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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A Caminho da Luz-Francisco Cândido Xavier

Nota do Blog: Apesar de estar integralmente apresentado. Esse livro ainda não está totalmente formatado nesse blog, para uma leitura mais prazerosa.

CARO AMIGO:

Se você gostou deste livro e tem condições de comprá-lo, faça-o pois assim estarás ajudando a diversas instituições de caridade.
Que Jesus o abençoe.
Muita Paz

A CAMINHO DA LUZ

(Obra Mediúnica)

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

A Caminho da Luz

História da Civilização à Luz

do Espiritismo

Ditada pelo Espírito

EMMANUEL

(De 17 de agosto a 21 de setembro de 1938)

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

DEPARTAMENTO EDITORIAL

Rua Souza Valente, 17

20941-040 - Rio - RJ - Brasil

ISBN 85-7328-069-7

22ª edição

Do 219º ao 243º milheiro

Capa de CECCONI

B.N. 7.362

571-AA;000.52-O; 8/1996

Copyright 1939 by

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA

(Casa-Máter do Espiritismo)

SGAN 603 - Conjunto F

78830-030 - Brasília - DF - Brasil

Composição, fotolitos e impressão offset das

Oficinas do Departamento Editorial e Gráfico da FEB

Rua Souza Valente, 17

20941-040 - Rio, RJ - Brasil

C.G.C. nº 33.644.857/0002-84 I.E. nº 81.600.503

Impresso no Brasil

PRESITA EN BRAZILO

Pedidos de livros à FEB - Departamento Editorial, via

Correio ou, em grandes encomendas, via rodoviário: por

carta, telefone (021) 589-6020, ou FAX (021) 589-6838.

7

Índice

Antelóquio 11

Introdução 13

I - A GÊNESE PLANETÁRIA

A Comunidade dos Espíritos Puros. - A Ciência de todos os

tempos. - Os primeiros tempos do orbe terrestre. - A criação

da Lua. - A solidificação da Matéria. - O Divino Escultor. - O

verbo na criação terrestre.

17

II - A VIDA ORGANIZADA

As construções celulares. - Os primeiros habitantes da Terra.

- A elaboração paciente das formas. - As formas

intermediárias da Natureza. - Os ensaios assombrosos. - Os

antepassados do homem. - A grande transição.

25

III - AS RAÇAS ADÂMICAS

O Sistema de Capela. - Um mundo em transições. - Espíritos

exilados na Terra. - Fixação dos caracteres raciais. - Origem

33

8

ÍNDICE

das raças brancas. - Quatro grandes povos. - As promessas

do Cristo.

IV - A CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA

Os egípcios. - A ciência secreta - O Politeísmo simbólico. - O

culto da morte e a metempsicose. - Os egípcios e as ciências

psíquicas. - As Pirâmides - Redenção.

41

V - A ÍNDIA

A organização hindu. - Os arianos puros. - O expansionismo

dos Árias. - Os Mahatmas. - As castas. - Os rajás e os párias.

- Em face de Jesus.

49

VI - A FAMÍLIA INDO-EUROPÉIA

As migrações sucessivas. - A ausência de notícias históricas.

- A grande virtude dos Árias europeus. - O Mediterrâneo e o

Mar do Norte. - Os nórdicos e os mediterrânicos. - Origem do

racionalismo. - As advertências do Cristo.

57

VII - O POVO DE ISRAEL

Israel. - Moisés. - O Judaísmo e o Cristianismo. - O

Monoteísmo. - A escolha de Israel. - A incompreensão do

Judaísmo. - No porvir.

65

VIII - A CHINA MILENÁRIA

A China. - A cristalização das idéias chinesas. - Fo-Hi. -

Confúcio e Lao-Tsé. - O Nirvana. - A China atual. - A

edificação do Evangelho.

73

IX - AS GRANDES RELIGIÕES DO PASSADO

As primeiras organizações religiosas. - Ainda as raças

adâmicas. - A gênese das crenças religiosas. - A unidade

substancial das religiões. - As revelações gradativas. -

Preparação do Cristianismo. - O Cristo inconfundível.

81

X - A GRÉCIA E A MISSÃO DE SÓCRATES

Nas vésperas da maioridade terrestre. - Atenas e Esparta. -

Experiências necessárias. - A Grécia. - Sócrates. - Os

discípulos. - Provação coletiva da Grécia.

89

XI - ROMA

O povo etrusco. - Primórdios de Roma.

97

9

ÍNDICE

- Influências decisivas. - Os patrícios e os plebeus. - A família

romana. - As guerras e a maioridade terrestre. - Nas vésperas

do Senhor.

XII - A VINDA DE JESUS

A manjedoura. - O Cristo e os essênios. - Cumprimento das

profecias de Israel. - A grande lição. - A palavra divina. -

Crepúsculo de uma civilização. - O exemplo do Cristo.

105

XIII - O IMPÉRIO ROMANO E SEUS DESVIOS

Os desvios romanos. - Os abusos da autoridade e do poder. -

Os chefes de Roma. - O século de Augusto. - Transição de

uma época. - Provações coletivas dos judeus e dos romanos.

- Fim da vaidade humana.

113

XIV - A EDIFICAÇÃO CRISTÃ

Os primeiros cristãos. - A propagação do Cristianismo. - A

redação dos textos definitivos. - A missão de Paulo. - O

Apocalipse de João. - Identificação da besta apocalíptica. - O

roteiro de luz e de amor.

121

XV - A EVOLUÇÃO DO CRISTIANISMO

Penosos compromissos romanos. - Culpas e resgates

dolorosos do homem espiritual. - Os mártires. - Os

apologistas. - O jejum e a oração. - Constantino. - O Papado.

131

XVI - A IGREJA E A INVASÃO DOS BÁRBAROS

Vitórias do Cristianismo. - Primórdios do Catolicismo. - A

Igreja de Roma. - A destruição do Império. - A invasão dos

bárbaros. - Razões da Idade Média. - Mestres do amor e da

virtude.

139

XVII - A IDADE MEDIEVAL

Os mensageiros de Jesus. - O Império Bizantino. - O

Islamismo. - As guerras do Islã. - Carlos Magno. - O

Feudalismo. - Razões do Feudalismo.

147

XVIII - OS ABUSOS DO PODER RELIGIOSO

Fases da Igreja Católica. - Gregório VII. - As advertências de

Jesus. - Fran-

155

10

ÍNDICE

cisco de Assis. - Os Franciscanos. - A Inquisição. - A obra do

Papado.

XIX - AS CRUZADAS E O FIM DA IDADE MÉDIA

As primeiras Cruzadas. - Fim das Cruzadas. - O esforço dos

emissários do Cristo. - Pobreza intelectual. - Renascimento. -

Transmigrações de povos. - Fim da idade medieval.

163

XX - RENASCENÇA DO MUNDO

Movimentos regeneradores. - Missão da América. - O Plano

Invisível e a colonização do Novo Mundo. - Apogeu da

Renascença. - Renascença religiosa. - A Companhia de Jesus.

- Ação do Jesuitismo.

171

XXI - ÉPOCA DE TRANSIÇÃO

As lutas da Reforma. - A Invencível Armada. - Guerras

religiosas. - A França e a Inglaterra. - Refúgio da América. -

Os Enciclopedistas. - A Independência americana.

179

XXII - A REVOLUÇÃO FRANCESA

A França no século XVIII. - Época de sombras. - Contra os

excessos da revolução. - O período do Terror. - A

Constituição. - Napoleão Bonaparte. - Allan Kardec.

187

XXIII - O SÉCULO XIX

Depois da Revolução. - Independência política da América. -

Allan Kardec e os seus colaboradores. - As ciências sociais. -

A tarefa do missionário. - Provações coletivas na França. -

Provações da Igreja.

195

XXIV - O ESPIRITISMO E AS GRANDES TRANSIÇÕES

A extinção do cativeiro. - O Socialismo. - Restabelecendo a

verdade. - Defecção da Igreja Católica. - Lutas renovadoras. -

A América e o futuro. - Jesus

203

XXV - O EVANGELHO E O FUTURO 211

Conclusão 217

11

Antelóquio

Meus amigos, que Deus vos conceda paz.

É-me grata a vossa palestra a respeito dos nossos trabalhos.

Esperemos e supliquemos a bênção do Alto para o nosso esforço. Dando

seguimento aos nossos estudos, procuremos esforçar-nos por mostrar a

verdadeira posição do Evangelho do Cristo, tanta vez incompreendido aí

no mundo, em face das religiões e das filosofias terrenas.

Não deverá ser este um trabalho histórico. A história do mundo está

compilada e feita. Nossa contribuição será à tese religiosa, elucidando a

influência sagrada da fé e o ascendente espiritual, no curso de todas as

civilizações terrestres. O livro do irmão Humberto (1)

__________

(1) "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".

12

EMMANUEL

foi a revelação da missão coletiva de um país; nosso esforço consistirá,

tão-somente, em apontamentos à margem da tarefa de grandes

missionários do mundo e de povos que já desapareceram, esclarecendo a

grandeza e a misericórdia do Divino Mestre. Vamos esperar os dias

próximos, quando tentaremos realizar nossos planos humildes de

trabalho. Que Deus vos conceda a todos tranqüilidade e saúde, e a nós as

possibilidades necessárias. Muito vos agradeço o concurso de cada um no

esforço geral. Trabalhemos na grande colmeia da evolução, sem outra

preocupação que não seja a de bem servir Àquele que, das Alturas, sabe

de todas as nossas lutas e lágrimas. Confiemos nEle. Do seu coração

augusto e misericordioso parte a fonte da luz e da vida, da harmonia e da

paz para todos os corações. Que Ele vos abençoe.

EMMANUEL

(Mensagem recebida em 17- 8 -1938.)

13

Introdução

Enquanto as penosas transições do século XX se anunciam ao tinido

sinistro das armas, as forças espirituais se reúnem para as grandes

reconstruções do porvir.

Aproxima-se o momento em que se efetuará a aferição de todos os

valores terrestres para o ressurgimento das energias criadoras de um

mundo novo, e natural é que recordemos o ascendente místico de todas as

civilizações que surgiram e desapareceram, evocando os grandes

períodos evolutivos da Humanidade, com as suas misérias e com os seus

esplendores, para afirmar as realidades espirituais acima de todos os

fenômenos transitórios da matéria.

Esse esforço de síntese será o da fé reclamando a sua posição em

face da ciência dos

14

EMMANUEL

homens, e ante as religiões da separatividade, como a bússola da

verdadeira sabedoria.

Diante dos nossos olhos de espírito passam os fantasmas das

civilizações mortas, como se permanecêssemos diante de um "écran"

maravilhoso. As almas mudam a indumentária carnal, no curso incessante

dos séculos; constróem o edifício milenário da evolução humana com as

suas lágrimas e sofrimentos, e até nossos ouvidos chegam os ecos

dolorosos de suas aflições. Passam as primeiras organizações do homem

e passam as suas grandes cidades, transformadas em ossuários

silenciosos. O tempo, como patrimônio divino do espírito, renova as

inquietações e angústias de cada século, no sentido de aclarar o caminho

das experiências humanas. Passam as raças e as gerações, as línguas e

os povos, os países e as fronteiras, as ciências e as religiões. Um sopro

divino faz movimentar todas as coisas nesse torvelinho maravilhoso.

Estabelece-se, então, a ordem equilibrando todos os fenômenos e

movimentos do edifício planetário, vitalizando os laços eternos que

reúnem a sua grande família.

Vê-se, então, o fio inquebrantável que sustenta os séculos das

experiências terrestres, reunindo-as, harmoniosamente, umas às outras, a

fim de que constituam o tesouro imortal da alma humana em sua gloriosa

ascensão para o Infinito.

As raças são substituídas pelas almas e as gerações constituem

fases do seu aprendizado e aproveitamento; as línguas são formas de

expressão, caminhando para a expressão única da fraternidade e do amor,

e os povos são os membros dispersos de uma grande família tra15

A CAMINHO DA LUZ

balhando para o estabelecimento definitivo de sua comunidade universal.

Seus filhos mais eminentes, no plano dos valores espirituais, são

agraciados pela Justiça Suprema, que legisla no Alto para todos os

mundos do Universo, e podem visitar as outras pátrias siderais,

regressando ao orbe, no esforço abençoado de missões regeneradoras

dentro das igrejas e das academias terrenas.

Na tela mágica dos nossos estudos, destacam-se esses

missionários que o mundo muitas vezes crucificou na incompreensão das

almas vulgares, mas, em tudo e sobre todos, irradia-se a luz desse fio de

espiritualidade que diviniza a matéria, encadeando o trabalho das

civilizações, e, mais acima, ofuscando o "écran" das nossas observações

e dos nossos estudos, vemos a fonte de extraordinária luz, de onde parte o

primeiro ponto geométrico desse fio de vida e de harmonia, que equilibra e

satura toda a Terra numa apoteose de movimento e divinas claridades.

Nossos pobres olhos não podem divisar particularidades nesse

deslumbramento, mas sabemos que o fio da luz e da vida está nas suas

mãos. É Ele quem sustenta todos os elementos ativos e passivos da

existência planetária. No seu coração augusto e misericordioso está o

Verbo do princípio. Um sopro de sua vontade pode renovar todas as

coisas, e um gesto seu pode transformar a fisionomia de todos os

horizontes terrestres.

Passaram as gerações de todos os tempos, com as suas

inquietações e angústias. As guerras ensangüentaram o roteiro dos povos

nas suas peregrinações incessantes para o conhecimento superior.

Caíram os tronos dos reis e

16

EMMANUEL

esfacelaram-se coroas milenárias. Os príncipes do mundo voltaram ao

teatro de sua vaidade orgulhosa, no indumento humilde dos escravos, e,

em vão, os ditadores conclamaram, e conclamam ainda, os povos da Terra,

para o morticínio e para a destruição.

O determinismo do amor e do bem é a lei de todo o Universo e a

alma humana emerge de todas as catástrofes em busca de uma vida

melhor.

Só Jesus não passou, na caminhada dolorosa das raças,

objetivando a dilaceração de todas as fronteiras para o amplexo universal.

Ele é a Luz do Principio e nas suas mãos misericordiosas repousam os

destinos do mundo. Seu coração magnânimo é a fonte da vida para toda a

Humanidade terrestre. Sua mensagem de amor, no Evangelho, é a eterna

palavra da ressurreição e da justiça, da fraternidade e da misericórdia.

Todas as coisas humanas passaram, todas as coisas humanas se

modificarão. Ele, porém, é a Luz de todas as vidas terrestres, inacessível

ao tempo e à destruição.

Enquanto falamos da missão do século XX, contemplando os

ditadores da atualidade, que se arvoram em verdugos das multidões,

cumpre-nos voltar os olhos súplices para a infinita misericórdia do Senhor,

implorando-lhe paz e amor para todos os corações.

17

I

A Gênese planetária

A COMUNIDADE DOS ESPÍRITOS PUROS

Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os

fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros

e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam

as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.

Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus

um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu,

nas proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da

organização e da dire18

EMMANUEL

ção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos.

A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da

nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as

balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria

em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor

à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu

Evangelho de amor e redenção.

A CIÊNCIA DE TODOS OS TEMPOS

Não é nosso propósito trazer à consideração dos estudiosos uma

nova teoria da formação do mundo. A Ciência de todos os séculos está

cheia de apóstolos e missionários. Todos eles foram inspirados ao seu

tempo, refletindo a claridade das Alturas, que as experiências do Infinito

lhes imprimiram na memória espiritual, e exteriorizando os defeitos e

concepções da época em que viveram, na feição humana de sua

personalidade.

Na sua condição de operários do progresso universal, foram

portadores de revelações gradativas, no domínio dos conhecimentos

superiores da Humanidade. Inspirados de Deus nos penosos esforços da

verdadeira civilização, as suas idéias e trabalhos merecem o respeito de

todas as gerações da Terra, ainda que as novas expressões evolutivas do

plano cultural das sociedades mundanas tenham sido obrigadas a

proscrever as suas teorias e antigas fórmulas.

19

A CAMINHO DA LUZ

Lembrando-nos, porém, mais detidamente, de quantos souberam

receber a intuição da realidade nas perquirições do Infinito, busquemos

recordar o globo terráqueo nos seus primeiros dias.

OS PRIMEIROS TEMPOS DO ORBE TERRESTRE

Que força sobre-humana pôde manter o equilíbrio da nebulosa

terrestre, destacada do núcleo central do sistema, conferindo-lhe um

conjunto de leis matemáticas, dentro das quais se iam manifestar todos os

fenômenos inteligentes e harmônicos de sua vida, por milênios de

milênios? Distando do Sol cerca de 149.600.000 quilômetros e deslocandose

no espaço com a velocidade diária de 2.500.000 quilômetros, em torno

do grande astro do dia, imaginemos a sua composição nos primeiros

tempos de existência, como planeta.

Laboratório de matérias ignescentes, o conflito das forças telúricas

e das energias físico-químicas opera as grandiosas construções do teatro

da vida, no imenso cadinho onde a temperatura se eleva, por vezes, a 2.000

graus de calor, como se a matéria colocada num forno, incandescente,

estivesse sendo submetida aos mais diversos ensaios, para examinar-se a

sua qualidade e possibilidades na edificação da nova escola dos seres. As

descargas elétricas, em proporções jamais vistas da Humanidade,

despertam estranhas comoções no grande organismo planetário, cuja

formação se processa nas oficinas do Infinito.

20

EMMANUEL

A CRIAÇÃO DA LUA

Nessa computação de valores cósmicos em que laboram os

operários da espiritualidade sob a orientação misericordiosa do Cristo,

delibera-se a formação do satélite terrestre.

O programa de trabalhos a realizar-se no mundo requeria o concurso

da Lua, nos seus mais íntimos detalhes. Ela seria a âncora do equilíbrio

terrestre nos movimentos de translação que o globo efetuaria em torno da

sede do sistema; o manancial de forças ordenadoras da estabilidade

planetária e, sobretudo, o orbe nascente necessitaria da sua luz

polarizada, cujo suave magnetismo atuaria decisivamente no drama infinito

da criação e da reprodução de todas as espécies, nos variados remos da

Natureza.

A SOLIDIFICAÇÃO DA MATÉRIA

Na grande oficina surge, então, a diferenciação da matéria

ponderável, dando origem ao hidrogênio.

As vastidões atmosféricas são amplo repositório de energias

elétricas e de vapores que trabalham as substâncias torturadas no orbe

terrestre. O frio dos espaços atua, porém, sobre esse laboratório de

energias incandescentes e a condensação dos metais verifica-se com a

leve formação da crosta solidificada.

É o primeiro descanso das tumultuosas comoções geológicas do

globo. Formam-se os primitivos oceanos, onde a água tépida sofre

pressão difícil de descrever-se. A atmosfera

21

A CAMINHO DA LUZ

está carregada de vapores aquosos e as grandes tempestades varrem, em

todas as direções, a superfície do planeta, mas sobre a Terra o caos fica

dominado como por encanto. As paisagens aclaram-se, fixando a luz solar

que se projeta nesse novo teatro de evolução e vida.

As mãos de Jesus haviam descansado, após o longo período de

confusão dos elementos físicos da organização planetária.

O DIVINO ESCULTOR

Sim, Ele havia vencido todos os pavores das energias

desencadeadas; com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o

escopro da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a

Sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e

compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a

escola abençoada e grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandirse

em amor, claridade e justiça. Com os seus exércitos de trabalhadores

devotados, estatuiu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra,

organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples de

matéria, cuja unidade substancial os espectroscópios terrenos puderam

identificar por toda a parte no universo galáxico. Organizou o cenário da

vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos

seres do porvir. Fez a pressão atmosférica adequada ao homem,

antecipando-se ao seu nascimento no mundo, no curso dos milênios;

estabeleceu os grandes centros de força da ionosfera e da estratosfera,

onde se har22

EMMANUEL

monizam os fenômenos elétricos da existência planetária, e edificou as

usinas de ozone a 40 e 60 quilômetros de altitude, para que filtrassem

convenientemente os raios solares, manipulando-lhes a composição

precisa à manutenção da vida organizada no orbe. Definiu todas as linhas

de progresso da humanidade futura, engendrando a harmonia de todas as

forças físicas que presidem ao ciclo das atividades planetárias.

O VERBO NA CRIAÇÃO TERRESTRE

A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na

intimidade das energias que vitalizam o organismo do Globo. Substituíramlhe

a providência com a palavra "natureza", em todos os seus estudos e

análises da existência, mas o seu amor foi o Verbo da criação do princípio,

como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na imortalidade semfim.

E quando serenaram os elementos do mundo nascente, quando a luz

do Sol beijava, em silêncio, a beleza melancólica dos continentes e dos

mares primitivos, Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu

pensamento. Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos

espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o

imenso laboratório planetário em repouso.

Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo

dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que

cobria toda a Terra.

Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada.

Com essa massa ge23

A CAMINHO DA LUZ

latinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à

superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens.

25

II

A vida organizada

AS CONSTRUÇÕES CELULARES

Sob a orientação misericordiosa e sábia do Cristo, laboravam na

Terra numerosas assembléias de operários espirituais.

Como a engenharia moderna, que constrói um edifício prevendo os

menores requisitos de sua finalidade, os artistas da espiritualidade

edificavam o mundo das células iniciando, nos dias primevos, a

construção das formas organizadas e inteligentes dos séculos

porvindouros.

O ideal da beleza foi a sua preocupação dos primeiros momentos, no

que se referia às edificações celulares das origens.

26

EMMANUEL

É por isso que, em todos os tempos, a beleza, junto à ordem,

constituiu um dos traços indeléveis de toda a criação.

As formas de todos os remos da natureza terrestre foram estudadas

e previstas. Os fluidos da vida foram manipulados de modo a se adaptarem

às condições físicas do planeta, encenando-se as construções celulares

segundo as possibilidades do ambiente terrestre, tudo obedecendo a um

plano preestabelecido pela misericordiosa sabedoria do Cristo,

consideradas as leis do princípio e do desenvolvimento geral.

OS PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA

Dizíamos que uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe

terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa,

era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião

de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma

definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação

da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras

manifestações dos seres vivos.

Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células

albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e

livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos

oceanos.

Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se

movem ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao

entre27

A CAMINHO DA LUZ

tenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em

proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações;

esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu

origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos

superiores.

A ELABORAÇÃO PACIENTE DAS FORMAS

Decorrido muito tempo, eis que as amebas primitivas se associam

para a vida celular em comum, formando-se as colônias de infusórios, de

polipeiros, em obediência aos planos da construção definitiva do porvir,

emanados do mundo espiritual onde todo o progresso da Terra tem a sua

gênese.

Os reinos vegetal e animal parecem confundidos nas profundidades

oceânicas. Não existem formas definidas nem expressão individual nessas

sociedades de infusórios; mas, desses conjuntos singulares, formam-se

ensaios de vida que já apresentam caracteres e rudimentos dos

organismos superiores.

Milhares de anos foram precisos aos operários de Jesus, nos

serviços da elaboração paciente das formas.

A princípio, coordenam os elementos da nutrição e da conservação

da existência. O coração e os brônquios são conquistados e, após eles,

formam-se os pródromos celulares do sistema nervoso e dos órgãos da

procriação, que se aperfeiçoam, definindo-se nos seres.

28

EMMANUEL

AS FORMAS INTERMEDIÁRIAS DA NATUREZA

A atmosfera está ainda saturada de umidade e vapores, e a terra

sólida está coberta de lodo e pântanos inimagináveis.

Todavia, as derradeiras convulsões interiores do orbe localizam os

calores centrais do planeta, restringindo a zona das influências telúricas

necessárias à manutenção da vida animal.

Esses fenômenos geológicos estabelecem os contornos geográficos

do globo, delineando os continentes e fixando a posição dos oceanos,

surgindo, desse modo, as grandes extensões de terra firme, aptas a

receber as sementes prolíficas da vida.

Os primeiros crustáceos terrestres são um prolongamento dos

crustáceos marinhos. Seguindo-lhes as pegadas, aparecem os batráquios,

que trocam as águas pelas regiões lodosas e firmes.

Nessa fase evolutiva do planeta, todo o globo se veste de vegetação

luxuriante, prodigiosa, de cujas florestas opulentas e desmesuradas as

minas carboníferas dos tempos modernos são os petrificados vestígios.

OS ENSAIOS ASSOMBROSOS

Nessa altura, os artistas da criação inauguram novos períodos

evolutivos, no plano das formas.

A Natureza torna-se uma grande oficina de ensaios monstruosos.

Após os répteis, surgem os animais horrendos das eras primitivas.

29

A CAMINHO DA LUZ

Os trabalhadores do Cristo, como os alquimistas que estudam a

combinação das substâncias, na retorta de acuradas observações,

analisavam, igualmente, a combinação prodigiosa dos complexos

celulares, cuja formação eles próprios haviam delineado, executando, com

as suas experiências, uma justa aferição de valores, prevendo todas as

possibilidades e necessidades do porvir.

Todas as arestas foram eliminadas. Aplainaram-se dificuldades e

realizaram-se novas conquistas. A máquina celular foi aperfeiçoada, no

limite do possível, em face das leis físicas do globo. Os tipos adequados à

Terra foram consumados em todos os reinos da Natureza, eliminando-se

os frutos teratológicos e estranhos, do laboratório de suas perseverantes

experiências. A prova da intervenção das forças espirituais, nesse vasto

campo de operações, é que, enquanto o escorpião, gêmeo dos crustáceos

marinhos, conserva até hoje, de modo geral, a forma primitiva, os animais

monstruosos das épocas remotas, que lhe foram posteriores,

desapareceram para sempre da fauna terrestre, guardando os museus do

mundo as interessantes reminiscências de suas formas atormentadas.

OS ANTEPASSADOS DO HOMEM

O reino animal experimenta as mais estranhas transições no período

terciário, sob as influências do meio e em face dos imperativos da lei de

seleção.

30

EMMANUEL

Mas, o nosso raciocínio ansioso procura os legítimos antepassados

das criaturas humanas, nessa imensa vastidão do proscênio da evolução

anímica.

Onde está Adão com a sua queda do paraíso? Debalde nossos olhos

procuram, aflitos, essas figuras legendárias, com o propósito de localizálas

no Espaço e no Tempo. Compreendemos, afinal, que Adão e Eva

constituem uma lembrança dos Espíritos degredados ria paisagem

obscura da Terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a

personalidade das criaturas.

Examinada, porém, a questão nos seus prismas reais, vamos

encontrar os primeiros antepassados do homem sofrendo os processos de

aperfeiçoamento da Natureza. No período terciário a que nos reportamos,

sob a orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de

antropóides, no Plioceno inferior. Esses antropóides, antepassados do

homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no

mundo, tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os

parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do

chimpanzé da atualidade.

Reportando-nos, todavia, aos eminentes naturalistas dos últimos

tempos, que examinaram meticulosamente os transcendentes assuntos do

evolucionismo, somos compelidos a esclarecer que não houve

propriamente uma "descida da árvore", no início da evolução humana.

As forças espirituais que dirigem os fenômenos terrestres, sob a

orientação do Cristo, estabeleceram, na época da grande maleabilidade

dos elementos materiais, uma linhagem

31

A CAMINHO DA LUZ

definitiva para todas as espécies, dentro das quais o princípio espiritual

encontraria o processo de seu acrisolamento, em marcha para a

racionalidade.

Os peixes, os répteis, os mamíferos, tiveram suas linhagens fixas de

desenvolvimento e o homem não escaparia a essa regra geral.

A GRANDE TRANSIÇÃO

Os antropóides das cavernas espalharam-se, então, aos grupos, pela

superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as

influências do meio e formando os pródromos das raças futuras em seus

tipos diversificados; a realidade, porém, é que as entidades espirituais

auxiliaram o homem do sílex, imprimindo-lhe novas expressões biológicas.

Extraordinárias experiências foram realizadas pelos mensageiros do

invisível. As pesquisas recentes da Ciência sobre o tipo de Neanderthal,

reconhecendo nele uma espécie de homem bestializado, e outras

descobertas interessantes da Paleontologia, quanto ao homem fóssil, são

um atestado dos experimentos biológicos a que procederam os prepostos

de Jesus, até fixarem no "primata" os característicos aproximados do

homem futuro.

Os séculos correram o seu velário de experiências penosas sobre a

fronte dessas criaturas de braços alongados e de pelos densos, até que

um dia as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo

perispiritual preexistente, dos homens primitivos, nas regiões

32

EMMANUEL

siderais e em certos intervalos de suas reencarnações.

Surgem os primeiros selvagens de compleição melhorada, tendendo

à elegância dos tempos do porvir.

Uma transformação visceral verificara-se na estrutura dos

antepassados das raças humanas.

Como poderia operar-se semelhante transição? Perguntará o vosso

critério científico.

Muito naturalmente.

Também as crianças têm os defeitos da infância corrigidos pelos

pais, que as preparam em face da vida, sem que, na maioridade, elas se

lembrem disso.

33

III

As raças adâmicas

O SISTEMA DE CAPELA

Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em

seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação

do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico

sol entre os astros que nos são mais vizinhos, ela, na sua trajetória pelo

Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos,

cantando as glórias divinas do Ilimitado. A sua luz gasta cerca de 42 anos

para chegar à face da Terra, considerando-se, desse modo, a regular

distância existente entre a Capela e o nosso planeta, já que a luz percorre

o espaço com a

34

EMMANUEL

velocidade aproximada de 300.000 quilômetros por segundo.

Quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram

física e moralmente, examinadas as condições de atraso moral da Terra,

onde o homem se reconforta com as vísceras dos seus irmãos inferiores,

como nas eras pré-históricas de sua existência, marcham uns contra os

outros ao som de hinos guerreiros, desconhecendo os mais comezinhos

princípios de fraternidade e pouco realizando em favor da extinção do

egoísmo, da vaidade, do seu infeliz orgulho.

UM MUNDO EM TRANSIÇÕES

Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas

afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus

extraordinários ciclos evolutivos.

As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas,

como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no

século XX, neste crepúsculo de civilização.

Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da

evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas

daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de

saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à

concórdia perpétua, para a edificação dos seus elevados trabalhos

As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos,

deliberam, então, localizar

35

A CAMINHO DA LUZ

aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra

longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do

seu ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando,

simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.

ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA

Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de

justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes.

Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas

desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres

de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas.

Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na Terra,

envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade sem

limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir os

sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração

cotidiana e a sua vinda no porvir.

Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo

um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na

prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre;

andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura;

reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o

paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam

a suave luz da Capela, mas

36

EMMANUEL

trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa

misericórdia.

FIXAÇÃO DOS CARACTERES RACIAIS

Com o auxílio desses Espíritos degredados, naquelas eras

remotíssimas, as falanges do Cristo operavam ainda as últimas

experiências sobre os fluidos renovadores da vida, aperfeiçoando os

caracteres biológicos das raças humanas. A Natureza ainda era, para os

trabalhadores da espiritualidade, um campo vasto de experiências

infinitas; tanto assim que, se as observações do mendelismo fossem

transferidas àqueles milênios distantes, não se encontraria nenhuma

equação definitiva nos seus estudos de biologia. A moderna genética não

poderia fixar, como hoje, as expressões dos "genes", porquanto, no

laboratório das forças invisíveis, as células ainda sofriam longos

processos de acrisolamento, imprimindo-se-lhes elementos de astralidade,

consolidando-se-lhes as expressões definitivas, com vistas às

organizações do porvir.

Se a gênese do planeta se processara com a cooperação dos

milênios, a gênese das raças humanas requeria a contribuição do tempo,

até que se abandonasse a penosa e longa tarefa da sua fixação.

ORIGEM DAS RAÇAS BRANCAS

Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram,

proporcionalmente, nas regiões mais importantes, onde se haviam

localizado as tri37

A CAMINHO DA LUZ

bos e famílias primitivas, descendentes dos "primatas", a que nos

referimos ainda há pouco. Com a sua reencarnação no mundo terreno,

estabeleciam-se fatores definitivos na história etnológica dos seres.

Um grande acontecimento se verificara no planeta

É que, com essas entidades, nasceram no orbe os ascendentes das

raças brancas.

Em sua maioria, estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o

istmo de Suez para a África, na região do Egito, encaminhando-se

igualmente para a longínqua Atlântida, de que várias regiões da América

guardam assinalados vestígios.

Não obstante as lições recebidas da palavra sábia e mansa do

Cristo, os homens brancos olvidaram os seus sagrados compromissos.

Grande percentagem daqueles Espíritos rebeldes, com muitas

exceções, só puderam voltar ao país da luz e da verdade depois de muitos

séculos de sofrimentos expiatórios; outros, porém, infelizes e retrógrados,

permanecem ainda na Terra, nos dias que correm, contrariando a regra

geral, em virtude do seu elevado passivo de débitos clamorosos.

QUATRO GRANDES POVOS

As raças adâmicas guardavam vaga lembrança da sua situação

pregressa, tecendo o hino sagrado das reminiscências.

As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações,

até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia.

38

EMMANUEL

Aqueles seres decaídos e degradados, a maneira de suas vidas

passadas no mundo distante da Capela, com o transcurso dos anos

reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos

mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e lingüísticas que os

associavam na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente, na esteira do

Tempo, formaram desse modo o grupo dos árias, a civilização do Egito, o

povo de Israel e as castas da Índia.

Dos árias descende a maioria dos povos brancos da família indoeuropéia

nessa descendência, porém, é necessário incluir os latinos, os

celtas e os gregos, além dos germanos e dos eslavos.

As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos

de toda a organização das civilizações futuras, introduzindo os mais largos

benefícios no seio da raça amarela e da raça negra, que já existiam.

É de grande interesse o estudo de sua movimentação no curso da

História. Através dessa análise, é possível examinarem-se os defeitos e

virtudes que trouxeram do seu paraíso longínquo, bem como os

antagonismos e idiossincrasias peculiares a cada qual.

AS PROMESSAS DO CRISTO

Tendo ouvido a palavra do Divino Mestre antes de se estabelecerem

no mundo, as raças adâmicas, nos seus grupos insulados, guardaram a

reminiscência das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu no

seio das mas39

A CAMINHO DA LUZ

sas, enviando-lhes periodicamente os seus missionários e mensageiros.

Eis por que as epopéias do Evangelho foram previstas e cantadas

alguns milênios antes da vinda do Sublime Emissário.

Os enviados do Infinito falaram, na China milenária, da celeste figura

do Salvador, muitos séculos antes do advento de Jesus. Os iniciados do

Egito esperavam-no com as suas profecias. Na Pérsia, idealizaram a sua

trajetória, antevendo-lhe os passos nos caminhos do porvir; na Índia

védica, era conhecida quase toda a história evangélica, que o sol dos

milênios futuros iluminaria na região escabrosa da Palestina, e o povo de

Israel, durante muitos séculos, cantou-lhe as glórias divinas, na exaltação

do amor e da resignação, da piedade e do martírio, através da palavra de

seus profetas mais eminentes.

Uma secreta intuição iluminava o espírito divinatório das massas

populares.

Todos os povos O esperavam em seu seio acolhedor; todos O

queriam, localizando em seus caminhos a sua expressão sublime e

divinizada. Todavia, apesar de surgir um dia no mundo, como Alegria de

todos os tristes e Providência de todos os infortunados, à sombra do trono

de Jessé, o Filho de Deus em todas as circunstâncias seria o Verbo de Luz

e de Amor do Princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis

que rolam no Infinito. (*)

__________

(*) Entre as considerações acima e as do capítulo precedente, devemos ponderar o

interstício de muitos séculos. Aliás, no que e refere à historicidade das raças adâmicas,

será justo meditarmos atentamente no

40

EMMANUEL

problema da fixação dos caracteres raciais. Apresentando o meu pensamento humilde,

procurei demonstrar as largas experiências que os operários do Invisível levaram a efeito,

sobre os complexos celulares, chegando a dizer da impossibilidade de qualquer cogitação

mendelista nessa época da evolução planetária. Aos prepostos de Jesus foi necessária

grande soma de tempo, no sentido de fixar o tipo humano.

Assim, pois, referindo-nos ao degredo dos emigrantes da Capela, devemos

esclarecer que, nessa ocasião, já o primata hominis se encontrava arregimentado em

tribos numerosas. Depois de grandes experiências, foi que as migrações do Pamir se

espalharam pelo orbe, obedecendo a sagrados roteiros, delineados nas Alturas.

Quanto ao fato de se verificar a reencarnação de Espíritos tão avançados em

conhecimentos, em corpos de raças primigênias, não deve causar repugnância ao

entendimento. Lembremo-nos de que um metal puro, como o ouro, por exemplo, não se

modifica pela circunstância de se apresentar em vaso imundo, ou disforme. Toda

oportunidade de realização do bem é sagrada. Quanto ao mais, que fazer com o

trabalhador desatento que estraçalha no mal todos os instrumentos perfeitos que lhe são

confiados? Seu direito, aos aparelhos mais preciosos, sofrerá solução de continuidade. A

educação generosa e justa ordenará a localização de seus esforços em maquinaria

imperfeita, até que saiba valorizar as preciosidades em mão. A todo tempo, a máquina

deve estar de acordo com as disposições do operário, para que o dever cumprido seja

caminho aberto a direitos novos.

Entre as raças negra e amarela, bem como entre os grandes agrupamentos

primitivos da Lemúria, da Atlântida e de outras regiões que ficaram imprecisas no acervo

de conhecimentos dos povos, os exilados da Capela trabalharam proficuamente,

adquirindo a provisão de amor para suas consciências ressequidas. Como vemos, não

houve retrocesso, mas providência justa de administração, segundo os méritos de cada

qual, no terreno do trabalho e do sofrimento para a redenção. - (Nota de Emmanuel.)

41

IV

A civilização egípcia

OS EGÍPCIOS

Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a

civilização egípcia foram os que mais se destacavam na prática do Bem e

no culto da Verdade.

Aliás, importa considerar que eram eles os que menos débitos

possuíam perante o tribunal da Justiça Divina. Em razão dos seus

elevados patrimônios morais, guardaram no íntimo uma lembrança mais

viva das experiências de sua pátria distante. Um único desejo os animava,

que era trabalhar devotadamente para regressar, um dia, aos seus penates

resplandecentes Uma saudade torturante do céu foi a base de

42

EMMANUEL

todas as suas organizações religiosas. Em nenhuma civilização da Terra o

culto da morte foi tão altamente desenvolvido. Em todos os corações

morava a ansiedade de voltar ao orbe distante, ao qual se sentiam presos

pelos mais santos afetos. Foi por esse motivo que, representando uma das

mais belas e adiantadas civilizações de todos os tempos, as expressões

do antigo Egito desapareceram para sempre do plano tangível do planeta.

Depois de perpetuarem nas Pirâmides os seus avançados conhecimentos,

todos os Espíritos daquela região africana regressaram à pátria sideral.

A CIÊNCIA SECRETA

Em virtude das circunstâncias mencionadas, os egípcios traziam

consigo uma ciência que a evolução da época não comportava.

Aqueles grandes mestres da antigüidade foram, então, compelidos a

recolher o acervo de suas tradições e de suas lembranças no ambiente

reservado dos templos, mediante os mais terríveis compromissos dos

iniciados nos seus mistérios. Os conhecimentos profundos ficaram

circunscritos ao circulo dos mais graduados sacerdotes da época,

observando-se o máximo cuidado no problema da iniciação.

A própria Grécia, que aí buscou a alma de suas concepções cheias

de poesia e de beleza, através da iniciativa dos seus filhos mais eminentes,

no passado longínquo, não recebeu toda a verdade das ciências

misteriosas. Tanto é assim, que as iniciações no Egito se revestiam de

experiências terríveis para o candidato à

43

A CAMINHO DA LUZ 43

ciência da vida e da morte - fatos esses que, entre os gregos, eram motivo

de festas inesquecíveis.

Os sábios egípcios conheciam perfeitamente a inoportunidade das

grandes revelações espirituais naquela fase do progresso terrestre;

chegando de um mundo de cujas lutas, na oficina do aperfeiçoamento,

haviam guardado as mais vivas recordações, os sacerdotes mais

eminentes conheciam o roteiro que a Humanidade terrestre teria de

realizar. Aí residem os mistérios iniciáticos e a essencial importância que

lhes era atribuída no ambiente dos sábios daquele tempo.

O POLITEÍSMO SIMBÓLICO

Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos

grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e

Absoluto, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres, mas

os sacerdotes conheciam, igualmente, a função dos Espíritos prepostos de

Jesus, na execução de todas as leis físicas e sociais da existência

planetária, em virtude das suas experiências pregressas.

Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu, então, a

idéia politeísta dos numerosos deuses, que seriam os senhores da Terra e

do Céu, do Homem e da Natureza.

As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes

festividades exteriores da religião.

Já os sacerdotes da época conheciam essa fraqueza das almas

jovens, de todos os tempos,

44

EMMANUEL

satisfazendo-as com as expressões esotéricas de suas lições sublimadas.

Dessa idéia de homenagear as forças invisíveis que controlam os

fenômenos naturais, classificando-as para o espírito das massas, na

categoria dos deuses, é que nasceu a mitologia da Grécia, ao perfume das

árvores e ao som das flautas dos pastores, em contacto permanente com a

Natureza.

O CULTO DA MORTE E A METEMPSICOSE

Um dos traços essenciais desse grande povo foi a preocupação

insistente e constante da Morte. A sua vida era apenas um esforço para

bem morrer. Seus papiros e afrescos estão cheios dos consoladores

mistérios do além-túmulo.

Era natural. O grande povo dos faraós guardava a reminiscência do

seu doloroso degredo na face obscura do mundo terreno. E tanto lhe doía

semelhante humilhação, que, na lembrança do pretérito, criou a teoria da

metempsicose, acreditando que a alma de um homem podia regressar ao

corpo de um irracional, por determinação punitiva dos deuses. A

metempsicose era o fruto da sua amarga impressão, a respeito do exílio

penoso que lhe fora infligido no ambiente terrestre.

Inventou-se, desse modo, uma série de rituais e cerimônias para

solenizar o regresso dos seus irmãos à pátria espiritual.

Os mistérios de Ísis e Osíris mais não eram que símbolos das forças

espirituais que presidem aos fenômenos da morte.

45

A CAMINHO DA LUZ

OS EGÍPCIOS E AS CIÊNCIAS PSÍQUICAS

As ciências psíquicas da atualidade eram familiares aos magnos

sacerdotes dos templos.

O destino e a comunicação dos mortos e a pluralidade das

existências e dos mundos eram para eles, problemas solucionados e

conhecidos. O estudo de suas artes pictóricas positivam a veracidade

destas nossas afirmações. Num grande número de frescos, apresenta-se o

homem terrestre acompanhado do seu duplo espiritual. Os papiros nos

falam de suas avançadas ciências nesse sentido, e, através deles, podem

os egiptólogos modernos reconhecer que os iniciados sabiam da

existência do corpo espiritual preexistente, que organiza o mundo das

coisas e das formas. Seus conhecimentos, a respeito das energias solares

com relação ao magnetismo humano, eram muito superiores aos da

atualidade. Desses conhecimentos nasceram os processos de

mumificação dos corpos, cujas fórmulas se perderam na indiferença e na

inquietação dos outros povos.

Seus reis estavam tocados do mais alto grau de iniciação,

enfeixando nas mãos todos os poderes espirituais e todos os

conhecimentos sagrados. É por isso que a sua desencarnação provocava

a concentração mágica de todas as vontades, no sentido de cercar-lhes o

túmulo de veneração e de supremo respeito. Esse amor não se traduzia,

apenas, nos atos solenes da mumificação. Também o ambiente dos

túmulos era santificado por um estranho magnetismo. Os grandes

diretores da raça, que faziam jus a semelhantes consagrações, eram

considerados dignos de toda a paz no silêncio da morte.

46

EMMANUEL

Nessas saturações magnéticas, que ainda aí estão a desafiar

milênios, residem as razões da tragédia amarga de Lord Carnarvon e de

alguns dos seus companheiros que penetraram em primeiro lugar na

câmara mortuária de Tut Ankh Amon, e ainda por isso é que, muitas vezes,

nos tempos que correm, os aviadores ingleses observam o não

funcionamento dos aparelhos radiofônicos, quando as suas máquinas de

vôo atravessam a limitada atmosfera do vale sagrado.

AS PIRÂMIDES

A assistência carinhosa do Cristo não desamparou a marcha desse

povo cheio de nobreza moral. Enviou-lhe auxiliares e mensageiros,

inspirando-o nas suas realizações, que atravessaram todos os tempos

provocando a admiração e o respeito da posteridade de todos os séculos.

Aquelas almas exiladas, que as mais interessantes características

espirituais singularizam, conheceram, em tempo, que o seu degredo na

Terra atingia o fim. Impulsionados pelas forças do Alto, os círculos

iniciáticos sugerem a construção das grandes pirâmides, que ficariam

como a sua mensagem eterna para as futuras civilizações do orbe. Esses

grandiosos monumentos teriam duas finalidades simultâneas:

representariam os mais sagrados templos de estudo e iniciação, ao

mesmo tempo que constituiriam, para os pósteros, um livro do passado,

com as mais singulares profecias em face das obscuridades do porvir.

47

A CAMINHO DA LUZ

Levantaram-se, dessarte, as grandes construções que assombram a

engenharia de todos os tempos. Todavia, não é o colosso de seus milhões

de toneladas de pedra nem o esforço hercúleo do trabalho de sua

justaposição o que mais empolga e impressiona a quantos contemplam

esses monumentos. As pirâmides revelam os mais extraordinários

conhecimentos daquele conjunto de Espíritos estudiosos das verdades da

vida. A par desses conhecimentos, encontram-se ali os roteiros futuros da

Humanidade terrestre. Cada medida tem a sua expressão simbólica,

relativamente ao sistema cosmogônico do planeta e à sua posição no

sistema solar. Ali está o meridiano ideal, que atravessa mais continentes e

menos oceanos, e através do qual se pode calcular a extensão das terras

habitáveis pelo homem, a distância aproximada entre o Sol e a Terra, a

longitude percorrida pelo globo terrestre sobre a sua órbita no espaço de

um dia, a precessão dos equinócios, bem como muitas outras conquistas

científicas que somente agora vêm sendo consolidadas pela moderna

astronomia.

REDENÇÃO

Depois dessa edificação extraordinária, os grandes iniciados do

Egito voltam ao plano espiritual, no curso incessante dos séculos.

Com o seu regresso aos mundos ditosos da Capela, vão

desaparecendo os conhecimentos sagrados dos templos tebanos, que, por

sua vez, os receberam dos grandes sacerdotes de Mênfis.

48

EMMANUEL

Aos mistérios de Ísis e de Osíris, sucedem-se os de Elêusis,

naturalmente transformados nas iniciações da Grécia antiga.

Em algumas centenas de anos, reuniram-se de novo, nos planos

espirituais, os antigos degredados, com a sagrada bênção do Cristo, seu

patrono e salvador. A maioria regressa, então, ao sistema da Capela, onde

os corações se reconfortam nos sagrados reencontros das suas afeições

mais santas e mais puras, mas grande número desses Espíritos,

estudiosos e abnegados, conservaram-se nas hostes de Jesus,

obedecendo a sagrados imperativos do sentimento e, ao seu influxo

divino, muitas vezes têm reencarnado na Terra, para desempenho de

generosas e abençoadas missões.

49

V

A Índia

A ORGANIZAÇÃO HINDU

Dos Espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se gruparam

nas margens do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de

uma sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande

percentagem de ascendentes das coletividades do porvir.

As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização

egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde

sairiam mais tarde personalidades notáveis, como as de Abraão e Moisés.

As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido

da misericórdia do

50

EMMANUEL

Cristo, de cuja palavra de amor e de cuja figura luminosa guardaram as

mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos

Upanishads. Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no

mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e

iniciados, em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos

do porvir, salientando-se que também as suas escolas de pensamento

guardavam os mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de

respeito.

OS ARIANOS PUROS

Era na Índia de então que se reuniam os arianos puros, entre os

quais cultivavam-se igualmente as lendas de um mundo perdido, no qual o

povo hindu colocava as fontes de sua nobre origem. Alguns acreditavam

se tratasse do antigo continente da Lemúria, arrasado em parte pelas

águas dos Oceanos Pacífico e Indico, e de cujas terras ainda existem

porções remanescentes, como a Austrália.

A realidade, porém, qual já vimos, é que, como os egípcios, os

hindus eram um dos ramos da massa de proscritos da Capela, exilados no

planeta. Deles descendem todos os povos arianos, que floresceram na

Europa e hoje atingem um dos mais agudos períodos de transição na sua

marcha evolutiva. O pensamento moderno é o descendente legitimo

daquela grande raça de pensadores, que se organizou nas margens do

Ganges, desde a aurora dos tempos terrestres, tanto que todas as línguas

das raças brancas guardam as mais estreitas afinidades com

51

A CAMINHO DA LUZ

o sânscrito, originário de sua formação e que constituía uma reminiscência

da sua existência pregressa, em outros planos.

O EXPANSIONISMO DOS ÁRIAS

Muitos séculos antes de qualquer prenúncio de civilização terrestre,

os árias espalharam-se pelas planícies hindus, dominando os autóctones,

descendentes dos "primatas", que possuíam uma pele escura e deles se

distanciavam pelos mais destacados caracteres físicos e psíquicos. Mais

tarde, essa onda expansionista procurou localizar-se ao longo das terras

da futura Europa, estabelecendo os primeiros fundamentos da civilização

ocidental nos bosques da Grécia, nas costas da Itália e da França, bem

como do outro lado do Reno, onde iam ensaiar seus primeiros passos as

forças da sabedoria germânica.

As balizas da sociedade dos gregos, dos latinos, dos celtas e dos

germanos estavam lançadas.

Cada corrente da raça ariana assimilou os elementos encontrados,

edificando-se os primórdios da civilização européia; cada qual se baseou

no princípio da força para o necessário estabelecimento, e, muito cedo,

começaram no Velho Mundo os choques de suas famílias e tribos.

OS MAHATMAS

Da região sagrada do Ganges partiram todos os elementos

irresignados com a situação

52

EMMANUEL

humilhante que o degredo da Terra lhes infligia. As arriscadas aventuras

forneceriam uma noção de vida nova e aqueles seres revoltados

supunham encontrar o esquecimento de sua posição nas paisagens

renovadas dos caminhos; lá ficaram, apenas, as almas resignadas e

crentes nos poderes espirituais que as conduziriam de novo às

magnificências dos seus paraísos perdidos e distantes.

Os cânticos dos Vedas são bem uma glorificação da fé e da

esperança, em face da Majestade Suprema do Senhor do Universo. A

faculdade de tolerar, e esperar, aflorou no sentimento coletivo das

multidões, que suportaram heroicamente todas as dores e aguardaram o

momento sublime da redenção. Os "mahatmas" criaram um ambiente de

tamanha grandeza espiritual para o seu povo, que, ainda hoje, nenhum

estrangeiro visita a terra sagrada da Índia sem de lá trazer as mais

profundas impressões acerca de sua atmosfera psíquica. Eles deixaram

também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de esperança e de

estoicismo resignado, salientando-se que quase todos os grandes vultos

do passado humano, progenitores do pensamento contemporâneo, deles

aprenderam as lições mais sublimes.

AS CASTAS

O povo hindu, não obstante o seu elevado grau de desenvolvimento

nas ciências do Espírito, não aproveitou de modo geral, como devia, o seu

acervo de experiências sagradas.

53

A CAMINHO DA LUZ

Seus condutores conheciam as elevadas finalidades da vida.

Lembravam-se vagamente das promessas do Senhor, anteriores à sua

reencarnação para os trabalhos do penoso degredo. A prova disso é que

eles abraçaram todos os grandes missionários do pretérito, vendo neles

os avatares do seu Redentor. Viasa foi instrumento das lições do Cristo,

seis mil anos antes do Evangelho, cuja epopéia, em seus mínimos

detalhes, foi prevista pelos iniciados hindus, alguns milênios antes da

organização da Palestina. Krishna, Buda e outros grandes enviados de

Jesus ao plano material, para exposição de suas verdades salvadoras,

foram compreendidos pelo grande povo sobre cuja fronte derramou o

Senhor, em todos os tempos, as claridades divinas do seu amor desvelado

e compassivo. Mas, como se a questão fosse determinada por um

doloroso atavismo psíquico, o povo hindu, embora as suas tradições de

espiritualidade, deixou crescer no coração o espinho do orgulho que, aliás,

dera motivo ao seu exílio na Terra.

Em breve, a organização das castas separava as suas coletividades

para sempre. Essas castas não se constituíam num sentido apenas

hierárquico, mas com a significação de uma superioridade orgulhosa e

absoluta. As fortes raízes de uma vaidade poderosa dividem os espíritos

no campo social e religioso. Os filhos legítimos do país dão-se o nome de

árias, designação original de sua raça primitiva, e o seu sistema religioso,

de modo geral, chama-se "Ária-Darma", que eles afirmam trazer de sua

longínqua origem, e em cujo seio não existem comunidades especiais ou

autoridade centrali54

EMMANUEL

zadora, senão profunda e maravilhosa liberdade de sentimento.

OS RAJÁS E OS PÁRIAS

Na verdade, esses sistemas avançados de religião e filosofia evocam

o fastígio da raça no seu mundo de origem, de onde foi precipitada ao orbe

terreno pelo seu orgulho desmedido e infeliz.

Os arianos da Índia, porém, não se compadeceram das raças

atrasadas que encontraram em seu caminho e cuja evolução devia

representar para eles um imperativo de trabalho regenerador na face da

Terra; os aborígenes foram considerados como os párias da sociedade, de

cujos membros não podiam aproximar-se sem graves punições e severos

castigos.

Ainda hoje, o espírito iluminado de Gandhi, que é obrigado a agir na

esfera da mais atenciosa psicologia dos seus irmãos de raca não

conseguiu eliminar esses absurdos sociais do seio do grande povo de

iniciados e profetas. Os párias são a ralé de todos os seres e são

obrigados a dar um sinal de alarme quando passam por qualquer caminho,

a fim de que os venturosos se afastem do seu contágio maléfico.

A realidade, contudo, é que os rajás soberanos, ao influxo da

misericórdia do Cristo, voltam às mesmas estradas que transitaram sobre

o dorso dos elefantes ajaezados de pedrarias, como mendigos

desventurados, resgatando o pretérito em avatares de amargas provações

expiatórias. Os que humilharam os

55

A CAMINHO DA LUZ

infortunados, do alto de seus palácios resplandecentes, volvem aos

mesmos caminhos, cheios de chagas cancerosas, exibindo a sua miséria e

a sua indigência.

E o que é de admirar-se é que nenhum povo da Terra tem mais

conhecimentos, acerca da reencarnação, do que o hindu, ciente dessa

verdade sagrada desde os primórdios da sua organização neste mundo.

EM FACE DE JESUS

Nos bastidores da civilização, somos compelidos a reconhecer que a

Índia foi a matriz de todas as filosofias e religiões da Humanidade,

inclusive do materialismo, que lá nasceu na escola dos charvacas.

Um pensamento de gratidão nos toma o íntimo, examinando a sua

grandeza espiritual e as suas belezas misteriosas, mas, acima dos seus

iogues e de seus "mahatmas", temos de colocar a figura luminosa dAquele

que é a luz do mundo, e cuja vinda à Terra se verificaria para trazer a palma

da concórdia e da fraternidade, para todos os corações e para todos os

povos, arrasando as fronteiras que separam os espíritos e eliminando os

laços ferrenhos das castas sociais, para que o amor das almas

substituísse o preconceito de raça no seu reinado sem-fim.

57

VI

A família indo-européia

AS MIGRAÇÕES SUCESSIVAS

Se as civilizações hindu e egípcia definiram-se no mundo em breves

séculos, o mesmo não aconteceu com a civilização ariana, que ia iniciar na

Europa os seus movimentos evolutivos.

Somente com o escoar de muitos séculos regularizaram-se as suas

migrações sucessivas, através dos planaltos da Pérsia. Do Irá procederam

quase todas as correntes da raça branca, que representariam mais tarde

os troncos genealógicos da família indo-européia.

Conforme afirmávamos, os arianos que procuravam as novas

emoções de uma terra

58

EMMANUEL

desconhecida eram, na sua maioria, os espíritos revoltados com as

condições do seu degredo; pouco afeitos aos misteres religiosos que, pela

força das circunstâncias, impunham uma disciplina de resignação e

humildade, não cuidaram da conservação do seu tradicionalismo, na ânsia

de conquistar um novo paraíso e serenarem, assim, as suas inquietações

angustiosas.

A AUSÊNCIA DE NOTÍCIAS HISTÓRICAS

Aí reside a razão do escasso conhecimento dos historiadores,

acerca dos árias primitivos que lançaram os marcos da civilização

européia.

Caminheiros do desconhecido, erraram pelas planícies e montanhas

desertas, não como o povo hebreu, que guardava a palavra divina com a

sua fé, mas desarvorados e sem esperança, contando apenas com as

próprias forças, em virtude do seu caráter livre e insubmisso

Suas incursões, entre as tribos selvagens da Europa, datam de mais

ou menos dez milênios antes da vinda do Cristo, não obstante a

humanidade localizar-lhe a marcha apenas quatro mil anos antes do

grande acontecimento da Judéia. É que, em vista de sua situação

psicológica, os primitivos árias do Velho Mundo não deixaram vestígios

nos domínios da fé, único caminho, daqueles tempos, através do qual

poderia uma raça assinalar sua passagem pela Terra. Não guardavam a

história verbal de uma religião que não possuíam. Mais revoltados e

enrijecidos que todos os demais companheiros exilados no orbe terrestre,

suas reminiscências da vida pregressa nos planos mais

59

A CAMINHO DA LUZ

elevados, qual a que haviam experimentado no sistema da Capela,

traduziam-se numa revolta íntima, amargurada e dolorosa, contra as

determinações de ordem divina. Apenas, muito mais tarde, com a

contribuição dos milênios, os celtas retornaram ao culto divino, venerando

as forças da Natureza, junto dos carvalhos sagrados, e os germanos

iniciaram a sua devoção ao fogo, que personificava, a seus olhos, a

potência criadora dos seres e das coisas, enquanto outros povos

começaram a sacrificar vítimas e objetos aos seus numerosos deuses.

A GRANDE VIRTUDE DOS ÁRIAS EUROPEUS

A misericórdia do Cristo, porém, jamais deixou de acompanhar esse

grande povo no seu atribulado desterro. Ao influxo dos seus emissários,

as massas migratórias da Ásia se dividiram cm grupos diversos, que

penetraram na Europa, desde o Peloponeso até as vastas regiões da

Rússia, onde se encontram os antepassados dos gregos, latinos,

samnitas, úmbrios, gauleses, citas, iberos, romanos, saxônios, germanos,

eslavos. Essas tribos assimilaram todos os elementos encontrados em

seus caminhos, impulsionando-lhes os passos nas sendas do progresso e

do aperfeiçoamento. Enquanto os semitas e hindus se perderam na

cristalização do orgulho religioso, as famílias arianas da Europa, embora

revoltadas e endurecidas, confraternizaram com o selvagem e nisso reside

a sua maior virtude. Assimilando os aborígenes, engendraram as

premissas de

60

EMMANUEL

todos os surtos das civilizações futuras. Nessa movimentação para o

estabelecimento de novo "habitat", organizaram as primeiras noções

políticas da vida coletiva, elegendo cada tribo um chefe para a direção de

sua vida em comum. A agricultura, as indústrias pastoris, com elas

encontraram os primeiros impulsos nas estradas incertas dos que

descendiam do "primata" europeu. Com as organizações econômicas,

oriundas do trato direto com o solo, deixaram perceber a lembrança de

suas lutas no antigo mundo que haviam deixado. Bastou que

inaugurassem na Terra o senso da propriedade, para que o germe da

separatividade e do ciúme, da ambição e do egoísmo lhes destruísse os

esforços benfazejos...

As rivalidades entre as tribos, na vida comum, induziram-nas aos

primeiros embates fratricidas.

O MEDITERRÂNEO E O MAR DO NORTE

Por essa época, novos fenômenos geológicos abalam a vida do

globo.

Precisava Jesus estabelecer as linhas definitivas da grande

civilização, cujos primórdios se levantavam; e dessas convulsões físicas

do orbe surgem renovações que definem o Mediterrâneo e o Mar do Norte,

fixando-se os limites da ação daqueles núcleos de operários da evolução

coletiva.

O Cristo sabia valorizar a atividade da família indo-européia, que, se

era a mais revoltada contra os desígnios do Alto, era também a única que

confraternizava com o selvagem,

61

A CAMINHO DA LUZ

aperfeiçoando-lhe os caracteres raciais, sem esmorecer na ação

construtiva das oficinas do porvir. Através dos milênios, aliviou-lhe os

pesares no caminho sobrecarregado de lutas e dores tenazes. Assim,

enviou-lhe emissários em todas as circunstâncias, atendendo-lhe os

secretos apelos do coração, no labor educativo das tribos primitivas do

continente. Suavizou-lhe a revolta e a amargura, ajudando a reconstruir o

templo da fé, na esteira das gerações. Nos bosques da Armórica, os celtas

antigos levantaram os altares da crença entre as árvores sagradas da

Natureza. Doces revelações espirituais caem na alma desse povo místico e

operoso, que, muito antes dos saxões, povoou as terras da Grã-Bretanha.

A reencarnação de numerosos auxiliares do Mestre, em seus labores

divinos, opera uma nova fase de evolução no seio da família indo-européia,

já caracterizada pelas mais diversas expressões raciais. Enquanto os

germanos criam novas modalidades de progresso, o Lácio se ergue na

Itália Central, entre a Etrúria e a Campânia; a Grécia se povoa de mestres e

cantores, e todo o Mediterrâneo oriental evolve com o uso da escrita,

adquirido na convizinhança das civilizações mais avançadas.

OS NÓRDICOS E OS MEDITERRÂNICOS

O fenômeno das trocas e os primeiros impulsos comerciais

levantam, todavia, longa série de barreiras entre as relações desses povos.

De um lado, estavam os nórdicos e de outro permaneciam os

mediterrânicos, em luta acér62

EMMANUEL

rima e constante. A rivalidade acende nessas duas facções os fogos da

guerra, sob os céus tranqüilos do Velho Mundo. Uns e outros empunham

as armas primitivas para as lutas de extermínio e destruição das hostes

inimigas, e a linha divisória dos litigantes se alonga justamente no local

onde hoje se traçam os limites da França e da Alemanha contemporâneas.

É como se explica essa intensidade de aversão racial entre as duas

nações, contadas entre as mais progressistas e operosas do planeta. Tal

situação psicológica entre ambas haveria de tornar-se em fatalidade

histórica, oriunda dos atritos entre o Germanismo e a Latinidade, nas

épocas primitivas. O que se não justifica, porém, é a perpetuação dessas

animosidades no curso do tempo, pelo que se impõe, como imperativo

constante, a concentração de todos os pensamentos no objetivo da

fraternidade geral.

ORIGEM DO RACIONALISMO

Os arianos da Europa, como ficou esclarecido, não possuíram

grandes ascendentes religiosos na sua formação primitiva, em vista do

senso prático que os caracterizou nos primeiros tempos de sua

organização.

O racionalismo de suas concepções, a tendência para as ciências

positivas e o amor pela hegemonia e liberdade são, dessa maneira,

elucidados dentro da análise dos seus primórdios. Em matéria de religião,

quase todos os seus passos foram orientados pelos povos semitas e

hindus, mas, pelo cultivo da razão, puderam

63

A CAMINHO DA LUZ

aperfeiçoar a Ciência até às culminâncias das conquistas modernas.

O mundo, se muitas vezes perdeu com as suas inquietações e com

as suas lutas renovadoras, muito lhes deve pela colaboração decidida e

sincera no labor do pensamento, em todas as épocas e períodos

evolutivos.

AS ADVERTÊNCIAS DO CRISTO

A sua confraternização com os terrícolas primários, encontrados no

seu caminho, constitui uma divida sagrada da Humanidade para com os

seus labores planetários.

O Senhor da semeadura e da seara não lhes desconhece essa

grande virtude e é por isso que as exortações de toda natureza são por ele

enviadas do Alto, nos tempos que correm, às nações européias, a fim de

que se preservem do extermínio e da destruição terrestre, arrancando-as

do primitivismo para um elevado nível de aperfeiçoamento nos grandes

trabalhos construtivos da evolução global; se erraram muito, foram

igualmente muito sinceras, porque a sua inquietação era por levantar um

novo paraíso para si mesmas e para os homens terrestres, com cujas

famílias fraternizaram-se desde o princípio. Faltaram-lhes os valores

espirituais de uma perfeita base religiosa, situação essa para a qual

concorreram, inegavelmente, na utilização do livre-arbítrio; mas o Cristo,

nas dolorosas transições deste século, há de amparar-lhes as expressões

mais dignas e mais puras, espiritualmente falando, e, no momento

psicológico das grandes transformações, o fruto

64

EMMANUEL

de suas atividades fecundas há de ser aproveitado, como a semente nova,

para a civilização do porvir.

65

VII

O povo de Israel

ISRAEL

Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que

constituíram a raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os

seus caracteres através de todas as mutações.

Examinando esse povo notável no seu passado longínquo,

reconhecemos que, se grande era a sua certeza na existência de Deus,

muito grande também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da

verdade e da vida.

Consciente da superioridade de seus valores, nunca perdeu

oportunidade de demonstrar a sua vaidosa aristocracia espiritual,

mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com

66

EMMANUEL

as demais raças do orbe. Entretanto, em honra da verdade, somos

obrigados a reconhecer que Israel, num paradoxo flagrante, antecipandose

às conquistas dos outros povos, ensinou de todos os tempos a

fraternidade, a par de uma fé soberana e imorredoura - Sem pátria e sem

lar, esse povo heróico tem sabido viver em todos os climas sociais e

políticos, exemplificando a solidariedade humana nas melhores tradições

de trabalho; sua existência histórica, contudo, é uma lição dolorosa para

todos os povos do mundo, das conseqüências nefastas do orgulho e do

exclusivismo.

MOISÉS

As lendas da Torre de Babel não representam um mito nas páginas

antigas do Velho Testamento, porque o exílio na Terra não pesou tanto às

outras raças degredadas quanto na alma orgulhosa dos judeus,

inadaptados e revoltados num mundo que os não compreendia.

Sem procurarmos os seus antepassados, anteriores a Moisés,

vamos encontrar o grande legislador hebreu saturando-se de todos os

conhecimentos iniciáticos, no Egito antigo, onde o seu espírito recebeu

primorosa educação, à sombra do prestígio de Termútis, cuja caridade

fraterna o recolhera.

Moisés, na sua qualidade de mensageiro do Divino Mestre, procura

então concentrar o seu povo para a grande jornada em busca da Terra da

Promissão. Médium extraordinário, realiza grandes feitos ante os seus

irmãos e companheiros maravilhados. É quando então recebe,

67

A CAMINHO DA LUZ

de emissários do Cristo, no Sinai, os dez sagrados mandamentos que, até

hoje, representam a base de toda a justiça do mundo.

Antes de abandonar as lutas da Terra, na extática visão da Terra

Prometida, Moisés lega à posteridade as suas tradições no Pentateuco,

iniciando a construção da mais elevada ciência religiosa de todos os

tempos, para as coletividades porvindouras.

O JUDAÍSMO E O CRISTIANISMO

Estudando-se a trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo

Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do

povo judeu, e que somente os grandes mestres da raça poderiam

interpretá-lo fielmente, nas épocas mais remotas.

Eminentes espiritualistas franceses, nestes últimos tempos,

procuraram penetrar os seus obscuros segredos e, todavia, aproximandose

da realidade com referência às interpretações, não lhes foi possível

solucionar os vastos problemas que as suas expressões oferecem.

Os livros dos profetas israelitas estão saturados de palavras

enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento parcialmente

decifrado da ciência secreta dos hebreus. Contudo, e não obstante a sua

feição esfingética, é no conjunto um poema de eternas claridades. Seus

cânticos de amor e de esperança atravessam as eras com o mesmo sabor

indestrutível de crença e de beleza. É por isso que, a par do Evangelho,

está o Velho Testamento tocado de clarões imortais, para a visão espiritual

de

68

EMMANUEL

todos os corações. Uma perfeita conexão reúne as duas Leis, que

representam duas etapas diferentes do progresso humano. Moisés, com a

expressão rude da sua palavra primitiva, recebe do mundo espiritual as

leis básicas do Sinai, construindo desse modo o grande alicerce do

aperfeiçoamento moral do mundo; e Jesus, no Tabor, ensina a

Humanidade a desferir, das sombras da Terra, o seu vôo divino para as

luzes do Céu.

O MONOTEÍSMO

O que mais admira, porém, naquelas tribos nômadas e

desprotegidas, é a fortaleza espiritual que lhes nutria a fé nos mais

arrojados e espinhosos caminhos.

Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o

politeísmo para satisfazer os imperativos da época, contemporizando com

a versatilidade das multidões, o povo de Israel acreditava somente na

existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer

todas as injúrias e a tolerar todos os martírios.

Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo como

que um curso de consolidação da sua fé, contagiosa e ardente.

Seguiu-lhe Jesus todos os passos, assistindo-o nos mais delicados

momentos de sua vida e foi ainda, sob o pálio da sua proteção, que se

organizaram os reinos de Israel e de Judá, na Palestina.

Todas as raças da Terra devem aos judeus esse benefício sagrado,

que consiste na revela69

A CAMINHO DA LUZ

ção do Deus Único, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os

seres.

O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus,

com respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão

geral do povo; a missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento

popular as grandes lições que os demais iniciados eram compelidos a

ocultar. E, de fato, no seio de todas as grandes figuras da antigüidade,

destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre

os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para

a alma simples e generosa do povo.

A ESCOLHA DE ISRAEL

No reino de Israel sucederam-se as tribos e os enviados do Senhor.

Todos os seus caminhos no mundo estão cheios de vozes proféticas e

consoladoras, acerca dAquele que ao mundo viria para ser glorificado

como o Cordeiro de Deus.

A cada século renovam-se as profecias e cada templo espera a

palavra de ordem dos Céus, através do Salvador do Mundo. Os doutores

da Lei, no templo de Jerusalém, confabulam, respeitosos, sobre o Divino

Missionário; na sua vaidade orgulhosa esperavam-no no seu carro

vitorioso, para proclamar a todas as gentes a superioridade de Israel e

operar todos os milagres e prodígios.

E, recordando esses apontamentos da história, somos naturalmente

levados a perguntar o porque da preferência de Jesus pela árvore

70

EMMANUEL

de David, para levar a efeito as suas divinas lições à Humanidade; mas a

própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os povos de então, sendo

Israel o mais crente, era também o mais necessitado, dada a sua vaidade

exclusivista e pretensiosa "Muito se pedirá de quem muito haja recebido",

e os israelitas haviam conquistado muito, do Alto, em matéria de fé, sendo

justo que se lhes exigisse um grau correspondente de compreensão, em

matéria de humildade e de amor.

A INCOMPREENSÃO DO JUDAÍSMO

A verdade, porém, é que Jesus, chegando ao mundo, não foi

absolutamente entendido pelo povo judeu. Os sacerdotes não esperavam

que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para surgir na

paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria chegar no

carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à Terra pela

legião dos seus Tronos e Anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo,

conferindo a Israel o cetro supremo na direção de todos os povos do

planeta; deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glória dos

Césares. E, no entanto, o Cristo surgira entre os animais humildes da

manjedoura; apresentava-se como filho de um carpinteiro e, no

cumprimento de sua gloriosa missão de amor e de humildade, protegia as

prostitutas, confundia-se com os pobres e com os humilhados, visitava as

casas suspeitas para de Iá arrancar os seus auxiliares e seguidores; seus

companheiros prediletos eram os pesca71

A CAMINHO DA LUZ

dores ignorantes e humildes, dos quais fazia apóstolos bem-amados.

Abandonando os templos da Lei, era freqüentemente encontrado ao longo

do Tiberíades, em cujas margens pregava aos simples a fraternidade e o

amor, a sabedoria e a humildade. O judaísmo, saturado de orgulho, não

conseguiu compreender a ação do celeste emissário. Apesar da crença

fervorosa e sincera, Israel não sabia que toda a salvação tem de começar

no íntimo de cada um e, cumprindo as profecias de seus próprios filhos,

conduziu aos martírios da cruz o divino Cordeiro.

NO PORVIR

As organizações dos doutores da Lei subsistiram no curso

incessante dos tempos. Embalde esperaram eles outro Cristo, nestes dois

milênios que ora chegam a termo. A realidade é que um sopro de amargura

pesou mais fortemente sobre os destinos da raça, depois da ignominiosa

tarde do Calvário. As sombras simbólicas, que caíram sobre o Templo de

Jerusalém, acompanharam igualmente o povo escolhido em todas as

diretivas, pelas estradas longas do mundo, com amplos reflexos no

ambiente contemporâneo.

Israel continua a cultuar o Deus Todo-Poderoso dos seus profetas,

seus rituais prosseguem em pontos isolados do orbe inteiro.

É talvez a raça mais livre, mais internacionalista, mais fraternal, entre

si, mas também a mais altiva e exclusivista do mundo.

72

EMMANUEL

Apesar de não ter uma pátria (*) e não obstante todas as

perseguições e clamorosas injustiças experimentadas nas suas jornadas

de sofrimento, Israel faz o seu roteiro através das cidades tumultuosas,

esperando o Messias da sua redenção e da sua liberdade.

Jesus acompanha-lhe a marcha dolorosa através dos séculos de

lutas expiatórias e regeneradoras.

Novos conhecimentos dimanam do Céu para o coração dos seus

patriarcas e não tardará muito tempo para que vejamos os judeus

compreendendo integralmente a missão sublime do verdadeiro

Cristianismo e aliando-se a todos os povos da Terra para a caminhada

salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor.

__________

(*) Nota da Editora: Este livro foi escrito em 1938, dez anos antes de ser criado, na

Palestina, o Estado de Israel.

73

VIII

A China milenária

A CHINA

Depois de nossas divagações a respeito da raça branca, que se

constituía dos antigos árias no ambiente da Terra, é cabível examinarmos

a árvore mais antiga das civilizações terrestres, a fim de observarmos a

assistência carinhosa e constante do Divino Mestre para com todas as

criaturas de Deus.

Inegavelmente, o mais prístino foco de todos os surtos evolutivos do

globo é a China milenária, com o seu espírito valoroso e resignado, mas

sem rumo certo nas estradas da edificação geral.

74

EMMANUEL

Quando se verificou o advento das almas proscritas do sistema da

Capela, em épocas remotíssimas, já a existência chinesa contava com uma

organização regular, oferecendo os tipos mais homogêneos e mais

selecionados do planeta, em face dos remanescentes humanos primitivos.

Suas tradições já andavam de geração em geração, construindo as obras

do porvir. Daí se infere que, de fato, a história da China remonta a épocas

remotíssimas, no seu passado multimilenário, e esse povo, que deixa

agora entrever uma certa estagnação nos seus valores evolutivos, sempre

foi igualmente acompanhado na sua marcha por aquela misericórdia

infinita que, do Céu, envolve todos os corações que latejam na Terra.

A CRISTALIZAÇÃO DAS IDÉIAS CHINESAS

A cristalização das idéias chinesas advém, simplesmente, desse

insulamento voluntário que prejudicou, nas mesmas circunstâncias, o

espírito da Índia, apesar da fascinante beleza das suas tradições e dos

seus ensinos.

É que a civilização e o progresso, como a própria vida, dependem

das trocas incessantes. O Universo, na sua constituição maravilhosa, não

criou nem sanciona leis de isolamento na comunidade eterna dos mundos

e dos seres. A existência é uma longa escada, na qual todas as almas

devem dar-se as mãos, na subida para

o conhecimento e para Deus. Enquanto a família indo-européia pervagava

no desconhecido, assimilando as expressões das tribos encontra75

A CAMINHO DA LUZ

das - em longas iniciativas de construção e trabalho -, os arianos da Índia

estacionaram no repouso de suas tradições, desenvolvendo-se, no curso

do tempo, as mais prestigiosas lições de experiência para a alma dos

povos. E agora, quando os israelitas são chamados por forças poderosas

ao deslocamento no seio das nações, a fim de aprenderem mais

intimamente a doce lição da fraternidade e do amor universal, renovando a

fibra da sua fé a caminho da perfeita compreensão do Cristo, a China é

também convocada, pelas transformações do século, à grande lição do

entrelaçamento da comunidade planetária, a fim de ensinar as suas

virtudes e aprender as virtudes dos outros povos.

Foi pela sua obstinada resistência que a idéia chinesa estagnou-se

na marcha do tempo, embora, nestas despretensiosas observações,

sejamos dos primeiros a reconhecer a grandeza de suas elevadas

expressões espirituais.

FO-HI

Jesus, na sua proteção e na sua misericórdia, desde os tempos mais

distantes enviou missionários àqueles agrupamentos de criaturas que se

organizavam, econômica e politicamente, entre as coletividades primárias

da Terra.

As raças adâmicas ainda não haviam chegado ao orbe terrestre e

entre aqueles povos já se ouviam grandes ensinamentos do plano

espiritual, de sumo interesse para a direção e solução de todos os

problemas da vida.

A História não vos fala de outros, antes do grande Fo-Hi, que foi o

compilador de suas

76

EMMANUEL

ciências religiosas, nos seus trigramas duplos, que passaram do pretérito

remotíssimo aos estudos da posteridade.

Fo-Hi refere-se, no seu "Y-King", aos grandes sábios que o

antecederam no penoso caminho das aquisições de conhecimento

espiritual. Seus símbolos representam os característicos de uma ciência

altamente evolutiva, revelando ensinamentos de grande pureza e da mais

avançada metafísica.

Em seguida a esse grande missionário do povo chinês, o Divino

Mestre envia-lhe a palavra de Confúcio ou Kong-Fo-Tsé, cinco séculos

antes da sua vinda, preparando os caminhos do Evangelho no mundo, tal

como procedera com a Grécia, Roma e outros centros adiantados do

planeta, enviando-lhes elevados Espíritos da ciência, da religião e da

filosofia, algum tempo antes da sua palavra mirífica, a fim de que a

Humanidade estivesse preparada para a aceitação dos seus ensinos.

CONFÚCIO E LAO-TSÉ

Confúcio, na qualidade de missionário do Cristo, teve de saturar-se

de todas as tradições chinesas, aceitar as circunstâncias imperiosas do

meio, de modo a beneficiar o país na medida de suas possibilidades de

compreensão. Ele faz ressurgir os ensinamentos de Lao-Tsé, que fora, por

sua vez, um elevado mensageiro do Senhor para as raças amarelas. Suas

lições estão cheias do perfume de requintada sabedoria moral. No "Kan-

Ing", de Lao-Tsé, eis algumas de suas afirmações que nada ficam a dever

aos vossos

77

A CAMINHO DA LUZ

conhecimentos e exposições do moderno pensamento religioso: - "O

Senhor dos Céus é bom e generoso, e o homem sábio é um pouco de suas

manifestações. Na estrada da inspiração, eles caminham juntos e o sábio

lhe recebe as idéias, que enchem a vida de alegria e de bens."

Lao-Tsé, de cujos ensinamentos Confúcio fez questão de formar a

base dos seus princípios, viveu seis séculos antes do advento do Senhor,

e, em face dessa filosofia religiosa, avançada e superior, somos obrigados

a reconhecer a prodigalidade da misericórdia de Jesus, enviando os seus

porta-vozes a todos os pontos da Terra, com o objetivo de fazer

desabrochar no espírito das massas a melhor compreensão do seu

Evangelho de Verdade e de Amor, que

o mundo, entretanto, ainda não compreendeu, não obstante todos os seus

sacrifícios.

O NIRVANA

Para fundamentar devidamente a nossa opinião relativa à

estagnação do espírito chinês, examinemos ainda as suas interessantes e

elevadas concepções religiosas.

De um modo geral, é o culto dos antepassados o principio da sua fé.

Esse culto, cotidiano e perseverante, é a base da crença na imortalidade,

porquanto de suas manifestações ressaltam as provas diárias da

sobrevivência. As relações com o plano invisível constituem um fenômeno

comum, associado à existência do indivíduo mais obscuro. A idéia da

necessidade de aperfeiçoamento espiritual é latente em to78

EMMANUEL

dos os corações, mas o desvio inerente à compreensão do Nirvana é aí,

como em numerosas correntes do budismo, um obstáculo ao progresso

geral.

O Nirvana, examinado em suas expressões mais profundas, deve ser

considerado como a união permanente da alma com Deus, finalidade de

todos os caminhos evolutivos; nunca, porém, como sinônimo de

imperturbável quietude ou beatifica realização do não ser. A vida é a

harmonia dos movimentos, resultante das trocas incessantes no seio da

natureza visível e invisível. Sua manutenção depende da atividade de todos

os mundos e de todos os seres. Cada individualidade, na prova, como na

redenção, como na glória divina, tem uma função definida de trabalho e

elevação dos seus próprios valores. Os que aprenderam os bens da vida e

quantos os ensinam com amor, multiplicam na Terra e nos Céus os dons

infinitos de Deus.

A CHINA ATUAL

A falsa interpretação do Nirvana disturbou as elevadas

possibilidades criadoras do espírito chinês, cristalizou-lhe as concepções

e paralisou-lhe a marcha para as grandes conquistas.

É certo que essas conquistas não consistem nas metralhadoras e

nas bombardas da civilização do Ocidente, cheia de comodidades

multifárias, mas aqui me refiro à incompreensão geral acerca da lição

sublime do Cristo e dos seus enviados.

79

A CAMINHO DA LUZ

A China, como os outros povos do mundo, tem de esmar neste

século os valores obtidos na sua caminhada longa e penosa

Destas palavras, não há inferir que a invasão japonesa, na sua

incrível agressividade, esteja tocada de uma sanção divina. O Japão

poderá realizar, na grande república, todas as conquistas materiais;

usando a psicologia dos conquistadores, poderá melhorar as condições

sanitárias do povo, rasgar estradas e multiplicar escolas; mas não

amortecerá a energia perseverante do espírito chinês, valoroso e

resignado, que poderá até ceder-lhe as próprias rédeas do governo,

enchendo-o de fortuna, de suntuosidade e de honrarias, sem desprestígio

do seu próprio valor, porquanto a China milenária sabe que os espíritos de

rapina embriagam-se facilmente com o vinho de sangue do triunfo, e tão

logo o luxo lhes amoleça as fibras da desesperação, todas as vitórias

voltam, automaticamente, à reflexão, ao raciocínio, à cultura e à

inteligência.

O que se faz necessário examinar é o estado de estagnação da alma

chinesa nestes últimos séculos, para concluirmos pela sua necessidade

imperiosa de comungar no banquete de fraternidade dos outros povos.

A EDIFICAÇÃO DO EVANGELHO

É verdade que a palavra direta do Cristo, consubstanciada no seu

Evangelho, ainda não chegou até lá de um modo geral, aclarando o

caminho de todos os corações, mas um sopro de vida romperá as sombras

milenárias que

80

EMMANUEL

caíram sobre a república chinesa, onde milhões de almas repousam,

indevidamente, na falsa compreensão do Nirvana e do Absoluto. Mãos

valorosas erguerão o monumento evangélico naquele mundo de dolorosas

antigüidades, e um novo dia raiará para a grande nação que se tornou em

símbolo de paciência e de perseverança, para os outros povos.

Esperemos a providência dAquele que guarda em suas mãos

augustas e misericordiosas a direção do mundo.

"Bem-aventurados os pacíficos, os aflitos, os humildes."

E as suas palavras mansas e carinhosas nos fazem lembrar a China

milenária, que, amando a paz, sofre agora o insulto das forças tenebrosas

da ambição, da injustiça e da iniquidade.

81

IX

As grandes religiões do passado

AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES

RELIGIOSAS

As primeiras organizações religiosas da Terra tiveram, naturalmente,

sua origem entre os povos primitivos do Oriente, aos quais enviava Jesus,

periodicamente, os seus mensageiros e missionários.

Dada a ausência da escrita, naquelas épocas longínquas, todas as

tradições se transmitiam de geração a geração através do mecanismo das

palavras. Todavia, com a cooperação dos degredados do sistema da

Capela, os rudimentos das artes gráficas receberam os pri82

EMMANUEL

meiros impulsos, começando a florescer uma nova era de conhecimento

espiritual, no campo das concepções religiosas.

Os Vedas, que contam mais de seis mil anos, já nos falam da

sabedoria dos "Sastras", ou grandes mestres das ciências hindus, que os

antecederam de mais ou menos dois milênios, nas margens dos rios

sagrados da Índia. Vê-se, pois, que a idéia religiosa nasceu com a própria

Humanidade, constituindo o alicerce de todos os seus esforços e

realizações no plano terráqueo.

AINDA AS RAÇAS ADÂMICAS

Não podemos, porém, esquecer que Jesus reunira nos espaços

infinitos os seres proscritos que se exilaram na Terra, antes de sua

reencarnação geral na vizinhança dos planaltos do Irá e do Pamir.

Obedecendo às determinações superiores do mundo espiritual, eles

nunca puderam esquecer a palavra salvadora do Messias e as suas divinas

promessas. As belezas do espaço, aliadas à paisagem mirífica do plano

que foram obrigados a abandonar, viviam no cerne das suas recordações

mais queridas. As exortações confortadoras do Cristo, nas vésperas de

sua dolorosa imersão nos fluidos pesados do planeta terrestre, cantavamlhes

no íntimo os mais formosos hosanas de alegria e de esperança. Era

por isso que aquelas civilizações antigas possuíam mais fé, colocando a

intuição divina acima da razão puramente humana. A crença, como íntima

e sagrada aquisição de suas almas,

83

A CAMINHO DA LUZ

era a força motora de todas as realizações, e todos os degredados, com os

mais santos entusiasmos do coração, falaram dEle e da sua infinita

misericórdia Suas vozes enchem todo o âmbito das civilizações que

passaram no pentagrama dos séculos sem-fim e, apresentado com mil

nomes, segundo as mais variadas épocas, o Cordeiro de Deus foi

guardado pela compreensão e pela memória do mundo, com todas as suas

expressões divinas ou, aliás, como a própria face de Deus, segundo as

modalidades dos mistérios religiosos.

A GÊNESE DAS CRENÇAS RELIGIOSAS

A gênese de todas as religiões da Humanidade tem suas origens no

seu coração augusto e misericordioso. Não queremos, com as nossas

exposições, divinizar, dogmaticamente, a figura luminosa do Cristo, e sim

esclarecer a sua gloriosa ascendência na direção do orbe terrestre,

considerada a circunstância de que cada mundo, como cada família, tem

seu chefe supremo, ante a justiça e a sabedoria do Criador.

Fôra erro crasso julgar como bárbaros e pagãos os povos terrestres

que ainda não conhecem diretamente as lições sublimes do seu Evangelho

de redenção, porquanto a sua desvelada assistência acompanhou, como

acompanha a todo tempo, a evolução das criaturas em todas as latitudes

do orbe. A história da China, da Pérsia, do Egito, da Índia, dos árabes, dos

israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz

dos seus poderosos emissários. E muitos deles tão bem se

84

EMMANUEL

houveram, no cumprimento dos seus grandes e abençoados deveres, que

foram havidos como sendo Ele próprio, em reencarnações sucessivas e

periódicas do seu divinizado amor. No Manava-Darma, encontramos a lição

do Cristo; na China encontramos Fo-Hi, Lao-Tsé, Confúcio; nas crenças do

Tibete, está a personalidade de Buda e no Pentateuco encontramos

Moisés; no Alcorão vemos Maomet. Cada raça recebeu os seus

instrutores, como se fosse Ele mesmo, chegando das resplandecências de

sua glória divina.

Todas elas, conhecendo intuitivamente a palavra das profecias,

arquivaram a história dos seus enviados, nos moldes de sua vinda futura,

em virtude das lembranças latentes que guardavam no coração, acerca da

sua palavra nos espaços, tocada de esclarecimento e de amor.

A UNIDADE SUBSTANCIAL DAS RELIGIÕES

A verdade é que todos os livros e tradições religiosas da antigüidade

guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações

evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento. Todas se referem ao

Deus impersonificável, que é a essência da vida de todo o Universo, e no

tradicionalismo de todas palpita a visão sublimada do Cristo, esperado em

todos os pontos do globo.

Os vários povos do mundo traziam de longe as suas concepções e

as suas esperanças, sem falarmos das grandes coletividades que

floresciam na América do Sul, então quase ligada à

85

A CAMINHO DA LUZ

China pelas extensões da Lemúria, e da América do Norte, que se ligava à

Atlântida. Não é, porém, nosso propósito estudar aqui outras questões que

se não refiram à superioridade do Cristo e à ascendência do seu

Evangelho, nestes apontamentos despretensiosos. Citando, porém, todos

os povos antigos do planeta, somos compelidos a recordar, igualmente, as

grandes civilizações pré-históricas, que desabrocharam e desapareceram

no continente americano, de cujos cataclismos e arrasamentos ficaram

ainda as expressões interessantes dos incas e dos astecas, que, como

todos os outros agrupamentos do mundo, receberam a palavra indireta do

Senhor, na sua marcha coletiva através de augustos caminhos.

AS REVELAÇÕES GRADATIVAS

Até à palavra simples e pura do Cristo, a Humanidade terrestre viveu

etapas gradativas de conhecimento e de possibilidades, na senda das

revelações espirituais.

Os milênios, com as suas experiências consecutivas e dolorosas,

prepararam os caminhos dAquele que vinha, não somente com a sua

palavra, mas, principalmente, com a sua exemplificação salvadora. Cada

emissário trouxe uma das modalidades da grande lição de que foi teatro a

região humilde da Galiléia.

É por esse motivo que numerosas coletividades asiáticas não

conhecem a lição direta do Mestre, mas sabem do conteúdo da sua

palavra, em virtude das próprias revelações do seu

86

EMMANUEL

ambiente, e, se a Boa Nova não se dilatou no curso dos tempos, pelas

estradas dos povos, e que os pretensos missionários do Cristo, nos

séculos posteriores aos seus ensinos, não souberam cultivar a flor da vida

e da verdade, do amor e da esperança, que os seus exemplos haviam

implantado no mundo: abafando-a nos templos de uma falsa

religiosidade, ou encarcerando-a no silêncio dos claustros, a planta

maravilhosa do Evangelho foi sacrificada no seu desenvolvimento e

contrariada nos seus mais lídimos objetivos.

PREPARAÇÃO DO CRISTIANISMO

As lições da Palestina foram, desse modo, precedidas de laboriosa e

longa preparação na intimidade dos milênios

Os sacerdotes de todas as grandes religiões do passado

supuseram, nos seus mestres e nos seus mais altos iniciados, a

personalidade do Senhor, mas temos de convir que Jesus foi

inconfundível.

À luz significativa da história, observamos muitas vezes, nos seus

auxiliares ou instrumentos humanos, as características das vulgaridades

terrestres. Alguns foram ditadores de consciências, enérgicos e ferozes no

sentido de manter e fomentar a fé; outros, traídos em suas forças e

desprezando os compromissos sagrados com o Salvador, longe de serem

instrumentos do Divino Mestre, abusaram da própria liberdade, dando

ouvidos às forças subversivas da Treva, prejudicando a harmonia geral.

87

A CAMINHO DA LUZ

O CRISTO INCONFUNDÍVEL

Mas Jesus assinala a sua passagem pela Terra com o selo constante

da mais augusta caridade e do mais abnegado amor. Suas parábolas e

advertências estão impregnadas do perfume das verdades eternas e

gloriosas. A manjedoura e o calvário são lições maravilhosas, cujas

claridades iluminam os caminhos milenários da humanidade inteira, e

sobretudo os seus exemplos e atos constituem um roteiro de todas as

grandiosas finalidades, no aperfeiçoamento da vida terrestre. Com esses

elementos, fez uma revolução espiritual que permanece no globo há dois

milênios. Respeitando as leis do mundo, aludindo à efígie de César,

ensinou as criaturas humanas a se elevarem para Deus, na dilatada

compreensão das mais santas verdades da vida. Remodelou todos os

conceitos da vida social, exemplificando a mais pura fraternidade.

Cumprindo a Lei Antiga, encheu-lhe o organismo de tolerância, de piedade

e de amor, com as suas lições na praça pública, em frente das criaturas

desregradas e infelizes, e somente Ele ensinou o "Amai-vos uns aos

outros", vivendo a situação de quem sabia cumpri-lo.

Os Espíritos incapacitados de o compreender podem alegar que as

suas fórmulas verbais eram antigas e conhecidas; mas ninguém poderá

contestar que a sua exemplificação foi única, até agora, na face da Terra.

A maioria dos missionários religiosos da antigüidade se compunha

de príncipes, de sábios ou de grandes iniciados, que saíam da intimidade

confortável dos palácios e dos templos;

88

EMMANUEL

mas o Senhor da semeadura e da seara era a personificação de toda a

sabedoria, de todo o amor, e o seu único palácio era a tenda humilde de

um carpinteiro, onde fazia questão de ensinar à posteridade que a

verdadeira aristocracia deve ser a do trabalho, lançando a fórmula

sagrada, definida pelo pensamento moderno, como o coletivismo das

mãos, aliado ao individualismo dos corações síntese social para a qual

caminham as coletividades dos tempos que passam - e que, desprezando

todas as convenções e honrarias terrestres, preferiu não possuir pedra

onde repousasse o pensamento dolorido, a fim de que aprendessem os

seus irmãos a lição inesquecível do "Caminho, da Verdade e da Vida".

89

X

A Grécia e a missão de Sócrates

NAS VÉSPERAS DA MAIORIDADE

TERRESTRE

Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, envioulhes

o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos

sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa

maturação do pensamento terrestre.

As cidades populosas do globo enchem-se, então, de homens cultos

e generosos, de filósofos e de artistas, que renovam, para melhor, todas as

tendências da Humanidade.

Grandes mestres do cérebro e do coração formam escolas

numerosas na Grécia, que assu90

EMMANUEL

mia a direção intelectual do orbe inteiro. A maioria desses pensadores, que

eram os enviados do Cristo às coletividades terrestres, trazem, do círculo

retraído e isolado dos templos, os ensinamentos dos grandes iniciados

para as praças públicas, pregando a verdade às multidões.

Assim como a organização do homem físico exigira as mais amplas

experiências da natureza, antes de se fixarem os seus caracteres

biológicos definitivos, a lição de Jesus, que representa o roteiro seguro

para a edificação do homem espiritual, deveria ser precedida pelas

experiências mais vastas no campo social.

É por essa razão que observamos, nos cinco séculos anteriores à

vinda do Cordeiro, uma aglomeração de inúmeras escolas políticas,

religiosas e filosóficas dos mais diversos matizes, em todos os ambientes

do mundo.

ATENAS E ESPARTA

Muitas teorias científicas, que provocam o sensacionalismo dos

vossos dias como inovações ultramodernas, foram conhecidas da Grécia,

em cujos mestres têm os seus legítimos fundamentos.

Em matéria de doutrinas sociais, grandes ensaios foram realizados,

divulgando-se a mais farta colheita de ensinamentos; e quando meditamos

no conflito moderno entre os Estados totalitários, fascistas ou comunistas

e as repúblicas democráticas, devemos volver os olhos ao passado,

revendo Atenas e Esparta como dois símbolos políticos que nos fazem

pensar na plena atualidade da Grécia antiga.

91

A CAMINHO DA LUZ

Os espartanos, sob o regime atribuído a Licurgo, nome que constitui

apenas uma representação simbólica dos generais da época, vivendo a

existência absoluta do Estado, não expressaram a mesma fisionomia da

Alemanha e da Rússia atuais? A legislação de Esparta proibia o comércio,

condenava a cultura; cerceando o gosto pessoal em face das bagatelas

encantadoras da vida e do sentimento, decretou medidas de insulamento,

maltratando os estrangeiros; instituiu a uniformidade dos vestuários,

incumbiu-se da educação das crianças através dos órgãos do Estado, mas

não cultivava a parte intelectual, abalando todo o edifício sagrado da

família e criando, muitas vezes, o regime do roubo e da delação, em

detrimento das mais nobres finalidades da vida.

Por essa razão, Esparta passou à história como um simples povo de

soldados espalhando a destruição e os flagelos da guerra, sem nenhuma

significação construtiva para a Humanidade.

Atenas, ao contrário, é o berço da verdadeira democracia. Povo que

amou profunda-mente a liberdade, sua dedicação à cultura e às artes

iniciou as outras nações no culto da vida, da criação e da beleza. Seus

legisladores, que, como Sólon, eram filósofos e poetas, reformaram todos

os sistemas sociais conhecidos até então, protegendo as classes pobres e

desvalidas, estabelecendo uma linha harmônica entre todos os

departamentos da sociedade, acolhendo os estrangeiros, protegendo o

trabalho, fomentando o comércio, as indústrias, a agricultura.

92

EMMANUEL

Lá começou o verdadeiro regime de consulta à vontade do povo, que

decidia, em assembléias numerosas, todos os problemas da cidade

venerável. E é fácil reconhecer aí o início das democracias modernas, que

agora se organizam, nas transições do século XX, para a repressão de

todas as doutrinas nefastas da força e da violência.

EXPERIÊNCIAS NECESSÁRIAS

Semelhantes experiências, no campo sociológico, foram

incentivadas e acompanhadas de perto pelos prepostos de Jesus,

respeitadas as grandes leis da liberdade individual e coletiva.

O mundo precisava conhecer a boa e a má semente, nas grandes

transformações da sua existência. A exemplificação do Cristo necessitava

de elevada compreensão no seio da cultura e da experiência de todos os

séculos transcorridos e, sem embargo das lutas renovadoras que a

antecederam no orbe, há dois milênios que o Evangelho do Mestre espera

a floração do perfeito entendimento dos homens.

A GRÉCIA

Ao influxo do coração misericordioso do Cristo, toda a Grécia se

povoa de artistas e pensadores eminentes, no quadro das filosofias e das

ciências. É lá que vamos encontrar as escolas Itálica e Eleática, à frente do

fervoroso idealismo de Pitágoras e Xenófanes, sem esquecermos,

igualmente, as escolas Jônica e Ato93

A CAMINHO DA LUZ

mística com Tales e Demócrito, nas expressões do mais avançado

materialismo.

O século de Péricles, chegando a um apogeu de beleza e de cultura

com os elevados princípios recebidos da civilização egípcia, espalha os

mais soberbos clarões espirituais nos horizontes da Terra. Poucas fases

da evolução européia se aproximaram desse século maravilhoso.

O Salvador contempla, das Alturas, essa época de elevadas

conquistas morais, cheio de amor e de esperança. O planeta terrestre

aproximava-se da sua maioridade espiritual quando, então, poderia Ele

nutrir o coração humano com a sementeira bendita da sua palavra. Envia,

então, às sociedades do globo o esforço de auxiliares valorosos, nas

figuras de Ésquilo, Eurípedes, Heródoto e Tucídides, e por fim a

extraordinária personalidade de Sócrates, no intuito de realizar o

coroamento do esforço decidido de tantos mensageiros.

SÓCRATES

É por isso que, de todas as grandes figuras daqueles tempos

longínquos, somos compelidos a destacar a grandiosa figura de Sócrates,

na Atenas antiga.

Superior a Anaxágoras, seu mestre, como também imperfeitamente

interpretado pelos seus três discípulos mais famosos, o grande filósofo

está aureolado pelas mais divinas claridades espirituais, no curso de todos

os séculos planetários. Sua existência, em algumas circunstâncias,

aproxima-se da exemplificação

94

EMMANUEL

do próprio Cristo. Sua palavra confunde todos os espíritos mesquinhos da

época e faz desabrochar florações novas de sentimento e cultura na alma

sedenta da mocidade. Nas praças públicas, ensina à infância e à juventude

o formoso ideal da fraternidade e da prática do bem, lançando as sementes

generosas da solidariedade dos pósteros.

Mas Atenas, como cérebro do mundo de então, apesar do seu vasto

progresso, não consegue suportar a lição avançada do grande mensageiro

de Jesus.

Sócrates é acusado de perverter os jovens atenienses, instilandolhes

o veneno da liberdade nos corações.

Preso e humilhado, seu espírito generoso não se acovarda diante

das provas rudes que lhe extravasam do cálice de amarguras. Consciente

da missão que trazia, recusa fugir do próprio cárcere, cujas portas se lhe

abrem às ocultas pela generosidade de alguns juízes.

Os enviados do plano invisível cercam-lhe o coração magnânimo e

esclarecido, nas horas mais ásperas e agudas da provação; e quando a

esposa, Xantipa, assoma às grades da prisão para comunicar-lhe a

nefanda condenação à morte pela cicuta, ei-la exclamando no auge da

angústia e desesperação:

- "Sócrates, Sócrates, os juizes te condenaram à morte..."

- "Que tem isso? - responde resignadamente o filósofo - eles

também estão condenados pela Natureza."

- "Mas essa condenação é injusta..." - soluça ainda a desolada

esposa.

95

A CAMINHO DA LUZ

E ele a esclarece com um olhar de paciência e de carinho:

- "E quererias que ela fosse justa?"

Senhor do seu valoroso e resignado heroísmo, Sócrates abandona a

Terra, alçando-se de novo aos páramos constelados, onde o aguardava a

bênção de Jesus.

OS DISCÍPULOS

O grande filosofo que ensinara à Grécia as mais belas virtudes,

como precursor dos princípios cristãos, deixou vários discípulos, dos

quais se destacaram Antístenes, Xenofonte e Platão. Falaremos, apenas,

deste último, para esclarecer que nenhum deles soube assimilar

perfeitamente a estrutura moral do mestre inesquecível. A História louva os

discursos de Platão, mas nem sempre compreendeu que ele misturou a

filosofia pura do mestre com a ganga das paixões terrestres, enveredando

algumas vezes por complicados caminhos políticos. Não soube, como

também muitos dos seus companheiros, conservar-se ao nível de alta

superioridade espiritual, chegando mesmo a justificar o direito tirânico dos

senhores sobre os escravos, sem uma visão ampla da fraternidade

humana e da família universal.

Contudo, não deixou de cultivar alguns dos princípios cristãos

legados pelo grande mentor, antecipando-se ao apostolado do Evangelho,

antes de entregar a sua tarefa doutrinária a Aristóteles, que ia também

trabalhar pelo advento do Cristianismo.

96

EMMANUEL

PROVAÇÃO COLETIVA DA GRÉCIA

A condenação de Sócrates foi uma dessas causas transcendentes

de dolorosas e amargas provações coletivas, para todos os espíritos que

participaram dela, na medida justa das responsabilidades pessoais entre

si.

E é em razão disso que, mais tarde, vemos o povo nobre e culto de

Atenas fornecendo escravos valorosos e sábios aos espíritos agressivos e

enérgicos de Roma. Eles iam nas galeras suntuosas, humilhados e

oprimidos, sem embargo das suas elevadas noções da vida, do amor, da

liberdade e da justiça.

É verdade que iam instaurar um novo período de progresso

espiritual para as coletividades romanas, com os seus luminosos

ensinamentos, mas o processo evolutivo poderia ladear outros caminhos,

longe do morticínio e da escravidão. Todavia, sobre a fronte de muitos

gregos ilustres, pairava o sanguinolento labéu daquela injusta

condenação, labéu ignominioso que a Grécia deveria lavar com as

lágrimas dolorosas da compunção e do cativeiro.

97

XI

Roma

O POVO ETRUSCO

Reconhecendo as dedicações ao trabalho, por parte de todos os

Espíritos que se haviam localizado na Itália primitiva, então dividida em

duas partes importantes, que eram a Gália Cisalpina e a Magna Grécia, ao

norte e ao sul da península, os prepostos e auxiliares de Jesus projetam a

fundação de Roma, que se ergueu rapidamente, coroada de lendas

numerosas, para desempenhar tão grande papel na evolução do Mundo.

A esse tempo, o Vale do Pó era habitado pelos etruscos, que se viam

humilhados pelas

98

EMMANUEL

constantes invasões dos gauleses. De todos os elementos que formaram

os ascendentes da Itália moderna, eram eles dos mais esforçados,

operosos e inteligentes Nas regiões da Toscana, possuíam largas

indústrias de metais, marinha notável, destacado progresso no amanho da

terra e, sobretudo, sentimentos evolvidos que os faziam diferentes das

coletividades mais próximas. Acreditavam na sobrevivência e ofereciam

sacrifícios às almas dos mortos, venerando os deuses cujas disposições,

em cada dia, presumiam conhecer através dos fenômenos comuns da

Natureza. Atormentados e desgostosos em face das lutas reiteradas com

os gauleses, os etruscos decidiram tentar vida nova e, guiados

indiretamente pelos mensageiros do Invisível, grande parte resolveu fixarse

na Roma do porvir, que, então, nada mais era que um agrupamento de

cabanas humildes e desprotegidas.

PRIMÓRDIOS DE ROMA

Defendida naturalmente pelo adensamento constante de população,

a cidade mergulhou as suas origens numa corrente profunda de histórias

interessantes e maravilhosas, onde as figuras de Enéias, de Réia Sílvia, de

Rômulo e Remo assumiram papel saliente e singularíssimo.

A verdade, porém, é que os etruscos, em grande maioria, edificaram

as primeiras organizações da cidade, fundando escolas de trabalho,

transportando para aí as experiências mais valiosas dos outros povos,

criando uma nova

99

A CAMINHO DA LUZ

terra com o seu esforço enérgico e decidido. Lá encontraram eles as tribos

latinas Ramnenses, Titienses e Lúceres, congregadas para a edificação

comum, das quais assumiram a direção por largos anos, construindo os

alicerces das realizações futuras.

Quando Rômulo chegou, seus olhos já contemplaram uma cidade

próspera e trabalhadora, onde fez valer a sua enérgica inteligência, mas

não faltou à posteridade o gosto de tecer-lhe uma coroa lendária e

fantasiosa, chegando-se a afirmar que a sua figura fora arrebatada no

carro dos deuses, com destino ao Céu.

INFLUÊNCIAS DECISIVAS

Desnecessária será a autópsia da História nos seus pontos mais

divulgados e conhecidos, quando o nosso único propósito é esclarecer o

entendimento do leitor, quanto à direção do planeta, que se conserva, de

fato, no mundo espiritual, de onde o Cristo vela incessantemente pelo orbe

e pelos seus destinos. Todavia, para fundamentar nossa asserção acerca

das influências etruscas nos primórdios de Roma, somos levados a

recordar a figura de Tarquínio Prisco, filho da Etrúria, que trouxe à cidade

grandes reformas e inúmeras inovações em todos os departamentos da

sua consolidação e do seu progresso, lembrando, entre as suas muitas

renovações, a construção da Cloaca Máxima e do Capitólio. Seu sucessor,

Sérvio Túlio, era igualmente da sua família. Este, dividiu todo o povo da

cidade em classes e centúrias, segundo as possibilidades financeiras de

cada um,

100

EMMANUEL

desgostando os patrícios, a esse tempo já organizados, em virtude de essa

reforma apresentar-se dentro de características liberais, não obstante as

suas finalidades militares.

Onde, porém, mais se evidenciam as influências etruscas, nas

organizações romanas, é justamente na alma popular, devotada aos

gênios, aos deuses e às superstições de toda espécie, que seriam

multiplicadas em seus contactos com a Grécia. Cada família, como cada

lar, possuía o seu gênio invisível e amigo, e, na sociedade, alastravam-se

as comunidades religiosas, culminando no Colégio dos Pontífices, cuja

fundação remonta ao passado longínquo da cidade. Esse Colégio foi

depois substituído pelo Pontífice Máximo, chefe supremo das correntes

religiosas, do qual os bispos romanos iam extrair, mais tarde, o Vaticano e

o Papado dos tempos modernos.

Os romanos, ao contrário dos atenienses, não procuravam muitas

indagações transcendentes em matéria religiosa ou filosófica, atendendo

somente aos problemas do culto externo, sem muitas argumentações com

a lógica, e foi por isso que, com a evolução da cidade, o Panteão, seu

templo mais aristocrático, chegou a possuir mais de trinta mil deuses.

OS PATRÍCIOS E OS PLEBEUS

Depois dos últimos Tarquínios, que procuraram intensificar os

poderes militares da realeza, proclama-se a República, que fica governada

por dois magistrados patrícios, assistidos pelo Senado. Grandes medidas

são exe101

A CAMINHO DA LUZ 101

cutadas para consolidar a supremacia romana, mas as classes pobres,

oprimidas pelas mais ricas, que gozavam de todos os direitos, revoltaramse

em face da penosa situação em que as colocavam as possibilidades da

ditadura preconizada pelos senadores, em casos especiais com poderes

soberanos e amplos em todas as questões da vida e morte de cada um.

Inspirados pelas forças espirituais que os assistiam, os plebeus em

massa abandonaram a cidade, retirando-se para o Monte Sagrado, mas os

patrícios, examinando a gravidade daquela atitude extrema, lhes enviam

Menênio Agripa, cuja palavra se desincumbe com felicidade da diligência

que lhe fora cometida, contando aos rebeldes o apólogo dos membros e

do estômago, que constituem, no mecanismo de sua harmonia, o perfeito

organismo de um corpo. A plebe concorda em regressar à cidade, embora

impondo condições quase que irrestritamente aceitas. Os tribunos da

plebe inauguram, então, um período de belas conquistas dos direitos

humanos, culminando na Lei Canuleia, que permitia o casamento entre

patrícios e plebeus e com a Lei Ogúlnia, que conferia a estes últimos as

próprias funções sacerdotais.

A FAMÍLIA ROMANA

Muito poderíamos comentar, à margem da História, mas outros são

os nossos fins, considerando-nos no dever de salientar aqui as sagradas

virtudes romanas, na instituição do colégio da família, em muitas

circunstâncias superior ao da própria Grécia cheia de sabedoria e beleza.

102

EMMANUEL

A família romana, em suas tradições gloriosas, está constituída no

mais sublime respeito às virtudes heróicas da mulher e na perfeita

compreensão dos deveres do homem, ante os seus sucessores e os seus

antepassados.

Lembrando-nos de Roma no seu áureo período de trabalho, enchese-

nos ó olhar de lágrimas amargas... Que gênio maldito imiscuiu-se nessa

organização sublimada em seus mais íntimos fundamentos, devorando-lhe

as esperanças mais nobres, corrompendo-lhe os sentimentos, relaxandolhe

as energias? Que força devastadora derrubou todas as suas estátuas

gloriosas de virtude? Debalde, a mão misericordiosa de Jesus desceu

sobre a sua fronte, levantando-a de quedas tenebrosas, antes dos tristes

espetáculos do seu arrasamento. Os abusos de poder e de liberdade dos

seus habitantes fizeram do ninho do amor e do trabalho um amontoado de

rumarias, afundando-o num mar de lodo sanguinolento.

AS GUERRAS E A MAIORIDADE TERRESTRE

Em breve, porém, a família romana, cheia das tradições de generosa

beleza, foi dilacerada pelos gênios militares e pelos espíritos guerreiros.

O progresso incessante da cidade formava a tendência geral ao

expansionismo em todos os domínios.

Entretanto, os pródromos do Direito Romano e a organização da

família assinalavam

103

A CAMINHO DA LUZ

o período da maioridade terrestre. O homem com semelhantes conquistas,

estava a desferir o vôo para as mais altas esferas espirituais.

As legiões magnânimas do Cristo aprestam-se para as últimas

preparações de seus gloriosos caminhos na face do mundo. O Evangelho

deveria chegar como a mensagem eterna do amor, da luz e da verdade

para todos os seres.

Todavia, a liberdade pessoal e coletiva é respeitada pelo plano

invisível e Roma não se mostra digna das numerosas dádivas recebidas.

Em vez de estender os seus laços pela educação e pela concórdia, deixa

prender-se por uma legião de espíritos agressivos e ambiciosos, alargando

a sua influência pelo mundo com as balistas e catapultas dos seus

guerreiros. Depois das conquistas da Península, empreende a conquista

do mundo, com as guerras púnicas, terminando por submeter todo o

Oriente, onde também se encontrava a Grécia esgotada e vencida.

Os enviados do Cristo harmonizam esses terríveis movimentos no

instituto das provações necessárias aos indivíduos e aos seus

agrupamentos; todavia, a realidade é que Roma assumia, igualmente, as

mais pesadas responsabilidades e os mais penosos débitos, diante da

Justiça Divina. Suas águias vitoriosas cruzam, então, todos os mares; o

Mediterrâneo é propriedade sua e o Império Romano é o Império do

homem, ouvindo-se a voz diretora de um só homem para quase todas as

regiões povoadas da Terra.

104

EMMANUEL

NAS VÉSPERAS DO SENHOR

As forças do invisível, porém, não descansaram. Muitas lágrimas

foram vertidas, no Alto, em vista de tão nefastos acontecimentos.

O Cristo reúne as assembléias de seus emissários. A Terra não

podia perder a sua posição espiritual, depois das conquistas da sabedoria

ateniense e da família romana.

É então que se movimentam as entidades angélicas do sistema, nas

proximidades da Terra, adotando providências de vasta e generosa

importância. A lição do Salvador deveria, agora, resplandecer para os

homens, controlando-lhes a liberdade com a exemplificação perfeita do

amor. Todas as providências são levadas a efeito. Escolhem-se os

instrutores, os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade

única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta, e, quando

reinava Augusto, na sede do governo do mundo, viu-se uma noite cheia de

luzes e de estrelas maravilhosas. Harmonias divinas cantavam um hino de

sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A

manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e,

enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se

esqueceria o Natal, a "noite silenciosa, noite santa".

105

XII

A vinda de Jesus

A MANJEDOURA

A manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo,

como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes.

Começava a era definitiva da maioridade espiritual da Humanidade

terrestre, de vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o

código da fraternidade e do amor a todos os corações.

Debalde os escritores materialistas de todos os tempos vulgarizaram

o grande acontecimento, ironizando os altos fenômenos mediú106

EMMANUEL

nicos que o precederam. As figuras de Simeão, Ana, Isabel, João Batista,

José, bem como a personalidade sublimada de Maria, têm sido muitas

vezes objeto de observações injustas e maliciosas; mas a realidade é que

somente com o concurso daqueles mensageiros da Boa Nova, portadores

da contribuição de fervor, crença e vida, poderia Jesus lançar na Terra os

fundamentos da verdade inabalável.

O CRISTO E OS ESSÊNIOS

Muitos séculos depois da sua exemplificação incompreendida, há

quem o veja entre os essênios, aprendendo as suas doutrinas, antes do

seu messianismo de amor e de redenção. As próprias esferas mais

próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das

controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos

estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da

Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.

O Mestre, porém, não obstante a elevada cultura das escolas

essênias, não necessitou da sua contribuição. Desde os seus primeiros

dias na Terra, mostrou-se tal qual era, com a superioridade que o planeta

lhe conheceu desde os tempos longínquos do princípio.

CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS DE ISRAEL

Do seu divino apostolado nada nos compete dizer em acréscimo das

tradições que a cultura

107

A CAMINHO DA LUZ

evangélica apresentou em todos os séculos posteriores à sua vinda à

Terra, reafirmando, todavia, que a sua lição de amor e de humildade foi

única em todos os tempos da Humanidade.

Dele asseveraram os profetas de Israel, muito tempo antes da

manjedoura e do calvário: - "Levantar-se-á como um arbusto verde,

vivendo na ingratidão de um solo árido, onde não haverá graça nem

beleza. Carregado de opróbrios e desprezado dos homens, todos lhe

voltarão o rosto. Coberto de ignomínias, não merecerá consideração. É

que Ele carregará o fardo pesado de nossas culpas e de nossos

sofrimentos, tomando sobre si todas as nossas dores. Presumireis na sua

figura um homem vergando ao peso da cólera de Deus, mas serão os

nossos pecados que o cobrirão de chagas sanguinolentas e as suas

feridas hão de ser a nossa redenção. Somos um imenso rebanho

desgarrado, mas, para nos reunir no caminho de Deus, Ele sofrerá o peso

das nossas iniquidades. Humilhado e ferido, não soltará o mais leve

queixume, deixando-se conduzir como um cordeiro ao sacrifício. O seu

túmulo passará como o de um malvado e a sua morte como a de um ímpio.

Mas, desde o momento em que oferecer a sua vida, verá nascer uma

posteridade e os interesses de Deus hão de prosperar nas suas mãos."

A GRANDE LIÇÃO

Sim, o mundo era um imenso rebanho desgarrado. Cada povo fazia

da religião uma nova fonte de vaidades, salientando-se que muitos cultos

religiosos do Oriente caminhavam para

108

EMMANUEL

o terreno franco da dissolução e da imoralidade; mas o Cristo vinha trazer

ao mundo os fundamentos eternos da verdade e do amor. Sua palavra,

mansa e generosa, reunia todos os infortunados e todos os pecadores.

Escolheu os ambientes mais pobres e mais desataviados para viver a

intensidade de suas lições sublimes, mostrando aos homens que a

verdade dispensava o cenário suntuoso dos areópagos, dos fóruns e dos

templos, para fazer-se ouvir na sua misteriosa beleza. Suas pregações, na

praça pública, verificam-se a propósito dos seres mais desprotegidos e

desclassificados. como a demonstrar que a sua palavra vinha reunir todas

as criaturas na mesma vibração de fraternidade e na mesma estrada

luminosa do amor. Combateu pacificamente todas as violências oficiais do

judaísmo, renovando a Lei Antiga com a doutrina do esclarecimento, da

tolerância e do perdão. Espalhou as mais claras visões da vida imortal,

ensinando às criaturas terrestres que existe algo superior às pátrias, às

bandeiras, ao sangue e às leis humanas. Sua palavra profunda, enérgica e

misericordiosa, refundiu todas as filosofias, aclarou o caminho das

ciências e já teria irmanado todas as religiões da Terra, se a impiedade dos

homens não fizesse valer o peso da iniquidade na balança da redenção.

A PALAVRA DIVINA

Não nos compete fornecer uma nova interpretação das palavras

eternas do Cristo, nos Evangelhos. Semelhante interpretação está fei109

A CAMINHO DA LUZ

ta por quase todas as escolas religiosas do mundo, competindo apenas às

suas comunidades e aos seus adeptos a observação do ensino imortal,

aplicando-a a si próprios, no mecanismo da vida de relação, de modo que

se verifique a renovação geral, na sublime exemplificação, porque, se a

manjedoura e a cruz constituem ensinamento inolvidável, muito mais

devem representar, para nós outros, os exemplos do Divino Mestre, no seu

trato com as vicissitudes da vida terrestre.

De suas lições inesquecíveis, decorrem conseqüências para todos

os departamentos da existência planetária, no sentido de se renovarem os

institutos sociais e políticos da Humanidade, com a transformação moral

dos homens dentro de uma nova era de justiça econômica e de concórdia

universal.

Pode parecer que as conquistas do verdadeiro Cristianismo sejam

ainda remotas, em face das doutrinas imperialistas da atualidade, mas é

preciso reconhecer que dois mil anos já dobaram sobre a palavra divina.

Dois mil anos em que os homens se estraçalharam em seu nome,

inventando bandeiras de separatividade e destruição. Incendiaram e

trucidaram, em nome dos seus ensinos de perdão e de amor, massacrando

esperanças em todos os corações. Contudo, o século que passa deve

assinalar uma transformação visceral nos departamentos da vida. A dor

completará as obras generosas da verdade cristã, porque os homens

repeliram o amor em suas cogitações de progresso.

110

EMMANUEL

CREPÚSCULO DE UMA CIVILIZAÇÃO

Uma nuvem de fumo vem-se formando, há muito tempo, nos

horizontes da Terra cheia de indústrias de morte e destruição. Todos os

países são convocados a conferirem os valores da maturação espiritual da

Humanidade, verificada no orbe há dois milênios. O progresso científico

dos povos e as suas mais nobres e generosas conquistas são reclamados

pelo banquete do morticínio e da ambição, e, enquanto a política do mundo

se sente manietada ante os dolorosos fenômenos do século, registram-se

nos espaços novas atividades de trabalho, porque a direção da Terra está

nas mãos misericordiosas e augustas do Cordeiro.

O EXEMPLO DO CRISTO

Sem nos referirmos, porém, aos problemas da política transitória do

mundo, lembremos, ainda, que a lição do Cristo ficou para sempre na

Terra, como o tesouro de todos os infortunados e de todos os desvalidos.

Sua palavra construiu a fé nas almas humanas, fazendo-lhes entrever os

seus gloriosos destinos. Haja necessidade e tornaremos a ver a crença e a

esperança reunindo-se em novas catacumbas romanas, para reerguerem o

sentido cristão da civilização da Humanidade.

É, muitas vezes, nos corações humildes e aflitos que vamos

encontrar a divina palavra cantando o hino maravilhoso dos bemaventurados.

111

A CAMINHO DA LUZ

E, para fechar este capítulo, lembrando a influência do Divino Mestre

em todos os corações sofredores da Terra, recordemos o episódio do

monge de Manilha, que, acusado de tramar a liberdade de sua pátria contra

o jugo dos espanhóis, é condenado à morte e conduzido ao cadafalso.

No instante do suplício, soluça desesperadamente o mísero

condenado - "Como, pois, será possível que eu morra assim inocente?

Onde está a justiça? Que fiz eu para merecer tão horrendo suplício?"

Mas um companheiro corre ao seu encontro e murmura-lhe aos

ouvidos: - "Jesus também era inocente!..."

Passa, então, pelos olhos da vítima, um clarão de misteriosa beleza.

Secam-se as lágrimas e a serenidade lhe volta ao semblante macerado, e,

quando o carrasco lhe pede perdão, antes de apertar o parafuso sinistro,

ei-lo que responde resignado: - "Meu filho, não só te perdôo como ainda te

peço cumpras o teu dever."

113

XIII

O Império Romano e seus desvios

OS DESVIOS ROMANOS

Reportando-nos ainda às conquistas romanas, antes da chegada do

Senhor para as primeiras florações do Cristianismo, devemos lembrar o

esforço despendido pelas entidades espirituais, junto das autoridades

organizadoras e conservadoras da República, no sentido de orientar-se a

atividade geral para um grande movimento de fraternidade e de união de

todos os povos do planeta.

Os pensadores que hoje sonham a criação dos Estados Unidos do

Mundo, sem os movi114

EMMANUEL

mentos odiosos das guerras fratricidas, podem sondar os desígnios do

plano invisível naquela época. A Grécia havia perscrutado, na medida do

possível, todos os problemas transcendentes da vida. Nas suas lutas

expiatórias, transferira as suas experiências e conhecimentos para a

família romana, então apta para as grandes tarefas do Estado. À força de

educação e de amor, poderia esta última unificar as bandeiras do orbe,

criando um novo roteiro à evolução coletiva e estabelecendo as linhas

paralelas do progresso físico e moral da Humanidade terrestre. Todos os

esforços foram despendidos, nesse particular, pelos emissários do plano

invisível, e a prova desse grandioso projeto de trabalho unitário é que a

obra do Império Romano foi das mais primorosas, em matéria educativa,

com vistas à organização das nacionalidades modernas. O próprio instinto

democrático da Inglaterra e da França, bem como as suas elevadas obras

de socialização, ainda representam frutos da missão educativa do Império,

no seio da Humanidade.

O caminho dos romanos ficou juncado de sementes e de luzes para

o porvir

A realidade, contudo, é que, se os mensageiros do Cristo

conseguiram a realização de muitos planos generosos, no seio da

comunidade de então, não podiam interferir na liberdade isolada da grande

maioria dos seus membros.

OS ABUSOS DA AUTORIDADE E DO PODER

Em breve, os abusos da autoridade e do poder embriagavam a

cidade valorosa. Toda

115

A CAMINHO DA LUZ

a sede do governo parecia invadida por uma avalancha de forças

perversoras, das mais baixas esferas dos planos invisíveis.

A família romana, cujo esplendor espiritual conseguiu atravessar

todas as eras, iluminando os agrupamentos da atualidade, parecia

atormentada pelos mais tenazes inimigos ocultos, que, aos poucos, lhe

minaram as bases mais sólidas, mergulhando-a na corrupção e no

extermínio de si mesma, dada a ausência de vigilância de suas sentinelas

mais avançadas. Denso nevoeiro obscurecia todas as consciências, e a

sociedade alegre e honesta, rica de sentimentos enobrecedores, foi pasto

de crimes humilhantes, de tragédias lúgubres e miserandos assassínios.

As classes abastadas aproveitavam a pletora de poder instalando-se no

carro da opressão, que deixava atrás de si um rastro fumegante de revolta

e de sangue. Os Gracos, filhos da veneranda Cornélia, são quase que os

derradeiros traços de uma época caracterizada pela administração

enérgica, mas equânime, cheia de honestidade, de sabedoria e de justiça.

OS CHEFES DE ROMA

Depois de Caio, assassinado no Aventino, embora se fizesse supor

um suicídio, instala-se definitivamente um regime de quase completa

dissolução das grandes conquistas morais realizadas.

Sobe Mário ao poder, depois das vitórias contra Jugurta e contra os

germanos, que haviam, por sua vez, invadido o território das

116

EMMANUEL

Gálias. Mas os antagonismos sociais levam Sua ao poder, travando-se

lutas cruentas, como vésperas escuras de sangrentas derrocadas Em

seguida, surgem Pompeu e a revolução de Catilina, muito conseguindo a

prudência de Cícero em favor da segurança da cidade Verifica-se, logo

após, o primeiro triunvirato com a política maneirosa de Caio Júlio César,

que se alia a Pompeu e a Crasso para as supremas obrigações do governo.

As citações históricas, todavia, desviariam os objetivos do nosso

esforço. Nossa intenção é mostrar que o determinismo do mundo

espiritual era o do amor, da solidariedade e do bem, mas os próprios

homens, na esfera relativa de suas liberdades, modificaram esse

determinismo superior, no curso incessante da civilização.

Os generais romanos podiam conquistar a ferro e fogo, desviandose

dos objetivos mais sagrados dos seus deveres e obrigações, levando

aos outros povos, pela força das armas, os liames que somente deveriam

utilizar com a sua cultura e experiência da vida; mas seus atos originaram

os mais amargos frutos de provação e sofrimento para a Humanidade

terrestre, e é por isso que, em sua quase totalidade, entraram no plano

espiritual seguidos de perto pelas suas numerosas vítimas, entre as vozes

desesperadas das mais acerbas acusações. Muitos deles, decorridos

decênios infindáveis de martírios expiatórios, podiam ser vistos sem as

suas armaduras elegantes, arrastando-se como vermes ao longo das

margens do Tibre, ou estendendo as mãos asquerosas, como mendigos

detestados do Esquilino.

117

A CAMINHO DA LUZ

O SÉCULO DE AUGUSTO

Terminados os triunviratos, eis que ia cumprir-se a missão do Cristo,

depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano.

A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no

mundo era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida

nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações

confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto decorreu em grande

tranqüilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do

planeta. Realizam-se gigantescos esforços edificadores ou reconstrutivos.

Belos monumentos são erigidos. O espírito artístico e filantrópico de

Atenas revive na pessoa de Mecenas, confidente do imperador, cuja

generosidade dispensa a mais carinhosa atenção às inteligências

estudiosas e superiores da época, quais Horácio e Vergílio, que assinalam,

junto de outras nobres expressões intelectuais do tempo, a passagem do

chamado "século de Augusto", com as suas obras numerosas.

TRANSIÇÃO DE UMA ÉPOCA

Depois de Augusto, aparece à barra da História a personalidade

disfarçada e cruel de Tibério, seu filho adotivo, que vê terminar a era de

paz, de trabalho e concórdia, com o regresso do Cordeiro às regiões

sublimadas da Luz.

É nesse reinado que a Judéia leva a efeito a tragédia do Gólgota,

realizando sinistramente as mais remotas profecias.

118

EMMANUEL

Não obstante o seu compassivo e desvelado amor, o Divino Mestre é

submetido aos martírios da cruz, por imposição do judaísmo, que lhe não

compreendeu o amor e a humildade. Roma colabora no doloroso

acontecimento com a indiferença fria de Pôncio Pilatos, retornando aos

seus festins e aos seus prazeres, como se desconhecesse as finalidades

mais nobres da vida.

Seguindo a mesma estrada escura de Tibério, Calígula inaugura um

período longo de sombras, de massacres e de incêndios, de devastação e

de sangue.

PROVAÇÕES COLETIVAS DOS JUDEUS E DOS ROMANOS

Os seguidores humildes do Nazareno iniciam, nas regiões da

Palestina, as suas predicações e ensinamentos. Raros apóstolos sabiam

da missão sublimada daquela doutrina sacrossanta, que mandava fazer o

bem pelo mal e instituía o perdão aos próprios inimigos. De perto, seguemlhes

a atividade os emissários solícitos do Senhor, preparando os

caminhos da revolução ideológica do Evangelho. Esses mensageiros do

Alto iniciam, igualmente e de modo indireto, o esforço de auxílio ao

Império nas suas dolorosas provações coletivas.

Um perfeito trabalho de seleção se verifica no ambiente espiritual

das coletividades romanas. Chovem inspirações do Alto preludiando as

dores de Jerusalém e as amarguras da cidade imperial. Vaticínios sinistros

pesam sobre todos os espíritos rebeldes e culpados, e a

119

A CAMINHO DA LUZ

verdade é que, depois do cerco de Jerusalém, quando Tito destruiu a

cidade, arrasando-lhe o Templo famoso e dispersando para sempre os

israelitas, viu o orgulhoso vencedor mudar-se o curso das dores para a

sociedade do Império, atormentada pelas tempestades de fogo e cinza que

arrasaram Estábias, Herculânum e Pompéia, destruindo milhares de vidas

florescentes e desequilibrando a existência romana para sempre.

FIM DA VAIDADE HUMANA

O Império Romano, que poderia ter levado a efeito a fundação de um

único Estado na superfície do mundo, em virtude da maravilhosa unidade a

que chegou e mercê do esforço e da proteção do Alto, desapareceu num

mar de ruínas, depois das suas guerras, desvios e circos cheios de feras e

gladiadores.

O imenso organismo apodreceu nas chagas que lhe abriram a

incúria e a impiedade dos próprios filhos e, quando não foi mais possível o

paliativo da misericórdia dos espíritos abnegados e compassivos, dada a

galvanização dos sentimentos gerais na mesa larga dos excessos e

prazeres terrestres, a dor foi chamada a restabelecer o fundamento da

verdade nas almas.

Da orgulhosa cidade dos imperadores não restaram senão pedras

sobre pedras. Sob o látego da expiação e do sofrimento, os Espíritos

culpados trocaram a sua indumentária para a evolução e para o resgate no

cenário infinito da vida, e, enquanto muitos deles ainda choram

120

EMMANUEL

nos padecimentos redentores, gemem sobre as ruínas do Coliseu de

Vespasiano os ventos tristes e lamentosos da noite.

121

XIV

A edificação cristã

OS PRIMEIROS CRISTÃOS

Atingindo um período de nova compreensão concernente aos mais

graves problemas da vida, a sociedade da época sentia de perto a

insuficiência das escolas filosóficas conhecidas, no propósito de

solucionar as suas grandes questões. A idéia de uma justiça mais perfeita

para as classes oprimidas tornara-se assunto obsidente para as massas

anônimas e sofredoras.

Em virtude dos seus postulados sublimes de fraternidade, a lição do

Cristo representava

122

EMMANUEL

o asilo de todos os desesperados e de todos os tristes. As multidões dos

aflitos pareciam ouvir aquela misericordiosa exortação: - "Vinde a mim,

vós todos que sofreis e tendes fome de justiça e eu vos aliviarei" - e da

cruz chegava-lhes, ainda, o alento de uma esperança desconhecida.

A recordação dos exemplos do Mestre não se restringia aos povos

da Judéia, que lhe ouviram diretamente os ensinos imorredouros.

Numerosos centuriões e cidadãos romanos conheceram pessoalmente os

fatos culminantes das pregações do Salvador. Em toda a Ásia Menor, na

Grécia, na África e mesmo nas Gálias, como em Roma, falava-se dEle, da

sua filosofia nova que abraçava todos os infelizes, cheia das claridades

sacrossantas do reino de Deus e da sua justiça. Sua doutrina de perdão e

de amor trazia nova luz aos corações e os seus seguidores destacavam-se

do ambiente corrupto do tempo, pela pureza de costumes e por uma

conduta retilínea e exemplar.

A princípio, as autoridades do Império não ligaram maior

importância à doutrina nascente, mas os Apóstolos ensinavam que, por

Jesus-Cristo, não mais poderia haver diferença entre os livres e os

escravos, entre patrícios e plebeus, porque todos eram irmãos, filhos do

mesmo Deus. O patriciado não podia ver com bons olhos semelhantes

doutrinas. Os cristãos foram acusados de feiticeiros e heréticos, iniciandose

o martirológio com os primeiros editos de proscrição. O Estado não

permitia outras associações independentes, além daquelas consideradas

como cooperativas funerárias e, aproveitando essa exceção, os

seguidores do Cru123

A CAMINHO DA LUZ

cificado começaram os famosos movimentos das catacumbas.

A PROPAGAÇÃO DO CRISTIANISMO

Na Judéia cresce, então, o número dos prosélitos da nova crença. O

hino de esperanças da manjedoura e do calvário espalha nas almas um

suave e eterno perfume. É assim que os Apóstolos, cuja tarefa o Cristo

abençoara com a sua misericórdia, espalham as claridades da Boa Nova

por toda a parte, repartindo o pão milagroso da fé com todos os famintos

do coração.

A doutrina do Crucificado propaga-se com a rapidez do relâmpago.

Fala-se dela, tanto em Roma como nas Gálias e no norte da África.

Surgem os advogados e os detratores. Os prosélitos mais eminentes

buscam doutrinar, disseminando as idéias e interpretações. As primeiras

igrejas surgem ao pé de cada Apóstolo, ou de cada discípulo mais

destacado e estudioso.

A centralização e a unidade do Império Romano facilitaram o

deslocamento dos novos missionários, que podiam levar a palavra de fé ao

mais obscuro recanto do globo, sem as exigências e os obstáculos das

fronteiras.

Doutrina alguma alcançara no mundo semelhante posição, em face

da preferência das massas. É que o Divino Mestre selara com exemplos as

palavras de suas lições imorredouras.

Maior revolucionário de todas as épocas, não empunhou outra arma

além daquelas que

124

EMMANUEL

significam amor e tolerância, educação e aclaramento. Condenou todas as

hipocrisias, insurgiu-se contra todas as violências oficializadas, ensinando

simultaneamente aos discípulos o amor incondicional à ordem, ao trabalho

e à paz construtiva. É por essa razão que os Evangelhos constituem o livro

da Humanidade, por excelência. Sua simplicidade e singeleza

transparecem na tradução de todas as línguas da Terra, prendendo a alma

dos homens entre as luzes do Céu, ao encanto suave de suas narrativas.

A REDAÇÃO DOS TEXTOS DEFINITIVOS

Nesse tempo, quando a guerra formidável da critica procurava minar

o edifício imortal da nova doutrina, os mensageiros do Cristo presidem à

redação dos textos definitivos, com vistas ao futuro, não somente junto

aos Apóstolos e seus discípulos, mas igualmente junto aos núcleos das

tradições. Os cristãos mais destacados trocam, entre si, cartas de alto

valor doutrinário para as diversas igrejas. São mensagens de fraternidade

e de amor, que a posteridade muita vez não pôde ou não quis

compreender.

Muitas escolas literárias se formaram nos últimos séculos, dentro da

crítica histórica, para o estudo e elucidação desses documentos. A palavra

"apócrifo" generalizou-se como o espantalho de todo o mundo. Histórias

numerosas foram escritas. Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os

sábios materialistas, no estudo das idéias religiosas, não puderam

125

A CAMINHO DA LUZ

sentir que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em

sua maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes

figuras do Cristianismo.

A grandeza da doutrina não reside na circunstância de o Evangelho

ser de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal

que se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os

corações. Não há vantagem nas longas discussões quanto à autenticidade

de uma carta de Inácio de Antioquia ou de Paulo de Tarso, quando o

raciocínio absoluto não possui elementos para a prova concludente e

necessária. A opinião geral rodopiará em torno do crítico mais eminente,

segundo as convenções. Todavia, a autoridade literária não poderá

apresentar a equação matemática do assunto. É que, portas a dentro do

coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando

das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da

razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos.

A MISSÃO DE PAULO

No trabalho de redação dos Evangelhos, que constituem, sem

dúvida, o portentoso alicerce do Cristianismo, verificavam-se, nessa

época, algumas dificuldades para que se lhes desse o precioso caráter

universalista.

Todos os Apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de

seus gloriosos ensinamentos; mas, se esses pescadores valorosos eram

elevados Espíritos em missão, precisamos con126

EMMANUEL

siderar que eles estavam muito longe da situação de espiritualidade do

Mestre, sofrendo as influências do meio a que foram conduzidos. Tão logo

se verificou o regresso do Cordeiro às regiões da Luz, a comunidade

cristã, de modo geral, começou a sofrer a influência do judaísmo, e quase

todos os núcleos organizados, da doutrina, pretenderam guardar feição

aristocrática, em face das novas igrejas e associações que se fundavam

nos mais diversos pontos do mundo.

É então que Jesus resolve chamar o espírito luminoso e enérgico de

Paulo de Tarso ao exercício do seu ministério. Essa deliberação foi um

acontecimento dos mais significativos na história do Cristianismo. As

ações e as epístolas de Paulo tornam-se poderoso elemento de

universalização da nova doutrina. De cidade em cidade, de igreja em igreja,

o convertido de Damasco, com o seu enorme prestígio, fala do Mestre,

inflamando os corações. A princípio, estabelece-se entre ele e os demais

Apóstolos uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua

influência providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável

dentro da comunidade cristã, nos seus tempos inesquecíveis de

simplicidade e pureza.

O APOCALIPSE DE JOÃO

Alguns anos antes de terminar o primeiro século, após o advento da

nova doutrina, já as forças espirituais operam uma análise da situação

amargurosa do mundo, em face do porvir.

127

A CAMINHO DA LUZ

Sob a égide de Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a

civilização, assinalando os traços iniciais dos países europeus dos tempos

modernos. Roma já não representa, então, para o plano invisível, senão um

foco infeccioso que é preciso neutralizar ou remover. Todas as dádivas do

Alto haviam sido desprezadas pela cidade imperial, transformada num

vesúvio de paixões e de esgotamentos.

O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se

encontrava preso nos liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a

linguagem simbólica do invisível.

Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao

planeta como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra, e

o velho Apóstolo de Patmos transmite aos seus discípulos as advertências

extraordinárias do Apocalipse.

Todos os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos.

É verdade que freqüentemente a descrição apostólica penetra o terreno

mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não pôde copiar

fielmente a expressão divina das suas visões de palpitante interesse para a

história da Humanidade. As guerras, as nações futuras, os tormentos

porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização

ocidental, estão ali pormenorizadamente entrevistos. E a figura mais

dolorosa, ali relacionada, que ainda hoje se oferece à visão do mundo

moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma, simbolizada na

besta vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos.

128

EMMANUEL

IDENTIFICAÇÃO DA BESTA APOCALÍPTICA

Reza o Apocalipse que a besta poderia dizer grandezas e blasfêmias

por 42 meses, acrescentando que o seu número era o 666 (Apoc. XIII, 5 e

18). Examinando-se a importância dos símbolos naquela época e seguindo

o rumo certo das interpretações, podemos tomar cada mês como sendo de

30 anos, em vez de 30 dias, obtendo, desse modo, um período de 1260

anos comuns, justamente o período compreendido entre 610 e 1870, da

nossa era, quando o Papado se consolidava, após o seu surgimento, com

o imperador Focas, em 607, e o decreto da infalibilidade papal com Pio IX,

em 1870, que assinalou a decadência e a ausência de autoridade do

Vaticano, em face da evolução científica, filosófica e religiosa da

Humanidade.

Quanto ao número 666, sem nos referirmos às interpretações com

os números gregos, em seus valores, devemos recorrer aos algarismos

romanos, em sua significação, por serem mais divulgados e conhecidos,

explicando que é o Sumo-Pontífice da igreja romana quem usa os títulos

de "VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS", "VICARIVS FILII DEI" e "DVX

CLERI" que significam "Vigário-Geral de Deus na Terra", "Vigário do Filho

de Deus" e "Príncipe do Clero". Bastará ao estudioso um pequeno jogo de

paciência, somando os algarismos romanos encontrados em cada titulo

papal a fim de encontrar a mesma equação de 666, em cada um deles.

129

A CAMINHO DA LUZ

Vê-se, pois, que o Apocalipse de João tem singular importância para

os destinos da Humanidade terrestre.

O ROTEIRO DE LUZ E DE AMOR

Mas, voltemos aos nossos propósitos, cumprindo-nos reconhecer

nos Evangelhos uma luz maravilhosa e divina, que o escoar incessante

dos séculos só tem podido avivar e reacender. É que eles guardam a

súmula de todos os compêndios de paz e de verdade para a vida dos

homens, constituindo o roteiro de luz e de amor, através do qual todas as

almas podem ascender às luminosas montanhas da sabedoria dos Céus.

131

XV

A evolução do Cristianismo

PENOSOS COMPROMISSOS ROMANOS

Debalde tentaram as forças espirituais o aproveitamento dos

romanos na direção suprema do mundo. Todos os recursos possíveis

foram prodigalizados inutilmente à cidade imperial. A canalização de

consideráveis riquezas materiais, possibilitando a consolidação de um

Estado único no planeta, não fora esquecida, ao lado de todas as

providências que se faziam necessárias, do ponto de vista moral. Em vão,

transplantara-se para Roma a extraordinária sabedoria ateniense e a

colaboração de todas as experiências dos povos conquistados.

132

EMMANUEL

Os Espíritos encarnados não conseguiram a eliminação dos laços

odiosos da vaidade e da ambição, sentindo-se traídos em suas energias

mais profundas, contraindo débitos penosos, perante os tribunais da

Justiça Divina.

A vinda do Cristo ao cenáculo obscuro do planeta, trazendo a

mensagem luminosa da verdade e do amor, assinalara o período da

maioridade espiritual da Humanidade. Essa maioridade implicava direitos

que, por sua vez, se fariam acompanhar do agravo de responsabilidades e

deveres para a solução de grandes problemas educativos do coração. Se

ao homem físico rasgavam-se os mais amplos horizontes nos domínios do

progresso material, os Evangelhos vinham trazer ao homem espiritual um

roteiro de novas atividades, educando-o convenientemente para as suas

arrojadas conquistas de ciência e de liberdade, com vistas ao porvir. O

aproveitamento desse processo educativo deveria ser levado a efeito pela

capital do mundo, de acordo com os desígnios do plano espiritual.

Pesadas forças da Treva, porém, aliaram-se às mais fortes tendências do

homem terrestre, constantemente inclinado aos liames do mal que o

prendiam à Terra, adstrito aos mais grosseiros instintos de conservação,

e, enquanto os Espíritos abnegados, do Alto, choram sobre os abusos de

liberdade dos romanos, a cidade dos Césares embriaga-se cada vez mais

no vinho do ódio e da ambição, contraindo dívidas penosas, entrelaçando

os seus sentimentos com o ódio dos vencidos e dos humilhados, criando

negras perspectivas para o longínquo futuro.

133

A CAMINHO DA LUZ

CULPAS E RESGATES DOLOROSOS DO HOMEM ESPIRITUAL

Ao coração misericordioso de Jesus chegam as preces dolorosas de

todos os operários da sua bendita semeadura. Seu olhar percuciente,

todavia, penetrara o âmago das almas e não fora em vão que recomendara

o crescimento do trigo e do joio nas mesmas leiras, somente a Ele

competindo a separação, na época da ceifa

A limitada liberdade de ação dos indivíduos e das coletividades é

integralmente respeitada Cada qual é responsável pelos seus atos,

recebendo de conformidade com as suas obras.

Foi por isso que Roma teve oportunidade de realizar seus propósitos

e desígnios políticos; mas a Justiça Divina acompanhou-lhe todos os

passos, nos enormes desvios a que se conduziu, comprometendo para

sempre o futuro do homem espiritual, que somente agora conhecerá um

reajustamento nas amargurosas transições do século que passa. Um laço

pesado e tenebroso reuniu a cidade conquistadora aos povos que

humilhara. O ódio do verdugo e dos seus inimigos fundiu-se em séculos

de provações e de lutas expiatórias, para demonstrar que Jesus é o

fundamento da Verdade e só o amor é a sagrada finalidade da vida. Foi por

essa razão que o conquistador e os conquistados, unidos pelo ódio como

calcetas algemados um ao outro nas galés da amargura, compareceram

periodicamente, nos Espaços, ante a misericórdia suprema do Filho de

Deus, prometendo a reparação e o resgate recíprocos, nos séculos do

porvir, fundando a civilização ocidental, como abençoada oficina dos seus

novos

134

EMMANUEL

trabalhos no esforço da fraternidade e da regeneração.

A bondade do Mestre fez florescer cidades valorosas e

progressistas, países cultos e fartos, onde as almas decaídas

encontrassem todos os elementos de edificação e aprimoramento. O

homem físico continuou a linha ascensional de sua evolução nas

conquistas e descobrimentos, mas o homem transcendente, a

personalidade imortal, teria saído do oceano de lodo onde se mergulhou,

voluntariamente, há dois milênios?

Respondam por nós as angustiosas expectativas da hora presente.

OS MÁRTIRES

Antes do movimento de propagação das idéias cristãs no seio da

sociedade romana, já os prepostos de Jesus se preparavam para auxiliar

os missionários da nova fé, conhecendo a reação dos patrícios em face

dos postulados de fraternidade da nova doutrina.

As classes mais abastadas não podiam tolerar semelhantes

princípios de igualdade, quais os que preconizavam as lições do Nazareno,

considerados como postulados de covardia moral, incompatíveis com a

orgulhosa filosofia do Império, e é assim que vemos os cristãos sofrendo

os martírios da primeira perseguição, iniciada no reinado de Nero, de tão

dolorosas quão terríveis lembranças. Nenhum instrumento de suplício foi

esquecido na experimentação da fé e da constância daquelas almas

resignadas e heróicas. O açoite, a cruz, o cavalete, as unhas de ferro, o

fogo, os leões do circo,

135

A CAMINHO DA LUZ

tudo foi lembrado para maior eficiência da perseguição aos seguidores do

Carpinteiro de Nazaré. Pedro e Paulo entregam a vida na palma dos

martírios santificadores e de Nero a Diocleciano uma nuvem pesada, de

sangue e de lágrimas, envolve a alma cristã, cheia de confiança na

Providência Divina. O próprio Marco Aurélio, cuja elevada estatura

espiritual recebera do Alto a missão de paralisar semelhantes desatinos,

não conseguiu deter a corrente de forças trevosas, mas o sangue dos

cristãos era a seiva da vida lançada às divinas sementes do Cordeiro, e os

seus sacrifícios foram bem os reflexos da amorosa vibração do

ensinamento do Cristo, atravessando os séculos da Terra para ser

compreendido e praticado nos milênios do porvir.

OS APOLOGISTAS

A doutrina cristã, todavia, encontrara nas perseguições os seus

melhores recursos de propaganda e de expansão.

Seus princípios generosos encontravam guarida em todos os

corações, seduzindo a consciência de todos os estudiosos de alma livre e

sincera. Observa-se-lhe a influência no segundo século, em quase todos

os departamentos da atividade intelectual, com largos reflexos na

legislação e nos costumes. Tertuliano apresenta a sua apologia do

Cristianismo, provocando admiração e respeito gerais. Clemente de

Alexandria e Orígenes surgem com a sua palavra autorizada, defendendo a

filosofia cristã, e com eles levanta-se um verdadeiro exército

136

EMMANUEL

de vozes que advogam a causa da verdade e da justiça, da redenção e do

amor.

O JEJUM E A ORAÇÃO

Os cristãos, contudo, não tiveram de início uma visão do campo de

trabalho que se lhes apresentava. Não atinaram que, se o jejum e a oração

constituem uma grande virtude na soledade, mais elevada virtude

representam quando levados a efeito no torvelinho das paixões

desenfreadas, nas lutas regeneradoras, a fim de aproveitar aos que os

contemplam. Não compreenderam imediatamente que esses preceitos

evangélicos, acima de tudo, significam sacrifício pelo próximo,

perseverança no esforço redentor, serenidade no trabalho ativo, que

corrige e edifica simultaneamente. Retirando-se para a vida monástica,

povoaram os desertos na suposição de que se redimiriam mais

rapidamente para o Cordeiro.

Uma ânsia de fugir das cidades populosas fazia então vibrar todos

os crentes, originando os erros da idade medieval, quando o homem

supunha encontrar nos conventos as antecâmaras do Céu.

O Oriente, com os seus desertos numerosos e os seus lugares

sagrados, afigura-se o caminho de todos quantos desejam fugir dos antros

das paixões. Só a grande montanha de Nítria chegou a possuir trinta mil

anacoretas, exilados do mundo e dos seus prazeres desastrosos.

Entretanto, examinando essa decisão desaconselhável dos primeiros

tempos, somos levados a recordar que os cristãos se haviam esquecido de

que Jesus não desejava a morte do pecador.

137

A CAMINHO DA LUZ

CONSTANTINO

As forças espirituais que acompanhavam e acompanham todos os

movimentos do orbe, sob a égide de Jesus, procuram dispor os alicerces

de novos acontecimentos, que devem preparar a sociedade romana para o

resgate e para a provação.

A invasão dos povos considerados bárbaros é então entrevista.

Uma forte anarquia militar dificulta a solução dos problemas de

ordem coletiva, elevando e abatendo imperadores de um dia para outro.

Sentindo a aproximação de grandes sucessos e antevendo a

impossibilidade de manter a unidade imperial, Diocleciano organiza a

Tetrarquia, ou governo de quatro soberanos, com quatro grandes capitais.

Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governativa, ocorre a

rebelião militar que aclama Augusto a Constantino, filho de Constâncio

Cloro, contrariando as disposições dos dois Césares, sucessores de

Diocleciano e Maximiano. A luta se estabelece e Constantino vence

Maxêncio às portas de Roma, penetrando a cidade, vitorioso, para ser

recebido em triunfo. Junto dele, o Cristianismo ascende à tarefa do Estado,

com o edito de Milão.

O PAPADO

Desde a décima perseguição que o Cristianismo era considerado em

Roma como doutrina morta, mas os prepostos do Mestre não

descansavam, com o nobre fim de fazer valer os

138

EMMANUEL

seus generosos princípios. A fatalidade histórica reclamava a sua

colaboração nos gabinetes da política do mundo e, ainda uma vez, a

indigência dos homens não compreendeu a dádiva do plano espiritual,

porque, logo depois da vitória, os bispos romanos solicitavam

prerrogativas injustas sobre os seus humildes companheiros de

episcopado. O mesmo espírito de ambição e de imperialismo, que de longo

tempo trabalhava o organismo do Império, dominou igualmente a igreja de

Roma, que se arvorou em suserana e censora de todas as demais do

planeta. Cooperando com o Estado, faz sentir a força das suas

determinações arbitrárias. Trezentos anos lutaram os mensageiros do

Cristo, procurando ampará-la no caminho do amor e da humildade, até que

a deixaram enveredar pelas estradas da sombra, para o esforço de

salvação e de experiência, e, tão logo a abandonaram ao penoso trabalho

de aperfeiçoar-se a si mesma, eis que o imperador Focas favorece a

criação do Papado, no ano de 607. A decisão imperial faculta aos bispos

de Roma prerrogativas e direitos até então jamais justificados. Entronizamse,

mais uma vez, o orgulho e a ambição da cidade dos Césares. Em 610,

Focas é chamado ao mundo dos invisíveis, deixando no orbe a

consolidação do Papado. Dessa data em diante, ia começar um período de

1260 anos de amarguras e violências para a civilização que se fundava.

139

XVI

A Igreja e a invasão dos bárbaros

VITÓRIAS DO CRISTIANISMO

Constantino, no seu caminho de realizações, consegue levar a efeito

a nova organização administrativa do Império, começada no governo de

Diocleciano, dividindo-o em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente,

da Ilíria, da Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em

dioceses dirigidas respectivamente por prefeitos e vigários.

Com a influência do vencedor da ponte Mílvius, efetua-se o Concílio

Ecumênico de Nicéia para combater o cisma de Ário, padre de Alexandria,

que negara a divindade do Cristo.

140

EMMANUEL

Os primeiros dogmas católicos saem, com força de lei, desse parlamento

eclesiástico de 325.

Findo o reinado de Constantino, aparecem os seus filhos, que lhe

não seguem as tradições. Em seguida, Juliano, sobrinho do imperador,

eleva-se ao poder tentando restaurar os deuses antigos, em detrimento da

doutrina cristã, embora compreendesse a ineficácia do seu tentâmen.

Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio, que declara o

Cristianismo religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a

extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. É então que todos

os povos reconhecem a grande força moral da doutrina do Crucificado,

pelo advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida no

campo do martírio e do sacrifício, vendo-se o imperador, em 390, ajoelharse

humildemente aos pés de Ambrósio, bispo de Milão, a penitenciar-se

das crueldades com que reprimira a revolta dos tessalonicenses.

PRIMÓRDIOS DO CATOLICISMO

O Cristianismo, porém, já não aparecia com aquela mesma

humildade de outros tempos. Suas cruzes e cálices deixavam entrever a

cooperação do ouro e das pedrarias, mal lembrando a madeira tosca, da

época gloriosa das virtudes apostólicas.

Seus concílios, como os de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e

Calcedônia, não eram assembléias que imitassem as reuniões plácidas e

humildes da Galiléia. A união com o Estado era motivo para grandes

espetáculos de riqueza e

141

A CAMINHO DA LUZ

vaidade orgulhosa, em contraposição com os ensinos dAquele que não

possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida.

As autoridades eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o

povo, impondo-lhe suas idéias e suas concepções, e, longe de educarem a

alma das massas na sublime lição do Nazareno, entram em acordo com a

sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo

externo, tão do gosto dos antigos romanos pouco inclinados às

indagações transcendentes.

A IGREJA DE ROMA

A igreja de Roma, que antes da criação oficial do Papado

considerava-se a eleita de Jesus, ao arvorar-se em detentora das

ordenações de Pedro, não perdia ensejos de firmar a sua injustificável

primazia junto às suas congêneres de Antioquia, de Alexandria e dos

demais grandes centros da época. Herdando os costumes romanos e suas

disposições multisseculares, procurou um acordo com as doutrinas

consideradas pagãs, pela posteridade, modificando as tradições

puramente cristãs, adaptando textos, improvisando novidades

injustificáveis e organizando, finalmente, o Catolicismo sobre os

escombros da doutrina deturpada. Os bispos de Roma, abusando do fácil

entendimento com as autoridades políticas do Estado, impunham suas

inovações arbitrárias, contrariando as sublimes finalidades do

ensinamento dAquele que preconizara a humildade e o amor como os

grandes caminhos da redenção.

É assim que aparecem novos dogmas, novas modalidades

doutrinárias, o culto dos ídolos

142

EMMANUEL

nas igrejas, as espetaculosas festas do culto externo, copiados quase

todos os costumes da Roma anticristã.

A DESTRUIÇÃO DO IMPÉRIO

A fraqueza e a impenitência dos homens não lhes deixou

compreender que o Cristianismo fora chamado à tarefa do governo tãosomente

para educar o sentimento dos governantes, preparando-os para

levar o esclarecimento e a fraternidade aos outros povos da Terra, então

considerados bárbaros pela cultura do Império.

Não obstante todos os esforços em contrário, dos mensageiros de

Jesus, Bonifácio III cria o Papado em 607, contrapondo-se a todas as

disposições de humildade que deveriam reger a vida da Igreja. As forças

do mal, aliadas à incúria e vaidade dos homens, haviam obtido um triunfo

relativo e transitório.

Os gênios do Espaço, todavia, à claridade soberana da misericórdia

do Senhor, reúnem-se no Infinito, adotando providências novas,

concernentes ao progresso dos homens.

Todos os recursos haviam sido prodigalizados a Roma, a fim de que

as suas expressões políticas e intelectuais se estendessem pelo orbe,

abrangendo todas as gentes no mesmo amplexo de amor e de unidade;

sua alma coletiva, no entanto, havia deturpado todas as possibilidades

sagradas de edificação e renegado todos os grandes ensinamentos.

Advertências penosas não lhe faltaram do Alto, como nos acontecimentos

inesquecíveis e dolorosos do Vesúvio, nas cidades da Campânia. Séculos

de luta e

143

A CAMINHO DA LUZ

de ensinamento se haviam escoado, sem que a alma do Império se

compenetrasse dos seus deveres necessários.

É então que Jesus determina a transformação do Império organizado

e poderoso. Suas águias orgulhosas haviam singrado todos os mares, o

Mediterrâneo era propriedade sua, todos os povos se lhe curvavam para a

homenagem e para a obediência, mas uma força invisível arrancou-lhe

todos os diademas, tirou-lhe as energias e lhe reduziu as glórias a um

punhado de cinzas.

Até hoje, o espírito que investiga o passado inquire o motivo desses

sinistros arrasamentos; mas a verdade é que todos os fundamentos da

Terra residem em Jesus-Cristo.

A INVASÃO DOS BÁRBAROS

Essas determinações do Cristo, verificadas após o reinado de

Constantino, foram seguidas das primeiras grandes invasões com os

visigodos que, fugindo dos hunos, transpõem o Danúbio e estabelecem-se

no oriente do Império, penetrando depois na Grécia e na Itália, espalhando

flagelos e devastações. Debalde surgem as vitórias de Estilicão, porque,

em 410, atingem elas as portas de Roma, que fica entregue ao saque e às

mais duras humilhações.

Em 405, é Radagásio que parte à frente de duzentos mil soldados,

em demanda da cidade imperial, sendo vencido, porém roubando as mais

fortes economias romanas.

As provas expiatórias do Império prosseguem numa avalancha de

dores amargas. Apa144

EMMANUEL

recem as correntes bárbaras dos alanos, dos vândalos, dos suevos, dos

burgúndios. Em 450, os hunos comandados por Átila atacam as Gálias,

perseguindo populações pacíficas e indefesas. A unidade imperial perde a

sua tradição, para sempre. Com as suas vitórias, funda Clóvis a monarquia

dos francos. Os bretões, oprimidos pela invasão e privados do auxílio dos

exércitos romanos, apelam para os saxônios que povoavam o sul da

Jutlândia, organizando-se posteriormente a Heptarquia Anglo-Saxônia.

O que Roma deveria fazer com a educação e o amparo

perseverantes, aqueles povos rudes e fortes vinham reclamar por si

mesmos.

A grande cidade dos Césares poderia ter evitado a catástrofe do

desmembramento, se levasse a sua cultura a todos os corações, em vez de

haver estacionado tantos séculos à mesa farta dos prazeres e das

continuadas libações.

RAZÕES DA IDADE MÉDIA

A queda do Império Romano determinara no mundo extraordinárias

modificações. Muitas almas heróicas e valorosas, que se haviam

purificado nas lutas depuradoras, não obstante o ambiente pantanoso dos

vícios e das paixões desenfreadas, ascenderam definitivamente a planos

espirituais mais elevados, apenas voltando às atmosferas do planeta para

o cumprimento de enobrecedoras e santificantes missões.

A desorganização geral com os movimentos revolucionários dos

outros povos do globo terrestre, que embalde esperam o socorro moral do

governo dos imperadores, originara um

145

A CAMINHO DA LUZ

longo estacionamento nos processos evolutivos. É ai, nessa época de

transições que agora atinge as suas culminâncias, que vamos encontrar as

razões da Idade Média, ou o período escuro da história da Humanidade. Só

esse ascendente místico da civilização pôde explicar o porque das

organizações feudais, depois de tão grandes conquistas da mentalidade

humana, nos grandes problemas da unidade e da centralização política do

mundo. É que um novo ciclo de civilização começava sob a amorosa

proteção do Divino Mestre, e as últimas expressões espirituais do grande

Império retiravam-se para o silêncio dos santuários e dos retiros

espirituais, para chorar na solidão dos conventos, sobre o cadáver da

grande civilização que não soubera prover ao seu glorioso destino.

MESTRES DO AMOR E DA VIRTUDE

Almas sublimadas e corajosas reencarnam, então, sob a égide de

Jesus e para a grande tarefa de orientar as forças políticas da igreja

romana, agora organizada à maneira das construções efêmeras do mundo.

O Papado era a obra do orgulho e da iniquidade; mas o Cristo não

desampara os mais infelizes e os mais desgraçados, e foi assim que

surgiram, no seio mesmo da Igreja, alguns mestres do amor e da virtude,

ensinando o caminho claro da evolução aos povos invasores, trazendo-os

ao pensamento cristão e destinando-os aos tempos luminosos do porvir.

147

XVII

A idade medieval

OS MENSAGEIROS DE JESUS

Em todo o século VI, de conformidade com as deliberações

efetuadas no plano invisível, aparecem grandes vultos de sabedoria e

bondade, contrastando a vaidade orgulhosa dos bispos católicos, que em

vez de herdarem os tesouros de humildade e amor do Crucificado,

reclamaram para si a vida suntuosa, as honrarias e prerrogativas dos

imperadores. Os chefes eclesiásticos, guindados à mais alta

preponderância política, não se lembravam da pobreza e da simplicidade

apostólicas, nem das palavras do Messias, que afirmara não ser o seu

reino ainda deste mundo.

148

EMMANUEL

Todavia, nesse pantanal de ambições floresciam, igualmente, os

lírios da misericórdia de Jesus, em sublimadas realizações de sacrifício e

bondade. Espíritos heróicos e missionários, cuja maioria não se

incorporou aos nomes da galeria histórica terrestre, exerceram a função

de novos sacerdotes da idéia sagrada do Cristianismo, conservando-lhe o

fogo divino para as futuras gerações do planeta. Subordinados, embora, à

disciplina da Igreja romana, eles ouviam, no ádito do coração, a palavra

eterna e suave do Divino Jardineiro e sabiam, por isso, que a sua missão

era a da renúncia, do sacrifício e da humildade. Roma podia negociar os

títulos eclesiásticos com a política do mundo e estabelecer a simonia nos

templos sagrados, esquecendo os mais severos compromissos; eles,

porém, nas suas túnicas rotas, atravessariam o mundo alentando a palavra

das promessas evangélicas, edificariam pousos de silêncio e de

misericórdia, onde guardassem as tradições escritas da cultura sagrada,

para os dias do porvir.

Desses exércitos de abnegados que se organizaram com Jesus e

por Jesus, no seio da Igreja, somos levados a destacar os missionários

beneditinos, cujo esforço amoroso e paciente conduziu grande número de

coletividades dos povos considerados bárbaros, principalmente os

germanos, para o seio generoso das idéias do Cristianismo.

O IMPÉRIO BIZANTINO

Depois da morte do imperador Teodósio, eis que o mundo

conhecido se reparte em dois

149

A CAMINHO DA LUZ

impérios - o do Ocidente e o do Oriente - divididos entre os seus dois

filhos, Honório e Arcádio. Com o assalto dos hérulos, em 476 desaparece o

império ocidental e com ele, para sempre, os resquícios da integridade do

Império Romano, instalando-se depois, em 493, o reino ostrogodo na Itália,

tendo Ravena por capital.

Constantinopla é então a sucessora legítima da grande cidade

imperial. O império bizantino era o depositário da legislação e dos

costumes romanos. Um poderoso sopro de latinidade vitaliza as suas

instituições. Debalde, porém, as expressões romanas buscam um refúgio

nas outras terras, com o objetivo de uma perpetuação. Homens enérgicos,

como Justiniano, não conseguem salvá-las. Forças ocultas e poderosas

estavam incumbidas de sua visceral renovação, e, não obstante sua

resistência milenar, o império bizantino, herdeiro dos Césares, ia cair

exânime, em 1453, ao assalto de Maomet II.

O ISLAMISMO

Antes da fundação do Papado, em 607, as forças espirituais se viram

compelidas a um grande esforço no combate contra as sombras que

ameaçavam todas as consciências. Muitos emissários do Alto tomam

corpo entre as falanges católicas no intuito de regenerar os costumes da

Igreja. Embalde, porém, tentam operar o retorno de Roma aos braços do

Cristo, conseguindo apenas desenvolver o máximo de seus esforços no

penoso trabalho de arquivar experiências para as gerações vindouras.

150

EMMANUEL

Numerosos Espíritos reencarnam com as mais altas delegações do

plano invisível. Entre esses missionários, veio aquele que se chamou

Maomet, ao nascer em Meca no ano 570. Filho da tribo dos Coraixitas, sua

missão era reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de

modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do

Evangelho do Cristo, em oposição aos abusos romanos, nos ambientes da

Europa. Maomet, contudo, pobre e humilde no começo de sua vida, que

deveria ser de sacrifício e exemplificação, torna-se rico após o casamento

com Khadidja e não resiste ao assédio dos Espíritos da Sombra, traindo

nobres obrigações espirituais com as suas fraquezas. Dotado de grandes

faculdades mediúnicas inerentes ao desempenho dos seus compromissos,

muitas vezes foi aconselhado por seus mentores do Alto, nos grandes

lances da sua existência, mas não conseguiu triunfar das inferioridades

humanas. É por essa razão que o missionário do Islã deixa entrever, nos

seus ensinos, flagrantes contradições. A par do perfume cristão que se

evola de muitas das suas lições, há um espírito belicoso, de violência e de

imposição; junto da doutrina fatalista encerrada no Alcorão, existe a

doutrina da responsabilidade individual, divisando-se através de tudo isso

uma imaginação superexcitada pelas forças do bem e do mal, num cérebro

transviado do seu verdadeiro caminho. Por essa razão o Islamismo, que

poderia representar um grande movimento de restauração do ensino de

Jesus, corrigindo os desvios do Papado nascente, assinalou mais uma

vitória das

151

A CAMINHO DA LUZ

Trevas contra a Luz e cujas raízes era necessário extirpar.

AS GUERRAS DO ISLÃ

Maomet, nas recordações do dever que o trazia à Terra, lembrando

os trabalhos que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a Igreja para

Jesus, vulgarizou a palavra "infiel", entre as várias famílias do seu povo,

designando assim os árabes que lhe, eram insubmissos, quando a

expressão se aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do

Cristianismo. Com o seu regresso ao plano espiritual, toda a Arábia estava

submetida à sua doutrina, pela força da espada; e todavia os seus

continuadores não se deram por satisfeitos com semelhantes conquistas.

Iniciaram no exterior as guerras santas", subjugando toda a África

setentrional, no fim do século VII. Nos primeiros anos do século imediato,

atravessaram o estreito de Gibraltar, estabelecendo-se na Espanha, em

vista da escassa resistência dos visigodos atormentados pela separação, e

somente não seguiram caminho além dos Pirineus porque o plano

espiritual assinalara um limite às suas operações, encaminhando Carlos

Martel para as vitórias de 732.

CARLOS MAGNO

É depois dessa época que Jesus permite a reencarnação de um dos

mais nobres imperadores romanos, ansioso de auxiliar o espírito europeu

na sua amargurada decadência. Essa entidade renasceu, então, sob o

nome de Carlos

152

EMMANUEL

Magno, o verdadeiro reorganizador dos elementos dispersos para a

fundação do mundo ocidental. Quase analfabeto, criou as mais vastas

tradições de energia e de bondade, com a superioridade que lhe

caracterizava o espírito equilibrado e altamente evolvi do. Num reinado de

46 anos consecutivos, Carlos Magno intensificou a cultura, corrigiu

defeitos administrativos que imperavam entre os povos desorganizados da

Europa, deixando as mais belas perspectivas para a latinidade

Sabe Jesus quanto de lágrimas lhe custou o cumprimento de uma

tarefa dessa natureza, cujo desempenho exigia as mais altas qualidades de

cérebro e coração. Mas, antecipando as doces comoções que o

aguardavam no plano espiritual, numerosos amigos invisíveis, que com ele

haviam caminhado na Roma do direito e do dever, cercam-lhe a

personalidade na noite do Natal do ano 800, quando o seu pensamento em

prece se elevava a Jesus, na basílica de São Pedro. Uma onda de

vibrações harmoniosas invade o ambiente suntuoso, pouco propicio às

demonstrações da verdadeira espiritualidade. Leão III, o papa reinante,

sente-se tocado de incompreensível arrebatamento espiritual, e,

aproximando-se do grande batalhador do bem, cinge-lhe a fronte com uma

coroa de ouro, enquanto a multidão designa-o, em vozes comovidas e

entusiásticas, como "imperador dos romanos".

Carlos Magno sente que aquela cidade era também dele. Parece-lhe

voltar ao passado longínquo, contemplando a Roma do pretérito, cheia de

dignidade e de virtude. Seu coração derrama lágrimas, como Jeremias

sobre a Je153

A CAMINHO DA LUZ

rusalém das suas dores, agradecendo a Jesus os favores divinos.

Decorridos alguns anos sobre esse acontecimento, o grande

imperador busca de novo as claridades do Além, para reconhecer que o

seu esforço caía sobre as almas qual uma bênção, mas o império por ele

organizado teria escassa duração.

O FEUDALISMO

Depois das nobres conquistas atenienses em matéria de política

administrativa, depois das grandes jornadas do direito romano à face do

mundo, custa-se a entender o porque do feudalismo, que se estendeu pela

Europa, desde o século VIII até o século XII, figurando-se ao estudioso da

História um como retrocesso de toda a civilização.

Toda a unidade política desaparece nesses tempos de luzidas

lembranças para a Humanidade. A propriedade individual jamais alcançou

tamanha importância e nunca a servidão moral ganhou tão forte impulso.

Com semelhante regime, as lutas fratricidas tiveram campo largo no

território europeu, disputando-se uma hegemonia que jamais chegava na

equação dos movimentos bélicos. Somente as poucas qualidades cristãs

da Igreja Católica conseguiram atenuar o caráter nefasto dessa situação,

instituindo-se as chamadas "tréguas de Deus", obrigando os guerreiros ao

repouso em determinados dias da semana, com o objetivo de comemorar

as passagens da vida de Jesus-Cristo e defendendo-se a paz com a

periódica cessação das hostilidades.

154

EMMANUEL

RAZÕES DO FEUDALISMO

Esse regime, todavia, é facilmente explicável.

A missão de Carlos Magno houvera sido organizada pelo plano

invisível como uma das mais vastas tentativas de reorganização do

império do Ocidente, mas, observando-se a inutilidade do tentame, em

virtude do endurecimento da maioria dos corações, as autoridades

espirituais, sob a égide do Cristo, renovaram os processos educativos do

mundo europeu, então no início da civilização atual, chamando todos os

homens para a vida do campo, a fim de aprenderem melhor, no trato da

terra e no contacto da Natureza. Só o feudalismo podia realizar essa obra,

e as suas normas, embora grosseiras, foram aproveitadas na escola

penosa das aquisições espirituais, onde a reflexão e a sensibilidade iam

surgir para a construção do edifício milenar da civilização do Ocidente.

155

XVIII

Os abusos do poder religioso

FASES DA IGREJA CATÓLICA

Apesar dos numerosos desvios da Igreja romana, que esquecera os

princípios cristãos tão logo que chamada aos gabinetes da política do

mundo, nunca o Catolicismo foi de todo abandonado pelas potências do

bem, no mundo espiritual. Advertências inúmeras lhe foram enviadas em

todos os tempos da sua vida histórica, pela misericórdia do Cristo,

condoído da impiedade de quantos, sob o seu nome, manchavam o altar

dos templos.

Enquanto esteve subordinada aos imperadores de Constantinopla, a

instituição católica

156

EMMANUEL

trabalhou para libertar-se de semelhante tutela, procurando a mais ampla

independência espiritual, somente conseguida depois do papa Estêvão II,

em 756, com a organização do chamado Patrimônio de São Pedro. A esse

tempo, os vários soberanos da época dispunham da Igreja de acordo com

os seus caprichos pessoais, conferindo dignidades eclesiásticas às

consciências mais apodrecidas. A sede do Catolicismo se transformara em

vasto mercado de títulos nobiliárquicos de toda a espécie. Até depois do

século X, semelhante situação de descalabro moral marchava para a

frente, num crescendo espantoso. Os Apóstolos do Divino Mestre, nas

claridades do Infinito, deploram semelhantes espetáculos de indigência

espiritual e promovem a reencarnação de numerosos auxiliares da tarefa

remissora, nas hostes da regra de São Bento. Estes missionários da

verdade e do bem operam a restauração do mosteiro de Cluny, de onde

sairiam pensamentos novos e energias regeneradoras.

GREGÓRIO VII

Foi nesse movimento de restauração que Hildebrando, conhecido

como Gregório VII, ouvindo as inspirações que lhe desciam ao coração, do

plano invisível, preparou-se para a missão que o esperava no Vaticano.

Sua figura é das mais importantes do século XI, pela fé e pela sinceridade

que lhe caracterizaram as atitudes. Eleito papa, após a desencarnação de

Alexandre II, reconheceu que as primeiras providências que lhe competiam

eram as do combate ao simonismo no seio da instituição católica e as

157

A CAMINHO DA LUZ

do restabelecimento da autoridade da Igreja, que ele desejou sinceramente

reconduzir ao seio do Cristianismo, embora as lutas sustentadas contra

Henrique IV façam parecer o contrário. Convocando um concílio em Roma,

no ano de 1074, procurou reprimir a enormidade de tantos abusos

referentes ao mercado dos sacramentos e às honras eclesiásticas. Filipe I

e Henrique IV prometem amparo e auxílio às decisões do pontífice, no

sentido de regenerar a organização da Igreja. Henrique IV, porém,

prestigiado pelos bispos culpados de simonia, fugiu ao cumprimento da

promessa e, depois de exortado por Gregório VII, tenta depô-lo, reunindo

em Worms um sínodo de sacerdotes transviados. O papa excomunga o

príncipe rebelado, ocorrendo então os célebres acontecimentos de

Canossa. A luta ainda não havia terminado, quando Gregório VII se

desprende do mundo em 1085, deixando, porém, o caminho preparado

para a Concordata de Worms, que se realizaria em 1122 com Henrique V,

com a independência da Igreja e a regeneração aproximada de sua

disciplina.

AS ADVERTÊNCIAS DE JESUS

Instalada nas suas imensas riquezas e dispondo de todo o poder e

autoridade, a Igreja poucas vezes compreendeu a tarefa de amor, que

competia à sua missão educativa.

Habituada a mandar sem restrições, muitas vezes recebeu as

advertências de Jesus à conta de heresias condenáveis, que era preciso

combater e profligar.

158

EMMANUEL

As exortações do Alto não se faziam sentir tão-somente no seio das

ordens religiosas, onde penitentes humildes proporcionavam aos seus

orgulhosos superiores eclesiásticos as mais santas lições da piedade

cristã. Também na sociedade civil as sementes de luz deixavam entrever

os mais esperançosos rebentos de compreensão e de sabedoria, acerca

do Evangelho e dos exemplos do Cristo. Neste caso está Pedro de Vaux,

que, embora sendo um homem de negócios, em Lião, desligou-se de todos

os laços que o prendiam às riquezas humanas, despojando-se de todos os

bens em favor dos pobres e necessitados, comovido com a leitura da

exemplificação de Jesus no seu Evangelho de amor e redenção. Esse

homem extraordinário, a quem fora cometida a missão de instrumento da

vontade do Senhor, mandou traduzir os livros sagrados para leitura

pública e, junto de outros companheiros que passaram à História com o

nome de valdenses, iniciou amplo movimento de pregações evangélicas, à

maneira dos tempos apostólicos. Os "Pobres de Lião" foram

excomungados, primeiramente pelo arcebispo da cidade e mais tarde, em

1185, pelo pontífice do Vaticano. A Igreja não poderia tolerar outra doutrina

que não a sua, feita de orgulho e mal disfarçada ambição. Qualquer

lembrança verdadeira e sincera, do seu divino Fundador, era tomada como

heresia abominável e suscetível das mais severas punições. A verdade,

porém, é que, se os valdenses foram caluniados pelas forças católicas,

suas pregações e apelos nunca mais desapareceram do mundo desde o

século XI, porque, com vários nomes, as suas organi159

A CAMINHO DA LUZ

zações subsistiram na Europa até à Reforma, não obstante os guantes de

ferro da Inquisição.

FRANCISCO DE ASSIS

Os apelos do Alto continuaram a solicitar a atenção da Igreja romana

em todas as direções. As chamadas "heresias" brotavam por toda parte

onde houvesse consciências livres e corações sinceros, mas as

autoridades do Catolicismo nunca se mostraram dispostas a receber

semelhantes exortações.

Havia terminado, em 1229, a guerra contra os hereges, cujos

embates atravessaram o espaço de vinte anos, quando alguns chefes da

Igreja consideraram a oportunidade da fundação do tribunal da penitência,

cujos projetos de há muito preocupavam o pensamento do Vaticano.

Mascarar-se-ia o cometimento com o pretexto da necessidade de

unificação religiosa, mas a realidade é que a instituição desejava dilatar o

seu vasto domínio sobre as consciências.

Todavia, se a Inquisição preocupou longamente as autoridades da

Igreja, antes da sua fundação, o negro projeto preocupava igualmente o

Espaço, onde se aprestaram providências e medidas de renovação

educativa. Por isso, um dos maiores apóstolos de Jesus desceu à carne

com o nome de Francisco de Assis. Seu grande e luminoso espírito

resplandeceu próximo de Roma, nas regiões da Úmbria desolada. Sua

atividade reformista verificou-se sem os atritos próprios da palavra, porque

o seu

160

EMMANUEL

sacerdócio foi o exemplo na pobreza e na mais absoluta humildade. A

Igreja, todavia, não entendeu que a lição lhe dizia respeito e, ainda uma

vez, não aceitou as dádivas de Jesus.

OS FRANCISCANOS

O esforço poderoso do missionário, todavia, se não conseguiu

mudar a corrente de ambições dos papas romanos, deixou traços

fulgurantes da sua passagem pelo planeta.

Seu exemplo de simplicidade e de amor, de singeleza e de fé,

contagiou numerosas criaturas, que se entregaram ao santo mister de

regenerar almas para Jesus.

A ordem dos Franciscanos chegou a congregar mais de duzentos

mil missionários e seguidores do grande inspirado. Eles repeliam qualquer

auxílio pecuniário, para aceitar tão-somente os alimentos mais pobres e

mais grosseiros, e o característico que mais os destacava das outras

comunidades religiosas era o seu alheamento dos mosteiros. Em vez de

repousarem à sombra dos claustros, na tranqüilidade e na meditação,

esses espíritos abnegados reconheciam que a melhor oração, para Deus, é

a do trabalho construtivo, no aperfeiçoamento do mundo e dos corações.

A INQUISIÇÃO

Muito pouco valeram as lições do bem, diante do mal triunfante,

porque em 1231 o Tribunal da Inquisição estava consolidado com Gregório

IX. Esse instituto, ironicamente, nesse tempo não condenava os supostos

culpados

161

A CAMINHO DA LUZ

diretamente à morte - pena benéfica e consoladora em face dos martírios

infligidos aos que lhe caíssem nos calabouços -, mas podia aplicar todos

os suplícios imagináveis.

A repressão das "heresias" foi o pretexto de sua consolidação na

Europa, tornando-se o flagelo e a desdita do mundo inteiro.

Longo período de sombras invadiu os departamentos da atividade

humana. A penumbra dos templos era teatro de cenas amargas e

sacrílegas. Crimes tenebrosos foram perpetrados ao pé dos altares, em

nome dAquele que é amor, perdão e misericórdia. A instituição sinistra da

Igreja ia cobrir a estrada evolutiva do homem com um sudário de trevas

espessas.

A OBRA DO PAPADO

Há quem tente justificar esses longos séculos de sombra pelos

hábitos e concepções daquele tempo. Mas, a verdade é que o progresso

das criaturas poderia dispensar esse mecanismo de crimes monstruosos.

Por isso, nos débitos romanos pesam essas responsabilidades tão

tremendas quão dolorosas.

A Inquisição foi obra direta do papado, e cada personalidade, como

cada instituição, tem o seu processo de contas na Justiça Divina. Eis por

que não podemos justificar a existência desse tribunal espantoso, cuja

ação criminosa e perversa entravou a evolução da Humanidade por mais

de seis longos séculos.

163

XIX

As Cruzadas e o fim da Idade Média

AS PRIMEIRAS CRUZADAS

Reportando-nos ao século XI, as Cruzadas nos merecem especial

referência, dados os seus movimentos, característicos da época.

Desde Constantino que os lugares santos da Palestina haviam

adquirido considerável importância para a Europa ocidental. Milhares de

peregrinos visitavam anualmente a paisagem triste de Jerusalém,

identificando os caminhos da Paixão de Jesus, ou os traços da vida dos

Apóstolos. Enquanto dominavam na região os árabes de Bagdá ou do

Egito, as correntes do

164

EMMANUEL

turismo católico podiam buscar, sem receio, as paragens sagradas; mas a

Jerusalém do século XI havia caído sob o poder dos turcos, que não mais

toleraram a presença dos cristãos, expulsando-os dali com a máxima

crueldade.

Semelhantes medidas provocam os protestos de todo o mundo

católico do Ocidente e, no fim do referido século, preparam-se as primeiras

cruzadas em busca da vitória contra o infiel. A primeira expedição que saiu

dos centros mais civilizados, sob o comando de Pedro, o Eremita, não

chegou a ausentar-se da Europa, dispersada que foi pelos búlgaros e

húngaros. Todavia, em 1096, Godofredo de Bouillon com seus irmãos e

Tancredo de Siracusa e outros chefes, depois de se reunirem em

Constantinopla, demandaram Nicéia, com um exército de 500.000 homens.

Depois da presa de Nicéia, apoderaram-se de Antioquia, penetrando em

Jerusalém com a palma do triunfo. Ali quiseram presentear Godofredo de

Bouillon com a coroa de rei, mas o duque da Baixa Lorena parecia rever o

vulto luminoso do Senhor do Mundo, cuja fronte fora aureolada com a

coroa de espinhos, e considerou sacrilégio o colocarem-lhe nas mãos um

cetro de ouro, quando o Cristo tivera, tão-somente, nas mãos augustas e

compassivas, uma cana ignominiosa. Depois de muita relutância, aceitou

apenas o título de "defensor do Santo Sepulcro", organizando-se logo em

seguida as ordens religiosas de caráter exclusivamente militar, como a

dos Templários e a dos Hospitalários.

Os turcos, porém, não descansaram. Depois de muitas lutas,

apossaram-se de Edessa, obrigando o papa Eugênio III a providenciar

165

A CAMINHO DA LUZ

a segunda Cruzada, que, chefiada por Luís VII da França e Conrado III da

Alemanha, teve os mais desastrosos efeitos.

FIM DAS CRUZADAS

Em fins do século XII Jerusalém cai em poder de Saladino. Os

príncipes cristãos do Ocidente preparam-se para a terceira Cruzada,

assinalando-se as vitórias de S. João d'Acre. As lutas no Oriente

sucederam-se anos a fio como furacões periódicos e devastadores. A

Palestina possuía, até então, os seus recantos maravilhosos de verdura

abundante. A Galiléia era um vasto jardim, cheio de perfume e de flores.

Mas tantos foram os embates dos exércitos inimigos, tantas as lutas de

extermínio e de ambição, que a própria Natureza pareceu maldizer para

sempre os lugares que mereciam o amor e o carinho dos homens.

As últimas Cruzadas foram dirigidas por Luís IX, o rei santo de

França que, depois da tomada de Damieta, caiu em poder dos inimigos,

pagando fabuloso resgate e vindo a desprender-se da vida terrestre em

1270, defronte de Túnis, vitimado pela peste.

Os mensageiros de Jesus, que de todos os acontecimentos sabem

extrair os fatores da evolução humana para o bem, buscam aproveitar a

utilidade desses acontecimentos dolorosos. Foi por essa razão que as

Cruzadas, não obstante o seu caráter anticristão, fizeram-se acompanhar

de alguns benefícios de ordem econômica e social para todos os povos.

Na Europa a sua influência foi regeneradora, enfraque166

EMMANUEL

cendo a tirania dos senhores feudais e renovando a solução dos

problemas da propriedade, conjurando muitas lutas isoladas. Além disso,

os seus movimentos intensificaram, sobremaneira, as relações do

Ocidente com o Oriente, apenas paralisadas mais tarde, em vista da

ferocidade dos turcos e dos invasores mongóis.

O ESFORÇO DOS EMISSÁRIOS DO CRISTO

No Infinito, reúnem-se os emissários do Divino Mestre, em

assembléias numerosas, sob a égide do seu pensamento misericordioso,

organizando novos trabalhos para a evolução geral de todos os povos do

planeta. Lamentam a inabilidade de muitos missionários do bem e do

amor, que, partindo dos Espaços, saturados dos melhores e mais santos

propósitos, experimentam no orbe a traição das próprias forças,

influenciados pela imperfeição rude do meio a que foram conduzidos.

Muitos deles se deixavam deslumbrar pelas riquezas efêmeras,

mergulhando no oceano das vaidades dominadoras, estacionando nos

caminhos evolutivos, e outros, como Luís IX, de França, excediam-se no

poder e na autoridade, cometendo atos de quase selvajaria, cumprindo os

seus sagrados deveres espirituais com poucos benefícios e amplos

prejuízos gerais para as criaturas.

Mas, compelidas pelas leis do amor que regem o Universo, essas

entidades compassivas jamais negaram do Alto o seu desvelado concurso

a favor do progresso dos povos, procurando aperfeiçoar as almas e

guiando os missionários do Cristo através dos mais espinhosos caminhos.

167

A CAMINHO DA LUZ

POBREZA INTELECTUAL

No século XIII estava definitivamente instalado o governo real,

desaparecendo as mais fortes expressões do feudalismo. Cada região

européia tratava de concatenar todos os elementos precisos à organização

de sua unidade política, mas a verdade é que os meios escassos de

instrução não permitiam uma existência intelectual mais avançada.

Os Estados que se levantavam, organizavam as suas construções à

sombra da Igreja, que tinha interesse em não dilatar os domínios da

educação individual, receosa de interpretações que não fossem

propriamente dela. Os pergaminhos custavam verdadeiras fortunas e o

livro era dificilmente encontrado. Até o século XII as escolas estavam

circunscritas ao ambiente dos mosteiros, onde muitos padres se

ocupavam de avivar a letra dos manuscritos mais antigos, produzindo

outros para a posteridade. A Ciência, cuja linha ascensional guarda o seu

ponto de princípio na curiosidade ou na dúvida, bem como a Filosofia, que

se constitui das mais altas indagações espirituais, estavam totalmente

escravizadas à Teologia, então senhora absoluta de todas as atividades do

homem, com poderes de vida e morte sobre as criaturas, considerando-se

os direitos absurdos do Tribunal da Inquisição, depois do século XIII,

quando, sob a inspiração do Alto, já se haviam fundado universidades

importantes como as de Paris e de Bolonha, que serviram de modelo às de

Oxford, Coimbra e Salamanca.

168

EMMANUEL

RENASCIMENTO

A esse tempo opera-se um verdadeiro renascimento na vida

intelectual dos povos mais evolvidos do mundo europeu. A universidade

se constituía de quatro faculdades - Teologia, Medicina, Direito e Artes -

reunindo milhares de inteligências ávidas de ensino, que seriam os

grandes elementos de preparação do porvir. Rogério Bacon, franciscano

inglês, notável por seus estudos e iniciativas, é um dos pontos

culminantes dessa renascença espiritual. A Igreja, contudo, proibindo o

exame e a livre opinião, prejudicou esse surto evolutivo, máxime no

capítulo da Medicina, que, desprezando a observação atenta de todos os

fatos, se entregou à magia, com sérios prejuízos para as coletividades.

Favorecida pela necessidade dos panoramas imponentes do culto externo

da religião e pela fortuna particular, a Arquitetura foi a mais cultivada de

todas as artes, em vista das grandes e numerosas construções então em

voga. Com a influência indireta dos Guias espirituais dos vários

agrupamentos de povos, consolidam-se as expressões lingüísticas de

cada país, formando-se as grandes tradições literárias de cada região.

TRANSMIGRAÇÃO DE POVOS

É então que inúmeros mensageiros de Jesus, sob a sua orientação,

iniciam largo trabalho de associação dos Espíritos, de acordo com as

tendências e afinidades, a fim de formarem as nações do futuro, com a sua

perso169

A CAMINHO DA LUZ

nalidade coletiva. A cada uma dessas nacionalidades seria cometida

determinada missão no concerto dos povos futuros, segundo as

determinações sábias do Cristo, erguendo-se as bases de um mundo

novo, depois de tantos e tão continuados desastres da fraqueza humana.

Constroem-se os alicerces dos grandes países como a Inglaterra, que, em

1258, organiza os Estatutos de Oxford, limitando os poderes de Henrique

III, e em 1265 erige a Câmara dos Comuns, onde a burguesia e as classes

menos favorecidas têm a palavra com a Câmara dos Lordes A Itália

prepara-se para a sua missão de latinidade. A Alemanha se organiza. A

Península Ibérica é imensa oficina de trabalho e a França ensaia os passos

definitivos para a sabedoria e para a beleza.

A atuação do mundo espiritual proporciona à história humana a

perfeita caracterização da alma coletiva dos povos. Como os indivíduos, as

coletividades também voltam ao mundo pelo caminho da reencarnação. É

assim que vamos encontrar antigos fenícios na Espanha e em Portugal,

entregando-se de novo às suas predileções pelo mar. Na antiga Lutécia,

que se transformou na famosa Paris do Ocidente, vamos achar a alma

ateniense nas suas elevadas indagações filosóficas e científicas, abrindo

caminhos claros ao direito dos homens e dos povos. Andemos mais um

pouco e acharemos na Prússia o espírito belicoso de Esparta, cuja

educação defeituosa e transviada construiu o espírito detestável do

pangermanismo na Alemanha da atualidade. Atravessemos a Mancha e

deparar-se-nos-á na Grã-Bretanha a edilidade romana, com a sua educação

e a sua prudência,

170

EMMANUEL

retomando de novo as rédeas perdidas do Império Romano, para

beneficiar as almas que aguardaram, por tantos séculos, a sua proteção e

o seu auxílio.

FIM DA IDADE MEDIEVAL

Do plano invisível e em todos os tempos, os Espíritos abnegados

acompanharam a Humanidade em seus dias de martírio e glorificação,

lutando sempre pela paz e pelo bem de todas as criaturas.

Referindo-nos, de escantilhão, à nobre figura de Joana d'Arc, que

cumpriu elevada missão adstrita aos princípios de justiça e de fraternidade

na Terra, e às guerras dolorosas que assinalaram o fim da idade medieval,

registramos aqui, que, com as conquistas tenebrosas de Gêngis Khan e de

Tamerlão e com a queda de Constantinopla, em 1453, que ficou para

sempre em poder dos turcos, verificava-se o término da época medieval.

Uma nova era despontava para a Humanidade terrestre, com a assistência

contínua do Cristo, cujos olhos misericordiosos acompanham a evolução

dos homens, lá dos arcanos do Infinito.

171

XX

Renascença do mundo

MOVIMENTOS REGENERADORES

Nos albores do século XV, quando a idade medieval estava prestes a

extinguir-se, grandes assembléias espirituais se reúnem nas proximidades

do planeta, orientando os movimentos renovadores que, em virtude das

determinações do Cristo, deveriam encaminhar o mundo para uma nova

era.

Todo esse esforço de regeneração efetuava-se sob o seu olhar

misericordioso e compassivo, derramando sua luz em todos os corações.

Mensageiros devotados reencarnam no orbe, para desempenho de

missões carinhosas e re172

EMMANUEL

dentoras. Na Península Ibérica, sob a orientação da personalidade de

Henrique de Sagres, incumbido de grandes e proveitosas realizações,

fundam-se escolas de navegadores que se fazem ao grande oceano, em

busca de terras desconhecidas. Numerosos precursores da Reforma

surgem por toda a parte, combatendo os abusos de natureza religiosa.

Antigos mestres de Atenas reencarnaram na Itália, espalhando nos

departamentos da pintura e da escultura as mais belas jóias do gênio e do

sentimento. A Inglaterra e a França preparam-se para a grande missão

democrática que o Cristo lhes conferira. O comércio se desloca das águas

estreitas do Mediterrâneo para as grandes correntes do Atlântico,

procurando as estradas esquecidas para o Oriente. Jesus dirige essa

renascença de todas as atividades humanas, definindo a posição dos

vários países europeus, e investindo cada qual com determinada

responsabilidade na estrutura da evolução coletiva do planeta. Para

facilitar a obra extraordinária dessa imensa tarefa de renovação, os

auxiliares do Divino Mestre conseguem ambientar na Europa antigas

invenções e utilidades do Oriente, como a bússola para as experiências

marítimas e o papel para a divulgação do pensamento.

MISSÃO DA AMÉRICA

O Cristo localiza, então, na América as suas fecundas esperanças. O

século XVI alvorece com a descoberta do novo continente, sem que os

europeus, de modo geral, compreendessem, na época, a importância de

semelhante acontecimento. As riquezas fabulosas da Índia

173

A CAMINHO DA LUZ

deslumbram o espírito aventureiro daquele tempo, e as testas coroadas do

Velho Mundo não entenderam a significação moral do continente

americano.

Os operários de Jesus, porém, abstraídos da crítica ou do aplauso

do mundo, cumprem os seus grandes deveres no âmbito das novas terras.

Sob a determinação superior, organizam as linhas evolutivas das

nacionalidades que aí teriam de florescer no porvir. Nesse campo de lutas

novas e regeneradoras, todos os espíritos de boa-vontade poderiam

trabalhar pelo advento da paz e da fraternidade do futuro humano, e foi por

isso que, laborando para os séculos porvindouros, definiram o papel de

cada região no continente, localizando o cérebro da nova civilização no

ponto onde hoje se alinham os Estados Unidos da América do Norte, e o

seu coração nas extensões da terra farta e acolhedora onde floresce o

Brasil, na América do Sul. Os primeiros guardam os poderes materiais; o

segundo detém as primícias dos poderes espirituais, destinadas à

civilização planetária do futuro.

O PLANO INVISÍVEL E A COLONIZAÇÃO DO NOVO MUNDO

Após a descoberta da América, grande esforço de seleção espiritual

foi levado a efeito no seio das lutas européias, no intuito de criar no Novo

Mundo um outro sentido de evolução.

Se os colonizadores da região americana, nos primeiros tempos,

eram os degredados ou os proscritos das sociedades européias, importa

considerar que esses colonos não vinham tão174

EMMANUEL

-somente das grandes capitais do antigo continente, na exclusiva

observância do plano material. Do mundo invisível, igualmente, partiram

caravanas inúmeras de almas de boa-vontade, que encarnaram nas terras

novas, como filhos daqueles degredados muitas vezes perseguidos pela

iniquidade da justiça dos homens. A esses Espíritos mais ou menos

adiantados, aliaram-se numerosas entidades da Europa, cansadas das

lutas inglórias de hegemonia e de ambição, buscando a redenção no

esforço construtivo de uma nova pátria em bases sólidas de fraternidade e

amor, originando-se, desse modo, entre os povos americanos,

sentimentos mais elevados, quanto à compreensão da comunidade

continental. Se reconhecemos na América a projeção espiritual da Europa,

temos de convir que se trata de uma Europa mais sábia e mais experiente,

não só quanto aos problemas da concórdia internacional e da

solidariedade humana, como também em todas as questões que significam

os verdadeiros bens da vida.

APOGEU DA RENASCENÇA

Essa renascença, iniciada do Alto, clareou a Terra em todas as

direções.

A invenção da imprensa facultava o mais alto progresso no mundo

das idéias, criando as mais belas expressões de vida intelectual. A

literatura apresenta uma vida nova e as artes atingem culminâncias que a

posteridade não poderia alcançar. Numerosos artífices da Grécia antiga,

reencarnados na Itália, deixam traços indeléveis da sua passagem, nos

mármo175

A CAMINHO DA LUZ

res preciosos. Há mesmo, em todos os departamentos das atividades

artísticas, um pronunciado sabor da vida grega, anterior às disciplinas

austeras do Catolicismo na idade medieval, cujas regras, aliás, atingiam

rigorosamente apenas quem não fosse parte integrante do quadro das

autoridades eclesiásticas.

RENASCENÇA RELIGIOSA

A essas atividades reformadoras não poderia escapar a Igreja,

desviada do caminho cristão. O plano invisível determina, assim, a vinda

ao mundo de numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a

renascença da religião, de maneira a regenerar os seus relaxados centros

de força. Assim, no século XVI, aparecem as figuras veneráveis de Lutero,

Calvino, Erasmo, Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma, na

Europa Central e nos Países Baixos.

Por ocasião dos primeiros protestos contra o fausto desmedido dos

príncipes da Igreja, ocupava a cadeira pontifícia Leão X, cuja vida mundana

impressionava desagradavelmente os espíritos sinceramente religiosos.

Sob a sua direção criara-se, em 1518, o célebre "Livro das Taxas da

Sagrada Chancelaria e da Sagrada Penitenciaria Apostólica", onde se

encontrava estipulado o preço de absolvição para todos os pecados, para

todos os adultérios, inclusive os crimes mais hediondos. Tais

rebaixamentos da dignidade eclesiástica ambientaram as pregações de

Lutero e seus companheiros de apostolado. De nada valeram as

perseguições

176

EMMANUEL

e ameaças ao eminente frade agostiniano. Alguns historiadores

enxergaram na sua missão uma simples expressão de despeito dos seus

companheiros de comunidade, em face da preferência de Leão X

encarregando os Dominicanos da pregação das indulgências. A verdade,

contudo, é que o humilde filho de Eisleben tornara-se órgão da repulsa

geral aos abusos da Igreja, no capítulo da imposição dogmática e da

extorsão pecuniária. Os postulados de Lutero constituíram, antes de tudo,

modalidade de combate aos absurdos romanos, sem representarem o

caminho ideal para as verdades religiosas. Ao extremismo do abuso,

respondia com o extremismo da intolerância, prejudicando a sua própria

doutrina. Mas o seu esforço se coroou de notável importância para os

caminhos do porvir.

A COMPANHIA DE JESUS

Uma onda de claridades novas felicitava todas as consciências, mas

os Espíritos tenebrosos e pervertidos, que mostraram ao europeu outras

aplicações da pólvora, além daquelas que os chineses haviam enxergado

na beleza dos fogos de artifício, inspiraram ao cérebro obcecado e doentio

de Inácio de Loiola a fundação do jesuitismo, em 1534, colimando reprimir

a liberdade das consciências.

A Igreja, estendendo mão forte a essa idéia, inaugurava um dos

períodos mais tristes da história ocidental. O Tribunal da Inquisição, com

poderes de vida e morte nos países católicos, fez milhares e milhares de

vítimas, ensombrando o caminho dos povos. Espetáculos

177

A CAMINHO DA LUZ

sangrentos e detestáveis verificaram-se em quase todas as grandes

cidades da Europa, os autos-de-fé acenderam horrendas fogueiras do

Santo-Ofício, por toda parte onde existissem cérebros que pensassem e

corações que sentissem. Instituiu-se a devassa de todos os institutos

sociais e a violação de todos os lares. Na Espanha, queimavam o infeliz na

praça pública; na França, tétrica noite causava pesadelos coletivos em

matéria de fé; na Irlanda, muitos "fiéis" faziam questão de levar ao altar de

Jesus a vela feita da gordura dos protestantes.

AÇÃO DO JESUITISMO

A Companhia de Jesus, de nefasta memória, não procurava

conhecer os meios, para cogitar tão-somente dos fins imorais a que se

propunha.

Sua ação desdobrou-se por largos anos de treva, nos domínios da

civilização ocidental, contribuindo amplamente para o atraso moral em que

se encontra o "homem científico" dos tempos modernos.

Suas hordas de predomínio, de cupidez e de ambição não

martirizaram apenas o mundo secular. Também os padres sinceros

sofreram largamente sob a sua preponderância nefasta. Tanto assim que,

quando o papa Clemente XIV tentou extingui-la, em 1773, com o seu breve

"Dominus ac Redemptor", exclamava desolado: - "Assino minha sentença

de morte, mas obedeço à minha consciência." Com efeito, em

178

EMMANUEL

setembro de 1774, o grande pontífice entregava a alma a Deus, no meio

dos mais horrorosos padecimentos, vitimado por um veneno letal que lhe

apodreceu lentamente o corpo.

179

XXI

Época de transição

AS LUTAS DA REFORMA

Debalde a Dieta de Worms, em 1521, condenara Lutero como herege,

levando-o a refugiar-se em Wartburgo, porque as suas idéias libertárias

acenderam uma nova luz, propagando-se com a rapidez de um incêndio.

A Igreja começou a sofrer os golpes mais fortes e mais dolorosos,

porque alguns príncipes ambiciosos se aproveitaram do movimento das

massas, confiscando-lhe bens preciosos. Numerosos camponeses,

empolgados pelos direitos do pensamento livre, iniciaram grande

campanha contra a Igreja usurpadora, exigindo

180

EMMANUEL

reformas agrárias e sociais, em nome do Evangelho.

De 1521 a 1555, os centros cultos europeus viveram momentos de

angustiosas expectativas nos bastidores da tragédia religiosa, mas, depois

da Concordata de Augsburgo, instituiu-se um regime da mais larga

tolerância recíproca.

O direito do exame livre, porém, dividiu a Reforma em vários

departamentos religiosos, de acordo com a orientação pessoal de seus

pregadores, ou das conveniências políticas do meio em que viviam. Na

Alemanha era o Protestantismo, com os partidários dos princípios de

Martinho Lutero; na Suíça e na França era o Calvinismo e, na Escócia, a

Igreja Presbiteriana. Na Inglaterra, a questão veio a tornar-se mais grave.

Henrique VIII, defensor extremado da fé católica, a princípio, por

conveniência de caprichos pessoais tornou-se o chefe do poder político,

assumindo a direção da Igreja Anglicana. Na França, os huguenotes se

encontravam muito bem organizados, mas surgem as complicações de

natureza política, e o gênio despótico de Catarina de Médicis ordena a

matança de São Bartolomeu, no intuito de eliminar o almirante Coligny. O

movimento sinistro, que durou 48 horas, começou em 24 de agosto de

1572, sofrendo a "Reforma" um dos seus mais amargos reveses. Somente

em Paris e subúrbios, foram eliminadas três mil pessoas.

Os mensageiros do Cristo deploram tão dolorosos acontecimentos,

trabalhando por despertar a consciência geral, arrancando-a daquela

alucinação de morticínio e sangue, mas precisamos considerar que cada

homem, como cada coletividade, pode cumprir seus deveres ou

181

A CAMINHO DA LUZ

agravar suas responsabilidades próprias, na esfera de sua liberdade

relativa.

A INVENCÍVEL ARMADA

As lutas na Europa, em todo o século XVI, longe de colimar um fim,

dilatavam-se em guerras tenebrosas, mergulhando os povos do Velho

Mundo num terrível círculo vicioso de reencarnações e resgates

dolorosos.

Como se não bastassem as guerras religiosas, que trabalhavam o

organismo europeu desde muitos anos, surge a figura de um príncipe

fanático e cruel, na poderosa Espanha de então, complicando a existência

política das coletividades européias. As lutas de Filipe II, sucessor de

Carlos V, prendiam-se, de algum modo, aos problemas da Reforma

protestante; mas, acima de tudo, colocava ele a sua ambição e o seu

despotismo. Animado com as vitórias sobre os turcos e os muçulmanos,

procurou reprimir a liberdade política dos Países Baixos, encontrando a

mais heróica resistência. Suas atividades maléficas, mascaradas com a

defesa do Catolicismo, espalhavam-se por toda a parte, obrigando o plano

espiritual a coibir-lhe os imensuráveis abusos do poder. Foi assim que,

havendo organizado a Invencível Armada, no ano de 1588, composta de

mais de uma centena de navios equipados com 2.000 canhões e 35.000

homens, a fim de atacar a Inglaterra sem motivo que justificasse

semelhante agressão, viu essa poderosa esquadra destruída totalmente

por uma tempestade aniquiladora. De conformidade com as providências

do plano invisível,

182

EMMANUEL

apenas aportaram às costas inglesas os espíritos pacíficos, compelidos

pela força a participarem da armada destruída, e que foram lá recebidos

generosamente, encontrando uma nova pátria.

Se Henrique VIII havia errado como homem, o povo inglês estava

preparado para o cumprimento de uma grande missão, e ao mundo

espiritual competia trabalhar pela preservação dos seus patrimônios de

liberdade política.

GUERRAS RELIGIOSAS

A Europa, não obstante o amparo e a assistência dos abnegados

mensageiros do Cristo, transportou-se ao século XVII no meio de lutas

espantosas, agora agravadas com as tenebrosas criações do Tribunal da

Penitência. Quase se pode afirmar que os únicos jesuítas dignos do nome

de sacerdotes de Jesus foram aqueles que vieram para as regiões

desconhecidas da América, no cumprimento dos mais nobres deveres de

fraternidade humana, porque a quase totalidade da Companhia, no Velho

Mundo, mergulhou num oceano de tricas políticas, muitas vezes

rematadas em tragédias criminosas.

As guerras de natureza religiosa estavam longe de terminar, dada a

rebeldia de todos os elementos, e foi com penosos esforços que os

emissários do Alto conduziram as coletividades européias ao Tratado de

Westphalia, em 1648, consolidando as vitórias do protestantismo, em face

das imposições injustificáveis do jesuitismo.

183

A CAMINHO DA LUZ

A FRANÇA E A INGLATERRA

A esse tempo, a França já se encontrava preparada para o

cumprimento da sua grande missão junto dos povos, e, sob a influência do

plano invisível, criavam-se os serviços benéficos da diplomacia. Nos

bastidores da sua política administrativa, firmavam-se os princípios do

absolutismo no trono, mas a sua grande alma coletiva, cheia de

sentimento e generosidade, já vislumbrava o precioso esforço que lhe

competia no porvir. Ao seu lado, a Grã-Bretanha caminhava, a passos

largos, para as mais nobres conquistas humanas. Extinta, em 1603, a

dinastia dos Túdores, eleva-se ao trono o rei da Escócia, Jaime I.

Desejando reviver os princípios absolutistas, o descendente dos Stuarts

inaugurou um período de nefastas perseguições, o qual foi intensificado

por seu filho Carlos I, cujas disposições políticas se constituíam das mais

avançadas tendências para a tirania. Rompendo com o Parlamento e

dissolvendo-o, vezes consecutivas, viu o povo da capital inglesa de armas

na mão, em defesa dos seus representantes, ensejando uma guerra civil

que durou vários anos e só terminada com a ação de Cromwell, que, de

acordo com o Parlamento, estabelece a República da qual se torna o

"Lorde Protetor". Cromwell era um espírito valoroso, mas, embriagado

com o vinho sinistro do despotismo, foi também um ditador vingativo,

fanático e cruel. Depois da sua morte, em face da incapacidade política do

filho, verifica-se a restauração do trono com os Stuarts. O governo destes

teria, porém, pouca duração, porque os ingleses, desgostosos com a

adminis184

EMMANUEL

tração de Jaime II, e no seu tradicional amor à liberdade, chamam

Guilherme de Orange ao poder. O Parlamento redige a famosa declaração

de direitos, definindo a emancipação do povo e limitando os poderes reais,

elevando-se ao trono Guilherme III com a revolução de 1688. A Inglaterra

havia cumprido um dos seus mais nobres deveres, consolidando as

fórmulas do parlamentarismo, porque assim todas as classes eram

chamadas à cooperação e fiscalização dos governos.

REFÚGIO DA AMÉRICA

Considerando o movimento das responsabilidades gerais e isoladas,

o plano invisível, sob a orientação de Jesus, conduzia para a América

todos os Espíritos sinceros e trabalhadores, que não necessitassem de

reencarnações ao mundo europeu, onde indivíduos e coletividades se

prendiam, cada vez mais, na cadeia das existências de provações

expiatórias.

Para o hemisfério do Novo Mundo afluíam todas as entidades

conclamadas à organização do progresso futuro. Muitas dessas

personalidades haviam adquirido o senso da fraternidade e da paz, depois

de. muitas lutas no antigo continente. Exaustas de procurar a felicidade

nos limites estreitos dos sentimentos exclusivistas, sentiam no íntimo as

generosas florações de reformas edificantes, compreendendo a verdadeira

solidariedade, na comunidade universal. Foi por essa razão que, desde os

seus primórdios, as organizações políticas do continente americano se

tornaram, baluartes de paz e de

185

A CAMINHO DA LUZ

fraternidade para o orbe inteiro. É que a permanência no seu solo e nas

luzes ocultas do seu clima social era considerada por todos os Espíritos

como uma bênção de Deus, em face das sucessivas inquietações

européias.

OS ENCICLOPEDISTAS

O século XVIII iniciou-se entre lutas igualmente renovadoras, mas

elevados Espíritos da Filosofia e da Ciência, reencarnados particularmente

na França, iam combater os erros da sociedade e da política, fazendo

soçobrar os princípios do direito divino, em nome do qual se cometiam

todas as barbaridades.

Vamos encontrar nessa plêiade de reformadores os vultos

veneráveis de Voltaire, Montesquieu, Rousseau, D'Alembert, Diderot,

Quesnay. Suas lições generosas repercutem na América do Norte, como

em todo o mundo. Entre cintilações do sentimento e do gênio, foram eles

os instrumentos ativos do mundo espiritual, para regeneração das

coletividades terrestres. Historiadores há que, numa característica mania

de sensacionalismo, não se pejam de vir a público asseverar que esses

espíritos estudiosos e sábios se encontravam a soldo de Catarina II da

Rússia, e dos príncipes da Prússia, contra a integridade da França; mas,

semelhantes afirmativas representam injúrias caluniosas que apenas

afetam os que as proferem, porque foi dos sacrifícios desses corações

generosos que se fez a fagulha divina do pensamento e da liberdade,

substância de todas as conquistas sociais de que se orgulham os povos

modernos.

186

EMMANUEL

A INDEPENDÊNCIA AMERICANA

As idéias nobilitantes dos autores da Enciclopédia e das novas

teorias sociais haviam encontrado o mais franco acolhimento nas colônias

inglesas da América do Norte, organizadas e educadas no espírito de

liberdade da pátria do parlamentarismo.

O mundo invisível aproveita, desse modo, a grande oportunidade,

deliberando executar nas terras novas os grandes princípios democráticos

pregados pelos filósofos e pensadores do século XVIII. E enquanto a

Inglaterra desrespeita, para com as suas colônias, o grande princípio por

ela própria firmado, de que ''ninguém deve pagar contribuições sem as ter

votado", os americanos resolvem proclamar a sua independência política.

Depois de alguns incidentes com a metrópole, celebram a sua

emancipação em 4 de julho de 1776, organizando-se, posteriormente, a

Constituição de Filadélfia, modelo dos códigos democráticos do porvir.

187

XXII

A Revolução Francesa

A FRANÇA NO SÉCULO XVIII

A independência americana acendera o mais vivo entusiasmo no

ânimo dos franceses, humilhados pelas mais prementes dificuldades,

depois do extravagante reinado de Luís XV.

O luxo desenfreado e os abusos do clero e da nobreza, em

proporções espantosas, haviam ambientado todas as idéias livres e

nobres dos enciclopedistas e dos filósofos, no coração torturado do povo.

A situação das classes proletárias e dos lavradores caracterizava-se pela

mais hedionda miséria. Os impostos aniquilavam todos os centros de

produção, salientan188

EMMANUEL

do-se que os nobres e os padres estavam isentos desses deveres. Desde

1614, não mais se haviam reunido os Estados-Gerais, fortalecendo-se,

cada vez mais, o absolutismo monárquico.

De nada valera o esforço de Luís XVI convidando os espíritos mais

práticos e eminentes para colaborar na sua administração, como Turgot e

Malesherbes. O bondoso monarca, que tudo fazia para reerguer a realeza

de sua queda lamentável, em virtude dos excessos do seu antecessor no

trono, mal sabia, na sua pouca experiência dos homens e da vida, que uma

era nova começava para o mundo político do Ocidente, com

transformações dolorosas que lhe exigiriam a própria vida.

Reunidos em maio de 1789 os Estados-Gerais, em Paris, explodiram

os maiores desentendimentos entre os seus membros, não obstante a boavontade

e a cooperação de Necker, em nome do Rei. Transformada a

reunião em Assembléia Constituinte, precedida de numerosos incidentes,

inicia-se a revolução instigada pela palavra de Mirabeau.

ÉPOCA DE SOMBRAS

Derrubada a Bastilha em 14 de julho de 1789 e após a célebre

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, uma série de reformas

se verifica em todos os departamentos da vida social e política da França.

Aquelas renovações, todavia, preludiavam os mais dolorosos

acontecimentos. Famílias numerosas aproveitavam a trégua, buscando o

acolhimento de países vizinhos, e o próprio

189

A CAMINHO DA LUZ

Luís XVI tentou atravessar a fronteira, sendo preso em Varenas e

reconduzido a Paris.

Um mundo de sombras invadia as consciências da França generosa,

chamada, naquela época, pelo plano espiritual, ao cumprimento de

sagrada missão junto à Humanidade sofredora. Cabia-lhe tão-somente

aproveitar as conquistas inglesas, no sentido de quebrar o cetro da realeza

absoluta, organizando um novo processo administrativo na renovação dos

organismos políticos do orbe, de acordo com as sábias lições dos seus

filósofos e pensadores.

Todavia, se alguns Espíritos se encontravam preparados para a

jornada heróica daquele fim de século, muitas outras personalidades,

infelizmente, espreitavam na treva o momento psicológico para saciar a

sede de sangue e de poder. Foi assim que, depois de muitas figuras

notáveis dos primórdios revolucionários, surgiram espíritos tenebrosos,

como Robespierre e Marat. A volúpia da vitória generalizou uma forte

embriaguez de morticínio no ânimo das massas, conduzindo-as aos mais

nefastos acontecimentos.

CONTRA OS EXCESSOS DA REVOLUÇÃO

A Revolução Francesa, desse modo, foi combatida imediatamente

pelas outras nacionalidades da Europa, que, sob a orientação de Pitt,

Ministro da Inglaterra, sustentaram contra ela, e por largos anos, uma luta

de morte.

A Convenção Nacional, apesar das garantias que a Constituição de

1791 oferecia à pessoa do Rei, decretou-lhe a morte na guilhotina,

190

EMMANUEL

verificando-se a execução aos 21 de janeiro de 1793, no local da atual

Praça da Concórdia. Em vão, tenta Luís XVI justificar sua inocência ao

povo de Paris, antes que o carrasco lhe decepasse a cabeça. As palavras

mais sinceras afluem-lhe aos lábios, suplicando a atenção dos súditos,

numa onda de lágrimas e de sentimentos que lhe burburinhavam no

coração, não obstante a sua calma aparente. Renovam-se as ordens aos

guardas do cadafalso e rufam os tambores com estrépito, abafando as

suas afirmativas.

A França atraía para si as mais dolorosas provações coletivas nessa

torrente de desatinos. Com a influência inglesa, organiza-se a primeira

coligação européia contra o nobre país.

Mas, não somente nos gabinetes administrativos da Europa se

processavam providências reparadoras. Também no mundo espiritual

reúnem-se os gênios da latinidade, sob a bênção de Jesus, implorando a

sua proteção e misericórdia para a grande nação transviada. Aquela que

fora a corajosa e singela filha de Domrémy volta ao ambiente da antiga

pátria, à frente de grandes exércitos de Espíritos consoladores,

confortando as almas aflitas e aclarando novos caminhos. Numerosas

caravanas de seres flagelados, fora do cárcere material, são por ela

conduzidos às plagas da América, para as reencarnações regeneradoras,

de paz e de liberdade.

O PERÍODO DO TERROR

A lei das compensações é uma das maiores e mais vivas realidades

do Universo. Sob as

191

A CAMINHO DA LUZ

suas disposições sábias e justas, a cidade de Paris teria de ser, ainda por

muito tempo, o teatro de trágicos acontecimentos. Foi assim que se

instalou o hediondo tribunal revolucionário e a chamada junta de salvação

pública, com os mais sinistros espetáculos do patíbulo. A consciência da

França viu-se envolvida em trevas espessas. A tirania de Robespierre

ordenou a matança de numerosos companheiros e de muitos homens

honestos e dignos. Erradamente, Carlota Corday entregou-se ao crime na

residência de Marat, com o propósito de restituir a liberdade ao povo de

sua terra e expiando o seu ato extremo com a própria vida. Ocasiões

houve em que subiram ao cadafalso mais de vinte pessoas por dia, mas

Robespierre e seus sequazes não tardaram muito a subir igualmente os

degraus do patíbulo, em face da reação das massas anônimas e

sofredoras.

A CONSTITUIÇÃO

Depois de grandes lutas com o predomínio das sombras,

conseguem os gênios da França inspirar aos seus homens públicos a

Constituição de 1795. Os poderes legislativos ficavam entregues ao

"Conselho dos quinhentos" e ao "Conselho dos anciães", ficando o poder

executivo confiado a um Diretório composto de cinco membros.

Estabelece-se dessa forma uma trégua de paz, aproveitada na

reconstrução de obras notáveis do pensamento. Os centros militares

lutavam contra os propósitos de invasão de outras potências européias,

cujos tronos se sentiam

192

EMMANUEL

ameaçados na sua estabilidade, em face do advento das novas idéias do

liberalismo, e os políticos se entregavam a uma vasta operosidade de

edificação, vingando nesse esforço as mais nobres realizações.

Contudo, a França, depois dos seus desvarios de liberdade, estava

ameaçada de invasão e desmembramento. Povos existem, porém, que se

fazem credores da assistência do Alto, no cumprimento de suas elevadas

obrigações junto de outras coletividades do planeta. Assim, com

atribuições de missionário, foi Napoleão Bonaparte, filho de obscura

família corsa, chamado às culminâncias do poder.

NAPOLEÃO BONAPARTE

O humilde soldado corso, destinado a uma grande tarefa na

organização social do século XIX, não soube compreender as finalidades

da sua grandiosa missão. Bastaram as vitórias de Árcole e de Rívoli, com a

paz de Campoformio, em 1797, para que a vaidade e a ambição lhe

ensombrassem o pensamento.

A expedição ao Egito, muito antes de Waterloo, assinalava para o

mundo espiritual a pouca eficácia do seu esforço, considerado o espírito

de orgulho e de imperialismo que predominou nas suas energias

transformadoras. Assediado pelo sonho de domínio absoluto, Napoleão foi

uma espécie de Maomet transviado, da França do liberalismo. Assim como

o profeta do Islã pouco se aproximara do Evangelho, que a sua ação

deveria validar, também as atividades de Napoleão pouco se aproxima193

A CAMINHO DA LUZ

ram das idéias generosas que haviam conduzido o povo francês à

revolução. Sua história está igualmente cheia de traços brilhantes e

escuros, demonstrando que a sua personalidade de general manteve-se

oscilante entre as forças do mal e do bem. Com as suas vitórias, garantia a

integridade do solo francês, mas espalhava a miséria e a ruína no seio de

outros povos. No cumprimento da sua tarefa, organizava-se o Código Civil,

estabelecendo as mais belas fórmulas do direito, mas difundiam-se a

pilhagem e o insulto à sagrada emancipação de outros, com o movimento

dos seus exércitos na absorção e anexação de vários povos.

Sua fronte de soldado pode ficar laureada, para o mundo, de

tradições gloriosas, e verdade é que ele foi um missionário do Alto,

embora traído em suas próprias forças; mas, no Além, seu coração sentiu

melhor a amplitude das suas obras, considerando providencial a pouca

piedade da Inglaterra que o exilou em Sta. Helena após o seu pedido de

amparo e proteção. Santa Helena representou para o seu espírito o prólogo

das mais dolorosas e mais tristes meditações, na vida do Infinito.

ALLAN KARDEC

A ação de Bonaparte, invadindo as searas alheias com o seu

movimento de transformação e conquistas, fugindo à finalidade de

missionário da reorganização do povo francês, compeliu o mundo

espiritual a tomar enérgicas providências contra o seu despotismo e

vaidade orgulhosa. Aproximavam-se os tempos em que

194

EMMANUEL

Jesus deveria enviar ao mundo o Consolador, de acordo com as suas

auspiciosas promessas.

Apelos ardentes são dirigidos ao Divino Mestre, pelos gênios

tutelares dos povos terrestres. Assembléias numerosas se reúnem e

confraternizam nos espaços, nas esferas mais próximas da Terra. Um dos

mais lúcidos discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado de sua

missão consoladora, e, dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrarse

imperador, obrigando o papa Pio VII a coroá-lo na igreja de Notre Dame,

em Paris, nascia Allan Kardec, aos 3 de outubro de 1804, com a sagrada

missão de abrir caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador

prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus-Cristo.

195

XXIII

O século XIX

DEPOIS DA REVOLUÇÃO

Afastado Napoleão dos movimentos políticos da Europa, adotam-se

no Congresso de Viena, em 1815, as mais vastas providências para o

ressurgimento dos povos europeus.

A diplomacia realiza memoráveis feitos, aproveitando as dolorosas

experiências daqueles anos de extermínio e de revolução.

Luís XVIII, conde de Provença, irmão de Luís XVI, é reposto no trono

francês, restabelecendo-se naquela mesma época antigas dinastias.

Também a Igreja é contemplada no grande inventário, restituindo-se-lhe os

Estados onde fundara o seu reino perecível.

196

EMMANUEL

Um sopro de paz reanima aquelas coletividades esgotadas na luta

fratricida, ensejando a intervenção indireta das forças invisíveis na

reconstrução patrimonial dos grandes povos.

Muitas reformas, porém, se haviam verificado após os movimentos

sanguinolentos iniciados em 89. Mormente na França, semelhantes

renovações foram mais vastas e numerosas. Além de se beneficiar o

governo de Luís XVIII com as imitações do sistema inglês, vários

princípios liberais da Revolução foram adotados, tais como a igualdade

dos cidadãos perante a lei, a liberdade de cultos, estabelecendo-se, a par

de todas as conquistas políticas e sociais, um regime de responsabilidade

individual no mecanismo de todos os departamentos do Estado. A própria

Igreja, habituada a todas as arbitrariedades na sua feição dogmática,

reconheceu a limitação dos seus poderes junto das massas, resignando-se

com a nova situação.

INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DA AMÉRICA

A maioria dos povos do planeta, acompanhando o curso dos

acontecimentos, procurou eliminar os últimos resquícios do absolutismo

dos tronos, aproximando-se dos ideais republicanos ou instituindo o

regime constitucional, com a restrição de poderes dos soberanos.

A América, destinada a receber as sagradas experiências da Europa,

para a civilização do futuro, busca aplicar os grandes princípios dos

filósofos franceses à sua vida política, caminhando para a mais perfeita

emancipação. Seguindo o exemplo das colônias inglesas, os

197

A CAMINHO DA LUZ

quatro vice-reinados da Espanha procuraram lutar pela sua independência.

No México os patriotas não toleraram outra soberania além da própria e,

no Sul, com a ação de Bolívar e com as deliberações do Congresso de

Tucumã, em 1816, proclamava-se a liberdade política das províncias da

América Meridional. O Brasil, em 1822, erguia igualmente o seu brado de

emancipação com Pedro I, sendo digno de notar-se o esforço do plano

invisível na manutenção da sua integridade territorial, quando toda a zona

sul do continente se fracionava em pequenas repúblicas, atento à missão

do povo brasileiro na civilização do porvir.

ALLAN KARDEC E OS SEUS COLABORADORES

O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do

mundo, encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas.

As lições sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade

sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o pão sagrado da

esperança e da crença com todos os corações.

Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e

consolação, fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e

colaboradores, cuja ação regeneradora não se manifestaria tão-somente

nos problemas de ordem doutrinária, mas em todos os departamentos da

atividade intelectual do século XIX. A Ciência, nessa época, desfere os

vôos soberanos que a conduziriam às culminâncias do século XX.

198

EMMANUEL

O progresso da arte tipográfica consegue interessar todos os núcleos de

trabalho humano, fundando-se bibliotecas circulantes, revistas e jornais

numerosos A facilidade de comunicações, com o telégrafo e as vias

férreas, estabelece o intercâmbio direto dos povos. A literatura enche-se

de expressões notáveis e imorredouras. O laboratório afasta-se

definitivamente da sacristia, intensificando as comodidades da civilização.

Constrói-se a pilha de coluna, descobre-se a indução magnética, surgem o

telefone e o fonógrafo. Aparecem os primeiros sulcos no campo da

radiotelegrafia, encontra-se a análise espectral e a unidade das energias

físicas da Natureza. Estuda-se a teoria atômica e a fisiologia assenta bases

definitivas com a anatomia comparada. As artes atestam uma vida nova. A

pintura e a música denunciam elevado sabor de espiritualidade avançada.

A dádiva celestial do intercâmbio entre o mundo visível e o invisível

chegou ao planeta nessa onda de claridades inexprimíveis. Consolador da

Humanidade, segundo as promessas do Cristo, o Espiritismo vinha

esclarecer os homens, preparando-lhes o coração para o perfeito

aproveitamento de tantas riquezas do Céu.

AS CIÊNCIAS SOCIAIS

O campo da Filosofia não escapou a essa torrente renovadora.

Aliando-se às ciências físicas, não toleraram as ciências da alma o

ascendente dos dogmas absurdos da Igreja. As confissões cristãs,

atormentadas e divididas,

199

A CAMINHO DA LUZ

viviam nos seus templos um combate de morte. Longe de exemplificarem

aquela fraternidade do Divino Mestre, entregavam-se a todos os excessos

do espírito de seita. A Filosofia recolheu-se, então, no seu negativismo

transcendente, aplicando ás suas manifestações os mesmos princípios da

ciência racional e materialista. Schopenhauer é uma demonstração

eloqüente do seu pessimismo e as teorias de Spencer e de Comte

esclarecem as nossas assertivas, não obstante a sinceridade com que

foram lançadas no vasto campo das idéias.

A Igreja Romana era culpada de semelhantes desvios. Dominando a

ferro e fogo, conchegada aos príncipes do mundo, não tratara de fundar o

império espiritual dos corações à sua sombra acolhedora. Longe da

exemplificação do Nazareno, amontoara todos os tesouros inúteis,

intensificando as necessidades das massas sofredoras. Extorquia, antes

de dar, conservando a ignorância em vez de espalhar a luz do

conhecimento.

A TAREFA DO MISSIONÁRIO

A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe

reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização

às suas profundas bases religiosas.

Atento à missão de concórdia e fraternidade da América, o plano

invisível localizou aí as primeiras manifestações tangíveis do mundo

espiritual, no famoso lugarejo de Hydesville, provocando os mais largos

movimentos de opinião. A fagulha partira das plagas americanas,

200

EMMANUEL

como partira igualmente delas a consolidação das conquistas

democráticas

A Europa busca ambientar as idéias novas e generosas, que

encontram o discípulo no seu posto de oração e vigilância, pronto a

atender aos chamamentos do Senhor. Numerosos cooperadores diretos da

sua tarefa auxiliam-lhe o esforço sagrado, desdobrando-lhe as sínteses em

gloriosos complementos. O orbe, com as suas instituições sociais e

políticas, havia atingido um período de grandiosas transformações, que

requeriam mais de um século de lutas dolorosas e remissoras, e o

Espiritismo seria a essência dessas conquistas novas, reconduzindo os

corações ao Evangelho suave do Cristianismo.

PROVAÇÕES COLETIVAS NA FRANÇA

Cumpre-nos assinalar as dolorosas provas da França, depois dos

seus excessos na Revolução e nas campanhas napoleônicas. Depois das

revoluções de 1830 e 1848, mediante as quais se efetuam penosos

resgates por parte dos indivíduos e das coletividades, surge a guerra

franco-prussiana de 1870. A grande nação latina, por causas somente

conhecidas no plano espiritual, é esmagada e vencida pela orgulhosa

Alemanha de Bismarck, que, por sua vez, embriagada e cega no triunfo, ia

fazer jus às dores amargas de 1914 -1918.

Paris, que assistira com certa indiferença às dores dos condenados

do Terror, comparecendo aos espetáculos tenebrosos do cadafalso e

aplaudindo os opressores, sofre miséria e

201

A CAMINHO DA LUZ

fome em 1870, antes de cair em poder dos impiedosos inimigos, em 28 de

janeiro de 1871. As imposições políticas do imperador Guilherme, em

Versalhes, e as amarguras coletivas do povo francês nos dias da derrota,

significam o resgate dos desvios da grande nação latina.

PROVAÇÕES DA IGREJA

Aproximando-se o ano de 1870, que assinalaria a falência da Igreja

com a declaração da infalibilidade papal, o Catolicismo experimenta

provações amargas e dolorosas.

Exaustos de suas imposições, todos os povos cultos da Europa não

enxergaram nas suas instituições senão escolas religiosas, limitando-selhes

as finalidades educativas e controlando-se-lhes o mecanismo de

atividades.

Compreendendo que o Cristo não tratara de açambarcar nenhum

território do Globo, os italianos, naturalmente, reclamaram os seus direitos

no capítulo das reivindicações, procurando organizar a unidade da Itália

sem a tutela do Vaticano. Desde 1859, estabelecera-se a luta, que foi por

muito tempo prolongada em vista da decisão da França, que manteve todo

um exército em Roma para garantia do pontífice da Igreja. Mas a situação

de 1870 obrigara o povo francês a reclamar a presença dos guardas do

Vaticano, triunfando as idéias de Cavour e privando-se o papa de todos os

poderes temporais, restringindo-se a sua posse material.

Começa, com Pio IX, a grande lição da Igreja.

O período das grandes transformações estava iniciado, e ela, que

sempre ditara ordens

202

EMMANUEL

aos príncipes do mundo, na sua sede de domínio, iria tornar-se

instrumento de opressão nas mãos dos poderosos.

Observava-se um fenômeno interessante. A Igreja, que nunca se

lembrara de dar um título real à figura do Cristo, assim que viu

desmoronarem-se os tronos do absolutismo com as vitórias da República

e do Direito, construiu a imagem do Cristo-Rei para o cume dos seus

altares.

203

XXIV

O Espiritismo e as grandes transições

A EXTINÇÃO DO CATIVEIRO

O século XIX caracteriza-se por suas numerosas conquistas. A par

dos grandes fenômenos de evolução científica e industrial que

o abalaram, observam-se igualmente acontecimentos políticos de suma

importância, renovando as concepções sociais de todos os povos da raça

branca.

Um desses grandes acontecimentos é a extinção do cativeiro.

Cumprindo as determinações do Divino Mestre, seus mensageiros do

plano invisível laboram junto aos gabinetes

204

EMMANUEL

administrativos, de modo a facilitar a vitória da liberdade.

As decisões do Congresso de Viena, reprovando o tráfico de

homens livres, encontrara funda repercussão em todos os países. Em

1834, o parlamento inglês resolve abolir a escravidão em todas as colônias

da Grã-Bretanha. Em 1850, o Brasil suprime o tráfico africano. Na revolta

de 1848, a França delibera a extinção do cativeiro em seus territórios. Em

1861, Alexandre II da Rússia declarava livres todos os camponeses que

trabalhavam sob o regime da escravidão, e, de 1861 a 1865, uma guerra

nefanda devasta o solo hospitaleiro dos Estados Americanos do Norte, na

luta da secessão, que termina com a vitória da liberdade e das idéias

progressistas da grande nação da América.

O SOCIALISMO

Grandes idéias florescem na mentalidade de então. Ressurgem, aí,

as antigas doutrinas da igualdade absoluta. Aparece o socialismo

propondo reformas viscerais e imediatas. Alguns idealistas tocam a Utopia

de Thomas More, ou a República perfeita, idealizada por Platão. Fundam-se

as alianças de anarquismo, as sociedades de caráter universal. Uma

revolução sociológica de conseqüências imprevisíveis ameaça a

estabilidade da própria civilização, condenando-a à destruição mais

completa.

O fim do século que passou é o cenário vastíssimo dessas lutas

inglórias. Todas as ciências sociais são chamadas aos grandes debates

levados a efeito entre o capitalismo e o trabalho.

205

A CAMINHO DA LUZ

Onde se encontram, porém, as forças morais capazes de realizar o grande

milagre da elucidação de todos os espíritos? A Igreja Romana, que nutria a

civilização ocidental desde o seu berço, era, por força das circunstâncias,

a entidade indicada para resolver o grande problema.

Todavia, após as afirmativas do Sílabo e depois do famoso discurso

do bispo Strossmayer, em 1870, no Vaticano, quando Pio IX decretava a

infalibilidade pontifícia, semelhante equação era muito difícil por parte da

Igreja. Entretanto, Leão XIII vem ao campo da luta com a encíclica "Rerum

Novarum", tentando conciliar o braço e o capital, apontando a cada qual os

seus mais sagrados deveres. Se o efeito desse documento teve

considerável importância para as classes mais cultas do Velho e do Novo

Mundo, tanto não se deu com as classes mais desfavorecidas, fartas de

palavras.

RESTABELECENDO A VERDADE

O Espiritismo vinha, desse modo, na hora psicológica das grandes

transformações, alentando o espírito humano para que se não perdesse o

fruto sagrado de quantos trabalharam e sofreram no esforço penoso da

civilização. Com as provas da sobrevivência, vinha reabilitar o

Cristianismo que a Igreja deturpara, semeando, de novo, os eternos

ensinamentos do Cristo no coração dos homens. Com as verdades da

reencarnação, veio explicar o absurdo das teorias igualitárias absolutas,

cooperando na restauração do verdadeiro caminho do progresso humano.

Enquadrando o socialismo nos

206

EMMANUEL

postulados cristãos, não se ilude com as reformas exteriores, para

concluir que a única renovação apreciável é a do homem intimo, célula

viva do organismo social de todos os tempos, pugnando pela

intensificação dos movimentos educativos da criatura, à luz eterna do

Evangelho do Cristo. Ensinando a lei das compensações no caminho da

redenção e das provas do indivíduo e da coletividade, estabelece o regime

da responsabilidade, em que cada espírito deve enriquecer a catalogação

dos seus próprios valores. Não se engana com as utopias da igualdade

absoluta, em vista dos conhecimentos da lei do esforço e do trabalho

individual, e não se transforma em instrumento de opressão dos magnatas

da economia e do poder, por consciente dos imperativos da solidariedade

humana. Despreocupado de todas as revoluções, porque somente a

evolução é o seu campo de atividade e de experiência, distante de todas as

guerras pela compreensão dos laços fraternos que reúnem a comunidade

universal, ensina a fraternidade legítima dos homens e das pátrias, das

famílias e dos grupos, alargando as concepções da justiça econômica e

corrigindo o espírito exaltado das ideologias extremistas.

Nestes tempos dolorosos em que as mais penosas transições se

anunciam ao espírito do homem, só o Espiritismo pode representar o valor

moral onde se encontre o apoio necessário à edificação do porvir.

Enquanto os utopistas da reforma exterior se entregam à tutela de

ditadores impiedosos, como os da Rússia e da Alemanha, em suas

sinistras aventuras revolucionárias, prossegue ele, o Espiritismo, a sua

obra educativa junto das classes intelectuais e

207

A CAMINHO DA LUZ

das massas anônimas e sofredoras, preparando o mundo de amanhã com

as luzes imorredouras da lição do Cristo.

DEFECÇÃO DA IGREJA CATÓLICA

Desde 1870, ano que assinalou para o homem a decadência da

Igreja, em virtude da sua defecção espiritual no cumprimento dos grandes

deveres que lhe foram confiados pelo Senhor, nos tempos apostólicos, um

período de transições profundas marca todas as atividades humanas.

Em vão o mundo esperou as realizações cristãs, iniciadas no

império de Constantino. Aliada do Estado e vivendo à mesa dos seus

interesses econômicos, a Igreja não cuidou de outra coisa que não fosse o

seu reino perecível. Esquecida de Deus, nunca procurou equiparar a

evolução do homem físico à do homem espiritual, prendendo-se a

interesses rasteiros e mesquinhos da política temporal. É por isso que

agora lhe pairam sobre a fronte os mais sinistros vaticínios.

LUTAS RENOVADORAS

O século XX surgiu no horizonte do Globo, qual arena ampla de lutas

renovadoras. As teorias sociais continuam seu caminho, tocando muitas

vezes a curva tenebrosa do extremismo, mas as revelações do alémtúmulo

descem às almas, como orvalho imaterial, preludiando a paz e a luz

de uma nova era.

Numerosas transformações são aguardadas e o Espiritismo

esclarece os corações, reno208

EMMANUEL

vando a personalidade espiritual das criaturas para o futuro que se

aproxima

As guerras russo-japonesa e a européia de 1914 -1918 foram

pródromos de uma luta maior, que não vem muito longe, e dentro da qual o

planeta alijará todos os Espíritos rebeldes e galvanizados no crime, que

não souberam aproveitar a dádiva de numerosos milênios, no patrimônio

sagrado do tempo.

Então a Terra, como aquele mundo longínquo da Capela, ver-se-á

livre das entidades endurecidas no mal, porque o homem da radiotelefonia

e do transatlântico precisa de alma e sentimento, a fim de não perverter as

sagradas conquistas do progresso. Ficarão no mundo os que puderem

compreender a lição do amor e da fraternidade sob a égide de Jesus, cuja

misericórdia é o verbo de vida e luz, desde o princípio.

Época de lutas amargas, desde os primeiros anos deste século a

guerra se aninhou com caráter permanente em quase todas as regiões do

planeta. A Liga das Nações, o Tratado de Versalhes, bem como todos os

pactos de segurança da paz, não têm sido senão fenômenos da própria

guerra, que somente terminarão com o apogeu dessas lutas fratricidas, no

processo de seleção final das expressões espirituais da vida terrestre.

A AMÉRICA E O FUTURO

Embora compelida a participar das lutas próximas, pelo

determinismo das circunstâncias de sua vida política, a América está des209

A CAMINHO DA LUZ

tinada a receber o cetro da civilização e da cultura, na orientação dos

povos porvindouros.

Em torno dos seus celeiros econômicos, reunir-se-ão as

experiências européias, aproveitando o esforço penoso dos que tombaram

na obra da civilização do Ocidente para a edificação do homem espiritual,

que há de sobrepor-se ao homem físico do planeta, no pleno

conhecimento dos grandes problemas do ser e do destino.

Para esse desiderato grandioso, apresta-se o plano espiritual, no afã

de elucidação dos nobres deveres continentais. O esforço sincero de

cooperação no trabalho e de construção da paz não é aí uma utopia, como

na Europa saturada de preconceitos multisseculares.

Nos campos exuberantes do continente americano estão plantadas

as sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro.

JESUS

Há no mundo um movimento inédito de armamentos e munições.

Teria começado neste momento? Não. A corrida armamentista do século

XX começou antes da luta de Porto Artur, em 1904. As indústrias bélicas

atingem culminâncias imprevistas. Os campos estão despovoados. Os

homens se recolheram às zonas de concentração militar, esperando o

inimigo, sem saber que o adversário está em seu próprio espírito. A

Europa e o Oriente constituem um campo vasto de agressão e terrorismo,

com exceção das Repúblicas Democráticas, que se vêem obrigadas a

grandes programas de rear210

EMMANUEL

mamento, em face do Moloque do extremismo. Onde os valores morais da

Humanidade? As igrejas estão amordaçadas pelas injunções de ordem

econômica e política. Somente o Espiritismo, prescindindo de todas as

garantias terrenas, executa o esforço tremendo de manter acesa a luz da

crença, nesse barco frágil do homem ignorante do seu glorioso destino,

barco que ameaça voltar às correntes da força e da violência, longe das

plagas iluminadas da Razão, da Cultura e do Direito.

Convenhamos em que o esforço do Espiritismo é quase superior às

suas próprias forças, mas o mundo não está à disposição dos ditadores

terrestres. Jesus é 9 seu único diretor no plano das realidades imortais, e

agora que o mundo se entrega a todas as expectativas angustiosas, os

espaços mais próximos da Terra se movimentam a favor do

restabelecimento da verdade e da paz, a caminho de uma nova era.

Espíritos abnegados e esclarecidos falam-nos de uma nova reunião

da comunidade das potências angélicas do sistema solar, da qual é Jesus

um dos membros divinos. Reunir-se-á, de novo, a sociedade celeste, pela

terceira vez, na atmosfera terrestre, desde que o Cristo recebeu a sagrada

missão de abraçar e redimir a nossa Humanidade, decidindo novamente

sobre os destinos do nosso mundo.

Que resultará desse conclave dos Anjos do Infinito? Deus o sabe.

Nas grandes transições do século que passa, aguardemos o seu

amor e a sua misericórdia.

211

XXV

O Evangelho e o futuro

Um modesto escorço da História faz entrever os laços eternos que

ligam todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta.

Muita vez, o palco das civilizações foi modificado, sofrendo

profundas renovações nos seus cenários, mas os atores são os mesmos,

caminhando, nas lutas purificadoras, para a perfeição dAquele que é a Luz

do princípio.

Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente

conduzido às atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza

para a solução do problema vital, mas houve um tempo em que a sua

maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da Grécia e pelas

organizações romanas.

212

EMMANUEL

Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior

acontecimento para o mundo, de vez que o Evangelho seria a eterna

mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino luminoso de Jesus, na

hipótese da assimilação do homem espiritual, com respeito aos

ensinamentos divinos. Mas a pureza do Cristianismo não conseguiu

manter-se intacta, tão logo regressaram ao plano invisível os auxiliares do

Senhor, reencarnados no globo terrestre para a glorificação dos tempos

apostólicos.

O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas.

Decorridos três séculos da lição santificante de Jesus, surgiram a

falsidade e a má-fé adaptando-se às conveniências dos poderes políticos

do mundo, desvirtuando-se-lhe todos os princípios, por favorecer

doutrinas de violência oficializada.

Debalde enviou o Divino Mestre seus emissários e discípulos mais

queridos ao ambiente das lutas planetárias. Quando não foram trucidados

pelas multidões delinqüentes ou pelos verdugos das consciências, foram

obrigados a capitular diante da ignorância, esperando o juízo longínquo da

posteridade.

Desde essa época, em que a mensagem evangélica dilatava a esfera

da liberdade humana, em virtude da sua maturidade para o entendimento

das grandes e consoladoras verdades da existência, estacionou o homem

espiritual em seus surtos de progresso, impossibilitado de acompanhar o

homem físico na sua marcha pelas estradas do conhecimento.

É por esse motivo que, ao lado dos aviões poderosos e da

radiotelefonia, que ligam todos

213

A CAMINHO DA LUZ

os continentes e países da atualidade, indicando os imperativos das leis

da solidariedade humana, vemos o conceito de civilização insultado por

todas as doutrinas de isolamento, enquanto os povos se preparam para o

extermínio e para a destruição. É ainda por isso que, em nome do

Evangelho, se perpetram todos os absurdos nos países ditos cristãos.

A realidade é que a civilização ocidental não chegou a se

cristianizar. Na França temos a guilhotina, a forca na Inglaterra, o machado

na Alemanha e a cadeira elétrica na própria América da fraternidade e da

concórdia, isto para nos referirmos tão-somente às nações

supercivilizadas do planeta. A Itália não realizou a sua agressão à

Abissínia, em nome da civilização cristã do Ocidente? Não foi em nome do

Evangelho que os padres italianos abençoaram os canhões e as

metralhadoras da conquista? Em nome do Cristo espalharam-se, nestes

vinte séculos, todas as discórdias e todas as amarguras do mundo.

Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores

humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos

últimos ''ais'' do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as

realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a

Humanidade.

O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo

neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de

Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques

da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os

seus verdadeiros caminhos.

214

EMMANUEL

No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa cristalina

das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova

era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a

abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes

terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação

temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que

pesam sobre o seu império perecível.

Ditadores, exércitos, hegemonias econômicas, massas versáteis e

inconscientes, guerras inglórias, organizações seculares, passarão com a

vertigem de um pesadelo.

A vitória da força é uma claridade de fogos de artifício.

Toda a realidade é a do Espírito e toda a paz é a do entendimento do

reino de Deus e de sua justiça.

O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso

rebanho. O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da

escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram

por amor.

Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. Os filhos da

Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas

de lágrimas e de sangue que rebentarão das nuvens pesadas de suas

consciências enegrecidas.

Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e

políticos, a superioridade européia desaparecerá para sempre, como o

Império Romano, entregando à América o fruto

215

A CAMINHO DA LUZ

das suas experiências, com vistas à civilização do porvir.

Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda

noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses

acontecimentos espantosos.

Todavia, os operários humildes do Cristo ouçamos a sua voz no

âmago de nossa alma:

"Bem-aventurados os pobres, porque o reino de Deus lhes pertence!

Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque serão saciados!

Bem-aventurados os aflitos, porque chegará o dia da consolação! Bemaventurados

os pacíficos, porque irão a Deus!"

Sim, porque depois da treva surgirá uma nova aurora. Luzes

consoladoras envolverão todo o orbe regenerado no batismo do

sofrimento. O homem espiritual estará unido ao homem físico para a sua

marcha gloriosa no Ilimitado, e o Espiritismo terá retirado dos seus

escombros materiais a alma divina das religiões, que os homens

perverteram, ligando-as no abraço acolhedor do Cristianismo restaurado.

Trabalhemos por Jesus, ainda que a nossa oficina esteja localizada

no deserto das consciências.

Todos somos dos chamados ao grande labor e o nosso mais

sublime dever é responder aos apelos do Escolhido.

Revendo os quadros da História do mundo, sentimos um frio

cortante neste crepúsculo

216

EMMANUEL

doloroso da civilização ocidental. Lembremos a misericórdia do Pai e

façamos as nossas preces. A noite não tarda e, no bojo de suas sombras

compactas, não nos esqueçamos de Jesus, cuja misericórdia infinita,

como sempre, será a claridade imortal da alvorada futura, feita de paz, de

fraternidade e de redenção.

217

Conclusão

Meus amigos, Deus vos conceda muita paz.

Agradeço a vossa colaboração, em face de mais este esforço

humilde do nosso grupo na propagação dos grandes postulados do

Espiritismo evangélico, como agradeço também à misericórdia divina o

bendito ensejo que nos foi concedido. Em nosso modesto estudo da

História, um único objetivo orientou as nossas atividades - o da

demonstração da influência sagrada do Cristo na organização de todos os

surtos da civilização do planeta, a partir da sua escultura geológica.

Nossa contribuição pode pecar pela síntese excessiva, mas não

tínhamos em vista uma nova autópsia da História do Globo em suas

expressões sociais e políticas, e sim revelar,

218

EMMANUEL

mais uma vez, os ascendentes místicos que dominam os centros do

progresso humano, em todos os seus departamentos.

Sinto-me feliz com a vossa colaboração dedicada e amiga. Algum

dia, Deus me concederá a alegria de falar dos laços que nos unem de

épocas remotas, porque não é sem razão que nos encontramos reunidos e

irmanados no mesmo trabalho e ideal.

Reitero-vos, aqui, meu agradecimento comovido e sincero.

Quando lá fora se prepara o mundo para as lutas mais dolorosas e

mais rudes, devemos agradecer a Jesus a felicidade de nos conservarmos

em paz em nossa oficina, sob a égide do seu divino amor. Prometemos,

tão logo seja possível, um ensaio no gênero romântico. (*) Permitirá Deus

que sejamos felizes. Assim o espero, porque não ponho em dúvida a sua

infinita misericórdia.

Que Deus vos guie e abençoe, conservando-vos a tranqüilidade

sagrada dos lares e dos corações.

EMMANUEL

(Mensagem recebida em 21/ 9/1938.)

__________

(*) Refere-se ao "romance" de sua vida de patrício romano e legado na Judéia ao

tempo do Cristo, obra já concluída e publicada em dois volumes, que são Há Dois Mil

Anos e 50 Anos Depois. - (Nota da Editora.)