e grãos.

E o pântano infeliz, na sua desolação, quando se adorna de luar, parece receber o perdão da pai­sagem e a benéfica esperança da oportunidade de ser drenado brevemente, transformando-se em jar­dim.

Que é o “Consolador”, que hoje nos conforta e esclarece, conduzindo uma plêiade de Embaixado­res dos Céus para a Terra, em missão de misericór­dia e amor, senão o perdão de Deus aos nossos erros, por intercessão de Jesus?

Perdoa, sim, e intercede ao Senhor por aquêlo que te ofende, olvidando todo o mal que ele supõe ter-te feito ou que supões que êle te fêz, e, se o conseguires, ama-o, assim mesmo como êle é.

*

“Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes”.

Mateus: capítulo 18º, versículo 22.

*

“A misericórdia é o complemento da bran­dura, porqüanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas”.

Capítulo 10º — Item 4.


37

ESPÍRITO DA TREVA

Está em toda parte.

Surge inesperadamente e assume faces de sur­prêsa que produz estados dalma afligentes, configurando pungentes conflitos que conduzem, não raro, a nefandas conseqüências.

As vêzes, no lar, os problemas se avultam, na ordem moral, desconcertando a paisagem domés­tica; no trabalho, discussões inesperadas, por nonadas, tomam aspectos de gravidade, que conduz os contendores a ódios virulentos e perniciosos; nas relações, irrompem incompreensões urdidas nas teias da maledicência, fragmentando velhas amiza­des que antes se firmavam em compromissos de lealdade fraterna Inamovível; na rua e nas condu­ções gera inquietações que consomem e lança pes­soas infelizes no caminho, provocantes, capazes de atirar por coisas de pequena monta, nos rebordos de abismos profundos, aquêles que defrontam...

É o espírito da treva. Está, sim, em tõda parte.

Membro atuante do que constitui as “fôrças do mau”, que por enquanto ainda assolam a Terra, na atual conjuntura do planêta, irrompe inspirando e agindo, nos múltiplos departamentos humanos, obje­tivando desagregar e infelicitar as criaturas, no que se compraz.

Espírito estigmatizado pela agonia íntima que sofre, envenenado pelo ódio em que se consome ou revoltado pelo tempo perdido, na vida passada, sintoniza com as imperfeições morais e espirituais do homem, mantendo comércio pernicioso de longo curso.

Está, também, às vêzes, encarnado no círculo das afeições. Aqui é o espôso rebelde, a genitora alucinada, a nubente corroída por ciúme injustifi­cável, o filho ingrato, o irmão venal, a filha viciada e ultrajante, a irmã desassisada; ali é o vizinho irri­tante, o colega pusilânime, o chefe mesquinho, o amigo negligente, o servidor cansativo, o compa­nheiro hipócrita exigindo atitude de sumo equilíbrio, em convite contínuo à serenidade e à perseverança nos bons propósitos.

Transmite a impressão de que não há lugar para o amor nem o bem, como se a vida planetária fôsse uma arbitrária punição e não sublime conces­são do Amor Divino, a benefício da nossa redenção.

* * *

Como quer que apareça o espírito das trevas, no teu caminho, enfrenta-o simples de coração e limpo de consciência. Não debatas nem te irrites com êle.

Ante os doentes, o medicamento primeiro e mais eficaz é a compaixão que - se lhes dá, não levando em conta o que dizem ou fazem por considerar que estão fora da razão e do discernimento, pela au­sência da saúde.

Arma-te a todo instante com a prece e põe o capacete da piedade, conduzindo a luz da misericór­dia para clarificar o caminho e vencerás em qual­quer luta, permanecendo livre face a qualquer das suas ciladas.

E quando, enfraquecido na luta, o espírito da treva estiver a vencer-te após exasperar-te danosa­mente, quase colimando por empurrar-te ao fôsso da insensatez, lembra-te de Jesus e dize:

- Afasta-te de mim, espírito do mal —, e avança sem parar na direção do dever sem olhar para trás.

*

“Depois vai e leva consigo mais sete espí­ritos piores do que ele, ali entram e habitam”.

Mateus: capítulo 12º, versículo 45

*

“O Espírito mau espera que o outro, a quem êle quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus inte­rêsses, ou nas suas mais caras afeições”.

Capítulo 10º — Item 6.


38

LOUVOR

A manhã esplende jubilosa, louvando a terra adormecida com a dádiva do despertar.

A vida canta estuante ao nascer do dia, lou­vando a mensagem da luz.

As flôres sorriem perfumes ao contato dos raios selares, louvando a graça do calor.

A terra umedecida produz, louvando a felicidade da doação fertilizante.

O rio abraça jubilosamente o oceano, louvando a amplidão marinha.

O diamante brilha, louvando as marteladas lapi­dadoras que o fizeram fulgir.

O homem ama, louvando a oferenda divina que lhe felicita o coração.

O crente ajoelha-se ditoso e louva o Senhor agradecendo a dádiva da fé.

* * *

Flutuando, corre a nuvem louvando a oportuni­dade de distender-se na atmosfera rarefeita.

A árvore cresce e louva o solo que a viu nas­cer, estendendo galhos que projetam sombra acolhedora, multiplicando bênçãos de flõres e frutos...

Tôda a vida na terra é um hino de louvor ao Senhor de tôdas as coisas.

O sol que brilha, o coração que ama, a ave que canta, as mãos que socorrem, a flor que perfuma, o ser que perdoa, o diamante que fulge, o senti­mento que ajuda, são manifestações do espírito de louvor que vivifica o mundo, entoando a. música de gratidão à Fonte Doadora e Soberana da Vida.

Através do trabalho ativo e continuado, entoa, também, o teu hino de louvor ao feliz ensejo de realização na terra dolorida, fazendo dos braços instrumentos de progresso que gera a harmonia e do coração harpa divina a modular contínua can­ção de esperança e paz.

Agora que encontraste a Doutrina Espírita que te liberta da pesada canga da ignorância e que te dá ao lado do discernimento o entusiasmo e o amor à vida, louva e agradece a Deus a felicidade que ora te enriquece, distribuindo as flôres da tua ale­gria íntima em forma de caridade para com todos e amor a tudo e todos, jubiloso ao claro sol da legítima razão de viver: servir para redimir-se!

*

“Todo o povo, vendo isto, deu louvor a Deus”

Lucas: capítulo 18º, versículo 43.

*

“Espiritismo! doutrina consoladora e bendi­ta! felizes dos que te conhecem e tiram proveito dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor!”

Capítulo 10º — Item 18, parágrafo 2.


39

MAIS AMOR

Malgrado a nuvem da incompreensão, cuja som­bra permite lamentáveis atritos e rudes embates que esfacelam as elevadas programações traçadas para o êxito da tua tarefa, reserva-te mais amor.

Não obstante os raios dispendidos pela mal­querença agora sistemática, que produzem dor, certeiramente dirigidos, doa mais amor.

Enquanto a maledicência grassa arrebanhando mentes frívolas e companheiros invigilantes, que se comprazem na disseminação das idéias espúrias, faculta-te mais amor.

Embora a suspeita semeie surdas acrimônias e acusações que sabes ser indébitas, no labor em que profligas o mal, concede-te mais amor.

Apesar da ausência dos mínimos requisitos de consideração ao teu serviço edificante, por parte dêles — aquêles que se permitem somente a cen­sura ou a lisonja mentirosa, a acusação ou o azedume contumaz — continua com mais amor.

* * *

Muitas vêzes parece impossível sequer suportar quantos nos ferem e magoam injustamente — dentro, porém, da programática de recuperação que nos impomos experimentar pelos erros passados — quanto mais conceder-lhes o amor. Todavia, animosidade como afeição resultam de atitudes mentais e emocionais que podemos condicionar com o livre querer.

Se consideras que o opositor se encontra en­fermo, ser-te-á mais fácil amá-lo.

Se tiveres em mente que êle está mal informado, tornar-se-á melhor para ti desculpá-lo.

Se pensares que êle não conseguiu alcançar o que em ti combate e não possui fôrças para compartir o teu êxito ou a tua oportunidade feliz, far­sa-á lógico entendê-lo e amá-lo.

Revidando, porém, acusação por acusação, sus­peita por suspeita, ira com ira, mui difícil a recon­ciliação e a paz, paz e reconciliação a que amanhã ou depois serás constrangido a realizar.

Tôda obra em comêço na retaguarda, que ficou ao abandono, ou qualquer aquisição negativa per­manecem aguardando o responsável.

O milagre da vida chama-se amor -

Quando crescemos em espírito, lamentamos tar­diamente a mesquinhez em que teimávamos perma­necer.

A visão da montanha, na direção da paisagem, apaga as sombras temerosas das furnas e cobre o charco transposto na baixada, quando o sol da alegria distende claridade festiva ampliando os ho­rizontes.

* * *

Não te apoquentes, portanto, ante o triunfo enganoso do engôdo ou a vitória da irresponsabilidade.

Catalogado pelo Estatuto Divino com a função de crescer, tens a destinação de mais amor.

Assim, em qualquer circunstância de tempo ou lugar, em claro céu ou sombrio firmamento, na saúde ou na doença, na realização ou na queda, no poder ou na dependência, entre amigos ou adver­sários, para a tua plenitude e perfeita paz, ama muito mais e distende sempre mais amor porque só o amor tem a substância essencial para traduzir a realidade do Pai em nossas vidas.

*

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de tôda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro manda­mento. E aqui tendes o segundo, semelhan­te a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Mateus: capítulo 22º, versículo 37.

*

“O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha dêsse fogo sagrado”.

Capítulo 11º — Item 9.


40

UMA PAGA DE AMOR

Quando a chispa do ódio lavrou o Incêndio da malquerença, deixaste-te carbonizar pelas cha­mas do desespêro...

Quando o veneno da intriga te visitou a casa do coração, permitiste-te a revolta que se converteu em injustificada aflição...

Quando o chicote da calúnia estrugiu nas tuas intenções nobres, concedeste-te a insensatez do desânimo que se transformou em enfermidade difícil...

Quando a nuvem da discórdia sombreou o grupo feliz das tuas amizades, julgaste-te abandonado, des­troçando os planos superiores da edificação da ale­gria, onde armazenavas sonhos para o futuro...

Quando o fel do ciúme tisnou o sol do amor que te iluminava, resvalaste na alucinação morbífica que te aniquilou as mais belas expressões de amparo pelo caminho redentor...

Quando o ácido da irritabilidade alheia te foi atirado à face, fôste dominado pela fúria da reação desvairada, fazendo-te perder abençoada oca­sião de ajudar...

* * *

Tudo porque esqueceste da justa e necessária dose de amor.

Uma baga apenas teria sido suficiente.

Se amasses, todavia, com legítima qualidade de amor, o ódio cederia lugar à expectativa do bem, a intriga se desagregaria, a calúnia seria dissipada, a discórdia se apaziguaria, o ciúme se teria anulado, a irritabilidade se dulcificaria e a vida, então, ad­quiriria a sua santificante finalidade.

Com a moeda do amor se adquirem todos os bens da Terra e os incomparáveis tesouros do Céu.

O amor persevera — insistindo nos propósitos superiores que o vitalizam.

Convence — produ­zindo pela fôrça da sua magnitude a excelência dos seus propósitos.

Transforma — pela natureza dulcificadora de que se constitui.

Dignifica — em razão do conteúdo de que se faz mensageiro.

Liberta — por ser o poder da vida de Deus transladada para tôda a Criação.

O amor — alma da vida e vida da alma —é a canção de felicidade que vibra do Céu na dire­ção da Terra, sem encontrar, por enquanto, ouvidos atentos que lhe registrem a incomparável melodia, de modo a se transformar em harmonia envolvente que penetra até onde cheguem as suas ressonân­cias...

* * *

Ele se misturou às massas sofridas, e era a Saúde por Excelência; se submeteu a arbitrário in­terrogatório, e era Juiz Supremo; se permitiu martí­rio infamante, e era o Embaixador Sublime de Deus; se deixou assassinar, e era a Vida Abundante

— por amor. E pelo amor retornou aos que o não amaram para ensinar a supremacia da Verdade so­bre a ignorância e do bem sobre o mal, oferecendo-se pelos séculos porvindouros, porque o amor é a manifestação de Deus penetrando tudo e tudo sublimando.

*

“Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem”.

Lucas: capítulo 6º, versículo 31.

*

“Não acrediteis na esterilidade e no endu­recimento do coração humano; ao amor verdadeiro, êle, a seu mau grado, cede. É um Imã a que não lhe é possível resistir”

Capítulo 11º — Item 9, parágrafo 5.


41

PESSIMISMO E JESUS

Dores multifárias assomam vigorosas e crês ser impossível suportar as tenazes agonias que agora parecem dominar todos os painéis da tua mente, avassalando órgãos e músculos do veículo físico.

Relacionas dificuldades e provações com os olhos nublados, enquanto observas os que passam exibindo saúde, guindados ao poder, brilhando en­tre amigos sorridentes, amparados pela cornucópia da fortuna. Estes, consideras, triunfam cada dia nos empreendimentos comerciais; aqueles conquis­tam títulos invejáveis; êsses são requisitados para empreendimentos de realce social; uns estão disputando primazia no jôgo das posições políticas; outros armazenam bens da usura; alguns estão distraídos e felizes, acumulando vitórias sôbre vi­tórias; diversos passeavam ontem contigo amarra­dos a problemas, agora, no entanto, distantes, con­seguiram os alvos que não lobrigaste.

Quase todos são homens sem fé, que freqüentam as diversas Igrejas, desfilando vaidades e alardeando louros ao invés de procurarem o silêncio para a prece e a solidão para falar com o Senhor...

Todos felizes, menos tu.

Mergulhado nas tristes reflexões deprimentes

arrolas a convicção cristã que arde na alma e os testemunhos da vivência evangélica, sem que te cheguem as dádivas dos Céus...

Reconsidera, porém, as observações de pessi­mismo e confia em Deus entregando-te totalmente a Ele, enquanto fazes a tua parte, o que deves, empenhado no culto elevado do dever. O pessi­mismo é lente que deforma a realidade -

Desconheces os problemas alheios, por estares empenhado na coleta das próprias aflições.

Todos os que se encontram na Terra estão em consêrto, em ressarcimento, sendo que alguns, enquanto resgatam, aumentam, impudentes, os débitos tra­zidos, mediante compromissos novos -

Agradece a Deus a fé que luze no teu imo e a oportunidade de fazer o que possas e como possas com os que padecem mais do que tu mesmo.

Dentre os que estão sorrindo e triunfando, muitos sabem que se encontram moralmente fali­dos (e estão tentando fugir); outros protelam o inevitável encontro com a severa consciência; inumeráveis situam-se à borda da loucura e não sa­bem; êstes buscam o nada e, frustrados, se atormen­tam tentando fingir ante a desilusão; aquêles apre­sentam-se lutando, desesperados, antes de caírem em terrível infortúnio que já pressentem; êsses, esforçando-se por negar a vida, imergem nas alu­cinações psicopatas, não mais se suportando a si mesmos.

Se soubesses o que se passa além das frontei­ras do teu “eu”, serias mais benigno ao examinar o teu próximo e desculparias mais.

Sofredores não são apenas os que já estão chorando. Há infelizes que perderam a faculdade de verter pranto e adicionam essa às outras aflições que os constringem...

Os “filhos do Calvário”, da expressão evangé­lica, não são somente os desendinheirados, os coxos, os pustulentos do corpo. Não conheces os abismos dos espíritos que sofrem na opulência enganosa da vida física.

Corrige a angulação do “ponto-de-vista”, dilata o amor e aprende com Jesus os exercícios da cari­dade discreta da compaixão em relação aos outros e da paciência ante os próprios sofrimentos, ser­vindo e servindo, sem esperar resultados imediatos. transferindo para a Imortalidade o que ora não consegues...

* * *

À multidão esfaimada Jesus ofereceu pães e peixes que se multiplicavam em abundància; à samaritana, além da água do poço, ofertou-lhe a “água vita” do Evangelho do Reino; a Maria e a Marta devolveu Lázaro arrancado da sepultura em que se encontrava; a Nicodemos, concedeu o co­nhecimento das vidas sucessivas; a Simão ensejou a honra de pernoitar no Lar... dilatando para todos, indistintamente, a visão espiritual quanto às responsabilidades de cada um ante a consciência universal, ensejando a compreensão do Reino dos Céus e a oportunidade de um dia fruir-lhe as ale­grias. E nunca discrepou das atitudes de amor para arrolar queixas ou quaisquer lamentações, vita­lizando as fôrças infelizes do pessimismo.

*

“Então, o Senhor, tocado de compaixão, o mandou embora e lhe perdoou a dívida”.

Mateus: capítulo 18º, versículo 27.

*

“Amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queira que estes lhe façam; é procurar em torno de si o sentido íntimo de todas as dores que acabrunham seus irmãos, para suavizá-las; é considerar como sua a grande família humana, porque essa família todos a encontrareis dentro de certo período, em mundos mais adiantados, e os Espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus, destinados a se eleva­rem ao infinito”.

Capítulo 11º — Item 10, parágrafo 2.


42

LÂMPADAS, RECEPTORES E TRANSMISSOR

Recebem o raio luminoso e se inebriam de imediato com as impressões visuais transformadas em imagens que se gravam nos recônditos da memória, impressas em côr para serem evocadas logo se acionem os mecanismos próprios capazes de selecioná-las e retirá-las dos arquivos neuroniais.

Penetrados pela sonora vibração, que deambula através da câmara acústica, classificam os ruídos e os discriminam para gravá-los em sutil engrena­gem, na qual perduram as impressões transforma­das em mensagens inapagáveis nos fulcros pro­fundos do espírito.

Acionada pelo mecanismo automático dos cen­tros especializados, converte idéias em música e dispara dardos orais ou veludosa melopéia que fa­culta comunicação, gerando singular meio de enten­dimento ou desgraça, conforme a direção aplicada.

Lâmpadas são os olhos derramando claridade pela senda por onde correm os rios dos dias, acio­nando as alavancas do movimento humano na ex­tensão do progresso.

Receptores são os ouvidos, por cujos condutos as vozes da vida atingem o espírito eterno, momen­tâneamente revestido pela matéria, de forma a aju­dá-lo no crescimento e na evolução.

Transmissor eficaz é a bôca encarregada de exteriorizar as impressões que transitam dos centros pensantes ao comércio exterior da vida.

Aparelhos preciosos de que se encontram in­vestidos os homens são inestimáveis tesouros da concessão divina, cuja valorização merece a cada instante maior soma do capital de amor para que, através dêles, o espírito aprenda a ver e a marchar, saiba ouvir e guardar, disponha-se a sentir e ex­pressar consubstanciando os ideais enobrecedores na elaboração da paz íntima.

Nem todos porém que vêem, conseguem com elevação selecionar o que enxergam e assimilar o que devem.

Muitos que ouvem não se comprazem ainda em fixar o que é nobre, olvidando o que é espúrio e vulgar para construir sabedoria pessoal.

Poucos apenas falam, na multidão dos que usam a palavra, de forma eficiente, sem conspurcarem os lábios, macularem a própria ou a vida alheia, der­rapando, não raro, para as figurações deprimentes da censura e da crítica indevida, aspirando em decorrência os vapõres tóxicos da impiedade e da insensatez.

* * *

Mantém acesas as lâmpadas dos olhos e con­templa tudo com amor, a fim de que as belezas povoem as paisagens do teu pensamento.

“A candeia do corpo são os olhos”.

Liga os receptores somente quando as conve­nientes mensagens sonoras produzam vibrações de nobres sinfonias nos teus painéis mentais, de modo a possuíres permanente festa no espírito, não obstante as tormentas exteriores que te cerquem “Quem tiver ouvidos ouça”.

Externa apenas o que possa ajudar e silencia tudo aquilo que aguilhoa e martiriza, pois o homem superior é considerado não pelo muito que diz, mas pelo conteúdo enobrecedor do que carre­gam suas palavras.

“Porque a boca fala o de que está cheio o coração”.

* * *

O olhar de Jesus dulcificava as multidões, Seus ouvidos atentos descobriam o pranto oculto e identificavam a aflição onde se encontrava, e Sua bõca bordada de misericórdia somente consolou, cantando a eterna sinfonia da Boa Nova em apêlo insuperável junto aos ouvidos dos tempos, convo­cando o homem de tôdas as épocas à epopéia da felicidade.

Procura fazer o mesmo com a tua aparelhagem superior.

*

“Os fariseus, tendo-se retirado, entenderam-se entre si para enredá-lo com as suas próprias palavras”.

Mateus: capítulo 22º, versículo 15.

*

“Sem levar em conta as vicissitudes ordi­nárias da vida, a diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Com efeito, Só a poder de concessões e sacrifícios mútuos, podeis conservar a harmonia entre elemen­tos tão diversos”.

Capítulo 11º — Item 13, parágrafo 2.


43

PROMOÇÃO

Incontáveis companheiros espíritas, na atuali­dade, revivem o espírito de serviço cristão que nêles se agiganta, conclamando-os ao intérmino labor de preparação da Era nova.

Multiplicam-se êles em formosa sementeira e já se podem observar os resultados positivos da sua atividade proveitosa, a benefício de tôda a Seara do Amor.

Entre eles corporificam-se a abnegação e a re­núncia, emuldurando-lhes os esforços lavrados à base da vivência evangélica na integral harmonia dos seus postulados.

Escrevem e pautam a conduta na elevada cor­reção de modos.

Falam e aplicam na vida diária os ensinamen­tos divulgados.

Oram e agem no campo da fraternidade trans­formando palavras em socorro eficiente, que espa­lham, generosos, em nome do Senhor.

Proclamam a excelência do amor e desdobram esforços na compreensão dos espíritos sofredores que buscam amparar no carinho dos sentimentos.

Preconizam o perdão e esquecem as ofensas, disseminando a alegria, mesmo quando o pessimismo insiste em dominar, pernicioso.

Convém, no entanto, refletirmos com atenção Surgem e desaparecem com celeridade, na esfera do serviço ativo, trabalhadores diversos que se dizem fascinados por Jesus ou se apresentam to­cados pela excelência da Doutrina Espírita que dizem e aparentam desposar.

Todavia, somente alguns perseveram fiéis ao programa encetado, por longo tempo.

Enquanto brilham facilidades e o alarde dos aplausos estruge, ei-los a postos. Entrementes, logo são chamados ao testemunho do silêncio, no ano­nimato ou na ação aparentemente insignificante, debandam rancorosos, com queixas, estremunha­dos...

São os que promovem o Espiritismo, Promo­vendo-se também.

* * *

Paulo, de tal forma se esqueceu de si mesmo, no serviço de Jesus, que exclamou: “Estou crucifi­cado com Cristo; logo já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”...

Francisco de Assis, servindo ao Senhor com elevada abnegação, olvidou, inclusive, a própria saú­de, para doar-se totalmente à lição da renúncia e da humildade por amor a Ele.

Vicente de Paula, tocado pela necessidade do próximo, alcançou os extremos da auto-doação, tro­cando a sua pela vida de um galé, a fim de libertá-lo das cadeias que considerava injustas.

Joanna dArc, convencida do amparo que as suas vozes lhe ofereciam, deixou-se queimar, supe­rando o instinto de conservação da vida física, fiel à Imortalidade.

Allan Kardec, conquanto advertido reiteradas vêzes pelo espírito generoso do dr. Demeure, seu médico, então desencarnado, quanto à saúde, dela descurava para trabalhar, rompendo-se-lhe o aneu­risma, em plena ação iluminativa de consciências.

E João Batista, o Precursor, enunciava em júbilo: “Necessário é que Ele cresça e eu diminua”, promovendo-o e apagando-se.

* * *

Cuida de promover a Causa e olvida as tran­sitórias casas a que te vinculas; propagando o Espiritismo em tôda a sua pureza, fiel aos postu­lados Kardequianos, ilumina-te na Sua claridade, deixando a tua pessoa em plano secundário; ampliando o campo para sementação da Verdade não te ilu­das...

A promoção da Doutrina que te honra não deve constituir-te motivo de destaque personalista, porque o verdadeiro trabalhador ama na semente a planta futura, e na terra reverdescida encontra a resposta da vida ao esfôrço desenvolvido.

Servindo desinteressadamente não te alcançarão as agressões dos maus — que são transitórios no caminho; e a perseverança da tua atividade, quando outros a deixaram, responderá pela nobreza dos teus propósitos e do teu valor aplicados à fide­lidade do ideal que te abrasa.

Porque Jesus distendesse o pensamento divino sõbre a Terra conturbada, quando pretendiam afe­tar a Mensagem de que se fizeram Mensageiro Celes­te, invectivava, enérgico e pulcro, no entanto, quan­do se levantavam contra Ele, deixava-se conduzir, confiando no Pai, a ensinar que a Palavra de Vida Eterna é pão insubstituível para a manutenção do espírito, enquanto que aquêle que dela se faz porta­dor, entregue à Verdade, não se deve preocupar consigo, por estar nas mãos de Deus que tudo supervisiona e dirige com sabedoria.

*

“É necessário que Ele cresça, e que eu diminua”.

João: capítulo 3º, versículo 30.

*

“Não ouso falar do que fiz, porque também os Espíritos têm o pudor de suas obras”.

— SÃO VICENTE DE PAULA.

Capítulo 13º — Item 12, parágrafo 6.


44

EM REVERÊNCIA

Ei-la cansada, com o peito ofegante e o andar em desalinho, que passa...

O tempo sulcou-lhe a face, apergaminhando-a, deixando em cada ruga um sofrimento, uma decep­ção, uma amargura.

Quem a vê não é capaz de avaliar as lutas que travou com estoicismo demorado.

Talvez tenha vendido o corpo para que o pão mmguado não faltasse totalmente em casa, ou a gôta de leite nutriente não fôsse negado ao filho, que sustentou com abnegação e devotamento.

Possivelmente, quando percebeu a presença do gérmen da vida movimentando-se na intimidade do ventre e cantou a notícia aos ouvidos do amor que a fecundou, foi convidada a extirpá-lo e preferiu a rota da soledade, do abandono, ao infanticídio...

Quem sabe os demorados travos de amargura que lhe tisnaram os lábios e os silêncios que foram sufocados no coração, a fim de que, misturando as suas com as lágrimas do filho, não o deixasse sofrer em demasia?...

Há, sim, muitas mães que se transformaram em hienas desapiedadas. Outras se fizeram indiferentes ao sublime cometimento maternal, deixando os fi­lhos a êsmo. Muitas, incontáveis, fizeram-no vitimadas pela miséria, pela ignorância, pelo desespêro... E são, no entanto, exceção.

Um sem número de jovens traídas no sonho de felicidade a que se deixaram arrastar, santificaram as horas mais tarde sustentando o filhinho nos braços como o mais precioso tesouro que ja­mais ambicionaram.

Desde a hora em que lhes sorriu o pedacinho daquela vida, parte da sua vida, elas se esqueceram de si mesmas e empenharam-se com sofregui­dão a protegê-lo, acalentando, talvez, a ambição de receberem um amparo mais tarde para si mes­mas, não obstante amparando em regime integral de proteção e defesa o filhinho que sustinham nos braços...

Há, também, os filhos ingratos, que se trans­formaram em abutres que sobrevoam o quase cadáver de quem lhes ofertou o vaso orgânico...

Também os há que se converteram em regaço de luz e em aroma de benignidade, em santa devo­ção, tentando retribuir...

Mães — estrêlas da Vida, multiplicando vidas!

Filhos — gemas brutas a serem trabalhadas para as fulgurações estelares!

* * *

Muitos corpos não geraram outros corpos, no entanto fizeram-se mães da dedicação em nome do amor de Nosso Pai, sustentando essas vidas que não se estiolaram porque elas tomaram a si o mi­nistério de socorrê-las e ampará-las.

São as mães da abnegação e do sofrimento...

Em singela manjedoura, um dia, uma mulher sublime fêz-se Mãe Santíssima e depois de uma cruz de infâmia transformou-se na mãe-modêlo de tôdas as mães, simultãneamente mãe de todos nós.

Quando as criaturas da Terra evocam para homenagear a própria genitora, Maria, a Santíssima, roga ao Filho Celeste que abençoe a Humanidade, especialmente as mães, no momento em que, ultra­jada e sofrida, a maternidade é considerada punição e desgraça pelas mulheres e pelos homens que passam enlouquecidos na direção do desespêro...

*

“Honrai a vosso pai e a vossa mãe”.

Lucas: capítulo 18º, versículo 20.

*

“Honrar a seu pai e a sua mãe não con­siste apenas em respeitá-los; é também as­sisti-los na necessidade; é proporcionar-lhes repouso na velhice; é cercá-los de cuidados como eles fizeram conosco na infância”.

Capítulo 14º — Item 3, parágrafo 2.


45

ANTE À JUVENTUDE

Como jovem arrolas queixas e azedumes, apon­tando o fracasso das gerações transatas, derrapando nos desfiladeiros da insensatez, em busca de novos desencantos.

Anotas erros que se sucedem na chamada “so­ciedade de consumo”, com prevenções injustificáveis e complexas, sem que apresentes qualquer progra­ma correto de elevação eficiente.

Repassas mentalmente as conquistas tecnológi­cas dêstes dias, acusas os familiares e genitores que debandam da intimidade doméstica para as lutas externas, entregando os filhos a servos e a escolas-maternais, a creches e jardins de infância, do que resultam desamor e desajustes irreversíveis.

A “volta às origens”, que preconizas, inspirada na rebeldia contra a organização social, impõe-te reações que fazem esquecer os patrimônios da inte­ligência para açularem os instintos que se desgo­vernam, conspirando lamentàvelmente contra a vi­da...

Requisitas justificações para a fuga da reali­dade, evadindo-te na direção dos alucinógenos e do sexo em desalinho, flutuando, desde então, em so­nhos fantásticos que se transformam em altas car­gas esquizofrênicas nos tecidos sutis do espírito encarnado...

São de todos os tempos, porém, as lutas juvenis laborando por afirmação, renovando estruturas so­ciais e econômicas, ativando interêsses artísticos e culturais, abrindo horizontes dantes jamais sonha­dos nas paisagens da Ciência.

Doutrinas cínicas medraram sempre desde Dió­genes que estruturava o seu pensamento ético na concepção do desrespeito à ordem, fundamentando as suas lições no culto à liberdade excessiva em de­trimento da liberdade mesma que devia existir en­tre as demais pessoas à sua volta...

Floresceram, também, os motivadores da ação edificante que enobreceram a espécie humana, fa­zendo-a sobreviver às calamidades e impulsionando o ser na direção da saúde e da relativa felicidade que já alguns podem fruir mesmo na Terra.

Jovem, não é apenas aquêle que dispõe de apa­relhagem fisiológica nova. A juventude é estado in­terior que resulta do otimismo e da elevação a que se vincula o homem, inspirado pela indestrutibili­dade do espírito — única segurança para quem em­preende a tarefa da própria paz.

Jovens há que envelheceram nos compromissos negativos e não podem recomeçar, amargurados e amargurantes como se encontram. Enquanto outros, idosos, estão rejuvenescidos pelo ideal que esposam sem envelherecem na caducidade dos propósitos em que insistem.

Corpo jovem não indica posição ideal da vida, antes é compromisso para com a própria evolução.

Espíritos amadurecidos no bem, em se embos­cando nos corpos, refletem na indumentária de que se utilizam para avançar as condições de equi­líbrio e sensatez, com que impulsionam a máquina do progresso. O mesmo ocorre com os espíritos em experiências iniciais da programática evolutiva, que apenas exteriorizam as paixões do instinto e as expressões da forma sem maiores vôos para as elevadas aspirações.

Não cogites, pois, de considerar pelo corpo o valor do homem. Enquanto se pode marchar sem remorsos nem constrições mantém-se a juventude, possui-se a condição de mocidade para sustentar a jornada.

* * *

Constrói, dêsse modo, o amanhã, desde hoje, enquanto jovens são as tuas carnes e poderosas as tuas fôrças, dinamizando as possibilidades fomen­tadoras da harmonia, a fim de que o teu amanhã te chegue com bênçãos de paz, mediante o legado de gerações felizes, para os quais colaboraste, pelo sen­tido da ordem e do dever retamente cumprido à se­melhança de Jesus, que, aos 12 anos, já superava os doutores da Lei, e, ao partir da Terra, muito jovem, renovou pelo exemplo tôdas as paisagens do pla­nêta e plantou as bases do Nôvo Mundo, para cuja construção fôste chamado e na qual te encontras.

*

“Foge também das paixões da mocidade e segue a justiça, a fé, o amor, a paz com aquêles que invocam o Senhor com um coração puro”.

2ª Epístola de Paulo a Timóteo: capítulo 2º, versículo 22.

*

“Desde pequenina a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz da sua existência anterior. Ao estudá-los devem os pais aplicar-se. Todos os males se originam do egoísmo e do orgulho. Espreitem, pois, os pais os menores indícios reveladores do gérmen de tais vícios e cuidem de combatê-los, sem esperar que lancem raízes profun­das”.

Capítulo 14º — Item 9, parágrafo 8.


46

BOM ÂNIMO

Hoje experimentas maior soma de aflições. Observaste a grande mole dos sofredores: mães des­nutridas apertando contra o seio sem vitalidade fi­lhos misérrimos, desfalecidos, quase mortos; muti­lados que exibiam as deformidades à indiferença dos passantes na via pública; aleijões que se ultraja­vam a si mesmos ante o desprezo a que se entrega­vam nos “pontos” de mendicância em que se demo­ram; ébrios contumazes promovendo desordens lamentáveis; enfermos de vária classificação desfilan­do as misérias visíveis num festival de dor; jovens perturbados pela resolução dos novos conceitos e vigentes padrões éticos; órfãos...

Pareceu-te mais tristonha a paisagem humana, e consideras mentalmente os dramas íntimos que vergastam o homem, na atual conjuntura social, moral e evolutiva do planêta.

Examinas as próprias dificuldades, e um cre­púsculo de sombras lentamente envolve o sol das tuas alegrias e esperanças.

Não te desalentes, porém.

O corpo é oportunidade iluminativa mesmo para aquêles que te parecem esquecidos e que supões descendo os degraus da infelicidade na direção do próprio aniquilamento.

Nascer e morrer são acidentes biológicos sob o comando de sábias leis que transcendem à com­preensão comum.

Há, no entanto, acompanhando todos os cami­nhantes da forma carnal, amorosos Benfeitores in­teressados na libertação deles. Não os vendo, os teus olhos se enganam na apreciação; não os ouvin­do, a tua acústica somente registra lamentos; não os sentindo, as parcas percepções de que dispões não anotam suas mãos quais asas de caridade a envolvê-los e sustentá-los.

* * *

Perdido em meandros o rio silencioso e per­severante se destina ao mar.

Agitada e submissa nas mãos do oleiro a argila alcança o vaso precioso.

Sofrido o espírito nas malhas da lei redentora atinge a paz.

Ante a sombra espêssa da noite não esqueças o Sol fulgurante mais além. E aspirando o sutil aroma de preciosa flor não olvides a lama que lhe sustenta as raízes...

Viver no corpo é também resgatar.

O espírito eterno, evoluindo nas etapas suces­sivas da vestimenta carnal, se despe e se reveste dos tecidos orgânicos para aprender e sublimar.

Numa jornada prepara o sentimento, noutra aprimora a emoção, noutra mais aperfeiçoa a inteligência...

Nascer ou renascer simplesmente não basta.

O labor, interrompido, pois, prosseguirá agora ou depois.

Não cultives, portanto, o pessimismo, nem te abatam as dores.

Cada um se encontra no lugar certo, à hora própria e nas circunstâncias que lhe são melhores para a evolução. Não há ocorrência ocasional ou improvisada na Legislação Divina.

* * *

Quando retornou curado para agradecer a Jesus da morféia de que fôra libertado, o samaritano que formava o grupo dos dez leprosos, conforme a narração evangélica, fêz-nos precioso legado: o do reconhecimento.

Quando o centurião afirmou ao Senhor que uma simples ordem Sua faria curado o seu servo, ofertou-nos sublime herança: a fé sem limites.

Quando a hemorroíssa, vencendo todos os obs­táculos, tocou o Rabi, deixou-nos precioso ensino: a coragem da confiança.

Identificado ao espírito do Cristo, não te deixes consumir pelo desespêro ou pela melancolia, sob re­volta injustificada ou indiferença cruel. Persevera, antes, no exame da verdade e insiste no ideal de libertação interior, ajudando e prosseguindo, além, porque se hoje a angústia e o sofrimento te maceram, em resgate que não podes transferir, amanhã rutilará no corpo ou depois dêle o sol sublime da felicidade em maravilhoso amanhecer de perene paz.

*

“Tem ânimo filho: perdoados são os teus pecados”.

Mateus: capítulo 9º, versículo 2.

*

“Deus não dá prova superior às fôrças da­quele que a pede; só permite as que podem ser cumpridas. Se tal não sucede, não é que falte possibilidade: falta a vontade”.

Capítulo 14º — Item 9, parágrafo 9.


47

MARCO DIVISÓRIO

Houve na Roma antiga um templo dedicado a Jano, que durante um milênio somente fechou as suas portas nove vêzes, correspondentes aos pe­ríodos em que a República estêve em paz. O deus singular era representado com duas faces, o que o tornou conhecido como bifronte, atributo consegui­do de Saturno, a quem favorecera, e que o dotara com a capacidade de penetrar o passado e o futuro, conforme narra a mitologia, ao se referir ao mais antigo rei do Lácio conhecido,

* * *

Utilizamo-nos da lenda para considerar a visão cristã como possuidora da possibilidade de exami­nar o passado e o futuro, ensejando valiosas medi­tações.

Em Saulo, o jovem atormentado, que se fizera sicário, dormitava aquêle Paulo que, abrasado por Jesus, se tornou o arauto da Boa Nova por tôdas as terras da antigüidade.

Em Jeziel, o israelita pulcro e sofrido, se en­contrava em potencial o- nobre Estêvão, que se faria o excelso mártir da Mensagem nascente, abrindo os braços de encorajamento na direção do futuro.

Em Madalena, a mulher obsidiada e trôpega nas aspirações morais, vivia enclausurada a impoluta faculdade de amar até o sacrifício, doando-se à Causa do Cristo com abnegação dificilmente encon­trada.

Em Simão, temeroso e reticente, vibrava o apóstolo Pedro, que se entregaria à fé rutilante, após o sacrifício de Jesus, de modo a selar com sangue a audácia de porfiar fiel até o fim, na expansão do Reino de Deus entre as criaturas de Roma.

Em Joana de Cusa, a matrona romana, se agi­tava a discípula fiel que doaria a vida às labaredas pela honra de ser fiel ao Mestre.

* * *

Era como se o passado de dificuldades e vicia­ções argamassasse o futuro com o cimento divino do amor, transformando-se em base de sustentação aos grandes investimentos da luz na direção do Infinito.

No passado, queixas, lamentos, enfermidades, dissensões.

No futuro, esperanças, gratidão, saúde e paz.

Ontem, óbice, desânimo, perturbação, agonia.

Amanhã, aptidão, alento, ordem, serenidade.

Antes, o espírito alquebrado e o coração ralado de dores e ansiedades incontáveis.

Depois, o ser renovado pela mente voltada ao dever e os sentimentos cantando júbilos.

A Doutrina Cristã é o templo da fé aberto pe­renemente, facultando a paz e acolhendo o amor.

E o Espiritismo que no-la traz de volta, na atualidade, é o grande hoje, marco divisório dos tempos que separam o antes e o depois do encontro com Jesus.

Por essa forma, se as tuas aspirações superio­res ainda não se converteram em flôres de alegria e as ásperas batalhas teimam por manter-te nos em­bates duradouros não desfaleças. O passado de sombras para ser vencido necessita de ser retificado e os abusos agasalhados demoradamente requerem disciplina espartana para serem superados.

Importa considerar que já não és o que eras, nem sentes o que sentias, embora, não poucas vê­zes, o assédio do hábito te atormente as pausas de equilíbrio.

Examina o passado para verificação do que te compete refazer, mas não te fixes nêle.

Prepara o futuro através de atitudes corretas mas não te angusties pela chegada dêle.

Vence a hora de cada hora, realizando o que possas, através de como possas, lidando infatigável na república do espírito em atribulação.

Os acontecimentos vividos são experiências para as realizações a viver.

Jesus é o teu divisor de águas.

Kardec é o condutor do teu amanhã. Eleva-te ao Mestre através do Seu apóstolo mo­derno e fecha às paixões o templo da tua alma, em caráter definitivo, aspirando à glória do Mundo Maior que a todos nos espera.

*

“Ninguém, tendo pôsto a mão ao arado e olhando para trás, é apto para o reino de Deus”.

Lucas: capítulo 9º, versículo 62.

*

“Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo”.

Capítulo 15º — Item 10, parágrafo 2.


48

BENS VERDADEIROS

Os verdadeiros bens são aquêles que têm caráter inalienável. O que transita não constitui posse, antes é mordomia. Nesse particular, os tesouros terrenos valem pela tônica que lhes emprestamos, caracterizados pelas paixões que envilecem, aquêles que os dominam parcialmente ou pela dinâmica do trabalho valioso que fomentam.

A posse monetária, no entanto, em si mesma não é responsável pelos bens que produz nem pelos males que gera.

Manipulando a posse encontra-se sempre o es­pírito, que a faz nobre ou perniciosa.

O dinheiro, de tão desencontradas conceituações, não é o responsável direto pela miséria social nem o autor das glórias culturais.

A moeda que compra consciências é a mesma que adquire leite para a orfandade; o dinheiro que entorpece o caráter é aquêle que também salva uma vida, doando sangue a alguém que esteja à beira da desencarnação; o numerário que corrompe moçoilas invigilantes, fascinadas pelo momentâneo ouropel da glória social, faculta igualmente sucesso às grandes conquistas do conhecimento.

Se êle favorece o tráfico de entorpecentes e narcóticos, a prostituição e rapina, também estimula

o progresso entre as Nações, drena as regiões pan­tanosas e transforma os desertos em abençoados pomares, educa...

Em mãos abençoadas pela caridade, êle dá lume e pão, distribui reconfôrto e alegria, difunde o alfa­beto e a arte, amplia a fraternidade e o amor, ate­nuando as asperezas da senda. por onde transitam os infelizes.

Movimentado por ociosos consome-se na usura e, insensatamente, vai conduzindo para perverter, malsinando vidas e destroçando-as.

As legítimas fortunas são as que têm fôrça in­destrutível.

Valem muitas vêzes menos, porque desconside­radas pelo egoísmo geratriz dos males que infestam os espíritos multimilenarmente. Raros as disputam. São os valôres morais.

* * *

Certamente a ganância, resultante da má educa­ção religiosa e social do homem, fomenta os crimes que são catalogados como conseqüências das rique­zas mal dirigidas. A ganância. de uns engendra a miséria de muitos e a ambição desmedida de pou­cos faz-se a causa da ruína generalizada que comanda multidões.

O Evangelho de Jesus, no entanto — inapreciá­vel fortuna de paz e amor ao alcance de todos —, possui a solução para o magno problema da riqueza e da pobreza, em se referindo às leis do amor e da caridade que um dia. unirão todos os homens como verdadeiros irmãos.

E o Espiritismo, confirmando as lições do Se­nhor, leciona, soberano, graças à informação dos imortais, que o mau uso da riqueza impõe o recomeço difícil na miséria, àquele que a tenha malbaratado.

Multiplica, então, os bens verdadeiros de que disponhas nas leiras do amor e reparte os valôres transitórios de que te faças detentor na seara da Caridade para que tranqüilos sejam os teus dias no Orbe e feliz o teu renascimento futuro, quando de volta à Terra

*

“Vendei o que possuís e dai esmolas. fazei para vós bolsas que não envelheçam, um tesouro inexaurível nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça roi”.

Lucas: capítulo 12º, versículo 33.

*

“O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo”.

Capítulo 16º — Item 9.


49

VALORES E POSSES

Não somente o dinheiro constitui fortuna, con­forme supõem muitos homens enganados, referindo-se à vida e às posses na Terra.

Em diversas circunstâncias, o patrimônio amoe­dado se converte em aflição e desgraça, amargando as horas e, ao mesmo tempo, aniquilando a alegria, em detrimento da paz.

Há fortunas de valor incalculável que apenas são consideradas nas suas significações legítimas quando perdidas...

E são êsses tesouros que merecem cuidados especiais, porqüanto não exclusivamente o dinheiro se converte em pesada carga de responsabilidade.

Como são conhecidos homens e mulheres cujos bens se transformam em grades de presídio e cor­redores de loucura, outros existem, através de cujas abençoadas mãos a esperança e a saúde, o reconforto e a caridade escorrem em abundância, na direção das aflições humanas. São mãos estrela­res que fazem fulgir e refulgir o amor divino como luarização do bem, amenizando as agonias de todo jaez. Por meio dêles o progresso se desenvolve, as atividades se multiplicam benéficas, o carro da felicidade esparge oportunidades, a ciência investiga, as artes atingem as mais belas expressões, os males e as calamidades no mundo diminuem, sofrendo acirrado combate...

Não fôra a êstes dirigida a referência do Senhor, quando acentuando sôbre a escassez de ricos no Reino dos Céus.

* * *

Muitos dons humanos são fortunas inapreciáveis que não raro se convertem em cárcere e limitação de conseqüências calamitosas.

Mesmo entre os chamados à lavoura do Evan­gelho, não poucos se utilizam da riqueza da palavra. Usam-na destrutivamente no comércio da ma­ledicência, na alfândega da calúnia, no tribunal da acusação, no intercâmbio da intriga. E a palavra pode transformar-se, no entanto, em rota lumines­cente, pão de sustento, água refrescante a benefício de incontáveis corações...

A juventude, campo sublime de aprendizagem, representa posse incomparável, que reúne as con­dições para a verdadeira felicidade. E malbaratam-­na no jôgo de prazeres embriagantes, na disputa de ouropéis enganosos, na aventura dos entorpecentes destruidores... Dela, assim, aplicada, decorrem alu­cinações e escravidão de longo curso, na qual mui­tos se perdem por anos a fio...

A saúde, doação excelsa de Deus, é poderosa riqueza que ninguém malbaratará Inconseqüentemente. E jogam-na nos resvaladouros da insensatez e da leviandade...

A inteligência, elaborada através de milênios e milênios na escala evolutiva, traduz concessão libertadora que não se pode aplicar no sentido des­trutivo, sem ácidos corretivos.

Todavia, milhares e milhares de criaturas nublam-na, apagando as suas claridades sublimes, com as nuvens do ódio e do primitivismo moral...

Riquezas, fortunas, poder estão na própria indu­mentária carnal, à disposição de todo espírito em romagem evolutiva, mediante as reencarnações re­dentoras.

Mesmo quando temporariamente enfêrmo ou li­mitado um corpo, conduzindo o dispositivo repara­dor em forma de coerção ou sofrimento, é, para o espírito, excelente concessão do Alto a seu benefí­cio, que lhe serve de bênção superior.

Assim, examinando, não penses em moedas e notas fiduciárias, em cheques e depósitos, cédulas e promissórias para as necessidades aquisitiva ime­diatas.

Penetra-te da certeza dos bens maiores com que a vida te aquinhoa e coloca em multiplicação os recursos de que te encontras possuído, espalhando alegria e entusiasmo por onde sigam os teus pés.

Compadece-te sempre, socorre; exorta com amor, ajuda; perdoa generosamente, ama; harmoni­za as expressões do verbo servir e usa as mãos na lavoura da semeação da esperança; movimenta o corpo na direção do dever e faze que se renovem sempre os valõres poderosos de que te encontres possuído.

És detentor de fortunas que jazem enferrujando ao abandono, ante os ladrões da indolência que as roubam e as traças da negligência que as gastam e paralisam.

* * *

Jesus visitou a casa de Zaqueu, concedeu entre­vista a Nicodemos, aceitou o sepulcro nôvo doado por José de Arimatéia, como abençoando os tesouros amoedados e os seus mordomos temporários. No entanto, foi severo com Judas, retrucando, quando êste se referiu ao valor do bálsamo com que a pecadora lhe banhava os pés e cujo produto, se vendido, poderia auxiliar os pobres: “Os pobres, vós os tereis sempre, mas a mim, nem sempre”.

Preciosa lição, na qual tôda fortuna aplicada na construção do amor é alavanca do progresso propor­cionada por Nosso Pai para a grandeza do mundo e, ao mesmo tempo, ensinando que as fortunas pes­soais, que todos detemos mediante a reencarnação, representam a nossa oportunidade para crescer em plena glória solar na direção do Rei Divino, que nasceu numa estrebaria para alar-se às estrêlas des­de os braços de uma Cruz.

*

“Porque onde está o vosso tesouro, ai estará, também, o vosso coração”.

Lucas: capítulo 12º, versículo 34.

*

“Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens”.

Capítulo 16º — Item 10.


50

TOLERÂNCIA E FRATERNIDADE

O ser querido desertou do lar, vencido pela fragilidade das fôrças ainda impregnadas de alta dose de animalidade; todavia, acusa-te, fazendo-te responsável pela sua fuga. Sê tolerante e conserva-te fraterno em relação ao evadido.

O antigo dedicado de ontem não deseja mais a tua lealdade e sai, arremetendo diatribes que te maceram. Sustenta a tolerância e mantém a frater­nidade pensando nêle.

O beneficiário da tua bondade, navegando em situação de bonança, esquece as tuas dádivas e faz-se soberbo, malsinando o teu nome. Acautela-te na tolerância e reserva-lhe a fraternidade.

As tuas palavras de advertência, tocadas no mais nobre desejo de acertar, são agora transformadas por antigos comparsas que se fizeram teus adversários, em açoites que te alcançam. Continua tolerante e dissemina a fraternidade.

Os convidados pela tua lição de sacrifício a par­ticiparem do banquete de luz e vida do Evangelho, apontam-te mil débitos, e sofres. Porfia na tolerân­cia e trabalha pela fraternidade.

Divulgas o bem por amor do bem, tentando vi­ver o bem, mas, apesar disso, não faltam as agres­sões ao bem que fazes e desafios por parte daqueles que supões beneficiar. Confia na tolerância e aciona a fraternidade...

Tolerância e fraternidade sempre.

Em tôda e qualquer circunstância essas duas armas cristãs, da “não violência”, podem operar milagres. Talvez aquêles a quem as ofertas, recu­sem-nas momentaneamente, todavia, ser-te-ão benéficas utilizá-las, já que elas restaurarão tua paz, se a perdeste, ou manterão tua tranqüilidade, se a con­servas.

* * *

“Bem-aventurado aquele que sofre a tentação porque quando fôr provado receberá a coroa da vida à qual o Senhor tem prometido aos que o amam” — conforme ensinou o apóstolo Tiago, na sua Epís­tola universal, Capítulo um, versículo doze.

A tentação, por isso mesmo, possui as suas raizes no cerne daquele que é tentado, e como é natural, reponta freqüentemente, ensejando-lhe a nobre batalha da própria redenção.

Viajores de muitas experiências malogradas, somos a soma das nossas dívidas em operação de resgate.

Cada ensejo depurador é bênção impostergável. Ora, se alguém nos fere ou magoa, nos acusa ou abandona, com fundamentos injustos, tentando nos­sa fraqueza ao revide ou à deserção do combate, mantenhamos tolerância para com êle — o instru­mento inconsciente da Lei — e sejamos fraternos. facultando-lhe retornar com a certeza de se rece­bido pelo nosso coração.

A sombra é geratriz de equívocos como o êrro é matriz de tormentos íntimos naquele que o pra­tica. A punição mais severa, portanto, para o trans­viado é o despertar da consciência, hoje ou ama­nhã.

Jesus convocou-nos ao amor incondicional e ao perdão das ofensas, e Allan Kardec, o discípulo fiel, na tríade que formulou, situou a Tolerância como uma das bases da felicidade humana, sendo a fra­ternidade, dessa forma, o espelho onde se pode re­fletir a alma do amor, em tôdas as circunstâncias e lugares.

Tolerância e fraternidade, como roteiros para a harmonia que buscamos, são lições vivas de enten­dimento humano, nos deveres que esposamos à luz do Cristianismo Redivivo.

*

“Pois o filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”.

Marcos: capítulo 10º, versículo 45.

*

“O homem de bem é bom, humano e bene­volente para com todos, sem distinção de RAÇAS NEM DE CRENÇAS, porque em todos os homens vê irmãos seus

Capítulo 17º — Item 3, parágrafo 7.


51

RECURSOS ESPÍRITAS

Agora que assimilaste o precioso conteúdo das lições espiritistas, deparas com as excelentes con­cessões da vida que já não podes desconsiderar. A fé, que então clareia os teus passos, se mantém graças ao combustível da caridade, que podes utili­zar indefinidamente, por estar ao alcance dos teus recursos.

Em razão disso, já não te podes permitir na­vegar como antes: em “maré baixa”.

Descobriste os recursos do otimismo, e con­quanto haja sombra circundando a tua oficina de ação nobilitante, abre a janela da esperança e vis­lumbra adiante a claridade que logo mais te envolverá.

Nominalmente convocado ao pátio da censura ou ao balcão das queixas e reclamações, concorre com o rol da compreensão e da afabilidade, da man­suetude e da desculpa espontânea aos que não com­partem contigo os propósitos de elevação, insistindo na tarefa encetada.

Conhecendo as “leis dos fluídos” poderás fàcil­mente identificar as companhias espirituais, saindo pela porta da oração dos redutos de vibrações nega­tivas e perniciosas em que te encontres.

Se te sentires inquieto no serviço que te compete realizar, insultado por companheiros que não acreditam no teu esfôrço, silencia e produze mais.

Se perturbações de variada ordem te impedem de prosseguir na execução do programa da tua própria libertação, não lamentes nem recalcitres:

eleva o pensamento aos Planos da Misericórdia Divina e labora ainda mais.

Assediado psiquicamente por Entidades levianas ou perseguidoras, trabalha pelo bem de todos, uti­llzando os recursos de que disponhas e preenche os espaços mentais vazios, não concedendo trégua àociosidade.

Vencido pela fadiga desta ou daquela natureza, renova as fôrças, meditando uma página consola­dora antes lida.

Algumas vêzes o veneno da ira amargurará teus lábios; em muitas ocasiões a balbúrdia dos desocu­pados te atordoará, envolvendo-te em atroada avas­saladora; repentinamente sentirás a mágoa insidiosa e injustificável, açulando a indiferença muda, que te ameaça, cruel; a tentação de “tudo abandonar”, reiteradamente chegará à tua casa mental; a deser­ção de inúmeros companheiros será estímulo para o teu desânimo; as facilidades do caminho estarão fascinantes à tua frente, convidativas; e pergun­tarás: que fazer?

Recorre aos recursos espíritas: ora, e ora sem­pre, para adquirires resistência contra o mal que infelizmente ainda reside em nós; permuta conver­sação enobrecida, pois que as boas palavras e os pensamentos bons renovam as disposições espiri­tuais; utiliza o recurso do passe socorrista, rearticu­lando as fôrças em desalinho; sorve um vaso de água fluidificada, restaurando a harmonia das cé­lulas em desajustamento e, sobretudo, realiza o bom serviço.

Nenhum mal consegue triunfo no terreno reser­vado ao bem atuante.

Não te concedas a insensata cooperação com o pessimismo ou o desalento, a rebeldia ou o egoísmo, estimulando a produção do ôrro ou a multiplicação da anarquia.

Aquele que conhece o Espiritismo é beneficiário do Consolador, em cuja fonte haure fôrças e resig­nação, mas é, também, amigo da Verdade, em cuja companhia não tergiversa, sejam quais forem as circunstâncias, avançando em rumo definido, certo da vitória final.

Tem como modêlo e guia Jesus, cujo chamado escutou e atende, prosseguindo na marcha após “renunciar a si mesmo, tomar a própria cruz” e transformar-se em espírita autêntico, o que equi­vale a cristão verdadeiro.

*

“Se podes! Tudo é possível àquele que crê”.

Marcos: capítulo 9º, versículo 23.

*

“Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as conseqüências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos”.

Capítulo 17º — Item 4, parágrafo 2.


52

RESPOSTAS INDIRETAS

Rogavas, ainda ontem, saúde para o corpo al­quebrado e constatavas a presença da enfermidade.

Confiavas, ainda ontem, que o problema moral fôsse suavizado ante o auxílio que aguardavas do Céu, e o defrontas a martirizar o coração.

Esperavas, ainda ontem, que os óbices desapa­recessem do caminho, considerando a nobreza dos teus intentos, e encontras a dificuldade ampliada como a zombar do teu esfórço.

Oravas, ainda ontem, buscando fôrças e robus­tez para o trabalho, e despertas com as mesmas fraquezas do dia anterior.

Solicitavas, ainda ontem, auxílios eficazes para a continuação do labor socorrista, e surpreendes a ausência dos valôres necessários.

Deixas-te abater pelo desânimo, acreditando-te esquecido dos favores divinos.

Sucede, porém, que o Celeste Pai responde aos nossos apelos, não conforme os nossos desejos, mas consoante as nossas necessidades.

A tenra plantinha roga altura; mas sem que robusteça o tronco candidata-se à destruição.

A fonte modesta roga caminho para correr; sem a fôrça da corrente, porém, perde-se, consumida pelo solo.

É necessário, pois, discernir para entender.

Muitas vêzes o bem mais eficaz para o doente ainda é a enfermidade.

O lavrador atende ao solo com os recursos que conta em si mesmo e na terra. A chuva e o sol são contribuições que a misericórdia celeste lhe dispen­sará correspondendo ao mérito da sua seara. Mas não se descoroçoa se o excesso da chuva e o calor do sol lhe destróem a sementeira. Refeito da dor retorna ao campo e prossegue resoluto.

Procura, assim, entender também as respostas indiretas com que o Sublime Amigo nos atende.

Nem sempre o que nos parece o melhor é real­mente o melhor para nós.

Persevera no trabalho nobre e honroso, atende aos deveres que te competem realizar; e, mesmo que as tuas mãos doloridas e calejadas roguem ungüento que não chega, prossegue esperando, firme e sobranceiro, recordando que o fruto nunca prece­de à florescência e que esta desponta nos dedos da planta que se dilacera para perpetuar a própria es­pécie. Deixa-te chegar, e, coroado com o suor, o sangue e as lágrimas do teu esfôrço, as flôres da esperança no Céu responderão às tuas ansiedades com os frutos da paz e da felicidade.

*

“Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por uma, outras sessenta e outras trinta”.

Mateus: capítulo 13º, versículo 8.

*

“O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria”.

Capítulo 17º — Item 7, parágrafo 4.


53

PENHOR DE FÉ

Não te surpreendam as dificuldades nem as incompreensões na esfera da. ação em que te encontras a serviço da Era Melhor do Espírito Imor­tal. Todo empreendimento que visa a modificação de estrutura ultramontana do êrro experimenta a reação contrária da própria fôrça em atuação.

Apontas ásperas lutas e duras provas, refe­res-te a desencantos e dubiedades, arrolas desassossêgo e evasão, abisma-te em desaire e amargura como se desejasses um jardim florido para aspirar aroma e não uma gleba a transformar-se em seara de bênçãos, tõda por inteira.

Considera, porém, que a lâmina que produz des­gasta-se, a pedra que atrita destrói-se, o lume que clareia consome o combustível de sustentação, o corpo que se desenvolve e cresce para a glória do espírito caminha para o sepulcro... Tudo são per­mutas incessantes.

Átomo a átomo agrega-se à molécula.

Célula a célula compõe-se o órgão.

Partícula a partícula forma-se o vegetal.

Vibração a vibração aglutinam-se as fôrças do Universo.

O sol que nos sustenta aniqUila-se paulatinamente ao converter massa em energia para o equilíbrio e manutenção dos astros que gravitam na sua órbita...

Assim, também, ocorre no campo das aspira­ções morais.

A excelência dos nossos ideais se revela no testemunho que dêles oferecemos.

Começamos e recomeçamos tarefas de sublima­ção até atingirmos o ápice da libertação, resgatando todos os débitos.

Por essa forma, cada qual respira no clima elaborado pelo pensamento e cultivado pela vontade.

Ante o que fazer, não te aquietes no já feito.

Fase ao produzir em nome do amanhã, evita a paisagem do passado.

Projetando o bem esquece o mal, que em última análise é apenas o bem ausente.

Não desfaleças, não retrocedas, porque as tuas aspirações sofrem a baba da injúria e as tuas ex­pressões são entendidas como acicates que no en­tanto não esparzes.

Reverenciando Jesus, a Quem procuras atender e cujo amor te incendeia a alma em pleno despertar, agradece todo empeço e azedume que te apareçam, perdoando sempre, porqüanto, testemu­nhando a legitimidade dos teus propósitos, o perdão que ofertes é oportunidade para ti mesmo, como perdão de Nosso Pai na direção dos teus desejos.

*

“Tende fé em Deus!”

Marcos: capítulo 11º, versículo 22.

*

“A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquêle que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus”.

Capítulo 19º — Item 4.


54

PROBLEMAS, FACILIDADES E FÉ

Enquanto o discípulo do Evangelho laborava em dificuldade sob o pêso de problemas de variada denominação, amargando enfermidade e dor, afer­vorava-se na vivência cristã, em cuja trilha encon­trava segurança para a marcha e sob cujo amparo lenha as feridas do sentimento estiolado.

Emocionado, deixava-se vencer pelas dúlcidas consolações a fluírem da Boa Nova, penetrando-se de fervor e desejoso por servir com abnegação e renuncia.

Planos de auxílio fraterno enfloresciam sua alma e suas mãos diligentes arregimentavam ações superiores para o exercício da caridade sem mesclas.

Nas jornadas de estudos embaía-se de respon­sabilidade e permitia-se comunicar pelas excelentes diretrizes que se transformavam em roteiro de seguro comportamento.

Jungido à dor possuía a fé.

Paulatinamente modificou-se a paisagem e o discípulo, graças ao labor abençoado, granjeou amizades eternas, lobrigando sensibilizar Benfeitores Desencarnados que interferiram junto aos promo­tores do progresso humano, modificando, a benefício dêle, os mapas provacionais de modo a que fõssem atenuados seus débitos e modificada a mecânica da sua luta, objetivando-se mais amplo campo de serviço a bem do próximo.

A saúde recebeu mais expressiva carga de energia positiva, foram tomadas providências no metabolismo orgânico e, a breve tempo, os equipa­mentos físicos e psíquicos apresentaram-se saudá­veis, aquinhoados pela harmonia.

Sorriam êxitos e abundavam lucros.

Insensivelmente o discípulo modificou as ex­pressões íntimas do comportamento -

Dominado pelos compromissos novos afastou-se da charrua da caridade, tornando-se onzenário, e como o tempo lhe representasse patrimônio mo­netário que poderia conseguir fêz-se faltoso, sob justificativas superficiais até que abandonou em definitivo o labor a que se encontrava ligado por novos deveres a que se submeteu dócilmente -

Pela memória, às vêzes recordava os dias idos experimentando, é verdade, inusitada nostalgia.

A volúpia dos valôres novos, a ambição des­medida, a bajulação da leviandade e o aplauso da fatuidade, embora lhe agradassem à prosápia, não conseguiam preencher-lhe o imenso vazio que vaga­rosa, porém, seguramente o dominava, terminando por vencer-lhe as resistências.

Enriqueceu e conquistou amigos.

O tempo tomou-lhe a saúde e alterou diversas amizades. O cansaço venceu-lhe a intrepidez e os desenganos terminaram por deixá-lo só -

Quando chegou a desencarnaçãO, encontrou-se de consciência atormentada, e conquanto portador de expressiva fortuna econômica partiu da Terra com as mãos vazias.

Amigos e bens não foram além do túmulo, atingiram-lhe apenas e somente os portais de cinza e lama, antes que êle mesmo se adentrasse pela Imortalidade...

* * *

Diante das dificuldades de qualquer denomi­nação, face aos infortúnios de variada classificação, perante as graves e dolorosas conjunturas, da exis­tência planetária, sob a constrição de qualquer enfermidade ou sofrendo transes afetivos sem nome e sem esperança, não te arrojes ao desespêro nem rogues soluções apressadas à Vida -

Tem paciência e sofre confiante.

Tudo passa -

Qualquer situação, como tôda a circunstância boa ou má são transitórias pelo caminho da evolução.

Espera e persevera no exercício do bem sem limite, recuperando o passado de sombras e acen­dendo luzes de esperanças para o futuro -

Quando menos esperes, descobrirás que as dores se foram, as lutas cessaram, mas em paz de cons­ciência estarás livre das conjunturas carnais ade­jando além das situações dolorosas no rumo da plenitude da paz interior.

*

“Tudo o que com fé pedirdes em vossas orações, haveis de receber”.

Mateus: capítulo 21º, versículo 22.

*

“A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis porque não se dobra. FÉ INA­BALÁVEL SÓ É A QUE PODE ENCARAR DE FRENTE A RAZÃO, EM TODAS AS ÉPOCAS DA HUMANIDADE”.

Capítulo 19º — Item 7, parágrafo 3.


55

FALSOS PROFETAS

Caracterizam-se pelo verbalismo exagerado, quando utilizando a instrumentalidade mediúnica. Em arroubos dourados comentam, prolixos, os mais variados temas, não obstante chegarem a conclusão nenhuma.

Cultores da própria vaidade, comprazem-se em estimular o fanatismo exacerbado, utilizando a pa­lavra com habilidade, através de cujo recurso en­corajam os sentimentos infelizes do orgulho entre os seus ouvintes, cumulando-os de referências pom­posas embora vazias de significação.

Quando se lhes solicitam esclarecimento ou permitem interrogações à cata de informes com os quais seja possível aquilatar-lhes a evolução, rebe­lam-se ferozes, dizendo-se feridos nos valôres que a si se atribuem, traindo a inferioridade em que se demoram.

Arrogantes, estimam a ignorância presunçosa dominadores e arbitrários, com altas doses de empáfia com que se jactam guias e condutores.

Outras vêzes arremetem-se pela seara do profe­tismo sensacionalista, enveredando pelo terreno das fantasias, tão do gõsto da frivolidade ou da ingenuidade de grande cópia das criaturas humanas. Tecem comentários vastos sôbre a vida em outros planêtas, discorrendo, levianos, temas controverti­dos nos quais, sejam quais forem as conclusões da honesta investigação do futuro, dispõem de válvulas para escapatórias vulgares.

Pseudo-sábios conforme os denominou o Codi­ficador do Espiritismo, quando se percebem suspei­tos ante os que os ouvem, não se constrangem de utilizar nomes que exornaram personalidades his­tóricas, sábios ou santos para melhor enganarem os espíritos invigilantes, embora encarnados, que se comprazem na ilusão, distantes da responsabilidade pessoal e intransferível da tarefa de renovação in­terior.

Falsos profetas da Erraticidade, que são!

A desencarnação não os modificou -

Amantes da ficção e sócios da mentira, quando no corpo somático, prosseguem no engôdo a que se permitiram arrastar, sintonizando com outras mentes ociosas do plano físico, a que se vinculam, dando prosseguimento aos programas infelizes que lhes apraz.

Fáceis de identificar, devem evangelicamente receber instrução, advertidos e reprochados frater­nalmente.

Às vêzes, investem contra grupos respeitáveis, testando a excelência moral dos componentes da atividade espírita em comêço - Precipitados, todavia, logo desvelam os propósitos que os inspiram.

* * *

Também os há no plano físico -

Zelosos, passam como fiscais do labor alheio, preocupados em encontrar em tudo e em todos mistificações e mistificadores, com que traem o estado Íntimo - Acreditam-se encarregados de guardar a Verdade e somente êles a possuem em mais altas expressões, descuidando, como é natural, do pró­prio comportamento, revelando, assim, nas atitudes apaixonadas e nas posições inamovíveis a que se fixam, a condição de espíritos atormentados, com­panheiros atormentadores -

Confiam nas fôrças que supõem possuir, jactan­ciosos, esquecidos de que a Vinha pertence ao Senhor que labora incessantemente -

Preocupados em descobrir falhas e engodos des­curam a atividade nobre de ensinar corretamente, relegando como deveriam os irresponsáveis à Lei que dêles se encarregará, fiscalizando-se com maior serenidade, a benefício da Causa ou das Idéias que dizem defender.

Expressam uma classe especial de falsos pro­fetas — são os novos zelotes -

* * *

A mentira, porém, de qualquer procedência, não resiste ao tempo, nem à meridiana luz da autenticidade.

Os que mentem, encarnados ou desencarnados, não desacreditam a verdade: iludem-se, perturban­do-se, em decorrência das atitudes e conceitos cul­tivados.

Por essa razão, ama tu a atitude correta, ora e vigia, para que não sejas vítima daqueles espíritos atormentados e enganadores do Além - Da mesma forma não te faças acusador de ninguém, antes impõe-te a tarefa de proceder com retidão, ensinar com segurança doutrinária e servir sempre, pois que o Senhor até hoje trabalha, sem a excessiva preocupação de eliminar do campo os maus trabalhadores aos quais concede Ele oportunidade e oportunidades, por não desejar que ovelha alguma que o Pai lhe confiou se perca, mas antes seja salva.

*

“Meus bem-amados, NÃO CREAIS EM QUALQUER ESPÍRITO; experimentai se os Espíritos são de Deus, porqüanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”.

São João, Epístola 1ª, Capítulo 4º, versículo 1.

*

“O Espiritismo revela outra categoria bem mais perigosa de falsos Cristos e de falsos profetas, que se encontram, não entre os homens, mas entre os desencarnados: a dos Espíritos enganadores, hipócritas, orgulho­sos e pseudo-sábios, que passaram da Terra para a erraticidade e tomam nomes vene­rados para, sob a máscara de que se cobrem, facilitarem a aceitação das mais singulares e absurdas idéias”.

Capítulo 21º — Item 7, parágrafo 2.


56

SEXO E OBSESSÃO

Espíritos perturbados em si mesmos reencarnam­-se anatematizados por desequilíbrios físicos e psí­quicos que procedem das lembranças negativas e dos erros anteriormente praticados.

Espíritos inquietos reemboscam-se na indumen­tária fisiológica, açulados por falsas necessidades a que se atiraram impensadamente nas existências passadas.

Espíritos aturdidos recomeçam a experiência carnal sob o guante de paixões que devem superar e derrapam nas experiências comprometedoras em que mais se infelicitam.

Espíritos ansiosos vitalizam as idéias que os atormentam e estabelecem conexões enfermiças com outras mentes, engendrando dramas obsessivos de conseqüências lastimáveis.

Espíritos viciados se reacondicionam no corpo somático e se permitem acumpliciamento com ou­tros sêres reencarnados em ultrizes processos de vampirização recíproca, em que desarticulam os centros genésicos, passando a experimentar desditas inenarráveis.

Estatísticas eficientes realizadas do lado de cá informam que os processos infelizes da criminalidade e do desespêro procedem invariavelmente do ódio. Merece, porém, examinar, que o ódio resulta das frustrações afetivas, das ansiedades incontidas, do egoísmo exacerbado, da maledicência sinistra, da ira freqüente, das ambições desmedidas, dos amôres alucinados que se conjugam em nefandos conciliábulos de imprevisíveis resultados.

Por isso, o amor é fundamental na vida de todos.

E por ser o sexo a fonte poderosa que faculta a perpetuação da espécie, entre os homens, invariavelmente vai confundindo nos delineamentos afetivos, como fator essencial para a comunhão, senão o único meio de exteriorização do amor.

Diariamente, milhões de criaturas mal infor­madas ou desavisadas, fascinadas pelas ilusões do prazer, arrojam-se a despenhadeiros da loucura, por frustrações e desassossegos sexuais. Sublime cam­po de experiências superiores normalmente se con­verte em paul sombrio de miasmas asfixiantes e tó­xicos nefastos.

Através dêle, todavia, o espírito que recomeça a caminhada na Terra encontra o regaço materno, as mãos vigorosas da paternidade, os braços frater­nos transformados em asas de socorro, o ósculo da amizade pura e a certeza do reequilíbrio na opor­tunidade nova, como porta abençoada para a pró­pria redenção.

Não o esqueças propositadamente nos cometi­mentos humanos em que te encontras. Não o espi­caces levianamente, buscando as expressões da sua violência. Sublima-o pela continência, mediante a correção do comportamento, através da disciplina mental.

Não esperes a senectude para que te apresentes sereno.

Muitas pessoas idosas expressam amarguras, que decorrem de frustrações coercitivas a que se viram impelidas; outras se caracterizam conduzindo excessivas doses de pudor, após a travessia lamen­tável pelos perigosos rios do uso desequilibrado, de que se arrependem dolorosamente, descambando pa­ra a aversão sistemática; diversas fingem ignorá-lo, após perderem as exigências naturais pelo cansaço e disfunção que a velhice impõe...

Muitos males que não podem ser catalogados fàcilmente decorrem de íntimas inquietações nos departamentos do sexo atribulado, desde os dias da juventude...

Em razão disso, ama, quanto te permitam as fõrças.

Não esperes, porém, que o ser amado seja compelido a responder-te às aspirações.

Provavelmente êsse espírito está vinculado a outro espírito e chegaste tarde, não te sendo facultado desatrelá­lo das ligações a que se permitiu prender espon­tãneamente.

Se chegas antes, não o atormentes com exigên­cias, porque é possível que o compromisso dêle es­teja à frente. Se te aproximas tardiamente e desfa­zes os laços que já mantém, não fruirás a felicida­de, e se impedes que marche na direção das tare­fas para as quais reencarnou sofrerás, mais tarde, o travo da desilusão, quando passe o infrene desejo imediato...

Entrega o teu amor à vida e envolve-o nas vi­brações da ternura que felicita e dulcifica aquêle que ama, quanto o que é amado.

Se, todavia, não possuíres fôrças para o cometi­mento, não te permitas a conjectura de sonhos es­cravocratas. Antes, ora e roga o socorro do Alto, para que os anjos guardiães vigilantes te distendam mãos compassivas e bálsamo tranqüilizador.

O teu íntimo amor resplandecerá um dia, após a superação do tormento sexual, em paisagem de festa em que o teu espírito cantará a música da liberdade e da paz.

* * *

Há mentes ociosas, na Erraticidade, atormen­tadas e sedentas, vitimadas por paixões que ainda não se aplacaram, que estão realizando incessante comércio obsessivo com os que se permitem, na Terra, as alucinações sexuais e os desavisos afetivos. Em conúbios terríveis atiram-se com virulência, explorando os centros genésicos dos encarnados e esfacelando nêles a esperança e a alegria de vive­rem.

Sutilmente instilam os pensamentos depressivos ou açulam falsas necessidades, absorvendo por pro­cessos mui complexos as expressões do prazer fu­gidiço e instalando as matrizes de desequilíbrios irreversíveis.

Vigia a mente e controla o sexo.

Quando pensamentos inusitados te sombrea­rem os painéis mentais com idéias infelizes; quan­do afetos dúlcidos se transformarem nos recessos do teu coração em fornalha de desejos; quando a ternura com que envolves os a quem estimas ou amas se te apresentar ardente ou angustiante; quan­do passares a sofrer dolorosas constrições na orga­nização genésica tem cuidado! Certamente estarás sendo obsidiado por outros Espíritos, encarnados de mente vigorosa ou desencarnados infelizes, em trama contínua para te arrojarem nos despenhadei­ros da alucinação. Levanta o pensamento a Jesus e a Ele te entrega em regime de total doação, certo de que o Vencedor de todos os embates te ajudará a sair da constrição cruel, encaminhando-te na di­reção da harmonia. Para tanto, ora e trabalha pe­lo bem comum, e o bem de todos te oferecerá o le­nitivo e a fôrça para a libertação a que aspiras.

*

“Pois do coração procedem maus pensa­ment os, homicídios, adultérios, fornicações, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias”.

Mateus: capítulo 15º, versículo 19.

*

“Ide, portanto, meus filhos bem-amados, ca­minha sem tergiversações, sem pensamentos ocultos, na rota bendita que tomastes. Ide, ide sempre, sem temor: afastai cuidadosa­mente tudo o que vos possa entravar a marcha para o objetivo eterno”.

Capítulo 21º — Item 8, parágrafo 5.


57

CULTOS AOS MORTOS

Resultante da ignorância, o culto dos mortos entre os povos primitivos se espalhou pelas múltiplas Civilizações da antigüidade, gerando, em con­seqüência, lamentáveis processos de desregramento religioso, que derrapavam, quase sempre, em dolo­rosos conúbios obsessivos.

Entidades primárias e viciosas, utilizando-se das paixões vigentes, exigiam, selvagens, sacrifícios de vidas humanas, que o tempo se encarregou de su­primir... Os holocaustos desta e daquela natureza foram sofrendo variações por impositivos do pro­gresso até assumirem conceituação metafísica, transmudando a mecânica da forma para a essência do espírito sacrificial.

Concomitantemente, estabeleceu-se o intercâmbio entre os dois mundos: o dos encarnados e o dos desencarnadOS, que retornavam com as mesmas características da personalidade desenvolvida antes do túmulo, exteriorizando as emoções e as sensações compatíveis ao estado de evolução de cada um.

Nos santuários dos Templos, nas Escolas de iniciação, nos “Mistérios”, os mortos sempre assu­miram papel preponderante, traduzindo os desejos dos “deuses”, — “deuses” que se fariam crer, — conduzindo, não raro, e em consequência, o pensamento humano às nascentes da vida, e elucidando os enigmas do ser, as diretrizes dos destinos e os impositivos da dor...

Filósofos e heróis, conquistadores e reis, magos e sacerdotes do passado mantiveram, dessa forma, longo comércio com o Mundo Espiritual em inolvi­dáveis diálogos, dos quais ressumavam a essência da vida verdadeira, a imortalidade, a comunicabili­dade e a reencarnação do espírito...

* * *

Com Jesus, no entanto, os chamados mortos receberam o necessário respeito, ocupando o devido lugar. Seus encontros com os libertos da carne, mencionados no Evangelho, são memoráveis, incon­fundíveis. E a ética decorrente dêsse convívio, va­zada na elevação moral e na renúncia, no amor e na caridade constitui, ainda hoje, a linha de equi­líbrio e base de segurança para a vida.

Depois dEle, Allan Kardec, o Missionário fran­cês, de Líon, foi investido pelo Alto com a inapre­ciável condição de desvelar a vida além da sepul­tura, facultando o renascimento do Cristianismo nos espíritos e nos corações, e abrindo nobres en­sanchas para o intercâmbio com as Esferas Espiri­tuais.

Os próprios Imortais aquiesceram em elucidar os enigmas humanos com a divina permissão, am­pliando enormemente os horizontes do entendi­mento sobre a vida imperecível, após o decesso or­gânico.

Porque a Terra necessitasse de inadiável des­pertamento para as realidades do espírito, os Em­baixadores dos Céus mergulharam no corpo e re­nasceram nos diversos campos do pensamento e da investigação, colaborando com tirocínios lúcidos e comprovações indubitáveis da continuidade da vida após a morte.

Luminares do Reino mantiveram comunhão com os homens, através da mediunidade dignificada, re­petindo a mensagem do Cordeiro de Deus aos co­rações amargurados e contribuindo com farta cópia de revelações novas.

Não mais a morte. Em tõda a parte exulta a vida.

Ninguém se aniquila na morte. Muda-se de es­tado vibratório sem que se opere mudança intrínseca naquele que é considerado morto.

Morrer é, também, reviver.

Mortos estão, em realidade, aquêles que têm fechados os olhos para a vida e jazem anestesiados na ilusão, deambulando, em hipnose inditosa, entre viciações e engodos.

Cada ser é além do corpo o que cultivou na in­dumentária carnal. Nem melhor nem pior do que era. As construções mentais, longamente atendidas, não se apagam dos painéis espirituais ao toque má­gico da desencarnação, nem tampouco o culto da personalidade, os hábitos infelizes se rompem, de imediato, graças ao bisturi miraculoso da morte.

Morrer e viver nas vibrações materiais são contingências que dizem respeito a cada um.

* * *

Por essa razão, em memória dos teus mortos queridos, que vivem, não lhes açules as paixões subalternas com oferendas de ordem material, Já não necessitam dos mimos enganadores nem das de­monstrações exteriores do mundo da forma. Têm agora outro conceito, compreendem melhor o que foram, como poderiam e deveriam ter sido, e lamentam, se não souberam conduzir a experiência pelas nobres linhas da elevação moral.

Respeita-lhes a memória, mas desvincula-os das coisas transitórias.

Ama-os, e liberta-os das evocações dolorosas do vaso carnal.

Ajuda, através da tua valiosa dádiva de amor, os que se demoram ao teu lado experimentando aflições e desesperos.

Transforma as flôres débeis que logo fenecem em pães de esperança, que sustentarão vidas em quase extinção.

Apaga os círios de parca luminescência e acende a luz da caridade, pensando nêles, para que as lâmpadas de misericórdia que coloques em outras vidas possam transformar-se em claridade sublime nas consciências dêles.

Mitiga a sêde, diminui a fome, alfabetiza, enseja o medicamento, fomenta a concórdia, distribui a esperança, divulga a paz, recordando aquêles a quem amas e que partiram para o mais além, e chuvas de bênçãos cairão sôbre êles, abençoando-te também.

Não os pranteies em desesperos, não os exaltes em qualidades que não possuem.

Recorda-os na saudade e mantém-nos na lem­brança do carinho, sabendo por antecipação que um dia virá em que jornadearás, também, na dire­ção dêsse Mundo em que êles se encontram, voltan­do a estar ao lado dêles, sendo feliz outra vez. E como dispões ainda de tempo para preparar a sua viagem de retôrno à Pátria Espiritual, organizais emocionalmente, entregando tua vida à Providên­cia Divina e vivendo de tal forma no corpo que, em chegando o momento da desencarnação, não te detenhas atado às mazelas nem às constrições do vasilhame carnal.

*

“Se alguém guardar a minha palavra, nunca, jamais, provará a morte”.

João: capítulo 8º, versículo 52.

*

“O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira, é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde”.

Capítulo 23º — Item 8, parágrafo 2.


58

PIEDADE FRATERNAL

Perfeitamente natural é o sentimento de com­paixão pelos que padecem aflições inominadas no carreiro das provações humanas.

A dor, mercadejando os interêsses aflitivos, convoca as atenções para as feridas que expõe no corpo dilacerado dos que lhes caem nas malhas, esperando socorro.

Lágrimas copiosas, gritando misericórdia aos ouvidos atentos à musicalidade dos sofrimentos, aguardam o lenço que lhes enxuguem tôdas as expressões de infortúnio.

Soledade falando baixinho à necessidade de um braço amigo, de uma companhia discreta e de um auxílio, em forma de migalha de entendimento a fim de diminuir o abismo do vazio interior.

Viuvez e orfandade apresentando angústias in­descritíveis na expectativa de compreensão, de modo a tornar menos ácido o cálice horrendo de deses­pêro e de mágoa.

* * *

A piedade fraternal, que é o amor em comêço, filha dileta da caridade excelsa, logo descobre como co-participar de todo êsse triste festival de angustias no cenário desolador das dores humanas.

No entanto, mui difícil é a dádiva da piedade fraternal, à presunção, à soberbia.

Pelas características de que se revestem, o presunçoso e o soberbo, a ira nos que o cercam éo primeiro sentimento que investe promovendo reações imediatas às suas atitudes ferintes.

Ao lado do ingrato assinalado pelo esqueci­mento de todo o bem que recebeu, a atitude próxima é a da revolta que assoma no coração gene­roso do doador, agora cioso por um pronto des­forço.

A agressividade desta ou daquela natureza com­põe naturalmente um quadro de reações que o instinto engendra, oscilando entre a perspicácia da contrariedade ao azedume cruel do ódio que con­seguem, não poucas vêzes, roubar a paz tisnando a lucidez dos que lhe são vítimas indefesas.

Piedade, piedade para os maus, os ingratos, os soberbos, os cruéis porque são possivelmente mem­bros de um organismo social dos mais doentes, porqüanto ignoram o câncer que os vitima por dentro, mais próximos do aniquilamento da vaidade do que êles próprios supõem.

O sofrimento resignado nos compunge, a dor discreta nos comove, as lágrimas em silêncio nos chamam à compaixão, mas, é piedade também o ato de paciência ao lado do rebelde, do conduzido pelo corcel fogoso das paixões arbitrárias que nos humilha e nos aguilhoa, zombando muitas vêzes do nosso valor, por ignorância total da infelicidade que portam consigo.

A piedade é um sentimento multiface, que todos devemos agasalhar no coração.

Como é verdade que Jesus se compadeceu da pobre mulher surpreendida em adultério, que igno­rava a sandice atormentadora e a obsessão de que era objeto, convém não esqueçamos que ante a surra da ingratidão geral que o levou à Cruz, o seu último pensamento e suas últimas palavras foram a rogativa ao Pai para que perdoasse os crucificadores e os traidores, pois que êles não sabiam o que estavam a fazer, ensinando com a eloqüência do exemplo a mais sublime página de piedade frater­nal, que continua qual luminoso roteiro para o ho­mem através dos tempos sem fim, até o dia em que seja possível a perfeita fraternidade Universal.

*

“Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recom­pensa de vosso Pai que está nos céus”.

Mateus: capítulo 6º, versículo 1.

*

“Todos então se porão sob a mesma ban­deira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, de acordo com a ver­dade e os princípios que vos tenho ensinado”.

Capítulo 23º — Item 16, parágrafo 2.


59

SOCORRO MEDIÚNICO

Uma dor que se alonga, amenizada por inter­valos de paz e repouso; uma aflição que constringe, diminuída por estados de renovação e esperança; uma angústia esmagadora, amainada por freqüen­tes raios de alegria penetrante; uma soledade de­vastadora, desagregando a harmonia interior, inter­rompida pela presença fraterna de corações amigos e mentes abnegadas ao lado; uma ansiedade que despedaça, apagada, de quando em quando, por pausas de paz refazente; uma enfermidade de longo curso sob anestésico calmante nos instantes de gran­de crise, são pungentes provações ao lado de outros abençoados recursos de que a Vida se utiliza para conduzir o homem encarnado à rota da Espiritua­lidade, por cujos caminhos êle resgata os débitos e se aprimora.

E o mergulho no corpo físico, por mais afligen­tes sejam as dores, fá-las diminuídas pela intensidade das vibrações do veículo carnal que concede tréguas à consciência, tendo-se em vista as pausas do sono reparador, o medicamento operante, a presença de afetos generosos, o concurso da ora­ção e vários outros misteres com que a Divindade faculta a amenidade das provas e expiações ao espírito calcêta, em romagem redentora.

Com a medida das tuas dores que nunca atin­gem o superlativo das desesperações, examina as dores daqueles outros espíritos que se perde­ram em si mesmos, apagando a lucidez da razão e demorando-se longamente em contínuo padecer, sem ao menos um repouso, o concurso de uma palavra gentil, as mãos em concha de cari­dade ou uma prece emocionada e intercessória, capaz de lenir a profunda exulceração que perdura...

Tais sêres são os nossos irmãos que jazem além da sepultura, nas regiões retificadoras do Mundo Espiritual, perdidos na consciência vilipendiada pe­los próprios erros, na cela apertada das tristes e cruéis evocações sob o látego das lembranças ultrajantes ou revivendo sem termo as dores que neles precederam à desencarnação...

* * *

Reflexionando no quanto devem doer essas dores, sentirás diminuídos os teus problemas e um sentimento de puro amor animar-te-á, empurrando-te na direção dêles para oferecer-lhes o mecanismo da tua mediunidade, a fim de que, conduzidos pelas mãos anônimas e misericordiosas da caridade do Senhor, possam as suas lágrimas escorrer pelos teus olhos e na tua face exsude o suor que nêles goteja, podendo falar pela tua garganta e ouvir a palavra esclarecedora do Evangelho pelos teus ouvidos, conseguindo renovar-se interiormente e, logo após, libertar-se de tão pesada canga, recome­çando em província nova o tratamento das enfer­midades e preparando-se para o amanhã.

Esquecerás, desse modo, os teus pequenos problemas e as tuas débeis agonias para os ajudar, contribuindo eficazmente no ministério socorrista pela mediunidade com Jesus, para os que tombaram por ignorância, negligência ou impiedade, dignos todos, nossos irmãos que são, da colaboração amo­rosa da nossa solidariedade fraternal.

E perceberás porque Jesus, sendo a “Luz do Mundo”, desceu até nós, nas sombras da morte, para nos ensinar a amar, alçando-nos, assim, na direção da Excelsa Felicidade.

*

“Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dêle e nunca mais nêle entres”

Marcos: capítulo 9º, versículo 25.

*

“A mediunidade não implica necessàriamente relações habituais com os Espíritos supe­riores. É apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos útil aos Espíritos, em geral”.

Capítulo 24º — Item 12, parágrafo 5.


60

ORAÇÃO NO ANO NOVO

Senhor Jesus!

Ante as promessas do ano que se inicia, não nos permitas que esqueçamos aquêles com quem nos honraste o caminho iluminativo:

As mães solteiras, desesperadas, a quem pro­metemos o pão do entendimento;

As crianças delinqüentes que nos buscaram com a mente em desalinho;

Os calcêtas que, vencidos em si mesmos, nos feriram e retornaram às nossas portas;

Os enfermos solitários, que nos fitaram, con­fiantes em nosso auxílio;

Os esfaimados e desnudos que chegaram até nossas parcas provisões;

Os mutilados e tristes, ignorantes e analfabetos, que nos visitaram, recordando-nos de Ti...

Sabemos, Senhor, o pouco valor que temos, identificamo-nos com o que possuímos íntimamente, mas, contigo, tudo podemos e fazemos. Ajuda-nos a manter o compromisso de amar-Te, amando nêles toda a família universal em cujos braços renascemos.

*

“Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedidos vos será o que pedirdes”.

Marcos: capítulo 11º, versículo 24.

*

“Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a lhe inspIrar idéias sãs”.

Capítulo 27º — Item 11.

Fim