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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dissertações Mediúnicas–Francisco Cândido Xavier

Nota do Blog: Apesar de estar integralmente apresentado. Esse livro ainda não está totalmente formatado nesse blog, para uma leitura mais prazerosa.

CARO AMIGO:

Se você gostou deste livro e tem condições de comprá-lo, faça-o pois assim estarás ajudando a diversas instituições de caridade.
Que Jesus o abençoe.
Muita Paz

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Dissertações Mediúnicas sobre importante questões

que preocupam a humanidade

Pelo espírito de Emmanuel

Explicando...

Lembro-me de que, em 1931, numa de nossas reuniões habituais, vi a meu lado, pela

primeira vez, o bondoso Espírito Emmanuel.

Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro mediúnico, recebido

através de minhas humildes faculdades e experimentava os sintomas de grave moléstia

dos olhos.

Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na

suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava era que a generosa

entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de

uma cruz.

Às minhas perguntas naturais, respondeu o bondoso guia:

- "Descansa! Quando te sentires mais forte, pretendo colaborar igualmente na difusão da

filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre os teus passos e só hoje me vês, na tua

existência de agora, mas os nossos espíritos se encontram unidos pelos laços mais

santos da vida e o sentimento afetivo que me impele para o teu coração tem suas raízes

na noite profunda dos séculos . . ."

Essa afirmativa foi para mim imenso consolo e, desde essa época, sinto constantemente

a presença desse amigo invisível que, dirigindo as minhas atividades mediúnicas, está

sempre ao nosso lado, em todas as horas difíceis, ajudando-nos a raciocinar melhor, no

caminho da existência terrestre. A sua promessa de colaborar na difusão da consoladora

Doutrina dos Espíritos tem sido cumprida integralmente.

Desde 1933, Emmanuel tem produzido, por meu intermédio, as mais variadas páginas

sobre os mais variados assuntos. Solicitado por confrades nossos para se pronunciar

sobre esta ou aquela questão, noto-lhe sempre o mais alto grau de tolerância, afabilidade

e doçura, tratando sempre todos os problemas com o máximo respeito pela liberdade e

pelas idéias dos outros.

Convidado a identificar-se, várias vezes, esquivou-se delicadamente, alegando razões

particulares e respeitáveis , afirmando, porém, ter sido, na sua última passagem pelo

planeta, padre católico, desencarnado no Brasil.

Levando as suas dissertações ao passado longínquo, afirma ter vivido ao tempo de

Jesus, quando então se chamou Públio Lêntulos.

E de fato, Emmanuel, em todas as circunstâncias, tem dado a quantos o procuram os

testemunhos de grande experiência e de grande cultura.

Para mim, tem sido ele de incansável dedicação. Junto do Espírito bondoso daquela que

foi minha mãe na Terra, sua assistência tem sido um apoio para meu coração nas lutas

penosas de cada dia.

Muitas vezes, quando me coloco em relação com as lembranças de minhas vidas

passadas e quando sensações angustiosas me prendem o coração, sinto-lhe a palavra

amiga e confortadora.

Emmanuel leva-me, então, às eras mortas e explica-me o grande e pequeno porquê das

atribulações de cada instante. Recebo invariavelmente, com a sua assistência, um

conforto indescritível, e assim é que renovo minhas energias para a tarefa espinhosa da

mediunidade, em que somos ainda tão incompreendidos.

Alguns amigos, considerando o caráter de simplicidade dos trabalhos de Emmanuel,

esforçaram-se para que este volume despretensioso surgisse no campo da publicidade.

Entrar na apreciação do livro, em si mesmo, é coisa que não está na minha competência.

Apenas me cumpria o dever de prestar ao generoso guia dos nossos trabalhos a

homenagem do meu reconhecimento, com a expressão da verdade pura, pedindo a Deus

que o auxilie cada vez mais, multiplicando suas possibilidades no mundo espiritual, e

derramando-lhe n´alma fraterna e generosa as luzes benditas do seu infinito amor.

Pedro Leopoldo 16 de Setembro de 1937.

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

A TAREFA DOS GUIAS ESPIRITUAIS

Os guias invisíveis do homem não poderão, de forma alguma, afastar as dificuldades

materiais dos seus caminhos evolutivos sobre a face da Terra.

O Espaço está cheio de incógnitas para todos os Espíritos.

Se os encarnados sentem a existência de fluidos imponderáveis que ainda não podem

compreender, os desencarnados estão marchando igualmente para a descoberta de

outros segredos divinos que lhes preocupam a mente.

Quando falamos, portanto, da influência do Evangelho nas grandes questões sociológicas

da atualidade, apontamos às criaturas o corpo de leis, pelas quais devem nortear as suas

vidas no planeta. O chefe de determinados serviços recebe regulamentos necessários

dos seus superiores, que ele deverá pôr em prática na administração. Nossas atividades

são de colaborar com os nossos irmãos no domínio do conhecimento desses códigos de

justiça e de amor, a cuja base viverá a legislação do futuro. Os Espíritos não voltariam à

Terra apenas para dizerem, aos seus companheiros, das beatitudes eternas nos planos

divinos da imensidade. Todos os homens conhecem a fatalidade da morte e sabem que é

inevitável a sua futura mudança para a vida espiritual. Todas as criaturas estão, assim,

fadadas a conhecer aquilo que já conhecemos. Nossa palavra é para que a Terra vibre

conosco nos ideais sublimes da fraternidade e da redenção espiritual. Se falamos dos

mundos felizes, é para que o planeta terreno seja igualmente venturoso. Se dizemos do

amor que enche a vida inteira da Criação Infinita, é para que o homem aprenda também a

amar a vida e os seus semelhantes. Se discorremos acerca das condições aperfeiçoadas

da existência em planos redimidos do Universo, é para que a Terra ponha em prática

essas mesmas condições. Os códigos aplicados, em outras esferas mais adiantadas,

baseados na solidariedade universal, deverão, por sua vez, merecer ai a atenção e os

estudos precisos.

O orbe terreno não está alheio ao concerto universal de todos os sóis e de todas as

esferas que povoam o Ilimitado; parte integrante da infinita comunidade dos mundos, a

Terra conhecerá as alegrias perfeitas da harmonia da vida. E a vida é sempre amor, luz,

criação, movimento e poder.

Os desvios e os excessos dos homens é que fizeram do vosso planeta a mansão triste

das sombras e dos contrastes.

Fluidos misteriosos ligam a Deus todas as belezas da sua criação perfeita e inimitável. Os

homens terão, portanto, o seu quinhão de felicidade imorredoura, quando estiverem

integrados na harmonia com o seu Criador.

Os sóis mais remotos e mais distantes se unem ao vosso orbe de sombras, através de

fluidos poderosos e intangíveis. Há uma lei de amor que reúne todas as esferas, no seio

do éter universal, como existe essa força ignorada, de ordem moral, mantendo a coesão

dos membros sociais, nas coletividades humanas. A Terra é, pois, componente da

sociedade dos mundos. Assim como Marte ou Saturno já atingiram um estado mais

avançado em conhecimentos, melhorando as condições de suas coletividades, o vosso

orbe tem, igualmente, o dever de melhorar-se, avançando, pelo aperfeiçoamento das

suas leis, para um estágio superior, no quadro universal.

Os homens, portanto, não devem permanecer embevecidos, diante das nossas

descrições.

O essencial é meter mãos à obra, aperfeiçoando, cada qual, o seu próprio coração

primeiramente, afinando-o com a lição de humildade e de amor do Evangelho,

transformando em seguida os seus lares, as suas cidades e os seus países, a fim de que

tudo na Terra respire a mesma felicidade e a mesma beleza dos orbes elevados,

conforme as nossas narrativas do Infinito.

EMMANUEL

DOUTRINANDO A FÉ

I - AS ALMAS ENFRAQUECIDAS

Minhas palavras de hoje são dirigidas aos que ingressam nos estudos espiritistas,

tangidos pelos azorragues impiedosos do sofrimento; no auge das suas dores, recorreram

ao amparo moral que lhes oferecia a doutrina e sentiram que as tempestades

amainavam... Seus corações reconhecidos voltaram-se então para as coisas espirituais;

todavia, os tormentos não desapareceram. Passada uma trégua ligeira, houve

recrudescência de prantos amargos.

Experimentando as mesmas torturas, sentem-se vacilantes na fé e baldas do entusiasmo

das primeiras horas e é comum ouvirem-se as suas exclamações: – “Já não tenho mais

fé, já não tenho mais esperanças...” Invencível abatimento invade-lhes os corações tíbios

e enfraquecidos na luta, desamparados na sua vontade titubeante e na sua inércia

espiritual.

Essas almas não puderam penetrar o espírito da doutrina, vogando apenas entre as

águas das superficialidades.

O QUE É O MODERNO ESPIRITUALISMO

O moderno Espiritualismo não vem revogar as leis diretoras da evolução coletiva. As suas

concepções avançadas representam um surto evolutivo da Humanidade, uma época de

mais compreensão dos problemas da vida, sem oferecer talismãs ou artes mágicas, com

a pretensão de derrogar os estatutos da Natureza. Desvenda ao homem um fragmento

dos véus que encobrem o destino do ser imortal e ensina-lhe que a luta é o veiculo do seu

progresso e da sua redenção.

Traz consigo o nobre objetivo de enriquecer, com as suas benditas claridades, os homens

que as aceitam, longe da vaidade de prometer-lhes fortunas e gozos terrestres, bens

temporais que apenas servem para fortificar as raízes do egoísmo em seus corações,

agrilhoando-os ao potro das gerações dolorosas.

NECESSIDADE DO ESFORÇO PRÓPRIO

Pergunta-se, às vezes, por que razão não obstam os Espíritos esclarecidos, que em todos

os tempos acompanham carinhosamente a marcha dos acontecimentos do orbe, as

guerras que dizimam milhões de existências e empobrecem as coletividades,

influenciando os diretores de movimentos subversivos nos seus planos de gabinete;

inquire-se o porquê das existências amarguradas e aflitas de muitos dos que se dedicam

ao Espiritismo, dando-lhes o melhor de suas forças e sempre torturados pelas provas

mais amargas e pelos mais acerbos desgostos. Daqui, contemplamos melancolicamente

essas almas desesperadas e desiludidas, que nada sabem encontrar além das

puerilidades da vida.

Em desencarnando, não entra o Espírito na posse de poderes absolutos. A morte significa

apenas uma nova modalidade de existência, que continua, sem milagres e sem saltos.

É necessário encarar-se a situação dos desencarnados com a precisa naturalidade. Não

há forças miraculosas para os seres humanos, como não existem igualmente para nós. O

livre-arbítrio relativo nunca é ab-rogado em todos nós; em conjunto, somos obrigados, em

qualquer plano da vida, a trabalhar pelo nosso próprio adiantamento.

A PRECE

Faz-se preciso que o homem reconheça a necessidade da luta como a do pão cotidiano.

A crença deve ser a bússola, o farol nas obscuridades que o rodeiem na existência

passageira e a prece deve ser cultivada, não para que sejam revogadas as disposições

da lei divina, mas a fim de que a coragem e a paciência inundem o coração de fortaleza

nas lutas ásperas, porém necessárias.

A alma, em se voltando para Deus, não deve ter em mente senão a humildade sincera na

aceitação de sua vontade superior.

AOS ENFRAQUECIDOS NA LUTA

Almas enfraquecidas, que tendes, muitas vezes,sentido sobre a fronte o sopro frio da

adversidade, que tendes vertido muitos prantos nas jornadas difíceis em estradas de

sofrimentos rudes, buscai na fé, os vossos imperecíveis tesouros.

Bem sei a intensidade da vossa angústia e sei de vossa resistência ao desespero. Ânimo

e coragem! No fim de todas as dores, abre-se uma aurora de ventura imortal; dos

amargores experimentados, das lições recebidas, dos ensinamentos conquistados à custa

de insano esforço e de penoso labor, tece a alma sua auréola de eternidade gloriosa; eis

que os túmulos se quebram e da paz cheia de cinzas e sombras, dos jazigos, emergem

as vazes comovedoras dos mortos. Escutai-as!... elas vos dizem da felicidade do dever

cumprido, dos tormentos da consciência nos desvios das obrigações necessárias.

Orai, trabalhai e esperai. Palmilhai todos os caminhos da prova com destemor e

serenidade. As lágrimas que dilaceram, as mágoas que pungem, as desilusões que

fustigam o coração, constituem elementos atenuantes da vossa imperfeição, no tribunal

augusto, onde pontifica o mais justo, magnânimo e integro dos juízes. Sofrei e confiai, que

o silêncio da morte é o ingresso para uma outra vida, onde todas as ações estão contadas

e gravadas as menores expressões dos nossos pensamentos.

Amai muito, embora com amargos sacrifícios, porque o amor é a única moeda que

assegura a paz e a felicidade no Universo.

II - A ASCENDÊNCIA DO EVANGELHO

Nenhuma expressão fornece imagem mais justa do poder d’Aquele a quem todos os espíritos

da Terra rendem culto do que a de João, no seu Evangelho – “No princípio era o Verbo...”

Jesus, cuja perfeição se perde na noite imperscrutável das eras, personificando a sabedoria e

o amor, tem orientado todo o desenvolvimento da Humanidade terrena, enviando os seus

iluminados mensageiros, em todos os tempos, aos agrupamentos humanos e, assim como

presidiu à formação do orbe, dirigindo, como Divino Inspirador, a quantos colaboraram na

tarefa da elaboração geológica do planeta e da disseminação da vida em todos os

laboratórios da Natureza, desde que o homem conquistou a racionalidade, vem-lhe

fornecendo a idéias da sua divina origem, o tesouro das concepções de Deus e da

imortalidade do espírito, revelando-lhe, em cada época, aquilo que a sua compreensão pode

abranger.

Em tempos remotos, quando os homens, fisicamente, pouco dessemelhavam dos

antropopitecos, suas manifestações de religiosidade eram as mais bizarras, até que,

transcorridos os anos, no labirinto dos séculos, vieram entre as populações do orbe os

primeiros organizadores do pensamento religioso que, de acordo com a mentalidade geral,

não conseguiram escapar das concepções de ferocidade que caracterizavam aqueles seres

egressos do egoísmo animalesco da irracionalidade. Começaram aí os primeiros sacrifícios

de sangue aos ídolos de cada facção, crueldades mais longínquas que as praticadas nos

tempo de Baal, das quais tendes notícia pela História.

AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Vamos encontrar, historicamente, as concepções mais remotas da organização religiosa na

civilização chinesa, nas tradições da índia védica e bramânica, de onde também se irradiaram

as primeiras lições do culto dos mortos, na civilização resplandecente dos faraós, na Grécia

com os ensinamentos órficos e com a simbologia mitológica, existindo já grandes mestres,

isolados intelectualmente das massas, a quem ofereciam os seus ensinos exóticos,

conservando o seu saber de iniciados no círculo restrito daqueles que os poderiam

compreender devidamente.

OS MISSIONÁRIOS DO CRISTO

Fo-Hi, os compiladores dos Vedas, Confúcio, Hermes, Pitágoras, Gautama, os seguidores

dos mestres da antiguidade, todos foram mensageiros de sabedoria que, encarnando em

ambientes diversos, trouxeram ao mundo a idéia de Deus e das leis morais a que os homens

se devem submeter para a obtenção de todos os primores da evolução espiritual. Todos

foram mensageiros dAquele que era o Verbo do Princípio, emissários da sua doutrina de

amor. Em afinidade com as características da civilização e dos costumes de cada povo, cada

um deles foi portador de uma expressão do “amai-vos uns aos outros”. Compelidos, em razão

do obscurantismo dos tempos, a revestir seus pensamentos com os véus misteriosos dos

símbolos, como os que se conheciam dentro dos rigores iniciáticos, foram os missionários do

Cristo preparadores dos seus gloriosos caminhos.

A LEI MOSAICA

A lei mosaica foi a precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido de Termutis, depois

de se beneficiar com a cultura que o Egito lhe podia prodigalizar, foi inspirado a reunir todos

os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo e estabelecendo o

Decálogo, sob a inspiração divina, cujas determinações são até hoje a edificação basilar da

Religião da Justiça e do Direito, se bem que as doutrinas antigas já tivessem arraigado a

crença de Deus único, sendo o politeísmo apenas uma questão simbológica, apta a satisfazer

à mentalidade geral.

A legislação de Moisés está cheia de lendas e de crueldades compatíveis com a época, mas,

escoimada de todos os comentários fabulosos a seu respeito, a sua figura é, de fato, a de um

homem extraordinário, revestido dos mais elevados poderes espirituais. Foi o primeiro a

tornar acessíveis às massas populares os ensinamentos somente conseguidos à custa de

longa e penosa iniciação, com a síntese luminosa de grandes verdades.

JESUS

Com o nascimento de Jesus, há como que uma comunhão direta do Céu com a Terra.

Estranhas e admiráveis revelações perfumam as almas e o Enviado oferece aos seres

humanos toda a grandeza do seu amor, da sua sabedoria e da sua misericórdia.

Aos corações abre-se nova torrente de esperanças e a Humanidade, na Manjedoura, no

Tabor e no Calvário, sente as manifestações da vida celeste, sublime em sua gloriosa

espiritualidade.

Com o tesouro dos seus exemplos e das suas palavras, deixa o Mestre entre os homens a

sua Boa Nova. O Evangelho do Cristo é o transunto de todas as filosofias que procuram

aprimorar o espírito, norteando-lhe a vida e as aspirações.

Jesus foi a manifestação do amor de Deus, a personificação de sua bondade infinita.

O EVANGELHO E O FUTURO

Raças e povos ainda existem, que o desconhecem, porém não ignoram a lei de amor da sua

doutrina, porque todos os homens receberam, nas mais remotas plagas do orbe, as

irradiações do seu espírito misericordioso, através das palavras inspiradas dos seus

mensageiros.

O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a resistência das trevas. A

má-fé, a ignorância, a simonia, o império da força conspiração contra ele, mas tempo virá em

que a sua ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações coletivas, é

para a sua luz eterna que a Humanidade se voltará, tomada de esperança. Então, novamente

se ouvirão as palavras benditas do Sermão da Montanha e, através das planícies, dos montes

e dos vales, o homem conhecerá o caminho, a verdade, a vida.

III - ROMA E A HUMANIDADE

Meus caros amigos, alguns de vós, que aqui vos achais, possuís dedicação e amor à

causa da Luz e da Verdade; é lícito, portanto, procuremos corresponder aos vossos

esforços e aspirações de conhecimento, ofertando-vos todas as coisas do espírito, dentro

das nossas possibilidades, para que vos sirvam de auxílio na escalada difícil da verdade.

Numerosas são as falanges de seres que se entregam à difusão das teorias espiritualistas

e que operam, na atualidade, o milagre do ressurgimento da filosofia cristã, em sua

pureza de antanho. É que chegados são os dias das explicações racionais de todos os

séculos que tendes atravessados com os olhos vendados para os domínios da

espiritualidade, devidos aos preconceitos das posições sociais e sentimentos de

utilitarismo de vários sistemas religiosos e filosóficos, desvirtuados em suas finalidades,

em seus princípios.

Nossos desejos seriam os de que a nossa voz fosse ouvida, veiculando-se a palavra da

imortalidade sobre toda a Terra; todavia, não serão feitos em vão os nossos apelos.

Por constituir tema de interesse geral para quantos mourejam nas fainas benditas do

conhecimento da verdade, subordinei estas palavras à epígrafe “Roma e a Humanidade”,

a fim de levar-vos a minha pequena parcela de instrução sobre o Catolicismo que,

deturpando nos seus objetivos as lições do Evangelho, se tornou uma organização

política em que preponderam as características essencialmente mundanas.

ROMA EM SEUS PRIMÓRDIOS

Fundada em tempos remotíssimos, por agrupamentos de homens que experimentavam a

necessidade de recíproca defesa e proteção mútua, edificou-se Roma, sobre as lendas de

Rômulo, do rapto das sabinas e outras. Habitada por indivíduos acostumados à rudeza,

tornou-se populosa com os reforços de habitantes que constantemente lhe vinham dos

núcleos circunvizinhos, vindo a ser em breve a cidade que se transformaria na célebre

república, depois império, e que tão fortemente predomina sobre os destinos humanos.

Como, porém, não é objeto da nossa palestra o estudo da História Universal,

sintetizemos, para alcançar o nosso desiderato.

O CRISTIANISMO EM SUAS ORIGENS

Edificante é a investigação, o estudo acerca do Cristianismo nos primeiros tempos de sua

história; edificante lembrarmos as apagadas figuras de pescadores humildes, grosseiros e

quase analfabetos, a enfrentarem o extraordinário e secular edifício erguido pelos triunfos

romanos, objetivando a sua reforma integral.

Afrontando a morte em todos os caminhos, reconheceram, em breve, que inúmeros

Espíritos oprimidos os aguardavam e com eles se transformavam em anunciadores da

causa do Divino Mestre.

A história da Igreja cristã nos primitivos séculos está cheia de heroísmos santificantes e

de redentoras abnegações. Nas dez principais perseguições aos cristãos, de Nero a

Diocleciano, vemos, pelo testemunho da História, gestos de beleza moral, dignos de

monumentos imperecíveis. Foi assim que, contando com a animadversão das autoridades

da filosofia em voga na época, os seguidores de Cristo sentiram forte amparo na voz

esclarecida de Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes e outras sumidades do

tempo.

OS BISPOS DE ROMA

Nos primitivos movimentos de propaganda da nova fé, não possuíam nenhuma

supremacia os bispos romanos entre os seus companheiros de episcopado e a Igreja era

pura e simples, como nos tempos que se seguiram ao regresso do seu divino fundador às

regiões da Luz. As primeiras reformas surgiram no quarto século da vossa era, quando

Basílio de Cesaréia e Gregório Nazianzeno instituíram o culto aos santos.

Os bispos romanos sempre desejaram exercer injustificável primazia entre os seus

coirmãos; todavia, semelhantes pretensões foram sempre profligadas, destacando-se

entre os vultos que as combateram a venerável figura de Agostinho, que se tornara

adepto fervoroso do Crucificado à força de ouvir as prédicas de Ambrósia, bispo de Milão,

a cujos pés se prosternou Teodósio, o Grande, penitenciando-se das crueldades

perpetradas ao reprimir a revolta dos tessalonicenses.

Desde o primeiro concílio ecumênico de Nicéia, convocado para condenação do cisma de

Ário, continuaram as reuniões desses parlamentos eclesiásticos, onde eram debatidos

todos os problemas que interessavam ao movimento cristão. Datam dessas famosas

reuniões as inovações desfiguradoras da beleza simples do Evangelho; ainda aí, contudo,

nesses primeiros séculos que sucederam à implantação da doutrina de Jesus, destinada

a exercer tão acentuada influência na legislação de todos os povos, não se conhecia, em

absoluto, a hegemonia da Igreja de Roma entre as outras congêneres. Somente no

princípio do século VII a presunção dos prelados romanos encontrou guarida no

famigerado imperador Focas, que outorgou a Bonifácio a primazia injustificável de bispo

universal. Consumada essa medida, que facilitava ao orgulho e ao egoísmo toda sua

nociva expansibilidade, tem-se levado a efeito, até hoje, os maiores atentados, que

culminaram, em 1870, na declaração da infalibilidade papal.

INOVAÇÕES E DOGMAS ROMANOS

A doutrina de Jesus, concentrando-se à força na cidade de Césares, aí permaneceu como

encarcerada pelo poder humano e, passando por consecutivas reformas, perdeu a

simplicidade encantadora das suas origens, transformando-se num edifício de pomposas

exterioridades. Após a instituição do culto dos santos, surgiram imediatamente os

primeiros ensaios de altares e paramentos para as cerimônias eclesiásticas, medidas

aventadas pelos pagãos convertidos, os quais, constantemente, foram adaptando a Igreja

a todos os sistemas religiosos do passado. O dogma da trindade é uma adaptação da

Trimúrti da antiguidade oriental, que reunia nas doutrinas do bramanismo os três deuses –

Brama, Vishu e Siva. É verdade que as coisas inacessíveis ainda à vossa compreensão e

que constituem os mistérios celestes, só vos podem ser transmitidas em suas expressões

simbólicas; mas, o Catolicismo não pode aproveitar-se desse argumento para impor-se

como única doutrina infalível e soberana. Ele era uma escola religiosa, como qualquer

outra que busque nortear os homens para o bem e para Deus, mas que perdeu esse

objetivo, pecando constantemente por orgulho dos seus dirigentes, os quais raras vezes

sabem exemplificar a piedade cristã.

A história do papado é a do desvirtuamento dos princípios do Cristianismo, porque, pouco

a pouco, o Evangelho quase desapareceu sob as suas despóticas inovações, Criaram os

pontífices o latim nos rituais, o culto das imagens, a canonização, a confissão auricular, a

adoração da hóstia, o celibato sacerdotal e, atualmente, noventa por cento das

instituições são de origem humaníssima, fora de quaisquer características divinas.

AS PRETENSÕES ROMANAS

Perdido o cetro da sua hegemonia na antiguidade, o espírito de supremacia perdurou,

entretanto, na grande cidade, outrora teatro de todos os aviltamentos e corrupções da

Humanidade. Foi dessa ânsia, de operar um retrospecto da História, que nasceu

provavelmente o desejo de o bispo romano arvorar-se em chefe do Cristianismo; o que

Roma perdera, com o progresso e com a expansão dos povos, reaveria nos domínios das

coisas espirituais.

E assim aconteceu.

O Vaticano, porém, não soube senão produzir obras de caráter exclusivamente material,

tornando-se potência de poder e autoridade temporais. Afogou-se na vaidade, obtendo o

que procurava, porquanto tem o seu império na Terra, que ainda não é o reino de Jesus.

O seu fastígio, as suas suntuosas basílicas, as suas pomposas solenidades recordam o

politeísmo e as dissipações da sociedade romana e, quando o sumo-pontífice aparece em

vossos dias na sédia gestatória, é o retrato dos cônsules do antigo senado quando saiam

a público, precedidos de litores. O símile é perfeito.

Meu objetivo foi mostrar-vos a inexistência do selo divino nas instituições católicas. Toda

a força da Igreja, na atualidade, vem da sua organização política, que busca

contemporizar com a ignorância. O milagre que se operou nalguns espíritos de eleição,

como o divino inspirado da Úmbria, gerou-se da beleza do Evangelho e dos tempos

apostólicos, unicamente, porque, entre Jesus e o papa, entre os apóstolos e os clérigos,

há uma distância imensurável.

O Vaticano conservará seu poderio, enquanto puder adaptar-se a todos os costumes

políticos das nacionalidades; mas, quando o Evangelho for integralmente restabelecido,

quando a onda de uma reforma visceral purificar o ambiente das democracias com a

luminosa mensagem da fraternidade humana, desaparecerá, não podendo ser absolvido

na balança da História, porque ao lado dos poucos bens que espalhou está o peso

esmagador das suas muitas iniqüidades

IV - A BASE RELIGIOSA

No futuro, viverá a Humanidade fora desse ambiente de animosidade entre a Ciência e a

Religião e julgo mesmo que em nenhuma civilização pode a primeira substituir a segunda.

Uma e outra se completam no processo de evolução de todas as almas para o Criador e

para a perfeição de sua obra. As suas aparentes antinomias, que derivam, na atualidade,

da compreensão deficiente do homem, em face dos problemas transcendentes da vida,

serão eliminadas, dentro do estudo, da análise e do raciocínio.

O TÓXICO DO INTELECTUALISMO

Nos tempos modernos, mentalidades existem que pugnam pelo desaparecimento das

noções religiosas do coração dos homens, saturadas do cientificismo do século e

trabalhadas por idéias excêntricas, sem perceberem as graves responsabilidades dos

seus labores intelectuais, porquanto hão de colher o fruto amargo das sementes que

plantaram nas almas jovens e indecisas. Pede-se uma educação sem Deus, o

aniquilamento da fé, o afastamento das esperanças numa outra vida, a morte da crença

nos poderes de uma providência estranha aos homens. Essa tarefa é inútil. Os que se

abalançam a sugerir semelhantes empresas podem ser dignos de respeito e admiração,

quando se destacam por seus méritos científicos, mas assemelham-se a alguém que

tivesse a fortuna de obter um oásis entre imensos desertos. Confortados e satisfeitos na

sua felicidade ocasional, não vêem as caravanas inumeráveis de infelizes, cheias de sede

e fome, transitando sobre as areias ardentes.

EXPERIÊNCIA QUE FRACASSARIA

O sentimento religioso é a base de todas as civilizações. Preconiza-se uma educação

pela inteligência, concedendo-se liberdade aos impulsos naturais do homem. A

experiência fracassaria. É ocioso acrescentar que me refiro aqui à moral religiosa, que

deverá inspirar a formação do caráter e do instituto da família e não ao sectarismo do

círculo estreito das Igrejas terrestres, que costumam envenenar, aí no mundo, o ambiente

das escolas públicas, onde deverá prevalecer sempre o mais largo critério de liberdade de

pensamento. Falo do lar e do mundo íntimo dos corações.

No dia em que a evolução dispensar o concurso religiosos para a solução dos grandes

problemas educativos da alma do homem, a Humanidade inteira estará integrada na

religião, que é a própria verdade, encontrando-se unida a Deus, pela Fé e pela Ciência

então irmanadas.

A FALIBILIDADE HUMANA

Em cada século o progresso científico renova a sua concepção acerca dos mais

importantes problemas da vida.

Raramente os verdadeiros sábios são compreendidos por seus contemporâneos. Se as

contradições dos estudiosos são o sinal de que a Ciência evolve sempre, elas atestam,

igualmente, a fraqueza e inconsistência dos seus conhecimentos e a falibilidade humana.

O SUBLIME LEGADO

Diz-se que o pensamento religioso é uma ilusão. Tal afirmativa carece de fundamento.

Nenhuma teoria científica, nenhum sistema político, nenhum programa de reeducação

pode roubar do mundo a idéias de Deus e da imortalidade do ser, inatas no coração dos

homens. As ideologias novas também não conseguirão eliminá-la.

A religião viverá entre as criaturas, instruindo e consolando, como um sublime legado.

RELIGIÃO E RELIGIÕES

O que se faz preciso, em vossa época, é estabelecer a diferença entre religião e religiões.

A religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As religiões são

organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles próprios; dignas de todo o

acatamento pelo sopro de inspiração superior que as faz surgir, são como gotas de

orvalho celeste, misturadas com os elementos da terra em que caíram. Muitas delas,

porém, estão desviadas do bom caminho pelo interesse criminoso e pela ambição

lamentável dos seus expositores; mas a verdade um dia brilhará para todos, sem

necessitar da cooperação de nenhum homem.

SABEDORIA INTEGRAL E ORDEM INVIOLÁVEL

Cabe-nos, pois, a nós que depois da morte já não encontramos nenhum ponto de dúvida,

exclamar para os que crêem e esperam:

- “Ó irmãos nossos que confiais na Providência Divina, dentro da escuridão do mundo!...

Do portal de claridade do Além-Túmulo, nós vos estendemos mãos fraternas!... Nossas

palavras correm pelo mundo como sopro poderoso de verdades. A morte não existe e o

Espírito é a única realidade imutável da existência. Todas as Babilônias do passado

jazem no pó dos tempos, com as suas glórias reduzidas a um punhado de cinzas, mas

dentro do Universo mil laços nos unem. Sobre as ruínas, sobre os escombros das

civilizações mortas e dos templos desmoronados, nós viveremos eternamente. Uma

justiça soberana, íntegra e misericordiosa, preside aos nossos destinos. Na Terra ou no

Espaço, unamos os nossos esforços pelo bem coletivo. Guardai convosco o sagrado

patrimônio das crenças porque, acima das coisas transitórias do mundo, há uma

Sabedoria Integral e uma Ordem Inviolável. Lutemos, pois, com destemor e coragem,

porque Deus é justo e a alma é imortal.

V - A NECESSIDADE DA EXPERIÊNCIA

Em vossos dias, a luta a cada momento recrudesce sobre a face do mundo; inúmeras

causas a determinam e Deus permite que ela seja intensificada, em benefício de todos os

seus filhos. Todas as classes são obrigadas a grandes trabalhos, mormente aos trabalhos

intelectuais, porquanto procuram, com afinco, a solução da crise generalizada em todos

os países.

Ponderando a grande soma dos males atuais, buscam elas remédios para as suas

preocupações, espantadas com a situação econômica dos povos, cuja precariedade recai

sobre a vida das individualidades, multiplicando as suas angústias na luta pelo pão

cotidiano.

O quadro material que existe na Terra não foi formado pela vontade do Altíssimo; ele é o

reflexo da mente humana, desvairada pela ambição e pelo egoísmo.

O Céu admite apenas que o mundo sofra as conseqüências de tão perniciosos

elementos, porque a experiência é necessária como chave bendita que descerra as

portas da compreensão.

Cada um, pois, medite no quinhão de responsabilidades que lhe toca e não evite o

trabalho que eleva para as Alturas.

O MOMENTO DAS GRANDES LUTAS

Há quem despreze a luta, mergulhando em nociva impassibilidade, ante os combates que

se travam no seio de todas as coletividades humanas; a indiferença anula na alma as

suas possibilidades de progresso e oblitera os seus germens de perfeição, constituindo

um dos piores estados psíquicos, porque, roubando à individualidade o entusiasmo do

ideal pela vida, a obriga ao estacionamento e à esterilidade, prejudiciais em todos os

aspectos à sua carreira evolutiva.

Semelhante situação não se pode, todavia, eternizar, pois para todos os espíritos,

talhados todos para o supremo aperfeiçoamento, raia, cedo ou tarde, o instante da

compreensão que nos impele a contemplar os altos cimos... A alma estacionária, até

então refratária às pugnas do progresso, sente em si a necessidade de experiências que

lhe facultarão o meio de alcançar as culminâncias vislumbradas... Atira-se ai à luta com

devoção e coragem. Vezes inúmeras fracassa em seus bons propósitos, porém, é nesse

turbilhão de incessantes combates que ela evoluciona para a perfeição infinita,

desenvolvendo as suas possibilidades, aprimorando os seus poderes, enobrecendo-se,

enfim.

OS PLANOS DO UNIVERSO SÃO INFINITOS

Para os desencarnados da minha esfera, o primeiro dia do Espírito é tão obscuro como o

primeiro dia do homem o é para a Humanidade. Somente sabemos que todos nós,

indistintamente, possuímos germens de santidade e de virtude, que podemos desenvolver

ao infinito.

Podendo conhecer a causa de alguns dos fenômenos do vosso mundo de formas, não

conhecemos o mundo causal dos efeitos que nos cercam, os quais constituem para vós

outros, encarnados, matéria imponderável em sua substância.

Se para o vosso olhar existem seres invisíveis, também para o nosso eles existem, em

modalidade de vida que ainda estudamos nos seus primórdios, porquanto os planos da

evolução se caracterizam pela sua multiplicidade dentro do Infinito.

Aqui reconhecemos quão sublime é a lei de liberdade das consciências e dessa

emancipação provém a necessidade da luta e do aprendizado.

O PROGRESSO ISOLADO DOS SERES

A Ciência, a Arte, a Cultura, a Virtude, a Inteligência não constituem patrimônios

eventuais do homem, conforme podeis observar; semelhantes atributos só se revelam, na

Terra, nos organismos dos gênios, os quais representam a súmula de extraordinários

esforços individuais, em existências numerosas de sacrifício, abnegação e trabalho

constantes. Todos os seres, portanto, laboram insuladamente, na aquisição dessas

prerrogativas, de acordo com as suas vocações naturais, dentro das lutas planetárias.

Paulatinamente, vencem imperfeições, aparam arestas, aniquilam defeitos em suas

almas, norteando-as para o progresso, último objetivo de todas as nossas cogitações

comuns.

O FUTURO É A PERFEIÇÃO

Integrada no conhecimento de suas próprias necessidades de aprimoramento, a alma

jamais abandona a luta. Volta às existências preparatórias do seu futuro glorioso. Reúnese

aos seres que lhe são afins, desenvolvendo a sua atividade perseverante e incansável

nos carreiros da evolução.

Em existências obscuras, ao sopro das adversidades, amontoa os seus tesouros imortais,

simbolizados nas lições que aprende, devotadamente, nos sofrimentos que lhe apuram a

sensibilidade, Cada etapa alcançada é um ciclo de dores vencidas e de perfeições

conquistadas.

O QUE SIGNIFICAM AS REENCARNAÇÕES

Cada encarnação é como se fora um atalho nas estradas da ascensão. Por esse motivo,

o ser humano deve amar a sua existência de lutas e de amarguras temporárias,

porquanto ela significa uma benção divina, quase um perdão de Deus.

A golpes de vontade persistente e firme, o Espírito alcança elevados pontos na sua

escalada, nos quais não mais estacionará no caminho escabroso, mas sentirá cada vez

mais a necessidade de evolução e de experiência, que o ajudarão a realizar em si as

perfeições divinas.

VI - PELA REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO

Irmãos e amigos. Ainda é para o estudo e a prática do Evangelho, em sua primitiva

pureza, que tereis de voltar o vosso entendimento, se quiserdes salvar da destruição o

patrimônio de conquistas grandiosas da vossa civilização.

ÉPOCA DE DESOLAÇÃO

Tocastes a época da desolação, em que os homens não mais se compreendem uns aos

outros. A morte de todos os vossos ideais de concórdia, a falência dos vossos institutos

pró-paz requerem a atenção acurada da Sociologia e esta somente poderá solucionar os

problemas que vos assoberbam, cheios de complexidades e transcendência, com o

estudo do Evangelho do Cristo, porém, não segundo os ditames da convenção social, que

há muitos séculos vem transformando o ideal de perfeição do Crucificado num acervo de

exterioridades, que os homens adotaram por questões de esnobismo ou de acordo com

os interesses da facção ou da personalidade.

Novos sistemas políticos, sobre as bases dos nacionalismos que vêm criando no seio dos

povos a terrível autarquia, ou sobre os alicerces frágeis desse comunismo que objetiva a

extinção do sagrado instituto da família, apenas correrão o orbe com a sua feição de

ideologias ocas, envenenando os espíritos e intoxicando as consciências.

A NORMA DE AÇÃO EDUCATIVA

O psicólogo, o pedagogista, o formados das novas gerações, para entrarem na arena da

luta a prol do aperfeiçoamento de cada individualidade sobre a Terra, terão de buscar a

sua norma de ação dentro do próprio Cristianismo, em sua simplicidade inicial, se não

quiserem que a Humanidade atinja a culminância dos arrasamentos e das destruições.

As religiões literalistas passaram, desdobrando com as suas filosofias, sobre a fronte da

Humanidade, um manto rico de fantasias e de concepções variadas, mas baldas de

essência e de espírito que lhes vivificassem os ensinamentos.

A FALHA DA IGREJA ROMANA

A Igreja Católica, amigos, que tomou a si o papel de zeladora das idéias e das realizações

cristãs, pouco após o regresso do Divino Mestre às regiões da Luz, falhou

lamentavelmente aos seus compromissos sagrados. Desde o concílio ecumênico de

Nicéia, o Cristianismo vem sendo deturpado pela influenciação dos sacerdotes dessa

Igreja, deslumbrados com a visão dos poderes temporais sobre o mundo. Não valeu a

missão sacrossanta do iluminado da úmbria, tentando restabelecer a verdade e a doutrina

de piedade e de amor do Crucificado para que se solucionasse o problema milenar da

felicidade humana.

As castas, as seitas, as classes religiosas, a intolerância do clericalismo constituíram

enormes barreiras a abafarem a voz das realidades cristãs. A moral católica falhou aos

seus deveres e às suas finalidades.

A Espanha atual, alimentada de catecismo romano desde a sua formação, é bem, com os

seus incêndios e depredações de tudo o que fora feito, um atestado da falência dos

ensinamentos ou da orientação de Roma para alcançar o desiderato do progresso

coletivo e da ética social.

Não nos elícito influenciar os homens e as suas instituições. Todavia, podemos apreciar a

influência das idéias sobre as massas, apreciando-lhes os resultados. É o que desejamos

evidenciar, solicitando vossa atenção para o complexo de fenômenos dolorosos, de

ordem social e política, que vindes observando há alguns anos. Fazendo-o, temos o

objetivo de vos demonstrar a que resultado conduziu os povos a deturpação da palavra

do Cristo, e a necessidade de voltar-se o raciocínio individual e coletivo para a

compreensão dos deveres que dela decorrem.

O PROPÓSITO DOS ESPÍRITOS

O nosso propósito, na atualidade, é cooperar convosco pela obtenção da paz e da

concórdia no seio da coletividade humana.

Agora, filhos, já não são mais os homens os donos do trabalho, os senhores absolutos da

tarefa. Tomando por seus companheiros os de boa-vontade que se acham aí no planeta,

buscando o aprimoramento anímico e psíquico onde aí se encontrem, são os gênios do

Espaço que, sob a égide do Divino Mestre, vêm proclamar, por entre as sociedades

terrenas, as consoladoras verdades, as grandiosas verdades.

Já agora, não mais se poderá abafar o ensinamento no silêncio escuro dos calabouços,

porquanto uma nova concepção do direito e da liberdade felicita as criaturas.

É em razão disso que os túmulos falam, que os mortos voltam da sombra e do amontoado

das cinzas, para dizer-vos que a vida é o eterno presente e que a imortalidade, dentro dos

institutos da justiça incorruptível, que nos observa e julga, é um fato incontestável.

Conclamando os homens, nossos irmãos, trazemos a todos o fruto abençoado de nossas

penosas existências, asseverando a cada um que o problema da paz e da felicidade está

solucionado no estatuto divino. Todas as nossas atividades objetivam a revivescência do

Cristianismo na Terra, de modo que um templo se levante em cada lar e um hostiário em

cada coração.

Auxiliai-nos, trazendo-nos o concurso da vossa boa-vontade, de vosso querer; ajudai-nos

em nossos propósitos benditos de reedificação do Templo de Jesus, de cujos altares os

maus sacerdotes se descuidaram, levados pelos cantos de sereia da vaidade e dos

interesses do mundo.

Que o Mestre abençoe a cada um de vós, fortalecendo-vos a fé, para que possamos com

Ele, com a sua proteção e a sua misericórdia, vencer na luta em que nos achamos

emprenhados.

VII - O LABOR DAS ALMAS

Descerradas as pesadas cortinas materiais que aí na Terra nos cobriam os olhos do

Espírito, experimentamos, aliado às comoções de êxtase diante da imensidade, o desejo

de comunicar a verdade a todas as criaturas. Como, porém, atingir semelhante

desiderato?

Obstáculos inúmeros se nos antolham, avultando o da falta de um estabelecimento direto

entre o plano material e o espiritual, que somente poderíamos obter através de poderosa

mediunidade generalizada, capaz de registrar de maneira palpável todas as maravilhas do

mundo psíquico. Todavia, o porvir humano nos faz entrever essa ligação mais íntima dos

Espíritos, pertençam ou não ao orbe mental.

DIFICULDADES DA COMUNICAÇÃO

Na atualidade, quase todo fato mediúnico constitui o fenômeno, o mistério, o

acontecimento que exorbita das leis naturais, considerado, portanto, erradamente pelos

seus observadores. Daí o nascerem numerosas dificuldades para que muitas entidades

atuem de forma sensível em vossas existências. Mas, se lhes é impossível a

comunicação direta, é fácil a sua participação em vossos afazeres, estudos, pensamentos

e preocupações. Os Espíritos, prepostos a esse ou àquele mister no seio da Humanidade

e da natureza, formam um conjunto harmonioso e muito maior do que julgais.

Rompido o laço que a une à matéria, um dos primeiros pensamentos da alma é para os

seres queridos que ficaram à distância, e a ansiedade de revê-los constitui um dos mais

santos objetivos de suas aspirações. Nem sempre isso lhes é permitido, porquanto uma

ordem indefectível preside às leis cósmicas que são as leis divinas. Fazem tudo, porém,

para que se tornem dignas da confiança superior, e é assim que inúmeras criaturas

desencarnadas se entregam, em vossos ambientes, a misteres dignificantes e redentores.

O TRABALHO DOS ESPÍRITOS

Em vossa vida, tomam parte as entidades do Além: sem que as vejais, perambulam em

vosso meio, atuam em vossos atos, sem que os vossos nervos visuais lhes registrem a

presença;

Edificante é observarmos o sacrifício de tantos seres evolvidos que se consagram a

sagrados labores, no planeta das sombras, quais os da regeneração de individualidades

obcecadas no mal, operando abnegadamente a serviço da redenção de todas as almas,

atirando-se com destemor a tarefas penosas, cheios de renúncia santificadora.

NECESSIDADE DO SACRIFÍCIO

Fora da carne, compreende-se a excelência da abnegação e do sacrifico e prol de

outrem. A maioria das nossas obras pessoais são como bolhas de água sabonada que se

dispersam nos ares, porque, visando ao bem-estar e ao repouso do “eu”, têm como base

o egoísmo que atrofia a nossa evolução. Toda a felicidade do Espírito provém da

felicidade que deu aos outros, todos os seus bens são oriundos do bem que espalhou

desinteressadamente.

Compreendendo essas verdades, muitas vezes após as transformações da morte, não as

assimilamos tardiamente, porque, de posse das realidades próximas do Absoluto,

concatenamos as nossas possibilidades, laborando ativamente na obra excelsa do bem

comum e do progresso geral, encontrando, assim, forças novas que nos habilitam a

merecido êxito em novas existências de abnegação que nos levarão às esferas felizes do

Universo.

Venturosos são os raros Espíritos que sentem a excelsitude dessas verdades na vida

corporal. Sacrificando-se em benefício dos semelhantes, experimentam, mesmo sob a

cruz das dores, a suave emoção das venturas celestes que os aguardam nos planos

aperfeiçoados do Infinito.

DESENVOLVIMENTO DA INTUIÇÃO

Faz-se mister, em vossos tempos, que busqueis desenvolver todas as vossas energias

espirituais – forças ocultas que aguardam o vosso desejo para que desabrochem

plenamente. O homem necessita das suas faculdades intuitivas, através de sucessivos

exercícios da mente, a qual, por sua vez, deverá vibrar ao ritmo dos ideais generosos.

Cada individualidade deve alargar o círculo das suas capacidades espirituais, porquanto,

poderá, como recompensa à sua perseverança e esforço, certificar-se das sublimes

verdades do mundo invisível, sem o concurso de quaisquer intermediários.

O que se lhe faz, porém, altamente necessário é o amor, o devotamento, a aspiração pura

e a fé inabalável, concentrados nessa luz que o coração almeja fervorosamente; esse

estado espiritual aumentará o poder vibratório da mente e o homem terá então nascido

para uma vida melhor.

VIII - A CONFISSÃO AURICULAR:

Interpelado, há dias, a respeito da confissão auricular, nada mais pude fazer que dar uma

resposta resumida, de momento, adiando o instante de expender outras considerações

atinentes ao assunto.

Padre católico que fui, na minha última romagem terrena, sinto-me à vontade para falar

com imparcialidade sincera.

Não será a minha palavra que vá condenar qualquer religião, todas elas nascidas de uma

inspiração superior que os homens viciaram, acomodando as determinações de ordem

divina aos seus próprios interesses e conveniências, desvirtuando-lhes os sagrados

princípios.

Todas as doutrinas religiosas têm a sua razão de ser no seio das coletividades, onde

foram chamadas a desempenhar a missão de paz e de concórdia humana. Todos os seus

males provém justamente dos abusos do homem, em amoldá-las ao abismo de suas

materialidades habituais; e, de fato, constitui um desses abusos a instituição da confissão

auricular, pela Igreja Católica.

A CONFISSÃO NOS TEMPOS APOSTÓLICOS

Se é verdade que, na época do Precursor, os novos crentes adotavam o sistema de

confessar publicamente as suas faltas e os seus erros, tal costume diferia essencialmente

de tudo quanto criou a Igreja Católica, nesse particular, depois da partida, para o Além,

dos elevados Espíritos que lançaram, com o sangue dos seus sacrifícios e com a mais

sublime renúncia dos bens terrenos, as bases da fé, as quais têm resistido ao bolor dos

séculos. A confissão pública dos próprios defeitos, nos tempos apostólicos, constituía

para o homem forte barreira, evitando sua reincidência na falta. Um sentimento profundo

de verdadeira humildade movia o coração nesses momentos, oferecendo-lhe as melhores

possibilidades de resistência ao assédio das tentações, e semelhante princípio

representava como que uma vacina contra as úlceras do remorso e das chagas morais.

Todavia, os tempos decorreram e, no seu transcurso, observou-se a transformação

radical de todas as leis sublimes de fraternidade cristã, anteriormente preconizadas.

A CONFISSÃO AURICULAR E SUA GRANDE VÍTIMA

A confissão auricular constitui uma aberração, dentro do amontoado das doutrinas

desvirtuadas do romanismo. E é justamente a mulher, pelo espírito sensível de

religiosidade que caracteriza, a maior vítima do confessionário.

Infelizmente, toda a série de absurdos do inqualificável sacramento da penitência é

oriunda dos superiores eclesiásticos, dos teólogos e falsos moralistas da Igreja que,

perversamente, criaram os longos e indiscretos interrogatórios, aos quais terá a mulher de

submeter-se passivamente, diante de um homem solteiro, estranho, que ela, inúmeras

vezes, nem conhece.

Os padres, geralmente, em virtude do seu desconhecimento dos sagrados deveres da

paternidade, não a vão interpelar no tocante ás obrigações austeras do governo da casa;

ferem exatamente os problemas mais íntimos e mais delicados da vida do casal, violando

o sagrado respeito das questões do lar, dando pasto aos pensamentos mais injustificáveis

e, às vezes, repugnantes. E o véu de modéstia e de beleza que Deus concedeu à mulher,

para que ela pudesse mergulhar qual lírio de espiritualidade nos pântanos deste mundo, é

arrancado justamente por esse homem que se inculca ministro das luzes celestes. Muitas

vezes, é no confessionário que começa o calvário social da mulher. Dolorosos e pesados

tributos são cobrados das católicas-romanas, que, confiadas em Deus, se lançam aos pés

de um homem cheio das mesmas fraquezas dos outros mortais, na enganosa suposição

de que o sacerdote é a imagem da Divindade do Senhor.

REFORMA NECESSÁRIA

Não podeis calcular as imensidade de crimes perpetrados à sombra dos confessionários

penumbrosos, onde almas aflitas e fervorosas buscam consolação e conforto espiritual.

O que se faz necessário em vossos dias é a reforma de semelhantes costumes. Quando

essa renovação não parta das autoridades eclesiásticas, que ela possa nascer dos

esforços conjugados de todos os esposos e de todos os pais, substituindo eles os

confessores junto de suas esposas e de suas filhas.

Muitas vezes, quando procurado por consciência polutas, que me vinham fazer o triste

relato de suas existências repletas de deslizes, eu nunca me senti com autoridade

bastante para ouvi-las.

CONFESSAI-VOS UNS AOS OUTROS

Todo espírito do Evangelho, legado pelo Mestre à Humanidade sofredora, foi deturpado

pelo homem, dentro dos seus interesses mesquinhos e das suas idéias de

antropomorfismo.

Por isso, nós, que já trazemos o coração trabalhado nas mais penosas experiências,

podemos declarar, diante da nossa consciência e diante de Deus que nos ouve, que

nenhum bem pode prodigalizar a confissão auricular ao espírito, sendo um costume

eminentemente nocivo, com seus característicos de depravação moral, merecendo,

portanto, toda a atenção da sociologia moderna.

Confessai-vos uns aos outros, buscando de preferência aqueles a quem ofendestes e,

quando a vossa imperfeição não vo-lo permita, procurai ouvir a voz de Deus, na voz da

vossa própria consciência.

IX - A IGREJA DE ROMA NA AMÉRICA DO SUL

A Igreja Romana movimenta-se na América do Sul. Sentindo os perigos da Europa, onde

os produtos ideológicos de novas doutrinas lhe criaram uma situação profundamente

embaraçosa, a organização política do Catolicismo volta-se para a América Meridional,

onde os neolatinos, vivendo a existência reflexa dos grandes centros ocidentais,

trabalham ainda por adquirir uma personalidade coletiva.

Os últimos congressos eucarísticos na Argentina e no Brasil representam o apogeu das

suas atividades, no sentido de manter a sua falsa posição, à custa de exterioridade

suntuosas, dentro daquela megalomania característica das águias dominadoras do

império romano.

A GRANDE USURPADORA

Vivendo à custa da economia dos que trabalham, a Igreja Romana é a atual usurpadora

de grande percentagem do esforço penoso das coletividades.

Sem dúvida, a sua influência no passado beneficiou a civilização, muito embora tenha

sido essa influência saturada de movimentos condenáveis, à sombra do nome de Deus e

em nome do Evangelho. As guerras santas, a inquisição, as renovações religiosas dos

séculos pretéritos, apóiam a nossa assertiva. As obras beneficentes da Igreja estão ainda

cheias de sangue dos mártires. Quase todos os bens que o Vaticano conseguiu trazer à

civilização nascente fizeram-se acompanhar de terríveis acontecimentos.

O CATOLICISMO NA EUROPA MODERNA

A Europa moderna, pobre de possibilidades econômicas e compreendendo de perto a

ação defraudadora da Igreja Católica, tornou-se campo quase estéril para as suas

explorações. As tendências da mentalidade geral para uma organização econômica,

sobre a base da justiça que deve prevalecer em todas as leis do futuro, fizeram dos

países europeus terreno impróprio para uma indústria religiosa. Com exceção da política

de Berlim e de Roma, outras nacionalidades européias custariam a tolerar esses

movimentos de audaciosas explorações. A mística fascista é a única que procura o

amparo das ilusões religiosas do Catolicismo, com o objetivo de manter a coesão popular,

em torno da idolatria do Estado. Ainda agora, existem pronunciadas tendências da nova

Alemanha para que se crie, nos bastidores da política hitlerista, uma Igreja nacionalizada.

Mas os países democráticos, que se encaminham, com os seus estatutos de governo,

para o socialismo cristão do porvir, sentiriam dificuldade em suportar tutelas dessa

natureza. Trabalhadores por doutrinas libertárias, eles vêm pagando com sangue os seus

progressos penosamente obtidos. Longe de nós o aplaudirmos a política nefasta de Stalin

ou a suas atividades nos gabinetes de Léon Blum ou de Azaña; apenas salientamos a

tendência das massas para a liberdade, sacudindo o jugo milenar do Catolicismo, que a,

pretexto de prosseguir na obra cristã, apossou-se do Estado para dominar e escravizar as

consciências. A Igreja, se bem haja desempenhado missão preponderante no destino

desta civilização que, na atualidade, toca ao apogeu, fez mais vítimas que as dez

perseguições mais notáveis, efetuadas pelos imperadores de Roma antiga contra os

adeptos da abençoada doutrina do Crucificado.

A IGREJA CATÓLICA PROVOCANDO A POBREZA NO MUNDO

Integrada no conhecimento dessas grandes verdades é que a Europa de agora se

apresenta como um campo perigoso para as grandes concentrações católicas; e os

sacerdotes romanos que, com escasso automatismo de sibaritas, bem compreendem que

a visão dos seus faustos e de suas grandezas açulam o instinto terrível das massas,

trabalhadas pelas necessidades mais duras, reconhecendo, de modo extraordinário, os

movimentos homicidas dos extremismos da atualidade, cujas lutas nefastas vêm

amargurando a alma dos povos. Ninguém ignora a fortuna gigantesca que se encerra,

sem benefício para ninguém, nos cofres pesados do vaticano; capitais que para eles se

canalizam, com fertilidade assombrosa, ali repousam sem se converterem em benefício

dos que trabalham, conquistando com penoso suro o pão de cada dia. Os milhões de liras

que ali se arquivam, em detrimento da economia de todas as classes que produzem, têm

apenas uma utilidade, que é a do engrandecimento da obra suntuária do humildes

continuadores de Jesus.

AMARGOS CONTRASTES

Enquanto há fome e desolação no mundo, Sua Santidade distribui bênçãos e títulos

nobiliárquicos, compensados com os mais pingues tributos de ouro. As canonizações

custam verdadeiras fortunas aos países católicos. Para que a França conseguisse o altar

para a sua heroína de Domremy, muitos milhares de francos foram arrancados à

economia popular. A América do Sul ainda não conseguiu alguns santos do Vaticano, em

virtude da sua carência de recursos financeiros à consecução de tal projeto. Enquanto o

vaticano se entende com o Quirinal sobre as mais pesadas somas de ouro, destinadas às

atividades guerreiras, os padres se reúnem a e falam de paz; enquanto Pio XI se debruça

nos seus ricos apartamentos, passeando pelas suas galerias de arte de todos os séculos

e pelas vastas bibliotecas, exibindo a imagem do Crucificado nas suas sandálias, ou

entregando-se ao repouso no Castel Gandolfo, há criaturas morrendo a mingua de

trabalho, entregues a toda sorte de misérias e de vicissitudes.

O MUNDO TEM SEDE DE CRISTO

Inspirando-se na inteligência de Leão XIII, que deixou a sua “Rerum novarum” como alto

documento político de conciliação das classes proletárias e capitalistas, Pio XI publicou a

sua “Quadragésimo anno”, tentando estabelecer barreira ás doutrinas novas, que vêm pôr

em xeque a falsa posição da Igreja Católica. Alguns países vêm inspirando-se nessas

bulas pontifícias, para a criação de dispositivos constitucionais, aptos a manter o equilíbrio

social; todavia, importa considerar que a igreja é impotente e suspeita para tratar dos

interesses dos povos. Na sua situação parasitária, não pode falar aos que trabalham e

sofrem, aprendendo nas experiências mais dolorosas da vida.

A vossa civilização sente necessidade da prática evangélica, tem sede de Cristo, fome de

idealismo genuinamente cristão e, diante desse surto novo de fé das coletividades, nada

valem os congressos eucarísticos, porquanto é chegado o tempo de se fecharem as

portas da indústria da cruz. O Cristo terá de ressurgir dos escombros em que foi

mergulhado pela teologia do Catolicismo. O dogma conhecerá o seu fim com o advento

das verdades novas e é para esse movimento grandioso do porvir que os mortos vêm dar

as mãos aos vivos de boa-vontade.

Que a Igreja Romana se transforme, buscando guardar a essência dos exemplos terríveis

desta última revolução espanhola; que as provações coletivas hajam chegado ao seu

termo, sem necessidade de mais sangue, e de mais lágrimas e de mais vidas; que Roma

compreenda tudo isso e esclareça os seus tutelados, antes que os escravos de suas

ilusões recordem de sacudir as algemas por si mesmos; que a lei de Jesus impere desde

já, sem precisar das grandes dores que, por tantas vezes, têm lacerado o coração

sofredor da Humanidade terrestre.

X - AS PRETENSÕES CATÓLICAS

Achai possível e, sobretudo, conveniente que a Igreja volte a

sagrar o chefe do Estado no Brasil?

Em caso afirmativo, qual a Igreja caberia essa função?

Deverá o poder da República receber a sagração de todos os

cultos?

As perguntas acima revelam o assunto palpitante dos interesses inferiores da Igreja de

Roma na América do Saul, mormente no Brasil, segundo as nossas considerações em

anterior comunicado.

Motivam-nas algumas declarações feitas ultimamente por um padre católico,

considerando a “origem divina do poder sobre a Terra”, tentando reconduzir o Estado às

antigas bases absolutistas e teocráticas.

Decididamente, a igreja não esconde o seu propósito de escravizar ainda as consciências

humanas e, com os seus continuados pruridos de hegemonia sobre todos os outros

cultos, revela suas fundas saudades do Santo Ofício, para algemar o pensamento dos

homens às enxovias dos seus interesses.

Em pleno século XX, fala-se na necessidade de se delatarem os crimes dos pais, dos

esposos, dos irmãos; preconiza-se a devassa das instituições, dos lares e das

consciências. Não será surpresa para ninguém, se os padres católicos exumarem

amanhã, das cinzas da Idade Média para os dias que correm, o célebre Livro das Taxas,

do tempo de Leão X, em que todos os preços do perdão para os crimes humanos estão

estipulados.

O CULTO RELIGIOSO E O ESTADO

A evolução dos códigos políticos da América do Sul deveria merecer mais respeito por

parte dos elementos que se acham sob as ordens do Vaticano.

Falar-se em sagração do chefe do Estado pela Igreja Romana, aliando o direito divino às

obrigações políticas, depois de tantas conquistas sociais da República, seria quase

infantilidade, se isso não representasse algo de perigoso para os próprios códigos de

natureza política do país.

Nenhum culto, que se prenda a Deus pela devoção e por determinados deveres

religiosos, tem o direito de interferir nos movimentos transitórios do Estado, como este

último não tem o direito de interferir na vida privada da personalidade, em matéria de

gosto, de sentimento e de consciência, segundo as velhas fórmulas do liberalismo. Há

muito tempo, os fenômenos do progresso político dos povos proscrevem essas nefastas

influências religiosas sobre a política administrativa das coletividades.

SEMPRE COM CÉSAR

Já o próprio Cristo asseverava nas suas divinas lições; - “A César o que é de César e a

Deus o que é de Deus.”

Mas, a Igreja Católica Romana jamais ocultou sua preferência pela amizade de César.

Os tempos apostólicos, que ainda iluminam o coração da Humanidade sofredora, até os

tempos modernos, pela sua união com o Evangelho, foram muito curtos. Não tardou que

a organização dos bispos romanos preponderasse sobre todos os núcleos do verdadeiro

Cristianismo, sufocando-os com as suas forças temporais.

Inventaram-se todas as novidades para o ideal de simplicidade e pureza de Jesus e,

desde épocas remotas, o Catolicismo é bem retrato do farisaísmo dos tempos judaicos,

que conduziu o Divino Mestre á crucificação. Amiga dos poderosos, em todos os tempos,

bastilha do pensamento livre da Humanidade que tentou a civilização cristã, é talvez, por

esse motivo, que a Igreja, pela voz dos seus teólogos mais eminentes, procurou sempre

revestir o poder transitório dos felizes da Terra com um caráter de divindade. Batida pela

demagogia céptica de todos os filósofos e cientistas que seguiram no luminoso caminho

das concepções liberais, retirada da sua posição de opressora para se transformar em

instrumento humilde de outros opressores das criaturas humanas, a Igreja, na sua

assombrosa capacidade de adaptação, esperou pacientemente outras oportunidades para

reaquisição dos seus poderes e de suas tiranias e as encontrou dentro da mística do

Estado totalitário.

XI - MENSAGEM AOS MÉDIUNS

Venho exortar a quantos se entregaram na Terra à missão da mediunidade, afirmandolhes

que, ainda em vossa época, esse posto é o da renúncia, da abnegação e dos

sacrifícios espontâneos. Faz-se mister que todos os Espíritos, vindas ao planeta com a

incumbência de operar nos labores mediúnicos, compreendam a extensão dos seus

sagrados deveres para a obtenção do êxito no seu elevado e nobilitante trabalho.

Médiuns! A vossa tarefa deve ser encarada como um santo sacerdócio; a vossa

responsabilidade é grande, pela fração de certeza que vos foi outorgada, e muito se

pedirá aos que muito receberam. Faz-se, portanto, necessário que busqueis cumprir, com

severidade e nobreza, as vossas obrigações, mantendo a vossa consciência serena, se

não quiserdes tombar na luta, o que seria crestar com as vossas próprias mãos as flores

da esperança numa felicidade superior, que ainda não conseguimos alcançar! Pesai as

conseqüências dos vossos mínimos atas, porquanto é preciso renuncieis à própria

personalidade, aos desejos e aspirações de ordem material, para 'que a vossa felicidade

se concretize.

VIGIAR PARA VENCER

Felizes daqueles que, saturados de boa-vontade e de fé, laboram devotadamente para

que se espalhe no mundo a Boa Nova da imortalidade. Compreendendo a necessidade

da renúncia e da dedicação, não repararam nas pedras e nos acúleos do caminho,

encontrando nos recantos do seu mundo interior os tesouros do auxilio divino. Acendem

nos corações a luz da crença e das esperanças, e se, na maioria das vezes, seguem pela

estrada incompreendidos e desprezados, o Senhor enche com a luz do seu amor os

vácuos abertos pelo mundo em suas almas, vácuos feitos de solidão e desamparo.

Infelizmente, a Terra ainda é o orbe da sombra e da lágrima, e toda tentativa que se faz

pela difusão da verdade, todo trabalho para que a luz se esparja fartamente encontram a

resistência e a reação das trevas que vos cercam. Dai nascem as tentações que vos

assediam, e partem as ciladas em que muitos sucumbem, à falta da oração e da vigilância

apregoadas no Evangelho.

QUEM SÃO OS MÉDIUNS NA SUA GENERALIDADE

Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo;

são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso

das leis divinas, e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e ilimitadas

responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se

encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre, são

Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da

fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se sacrificarem em

favor do grande número de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da

caridade e da virtude. São almas arrependidas que procuram arrebanhar todas as

felicidades que perderam, reorganizando, com sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos

seus instantes de criminosas arbitrariedades e de condenável insânia.

AS OPORTUNIDADES DO SOFRIMENTO

As existências dos médiuns, em geral, têm constituído romances dolorosos, vidas de

amargurosas dificuldades, em razão da necessidade do sofrimento reparador; suas

estradas, no mundo, estão repletas de provações, de continências e desventuras. Faz-se,

porém, necessário que reconheçam o ascetismo e o padecer, como belas oportunidades

que a magnanimidade da Providência lhes oferece, para que restabeleçam a saúde dos

seus organismos espirituais, combalidos nos excessos de vidas mal orientadas, nas quais

se embriagaram à saciedade com os vinhos sinistros do vicio e do despotismo.

Humilhados e incompreendidos, faz-se mister que reconheçam todos os benefícios

emanantes das dores que purificam e regeneram, trabalhando para que representem, de

fato, o exemplo da abnegação e do desinteresse, reconquistando a felicidade perdida.

NECESSIDADE DA EXEMPLIFICAÇÃO

Todos os médiuns, para realizarem dignamente a tarefa a que foram chamados a

desempenhar no planeta, necessitam identificar-se com o ideal de Jesus, buscando para

alicerce de suas vidas o ensinamento evangélico, em sua divina pureza; a eficácia de sua

ação depende do seu desprendimento e da sua caridade, necessitando compreender, em

toda a amplitude, a verdade contida na afirmação do Mestre: “Dai de graça o que de

graça receberdes.”

Devendo evitar, na sociedade, os ambientes nocivos e viciosos, podem perfeitamente

cumprir seus deveres em qualquer posição social a que forem conduzidos, sendo uma de

suas precípuas obrigações melhorar o seu meio ambiente com o exemplo mais puro de

verdadeira assimilação da doutrina de que são pregoeiros.

Não deverão encarar a mediunidade como um dom ou como um privilégio, sim como

bendita possibilidade de reparar seus erros de antanho, submetendo-se, dessa forma,

com humildade, aos alvitres e conselhos da Verdade, cujo ensinamento está,

freqûentemente, numa inteligência iluminada que se nos dirige, mas que se encontra

igualmente numa provação que, humilhando, esclarece ao mesmo tempo o espírito,

enchendo-lhe o íntimo com as claridades da experiência.

O PROBLEMA DAS MISTIFICAÇÕES

O problema das mistificações não deve impressionar os que se entregam às tarefas

mediúnicas, os quais devem trazer o Evangelho de Jesus no coração. Estais muito longe

ainda de solucionar as incógnitas da ciência espírita, e se aos médiuns, às vezes, tornase

preciso semelhante prova, muitas vezes os acontecimentos dessa natureza são

também provocados por muitos daqueles que se socorrem das suas possibilidades.

Tende o coração sempre puro. E com a fé, com a pureza de intenções, com o sentimento

evangélico, que se podem vencer as arremetidas dos que se comprazem nas trevas

persistentes. ê preciso esquecer os investigadores cheios do espírito de mercantilismo!...

Permanecei na fé, na esperança e na caridade em Jesus - Cristo, jamais olvidando que só

pela exemplificação podereis vencer.

APELO AOS MEDIUNS

Médiuns, ponderai as vossas obrigações sagradas! preferi viver na maior das provações a

cairdes na estrada larga das tentações que vos atacam, insistentemente, em vossos

pontos vulneráveis.

Recordai-vos de que é preciso vencer, se não quiserdes soterrar a vossa alma na

escuridão dos séculos de dor expiatória. Aquele que se apresenta no Espaço como

vencedor de si mesmo é maior que qualquer dos generais terrenos, exímio na estratégia e

tino militares. O homem que se vence faz o seu corpo espiritual apto a ingressar em

outras esferas e, enquanto não colaborardes pela obtenção desse organismo etéreo,

através da virtude e do dever comprido, não saireis do círculo doloroso das

reencarnações.

XII - A PAZ DO ÚLTIMO DIA

Já pensastes na paz do último dia na Terra?

Há, na alma prestes a regressar à sua eterna pátria, um modo de sensações

desconhecidas.

Nesses olhos nublados de pranto, num corpo lavado pelo copioso suor da agonia,

gangrenado e semi-apodrecido, onde os órgãos rebeldes, em conflito, são centros das

mais violentas e rudes dores, existe todo um amontoado de mistérios indecifráveis para

aqueles que ficam.

Nesses rápidos minutos, um turbilhão de pensamentos represa-se nesse cérebro

esgotado pelos sofrimentos... O Espírito, no limiar do túmulo, sente angústia e receio; e,

nos estertores de sua impotência, vê numa continuidade assombrosa de imagens

movimentadas, toda inutilidade das ilusões da vida material. Todas as suas vaidades e

enganos tombam furiosamente, como se um ciclone impiedoso os arrancasse do seu

íntimo, e os que somente para esses enganos viveram sentem-se, na profundeza de suas

consciências, como se atravessassem um deserto árido e extenso; todos os erros do

passado gritam nos seus corações, todos os deslizes se lhes apresentam, e nessa

quietude aparente de uns lábios que se cerram no doloroso ricto da morte, existem brados

de blasfêmia e desesperação, que não escutais, em vosso próprio benefício.

OS QUE SE DEDICAM AS COISAS ESPIRITUAIS

Nunca nos cansaremos de repetir que a existência no orbe terreno constitui, para as

almas mais ou menos evolvidas, um estágio de aprendizado ou degredo; junto desses

seres sensíveis, vivem os espíritos retardados no seu adiantamento e aqueles que se

encontram no inicio da evolução.

Para todos, porém, a luta é a lei purificadora.

Os que vivem com mais dedicação às coisas do Espírito, esses encontram maiores

elementos de paz e felicidade no futuro; para eles, que sofreram mais em razão do seu

afastamento da vida mundana, a morte é um remanso de tranqüilidade e de esperança.

Encontrarão a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas torturantes, e sociedades

esclarecidas os esperam em seu seio, para celebrarem dignamente os seus atos de

heroísmo na tarefa árdua de resistência às inúmeras seduções que a existência planetária

oferece.

AS ALMAS TORTURADAS

Quão triste, toda via, é a situação dos que no mundo se apegaram, demasiadamente, às

alegrias mentirosas e aos prazeres fictícios. Muitos anos de dor os aguardam, nas regiões

espirituais, onde contemplam incessantemente os quadros do seu pretérito, em

desoladoras visões retrospectivas, na posse imaginária das coisas que os obsidiam.

Amantes do ouro, ali ouvem, continuamente, o tilintar de suas supostas moedas; ingratos,

escutam os que foram enganados pelas suas traições; cenas penosas se verificam e

muitas almas piedosas se entregam ao mister de guias e condutores espirituais desses

Espíritos enceguecidos na ilusão e nos tormentos. Só ao amor dessas almas carinhosas

permite que as esperanças não desfaleçam, cultivando-as incessantemente no coração

abatido e desolado dos sofredores, a fim de que renasçam para os resgates necessários.

A OUTRA VIDA

A vida no além é também atividade, trabalho, luta, movimento. Se as almas estão menos

submetidas ao cansaço, não combatem menos seu aperfeiçoamento.

A leis das afinidades a tudo preside, entre os seres despidos dos indumentos carnais, e,

liberto o Espírito dos laços que o agrilhoavam à matéria, recebe o apelo de quantos se

afinam pelas suas preferências e inclinações.

ESPÍRITOS FELIZES

Bem-aventurados todos aqueles que, ao palmilharem seus derradeiros caminhos,

encontram a alvorada da paz, luminosa e promissora; nos celeiros da luz, recolhem o pão

da verdade e da sabedoria, porque bem souberam cumprir suas obrigações morais.

À sombra das árvores magnânimas que planaram com seus atos de caridade, de fé e de

esperança, repousam a cabeça dilacerada nos amargores da Terra; divinas inspirações

descem das Alturas sobre suas mentes, que iluminam como tabernáculos sagrados e,

interpretando fielmente as disposições da vontade diretora do Universo, transformam-se

em mensageiros do Altíssimo.

AOS MEUS IRMÃOS

Homens, meus irmãos, considerai a fração de tempo da vossa passagem pela Terra.

Observai o exemplo das almas nobres que, em épocas diferentes, vos trouxeram a

palavra do Céu na vossa ingrata linguagem; suas vidas estão cheias de sacrifícios e

dedicações dolorosas. Não vos entregueis aos desvios que conduzem ao materialismo

dissolvente. Olhando o vosso passado, que constitui o passado da própria Humanidade,

uma cruciante amargura domina o vosso espírito: atrás de vós, a falência religiosa, ante

os problemas da evolução, impele-vos à descrença a ao egoísmo; muitos se recolhem

nas suas posições de mando e há uma sede generalizada de gozo material, com

perspectiva do nada, que a maioria das criaturas acredita encontrar no caminho silencioso

da morte; mas eis que, substituindo as religiões que faliram, à falta de cultivadores fiéis,

ouve-se a voz do Espírito da Verdade em todas as regiões da Terra. Os túmulos falam e

os vossos bem-amados vos dizem das experiências adquiridas e das dores que

passaram. Há um sublime conúbio do Céu com a Terra.

Vinde ao banquete espiritual onde a Verdade domina em toda a sua grandiosa

excelsitude. Vinde sem desconfianças, sem receios, não como novos Tomes, mas como

almas necessitadas de luz e de liberdade; não basta virdes com o espírito de cristicismo,

é preciso trazerdes um coração que saiba corresponder com sentimento elevado a um

raciocínio superior.

Outros mundos vos esperam na imensidade, onde os sóis realizam os fenômenos de sua

eterna trajetória. Dilatai vossa esperança, porque um dia chegará em que, na Terra,

devereis abandonar o exílio onde chorais como seres desterrados. Que todos vós

possais, no caso da existência, contemplar no céu da vossa consciência estrelas

resplandecentes da paz que representará a vossa glorificação imortal.

XIII - AS INVESTIGAÇÕES DA CIÊNCIA

Não é condenável, sob o ponto de vista do bom senso, sem quaisquer dogmatismos

intransigentes, a dúvida que levou a Ciência da vossa época a se recolher nas realidades

positivas; é claro que, segundo a opinião religiosa, o materialismo é pernicioso, debaixo

de todas as modalidades em que se nos apresente, mas é necessário vos convencerdes

de que em qualquer circunstância predomina sempre a lei do progresso.

O ateísmo reinante deriva dos abusos dogmáticos que a intransigência de alguns

sistemas tem pretendido impor à consciência humana, livre em suas íntimas expansões.

Todavia, na certeza absoluta da evolução que se realiza, através de todos os óbices

interpostos no seu caminho pela ignorância e pela má-fé, eis que, na atualidade, a própria

dúvida serve de base ao monumento da fé raciocinada do futuro.

O RESULTADO DAS INVESTIGAÇÕES

Vê-se a Ciência no dever de investigar, de estudar, e, no seu afã incessante de saber,

rolam por terra idéias errôneas, mantidas até hoje como alicerces de todas as suas

perquirições, como, por exemplo, a da teoria da indivisibilidade atômica. Descobrindo

centros imponderáveis de atração, como os electrônios componentes do átomo

infinitesimal e os iônios, atinge a verdade, quanto às teorias da vibração, que preside, na

base da matéria cósmica, a todos os movimentos da vida no Universo.

A ciência infatigável procura, agora, a matéria-padrão, a força-origem, simplificada, da

qual crê emanarem todos os compostos, e é nesse estudo proveitoso que ela própria,

afirmando-se atéia, descrente, caminha para o conhecimento de Deus.

O FRACASSO DE MUITAS INICIATIVAS

Não são poucos os estudiosos que procuram investigar os domínios da ciência psíquica,

na sede de encontrar o lado verdadeiro da vida; porém, se muitas vezes acham apenas o

malogro das suas esperanças, o soçobro dos seus ideais, é que se entregam os estudos

arriscados sem preparação prévia para resolver tão altas questões, errando

voluntariamente com espírito de cepticismo, muitas vezes injustificável, já que não é filho

de raciocínio acurado, profundo. O êxito no estudo de problemas tão transcendentais

demanda a utilização de fatores morais, raramente encontrados; daí a improdutividade de

entusiasmos e desejos que podem ser ardentes e sinceros.

O UTILITARISMO

A ausência de demonstrações histológicas não implica a inexistência do Espírito. E essa

certeza que compete à Ciência atingir.

Muitos obstáculos, contudo, se opõem à obtenção desse desiderato, aliando-se ao

preconceito acadêmico o utilitarismo desenfreado que infesta a política e a religião; é ele

o maior inimigo da expansão das verdades espiritualistas no mundo, porque oriundo de

interesses inferiores e mesquinhos. A própria tendência ao ateísmo, imperante em quase

todas as classes sociais, é um derivativo lógico do espírito de interesse, que tem

destruído a beleza dos princípios religiosos, desvirtuados pelo utilitarismo de falsos

missionários.

Mas, confiemos na influência do espiritualismo; em futuro próximo, a sua atuação

eminentemente benéfica há de se fazer sentir, destruindo tudo quanto de nocivo e inútil

encontrar em sua passagem.

OS TEMPOS DO PORVIR

Marchamos, pois, para uma época de crença firme e consoladora, que derramará o

bálsamo da fé pura e iluminada sobre as almas que adorarão o Criador, sem qualquer véu

de formalidades inadequadas e obsoletas.

Semelhantes transformações serão efetuadas após muitas lutas, que encherão de receios

e de espantos os espíritos encarnados. Lembremo-nos, porém, de que “Deus está no

leme”.

É esse o porvir do orbe em que viveis. Contudo, quanto tempo decorrerá, até que essa

nova era brilhe nos horizontes do entendimento humano? Ignoramos. Conjuguemos,

todavia, os nossos esforços a fim de alcançarmos esse desiderato.

Demonstrai, com o vosso exemplo, que a luz permanece em vossos corações e

cooperareis conosco, em favor dessas mutações precisas.

Toda reforma terá de nascer no interior. Da iluminação do coração vem a verdadeira

cristianização do lar, e do aperfeiçoamento das coletividades surgirá o novo e glorioso dia

da Humanidade.

XIV - A SUBCONSCIÊNCIA NOS FENÔMENOS PSÍQUICOS

Todas as teorias que pretendem elucidar os fenômenos mediúnicos, alheios à Doutrina

Espiritista, pecam pela insuficiência e falsidade.

Em vão, procura-se complicar a questão com termos rebuscados, apresentando-se as

hipóteses mais descabidas e absurdas, porquanto os conhecimentos hodiernos da Física,

da Fisiologia e da Psicologia não explicam fatos como os de levitação, de materialização,

de natureza, afinal, genuinamente espírita.

Para a ciência anquilosada nas concepções dogmáticas de cada escola, a fenomenologia

mediúnica não deve constituir objeto de ridículo e de zombaria, mas sim um amontoado

de materiais preciosos à sua observação.

Felizmente, se muitos dos pesquisadores criaram os mais complicados sistemas

elucidativos, cheios de extravagância nas suas enganadoras ilações, alguns deles,

desassombradamente, têm colaborado com a filosofia espiritualista para a consecução

dos seus planos grandiosos, que implicam a felicidade humana.

A SUBCONSCIÊNCIA

A subconsciência, tão investigada em vosso tempo, não elucida os problemas dos

chamados fenômenos intelectuais. Estudos levados a efeito sobre essa câmara escura da

mente são ainda mal orientados, apesar disso, muitas teorias apressadas presumem

explicar todo o mediunismo com a sua estranha influência sobre o “eu” consciente. De

fato, existem fenômenos subliminais; todavia, a subconsciência é o acervo de

experiências realizadas pelo o ser em suas existências passadas. O Espírito, no labor

incessante de suas múltiplas existências, vai ajudando as séries de suas conquistas, de

suas possibilidades, de seus trabalhos; no seu cérebro espiritual organiza-se, então, essa

consciência profunda, em cujos domínios misteriosos se vão arquivando as recordações,

e a alma, em cada etapa da sua vida imortal, renasce para uma nova conquista,

objetivando sempre o aperfeiçoamento supremo.

O OLVIDO TEMPORÁRIO

O esquecimento, nessas existências fragmentárias, obedecendo ás leis superiores que

presidem ao destino, representa a diminuição do estado vibratório do Espírito, em

contacto com a matéria. Esse olvido é necessário,e, afastando-se os benefícios espirituais

que essa questão implica, à luz das concepções cientificas, pode esse problemas ser

estudado atenciosamente.

Tomando um novo corpo, a alma tem necessidade de adaptar-se a esse instrumento.

Precisa abandonar a bagagem dos seus vícios, dos seus defeitos, das suas lembranças

nocivas, das suas vicissitudes nos pretéritos tenebrosos. Necessita de nova virgindade;

um instrumento virgem lhe é então fornecido. Os neurônios desse novo cérebro fazem a

função de aparelhos quebradores da luz; o sensório limita as percepções do Espírito, e ,

somente assim, pode o ser reconstruir o seu destino. Para que o homem colha benefícios

da sua vida temporária, faz-se mister que assim seja.

Sua consciência é apenas a parte emergente da sua consciência espiritual; seus sentidos

constituem apenas o necessário à sua evolução no plano terrestre. Daí, a exigüidade das

suas percepções visuais e auditivas, em relação ao número inconcebível de vibrações

que o cercam.

AS RECORDAÇÕES

Todavia, dentro dessa obscuridade requerida pela sua necessidade de estudo e

desenvolvimento, experimenta a alma, ás vezes, uma sensação indefinível... é uma

vocação inata que impele para esse ou aquele caminho; é uma saudade vaga e

incompreensível, que a persegue nas suas meditações; são os fenômenos introspectivos,

que a assediam freqüentemente.

Nesses momentos, uma luz vaga da subconsciência atravessa a câmara de sombras,

impostas pelas células cerebrais, e, através dessa luz coada, entra o Espírito em vaga

relação com o seu passado longínquo; tais fatos são vulgares nos seres evolvidos, sobre

quem a carne já não exerce atuação invencível. Nesses vagos instantes, parece que a

alma encarnada ouve o tropel das lembranças que passam em revoada; aversões

antigas, amores santificantes, gostos aprimorados, de tudo aparece numa fração no seu

mundo consciente; mas, faz-se mister olvidar o passado para que alcance êxito na luta.

XV - A IDÉIA DA IMORTALIDADE

Embalde os corifeus do ateísmo propagarão as suas amargas teorias, cujo objetivo é o

aniquilamento da idéia da imortalidade entre os homens; embalde o ensino de novos

sistemas de educação, dentro das inovações dos códigos políticos, tentará sufocá-la,

porque todas as criaturas nascem na Terra com ela gravada nos corações, inclusive os

pretensos incrédulos, cuja mentalidade, não conseguindo solucionar os problemas

complexos da vida, se revolta, imprecando contra a sabedoria suprema, como se os seus

gritos blasfematórios pudessem obscurecer a luz do amor divino, estacando os sublimes

mananciais da vida. Pode a política obstar à sua manifestação, antepondo-lhe forças

coercitivas: a idéia da imortalidade viverá sempre nas almas, como a aspiração latente do

Belo e o do Perfeito.

Acima do poder temporal dos governantes e da moral duvidosa dos pregadores das

religiões, ela continuamente prosseguirá dulcificando os corações e exaltando as

esperanças, porque significa em si mesma o luminoso patrimônio da alma encarnada,

como recordação perene da sua vida no Além, simbolizando o laço indestrutível que une

a existência terrena à Vida Eterna, vislumbrada, assim, pela sua memória

temporariamente amortecida.

A IDÉIA DE DEUS

Desde os pródromos da Civilização a idéia da imortalidade é congênita no homem. Todas

as concepções religiosas da mais remota antigüidade, se bem que embrionárias e

grosseiras em suas exteriorizações, no-la atestam. Entre as raças bárbaras abundaram

as idéias terroristas de um Deus, cuja cólera destruidora se abrandaria à custa dos

sacrifícios humanos e dos holocaustos de sangue, e, por toda a parte, onde homens

primitivos deixaram os vestígios de sua passagem, vê-se o sinal de uma divindade a cuja

providência e sabedoria as criaturas entregavam confiadamente os seus destinos.

A CONSCIÊNCIA

Na história de todos os povos, observar-se a tendência religiosa da Humanidade; é que,

em toda personalidade existe uma fagulha divina – a consciência, que estereotipa em

cada espírito a grandeza e a sublimidade de sua origem; no embrião, a princípio rude nas

suas menores manifestações, a consciência se vai despindo dos véus de imperfeição e

bruteza que rodeiam, debaixo de muitas vidas do seu ciclo evolutivo, em diferentes

círculos de existência, até que atinja a plenitude do aperfeiçoamento psíquico e o

conhecimento integral do seu próprio “eu”, que, então, se unirá ao centro criador do

Universo, no qual se encontram todas as causas reunidas e de onde irradiará o seu

poema eterno de sabedoria e amor.

É a consciência, centelha de luz divina, que faz nascer em cada individualidade a idéia da

verdade, relativamente aos problemas espirituais, fazendo-lhe sentir a realidade positiva

da vida imortal, atributo de todos os seres da criação.

O ANTROPOMORFISMO

Nos tempos primeiros, como na atualidade, o homem teve uma concepção

antropomórfica de Deus. Nos períodos primários da Civilização, como preponderavam as

leis da força bruta e a Humanidade era uma aglomeração de seres que nasciam da

brutalidade e da aspereza, que apenas conheciam os instintos nas suas manifestações, a

adoração aos seres invisíveis que personificavam os seus deuses era feita de sacrifícios

inadmissíveis em vossa época. Hodiernamente, nos vossos tempos de egoísmo utilitário,

Deus é considerado como poderoso magnata, a quem se pode peitar com bajulação e

promessa, no seio de muitas doutrinas religiosas.

O CULTO DOS MORTOS

Dentro, porém, de quase todas as idéias dessa natureza, no seio das raças primigênias

em seus remotíssimos agrupamentos, o culto dos mortos atinge proporções espantosas.

Inúmeras eram as tribos que se entregavam às invocações dos traspassados, por meio

de encantamentos e de cerimônias de magia. As excessivas homenagens aos mortos, no

seio da civilização dos egípcios, constituem, até em vossos dias, objeto de estudos

especiais. Toda a vida oriental está amalgamada nos mistérios da morte e, no Ocidente,

pode-se reparar, entre as raças primitivas, a do povo celta como a depositária de

tradições longínquas, que dizem respeito à espiritualidade.

A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS RELIGIOSOS

A idéia da imortalidade é latente em todas as almas e é o substrato de todas as religiões

antigas e modernas.

Os sistemas religiosos, em cada período de progresso humano, renovam-se na fonte de

verdade relativa que promana do Alto, compatível com a época.

Nos tempos modernos, as idéias novas, referentes ao espiritualismo e à imortalidade,

necessitam difusão por toda parte. Não mais a concepção de Deus terrível, criando a

eternidade dos tormentos, segundo a teologia em voga, que tem ensinado erradamente a

idéia de um paraíso beatífico, insípido, e um inferno aterrador, irremissivelmente eterno;

não mais a religião que malsina o progresso e a investigação, mas a idéia pura e

verdadeira da imortalidade para todas as criaturas, a vida estuando em todo o Universo, e

a luta em todos os seus mais recônditos argamassando, à custa dos esforços de cada

um, o portentoso edifício da evolução humana.

XVI - AS VIDAS SUCESSIVAS E OS MUNDOS HABITADOS

Alguns estudiosos, há muitos séculos, guardam as verdadeiras concepções do Universo,

o qual não se encontra circunscrito ao minúsculo orbe terreno e é representado pelo

infinito dos mundos, dentro do infinito de Deus.

Não obstante as teorias do sistema geocêntrico, que encarava a Terra como o centro do

grupo de planetas em que vos encontrais, a idéia da multiplicidade dos sóis vinha, de há

muito, animando o cérebro dos pensadores da antigüidade.

Apesar da objetiva dos vossos telescópios, que descortinam, na imensidade, “as terras do

céu”, julga-se erradamente que apenas o vosso mundo oferece condições de

habitabilidade e somente nele se verifica o florescimento da vida.

Infelizmente, são inúmeros os que duvidam dessa realidade inconteste, aprisionados em

escolas filosóficas que pecam pelo seu caráter obsoleto e incompatível com a evolução

da Humanidade, em geral.

É que não reconhecem que a Terra minúscula é apenas um ponto obscuro e opaco, no

concerto sideral, e nada de singular existe nela que lhe outorgue, com exclusividade, o

privilégio da vida; em contraposição aos assertos dos negadores, podeis notar,

cientificamente, que é mesmo, em vosso plano, o local do Universo onde a vida encontra

mais dificuldades para se estabelecer.

ESPONTANEIDADE IMPOSSÍVEL

Grande é a tortura dos seres racionais que, no mundo terráqueo, buscam guarda para as

suas aspirações de progresso, porquanto, do berço ao túmulo, suas existências

representam grande soma de esforços combatendo com a Natureza inconstante, com as

mais diversas condições climatéricas, arrasadoras da saúde e causas de um combate

acérrimo da parte do homem, porque não lhe é possível viver em afinidade perfeita com a

natureza submetida às mais bruscas mutações, sendo obrigado a criar a sua moradia,

organizar a sua habitação, que representa, de fato, a sua escravidão, que representa , de

fato, a sua escravidão primeira, impedindo-lhe um a existência cheia de harmonia e

espontaneidade.

O vosso mundo vos obriga a uma vida artificial, já que sois obrigados a buscar,

cotidianamente, o sustento do corpo que se gasta e consome nessa batalha sem tréguas.

Nele, as mais belas faculdades espirituais são freqüentemente sufocadas, em virtude das

mais imperiosas necessidades da matéria.

HÁ MUNDOS INCONTÁVEIS

Que se calem os que puderem descobrir a vida apenas em vossa obscura penitência de

náufragos morais.

Por que razão a Vontade Divina colocaria na amplidão essas plagas longínquas?

Enxergar nesses mundos distantes somente objetos de estudo da vossa Astronomia é um

erro; eles estão, às vezes, regulados por forças mais ou menos idênticas às que

controlam a vossa vida. Em sua superfície observam-se os fenômenos atmosféricos e

outros, cuja explicação é inacessível ao vosso entendimento. Por que os formaria o

Criador para o ermo do silêncio e do deserto? Podereis conceber cidades bem

construídas, abarrotadas de tesouros e magnificências, apodrecendo sem habitantes?

Há mundos incontáveis e muitos deles formados de fluidos rarefeitos, inatingidos, na

atualidade, pelos vossos instrumentos de ótica.

MUNDO DE EXÍLIO E ESCOLA REGENERADORA

A terra não representa senão um detalhe obscuro no ilimitado da Vida, região da

amargura, da provação e do exílio; constituindo, porém, uma plaga de sombras, varrida,

muitas vezes, pelos cataclismos do infortúnio e da destruição, deve representar, para

todos quantos a habitam, uma abençoada escola, onde se regenera o Espírito culpado e

onde ele se prepara, demandando glorioso porvir.

Significa um dever de todo homem o trabalho próprio, no sentido de atenuar as más

condições do seu meio ambiente, aplainando todas as dificuldades de ordem material e

moral, porquanto a evolução depende de todos os esforços individuais no conjunto das

coletividades.

Forças ocultas, leis desconhecidas, esperam que a alma humana delas se utilize e, à

medida que se espalhe o progresso moral, mais os homens se beneficiarão na fonte

bendita do conhecimento.

O ESTÍMULO DO CONHECIMENTO

Para a Humanidade terrestre a revelação de outras pátrias do firmamento, fragmentos da

Pátria Universal, não deve constituir uma razão para desânimo de quantos se entregam

aos labores profícuos do estudo. Os desequilíbrios que se verificam no orbe terreno

obedecem a uma lei de justiça, acima de todas as coisas transitórias; e, além disso, a

primeira obrigação de todo homem é colaborar, em todos os minutos de sua passageira

existência, em prol da melhoria do seu próximo, consciente de que trabalhar a benefício

de outrem é engrandecer-se.

O conhecimento das condições perfeitas da vida em outros mundos, não deve trazer

abatimento aos extremistas do ideal. Semelhante verdade deve encher o coração humano

de sagrados estímulos.

Saudai, pois, o concerto da vida, do seio dos vosso combates salvadores!...

Sóis portentosos, luzes policrômicas, mundos maravilhosos, existem embalados pelas

harmonias que a perfeição eleva à Entidade Suprema!...

Além do Grande Cão, da Ursa, de Hércules, outras constelações testam a grandeza

divina. Os firmamentos sucedem-se ininterruptamente nas amplidões etéreas, mas a

Humanidade, para Deus, é uma só e o laço do seu amor reúne todos os seres.

XVII - SOBRE OS ANIMAIS

Com o desenvolvimento das idéias espiritualistas no mundo, torna-se um estudo

obrigatório, e para todos os dias, o grande problema que implica o drama da evolução

anímica.

Teria sido a alma criada no momento da concepção, na mulher, segundo as teorias antireencarnacionistas?

Como será a preexistência? O espírito já é criado pela potência

suprema do Universo, apto a ingressar nas fileiras humanas? E os pensadores se voltam

para os vultos eminentes do passado. As autoridades católicas valem-se de Tomás de

Aquino, que acreditava na criação da alma no período de tempo que precede o

nascimento de um novo ser, esquecendo-se dos grandes padres da antigüidade, como

Orígenes, cuja obra é um atestado eterno em favor das verdades da preexistência. Outras

doutrinas religiosas buscam a opinião falível da sua ortodoxia e dos seus teólogos,

relutando em aceitar as realidades luminosas da reencarnação. Pascal, escrevendo na

adolescência o seu tratado sobre os cones, e inúmeros Espíritos de escol, laborando com

a sua genialidade precoce nas grandes tarefas para as quais foram chamados à Terra,

constituem uma prova eloqüente, aos olhos dos menos perspicazes e dos estudiosos de

mentalidades tardas no raciocínio, a prol da verdade reencarnacionista.

O homem atual recorda instintivamente os seus labores e as suas observações do

passado. Sua existência de hoje á a continuação de quanto efetuou nos dias do pretérito.

As conquistas de agora representam a soma dos seus esforços de antanho, e a

civilização é a grande oficina onde cada um deixa estereotipada a própria obra.

A SOMBRA DOS PRINCÍPIOS

Contempla-se, porém, até hoje, a sombra dos princípios como noite insondável sobre

abismos.

Os desencarnados de minha esfera não se acham indenes, por enquanto, do socorro das

hipóteses. A única certeza obtida é a da imortalidade da vida e como não é possível

observar a essência da sabedoria, sem iniciativas individuais e sem ardorosos trabalhos,

discutimos e estudamos as nobres questões que, na Terra, preocupavam o nosso

pensamento.

Um desses problemas, que mais assombram pela sua singular transcendência, é o das

origens. Se na Terra o progresso humano se verifica, através de dois caminhos, o da

Ciência e o da Revelação espiritual, ainda não encontramos, em identidade de

circunstâncias, em nossa evolução relativa, nenhuma estrada estritamente científica para

determinar o Alfa do Universo, senão a das hipóteses plausíveis. Contudo, saturada da

mais profunda compreensão moral, copiosa é a nossa fonte de revelações, a qual

constitui para nós um elemento granítico, servindo de base à sabedoria de amanhã.

OS ANIMAIS, NOSSOS PARENTES PRÓXIMOS

Se bem haja no próprio circulo dos estudiosos dos espaços o grupo dos opositores das

grandes idéias sobre o evolucionismo do princípio espiritual através das espécies, sou

dos que o estudam, atenta e carinhosamente.

Eminentes naturalistas do mundo, como Charles Darwin, vislumbram grandiosas

verdades, levando a efeito preciosos estudos, os quais, aliás, se prejudicaram pelo

excessivo apego à ciência terrena, que se modifica e se transforma, com os próprios

homens; e, dentro das minhas experiências, posso afirmar, sem laivos de dogmatismo,

que oriundos na flora microbiana, em séculos remotíssimos, não poderemos precisar

onde se encontra o acume as espécies ou da escala dos seres, no pentagrama universal.

E, como o objetivo desta palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores, sintome

à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu acanhado círculo

evolutivo. São eles os nossos parentes próximos, apesar da teimosia de quantos

persistem em o não reconhecer.

Considera-se, às vezes, como afronta ao gênero humano a aceitação dessas verdades. E

pergunta-se como poderíamos admitir um princípio espiritual nas arremetidas furiosas das

feras indomesticadas, ou como poderíamos crer na existência de um rio de luz divina na

serpente venenosa ou na astúcia traiçoeira dos carnívoros. Semelhantes inquirições,

contudo, são filhas de entendimento pouco atilado. Atualmente, precisamos modificar

todos os nossos conceitos acerca de Deus, porquanto nos falece autoridade para defini-lo

ou individualizá-lo. Deus existe.

Eis a nossa luminosa afirmação, sem poder, todavia, classificá-lo, em sua essência. Os

que nos interpelam por essa forma, olvidam as histórias de calúnias, de homicídios, no

seio das perversidades humanas. Para que o homem se conservasse nessa posição

especial de perfectibilidade única, deveria apresentar todos os característicos de uma

entidade irrepreensível, dento do orbe onde foi chamado a viver. Tal não se verifica e,

diariamente, comentais os dramas dolorosos da Humanidade, os assassínios, os

infanticídios nefandos, efetuados em circunstâncias nas quais, muitas vezes, as

faculdades imperfeitas dos irracionais agiriam com maior benignidade e clemência, dando

testemunho de melhor conhecimento das leis de amor que regem o mecanismo do

mundo.

A ALMA DOS ANIMAIS

Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com

atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos do homem, merecendo, por

isso, a sua proteção e amparo.

Seria difícil ao médico legista determinar, nas manchas de sangue, qual o que pertence

ao homem ou ao animal, tal a identidade dos elementos que o compõem. A organização

óssea de ambos é quase a mesma, variando apenas na sua conformação e observandose

diminuta diferença nas vértebras.

O homem está para o animal, simplesmente como um superior hierárquico. Nos

irracionais desenvolvem-se igualmente as faculdades intelectuais. O sentimento de

curiosidade é, na maioria deles, altamente avançado e muitas espécies nos demonstram

as suas elevadas qualidades, exemplificando o amor conjugal, o sentimento da

paternidade, o amparo ao próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza. Para

verificar a existência desses fenômenos, basta que se possua um sentimento acurado de

observação e de análise.

Inúmeros espíritos trouxeram à luz o fruto de suas pacientes indagações, que são para

vós elementos de inegável valor. Entre muitos, citaremos Darwin, Gratiolet e vários outros

estudiosos dedicados a esses notáveis problemas.

Os mais ferozes animais têm para com a prole ilimitada ternura. Aves existem que se

deixam matar, quando não se lhes permite a defesa das suas famílias. Os cães, os

cavalos, os macacos, os elefantes deixam entrever apreciáveis qualidades de inteligência.

É conhecido o caso dos cavalos de um regimento que mastigavam o feno para um de

seus companheiros, inutilizado e enfermo. Conta-se que uma fêmea de cinocéfalo, muito

conhecida pela sua mansidão, gostava de recolher os macaquinhos, os gatos e os cães,

dos quais cuidava com desvelado carinho; certo dia, um gato revoltou-se contra a sua

benfeitora, arranhando-lhe o rosto, e a mãe adotiva, revelando a mais refletida

inteligência, examinou-lhe as patas, cortando-lhe as unhas pontiagudas com os dentes.

Constitui um fato observável a sensibilidade dos cães e dos cavalos ao elogio e às

reprimendas.

Longe iríamos com as citações. O que podemos assegurar é que, sobre os mundos,

laboratórios da vida no Universo, todas as forças naturais contribuem para o nascimento

do ser.

TODOS SOMOS IRMÃOS

De milênios remotos. Viemos todos nós, em pesados avatares.

Da noite dos grandes princípios, ainda insondável para nós, emergimos para o concerto

da vida. A origem constitui, para o nosso relativo entendimento, um profundo mistério,

cuja solução ainda não nos foi possível atingir, mas sabemos que todos os seres

inferiores e superiores participam do patrimônio da luz universal.

Em que esfera estivemos um dia, esperando o desabrochamento de nossa racionalidade?

Desconheceis ainda os processos, os modismos dessas transições, etapas percorridas

pelas espécies, evoluindo sempre, buscando a perfeição suprema e absoluta, mas sabeis

que um laço de amor nos reúne a todos, diante da Entidade Suprema do Universo.

É certo que o Espírito jamais retrograda, constituindo uma infantilidade as teorias da

metempsicose dos egípcios, na antiguidade. Mas, se é impossível o regresso da alma

humana ao circulo da irracionalidade, recebei como obrigação sagrada o dever de

amparar os animais na escala progressiva de suas posições variadas no planeta.

Estendei até eles a vossa concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá,

mais profundamente, os grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e

doces mistérios da vida.

XVII - A EUROPA MODERNA EM FACE DO EVANGELHO

É inegável a importância da tarefa dos europeus, impulsando o progresso dos

outros continentes do planeta. Foi a sua grandiosa civilização, cujos primórdios o

Cristianismo alimentou com a rica substancialidade dos seus ideais, que renovou as

atividades cientificas e industriais dos povos do Oriente, inaugurando, ainda, nas terras

americanas, uma vida nova, não obstante as atrocidades execráveis praticadas pelos

conquistadores, para submeterem o elemento indígena.

Com exceção das doutrinas filosóficas, que a Civilização Ocidental não poderia

oferecer, com uma substancia superior, aos povos orientais, de vez que a obra cristã se

encontrou sempre deturpada desde a sua união com as forças políticas do Estado, foram

os europeus que instituíram, com a sua imaginação criadora, um surto novo de progresso

para as fontes da cultura humana. Os seus esforços são inapreciáveis; suas atividades,

grandiosas, nesse movimento de inventar as comodidades da Civilização e as utilidades

dos povos. Todavia, espiritualmente, os povos europeus cometeram o erro terrível de

perturbar a evolução do Cristianismo, assimilando-o às obsoletas concepções da

mitologia grega e às velhas tradições de imperialismo dos patrícios de Roma, de cujo

confucionismo nasceu à doutrina da simplicidade cristã.

DORES INEVITÁVEIS

É ociosa qualquer referencia à falsa posição dessa Igreja, que se mantém no mundo

atual ao preço da ignorância de uns e do interesse condenável de outros, vivendo a

existência transitória das organizações políticas.

Compete aos estudiosos somente a analise comparativa dos tempos, tentando, com

os seus esforços, operar a regeneração das sociedades, procurando salvar da destruição

tudo o que possa beneficiar os Espíritos nos eu aprendizado sobre a face da Terra.

Todavia, apesar de nossas atividades conjugadas com as de todos os homens de boavontade

que aí representam os instrumentos sadios da vontade do Alto, no sentido de

preservar do arrasamento o patrimônio de conquistas úteis da Humanidade, não é

possível criar-se um obstáculo às grandes dores que, inevitavelmente terão de promover

o movimento expiatório dos indivíduos e das coletividades, onde as criaturas mergulharão

a alma no batismo de purificação pelo sofrimento.

AUSÊNCIA DE UNIDADE ESPIRITUAL

Aventam-se todas as hipóteses com o objetivo de verificar-se na Europa, eixo das

atividades políticas do mundo, um grande movimento de unificação e de paz, chegandose

à tentativa de uma frente única européia, para evitar a queda irremediável da

civilização do Ocidente. Essa frente única é, porém, impossível. Não existe ali a unidade

espiritual necessária à consecução desse grandioso projeto. Apenas o Cristianismo, se

não fossem os desvios lamentáveis da Igreja Romana, poderia fornecer essa

intangibilidade de fé a todos os espíritos. Mas, a obra cristã ali se encontra virtualmente

degenerada. E, em virtude de semelhantes desequilíbrios, todos os ideais antifraternos

foram desenvolvidos no Velho Mundo, intensificando-se o regime de separatividade entre

as nações. Cada país europeu procura insular-se da comunidade continental e somente o

Pacto de Versalhes e o instituto genevriano representam, com a sua atuação, essa trégua

de 18 anos, depois do conflito de 1914; contudo, esses dois diques, que impediam os

movimentos armados, sem, aliás, obstar-lhes a preparação, têm as suas influencias

anuladas. O Tratado de Versalhes caiu com as deliberações políticas do novo Reich e a

Liga das Nações compreendeu a inaplicabilidade do seu estatuto, no momento decisivo

da campanha italiana na Abissínia.

A PAZ ARMADA

Todos os povos entenderam bem essas profundas desilusões. Procura-se a paz na

corrida aos armamentos. Mais de 100.000 homens mecanizados estão preparados no

Velho Continente, só para a ofensiva do ar. Busca-se a todo transe uma solução para os

problemas da guerra. Uma reforma visceral nos estatutos da Sociedade de Genebra é

inutilmente sugerida. Estuda-se a possibilidade de um acordo entre a França e a Itália, no

sentido de assegurar-se a paz continental, atendendo-se às necessidades da região

danubiana e equilibrando a Alemanha com o resto da Europa. Tenta-se a colaboração de

todos os gabinetes. Os partidos iniciam a guerra das ideologias. Mas a Europa, nos seus

conflitos inquietantes, conhece perfeitamente a sua condenação à guerra.

SOCIEDADES EDIFICADAS NA PILHAGEM

A ilação dolorosa que se pode extrais da situação atual é a de que essas

sociedades foram edificadas à revelia do Evangelho, necessitando as suas bases de mais

profundas transformações. Fundadas com o rotulo de Cristianismo, elas não o

conheceram. A sombra do Deus antropomórfico que criaram para as suas comodidades,

inverteram todas as lições do Salvador, em cujo ideal de fraternidade e pureza

asseveraram progredir e viver. Distanciadas, porém, como se encontram, de uma

identidade perfeita com os estatutos evangélicos, as sociedades européias sucumbem

sob o peso da sua opulência miserável. Suas fontes de cultura acham-se visceralmente

envenenadas com as suas descobertas e ciências, que são recursos macabros para a

destruição e para a morte. Não existe, ali, nenhuma unidade espiritual, à base do espírito

religioso, mantenedora do progresso coletivo.

Como poderá persistir de pé uma civilização dessa natureza, se todos os seus

trabalhos objetivam o extermínio dos mais fracos, estabelecendo o condenável critério da

força? O Ocidente terá de conhecer uma vida nova. Um sopro admirável de verdades há

de confundir os seus erros seculares. As sociedades edificadas na pilhagem hão de

purificar-se, inaugurando o seu novo regime à base da lição fraterna de Jesus.

Esperemos, confiantes, a alvorada luminosa que se aproxima, porque, depois das

grandes sombras e das grandes dores que envolverão a face da Terra, o Evangelho há

de criar, no mundo inteiro, a verdadeira Cristandade.

XIX - A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

É imprescindível não perdermos de vista os aspectos sociais da civilização moderna, para

encontrarmos os falsos princípios das suas bases e o fim próximo que a espera

inevitavelmente.

As corridas armamentistas e as angustiosas conversações diplomáticas destes últimos

tempos, no continente europeu, que representa o cérebro da Civilização Ocidental,

denotam os perigos ameaçadores da guerra. Todo o organismo social da Europa

moderna repousa em bases militaristas. Da indústria das armas, mais que da agricultura,

e isso é lamentável, depende a estabilidade da civilização de todo o Ocidente. Os

exércitos compactos, as casas manufatureiras do canhão e da bomba explosiva, as

coletividades atentas às atividades bélicas, constituem os elementos vitais da evolução

européia. Um surto de civilização dessa natureza não pode prescindir da guerra e é por

essa razão que o perigo iminente da carnificina bate de novo à porta da alma humana,

saturada de temores e sofrimentos.

Não bastou ao Velho Mundo a dolorosa experiência de 1914, que lhe custou trezentos

bilhões de dólares e mais de trinta milhões de vidas. A guerra quer devorar as derradeiras

energias desses povos que não souberam edificar suas leis.

A Europa é um grande vulcão em repouso. Nos gabinetes os estadistas se desenganam à

procura de uma solução objetiva, em favor da paz internacional. Há uma pergunta

angustiosa e aflitiva em todos os corações. As mentalidades diretoras dos povos tremem

ao enunciar as suas sentenças e julgamentos. Ninguém deseja arcar com as

responsabilidades da última palavra.

Enquanto isso ocorre, observa-se a decadência da Civilização Ocidental para orientar o

pensamento do mundo.

POSSIBILIDADES DO ORIENTE

Desde o primeiro quartel do século XX, após a vitória japonesa em Tsushima, multiplicamse

as possibilidades do Oriente, para onde parece transportar-se o centro evolutivo da

Humanidade. O Pacífico volve a revestir-se de vida nova. A China movimenta-se com as

suas revoluções internas. Em centros remotos, como o Afeganistão e a Turquia, percebese

uma onda de renovação geral. A Rússia soviética, há muito tempo, dirige as suas

vistas para o Extremo Oriente. k na Sibéria Oriental que repousam, na atualidade, as mais

importantes de suas bases militares. A Nova Zelândia e a Austrália são celeiros de

possibilidades infinitas. A Índia, não obstante o domínio britânico, fornece ao planeta

exemplos e doutrinas regeneradoras. Figuras preeminentes dos povos orientais são hoje

acatadas em todo o mundo. A figura de Gandhi tem a sua projeção universal. As costas

do Pacifico estão cheias de movimentos comerciais; nas suas margens, as Repúblicas da

América Meridional acusam uma vida nova, no plano da cultura, do progresso e do

pensamento. Todos os movimentos mais importantes do orbe afiguram-se-nos, mais ou

menos, deslocados de novo para a Ásia, onde o Japão assume o papel de orientador

desse incontestável movimento de organização.

O FANTASMA DA GUERRA

A Europa, na atualidade, é o gigante cansado, à beira do seu túmulo. Infelizmente, o

senso arraigado do militarismo envenenou-lhe os centros de força. A Alemanha e a Itália

superlotadas apeiam para os recursos que a guerra lhes oferece. Não obstante todos os

tratados e pactos em favor da tranqüilidade européia, nunca, como agora, foi a paz, ali,

tão vilipendiada. O Tratado de Versalhes e os Acordos de Locarno nada mais foram que

fenômenos diplomáticos da própria guerra em perspectiva. Nunca houve um propósito

sincero de fraternidade e de igualdade nessas alianças. Em 1928, foi assinado o Pacto

Briand-Kellogg, como se fora uma esperança para todas as nacionalidades. Entretanto,

jamais, como nestes últimos anos, o armamentismo tomou tanto incremento, em todos os

países do planeta. Só a França, nas suas estatísticas do ano passado, acusava uma

despesa de mais de treze bilhões de francos, invertidos nos programas de sua defesa. E,

atrás dos grandes vasos de guerra, das metralhadoras de pesado calibre, das granadas

destruidoras, escondem-se os novos gases asfixiantes e os terríveis elementos da guerra

bacteriológica, que os algozes da ciência engendraram criminosamente para suplício dos

povos. O momento é de angústia justificável. A própria Inglaterra, que nunca se encontrou

tão poderosa e tão rica quanto agora, sente de perto a catástrofe; sua missão

colonizadora toca, igualmente, o fim. Ao lado dos bens que os ingleses prodigalizaram a

diversas regiões do planeta, houve de sua parte lamentável esquecimento: o de que cada

povo tem a sua personalidade independente.

ÂNSIA DE DOMíNIO E DE DESTRUIÇÃO

Diz-se que todo o Oriente se ocidentaliza na atualidade; todavia, o Oriente apenas

aproveita o fruto de experiências que hoje lhe entrega a Civilização Ocidental,

pressentindo o sintoma de sua decadência.

O Cristianismo, deturpado na Europa, degenerado pela influenciação dos bispos

romanos, não conseguiu ser o baluarte dessa civilização que, aos poucos, vai

desmoronando.

As nações do Velho Mundo apenas cuidaram de dominar os outros países como seus

vassalos; mas, é passada a época desses domínios injustificáveis. Os pretextos de

expansionismo não se justificam dentro dos princípios da paz internacional e os

movimentos de conquista apenas servem para enfraquecer a economia dos povos que se

abandonam aos seus excessos. A Europa moderna esqueceu-se de que a Ásia tem a

massa considerável de setecentos milhões de almas, como elementos de energia

potencial, aguardando igualmente o instante de sua necessária expansão; olvidou que a

América é consciente, agora, de sua importância e de suas infinitas possibilidades,

prescindindo da sua tutela e dos seus estatutos e, no momento atual, o continente

europeu reconhece a ineficácia de suas teorias de paz, diante da sua necessidade

irrevogável de guerra, de destruição. Integrada no conhecimento de seus falsos

princípios, edificados, todos eles, na base armamentista, a Civilização Ocidental

reconhece o seu próprio desprestígio; há muitos anos, o vírus do morticínio lhe vem

solapando os alicerces, e as épocas de aflição e de crise periodicamente se repetem. A

França que, em 1870, foi procurar socorro às portas da Rússia poderosa dos czares,

acossada pela Alemanha, volta-se hoje para a união pseudocomunista de Stalin, pedindo

a mesma aliança para conjurar o perigo germânico. A Grã-Bretanha observa, da sua

tribuna, o movimento e prepara-se para surpresas eventuais; tentando conservar seu

poderio, volve à política de conciliação; todavia, a guerra é inevitável no ambiente dessa

civilização de monumentos grandiosos de ciência no plano material, mas feita de fogosfátuos

no domínio da espiritualidade. Os povos, em virtude da organização de suas leis,

têm necessidade de deflagração dos movimentos bélicos. Não poderão viver muito mais

tempo sem eles. A destruição lhes é necessária.

A quem caberá então o cetro da cultura, a lide-rança do pensamento? Sabe-o Deus.

O FUTURO DAS GRANDEZAS MATERIAIS

Dentro de alguns séculos, os colossos de Paris, de Roma e' de Londres serão

contemplados com o embevecimento histórico das recordações; a torre Eiffel, a Abadia de

Westminster serão como as ruínas do Coliseu de Vespasiano e das construções antigas

do Spalato. Os ventos tristes da noite hão de soluçar sobre os destroços, onde os homens

se encontraram para se destruírem, uns aos outros, em vez de se amarem como irmãos.

Os raios da Lua deixarão ver, nas margens do Tamisa, do Tibre e do Sena, o local onde a

Civilização Ocidental suicidou-se à míngua de conhecimentos espirituais. O império

britânico conhecerá então, como a Península Ibérica, a recordação dos seus domínios e

das suas conquistas. A França sentirá, como a Grécia antiga, um orgulho nobre por ter

cooperado na enunciação dos Direitos do Homem e a Itália se lembrará

melancolicamente de suas lutas.

De cada vez que os homens querem impor-se, arbitrários e despóticos, diante das leis

divinas, há uma força misteriosa que os faz cair, dentro dos seus enganos e de suas

próprias fraquezas. A impenitência da civilização moderna, corrompida de vícios e

mantida nos seus maiores centros à custa das indústrias bélicas, não é diferente do

império babilônico que caiu, apesar do seu fastígio e da sua grandeza. No banquete dos

povos ilustres da atualidade terrestre, lêem-se as três palavras fatídicas do festim de

Baltasar. Uma força invisível gravou novamente o “Mane – Thécel – Phares” na festa do

mundo.

Que Deus, na Sua misericórdia, ampare os humildes e os justos.

XX - A DECADÊNCIA INTELECTUAL DOS TEMPOS MODERNOS

Pesam sobre os corações atribulados da Terra amargas apreensões, com respeito

ao fatalismo da guerra. E, infelizmente, ninguém poderá calcular a extensão dos

movimentos que se preparam, objetivando a luta do porvir. A Europa moderna não

representa a vanguarda da cultura dos povos, e é fácil estabelecer-se um estudo analítico

de sua situação de pura decadência intelectual, depois da catástrofe de 1914-1918.

PROFUNDA POBREZA INTELECTUAL

As ditaduras européias revivem, na atualidade, a época napoleônica da pátria

francesa, quando, segundo Chateaubriand, tudo respirava o senhor, homenageava o

senhor, vivia para o senhor. No \velho Mundo, em quase todos os países que o

constituem, vive-se o governo e mais nada. O livro, a escola, o jornal, a oficina, são

núcleos de recepção do pensamento dos maiores ditadores que o mundo há conhecido. A

imprensa, manietada pelas medidas draconianas, não pode criar o cooperativismo

intelectual das classes e das administrações, obrigada a viver a fase de absoluta união

com os programas de governo; os grandes pensadores que sobreviveram à Grande

Guerra não podem produzir expressões de pensamento livre, que abranjam a solução dos

enigmas destes tempos novos, trabalhados por leis vexatórias e humilhantes, e vemos,

pelo mundo inteiro, a invasão das forças perversoras da consciência humana. Jornais

integrados nas doutrinas mais absurdas, falsa educação pelo radio que vem complicar,

sobremaneira, a situação, e os livros da guerra, a literatura bélica, inflada de demagogia e

de estandartes, de símbolos e de bandeiras, incentivando a separatividade. Qualquer

estudioso desses assuntos poderá verificar a realidade de nossas afirmativas.

Os homens, nessa fase de preparação armamentista, vivem uma época de profunda

pobreza intelectual.

O porvir há de falar aos pósteros, dessas calamidades dolorosas. O mundo chegou

a uma fase evolutiva em que é preciso encarar-se de frente a questão da fraternidade

humana para resolve-la com justiça.

DITADURAS E PROBLEMAS ECONÔMICOS

Os governos fortes, fatores da decadência espiritual dos povos, que guardavam

consigo a vanguarda evolutiva do mundo, não podem trazer solução satisfatória aos

problemas profundos que vos interessam.

Afigura-se-nos que a função das ditaduras é preparar as reações incendiarias das

coletividades. A atualidade do mundo necessita criar um novo mecanismo de justiça

econômica entre os povos. Que se aventem medidas conciliatórias para essa situação de

pauperismo e alto imperialismo das nações. Os que estudam a política internacional

podem resolver grande parte dos fenômenos revolucionários que convulsionam o mundo,

analisando a chamada questão das matérias-primas. Matérias-primas quer dizer colônias

e colônias significam possibilidades de vida e de expansão. É verdade que na Espanha

atual, antes de tudo, reside o imperativo da dor, redimido grandes culpados de outrora,

constituindo essa dolorosa situação um dos quadros mais pungentes das provações

coletivas; mas não somente as ideologias extremistas ali se combatem, pressagiando um

novo organismo político para o planeta. Um dos dois diretores de um manicômio espanhol

asseverava, há pouco tempo, que mais de quatrocentas pessoas, em um ano, tinham

procurado refugio naquele pouso de alienados, como loucas, em virtude das

necessidades da fome. A Espanha é pobre de terras. De cem hectares de terrenos, talvez

somente uns trinta poderão oferecer campo propicio à agricultura. E não só a velha

península se debate nessas necessidades tão duras. A China não está suportando o

aumento continuo da sua população? O Japão se vem fortificando para poder nutrir o seu

povo. A Polônia estuda um projeto de colocar na África ou na América mais de cinco

milhões de criaturas, que a sua possibilidade econômica não comporta.

NECESSIDADE DA COOPERAÇÃO FRATERNA

Nessas aluviões de protestos, ouvem-se os tinidos das armas, e melhor fora que o

homem voltasse as vistas para o campo fraterno, antes da destruição que se fará

consumar. Seria melhor estudar-se a questão carinhosamente, analisando-se os códigos

das leis imigratórias e que as nações não se deixassem dominar pelo prurido de mau

nacionalismo, tentando estabelecer um plano de concessões racionais e resolvendo-se a

questão da troca de produtos entre os países, solucionando-se o enigma da repartição

que a economia política não pôde conseguir até hoje, apesar da sua perfeição técnica, no

circulo da direção das possibilidades produtoras.

O que verificamos é que, sem a pratica da fraternidade verdadeira, todos esses

movimentos pró-paz são encenações diplomáticas sem fundo pratico, não obstante

intenções respeitáveis.

Mas, consideremos também que o mundo não marcha à revelia das leis

misericordiosas do Alto, e estas, no momento oportuno, saberão opor um dique à chacina

e ao arrasamento; confiemos nelas, porque os códigos humanos serão sempre

documentos transitórios, como o papel em que são registrados, enquanto não se

associarem, parágrafo por parágrafo, ao Evangelho de Jesus.

XXI - CIVILIZAÇÃO EM CRISE

Alguns modernos escritores europeus, estudando o caos da sociedade moderna, após a

Grande Guerra, tentaram estabelecer as causas profundas da crise da Civilização

Ocidental.

O movimento armado de 1914 - 1918 veio destruir grande número de princípios filosóficos

que reagiam a vida das coletividades. Nas suas ruínas fumegantes caíram muitas ilusões

sociais e políticas, e os povos, na sua existência de profundas inquietações, iniciaram em

todo o período “post bellum” uma série de longas experiências.

FASE DE EXPERIMENTAÇÕES

A Civilização Ocidental está em crise; os observadores e os sociólogos trazem, para o

amontoado de várias considerações, o resultado dos seus estudos. Alguns proclamam

que toda civilização tem a fragilidade de uma vida; outros aventam hipóteses mais ou

menos aceitáveis, e alguns apeiam para a cristianização dos espíritos. Estes últimos

estão acertados em seus pareceres; todavia, não no sentido de um retorno à Idade

Média, à preponderância da fradaria, à disseminação dos princípios católico-romanos;

mas no de se organizar, de fato, no mundo, um espírito cristão sobre a base do

Evangelho. As novas experiências da Europa, em matéria de política administrativa, não

poderão conduzi-la senão aos movimentos armados, inevitáveis. Dentro das vibrações

antagônicas do fascismo e do bolchevismo, fórmulas transitórias de atividades políticas do

Velho Mundo, todos os que falam em decadência do liberalismo estão errados. Os

governos fortes da atualidade, tenham eles os rótulos de nacionalismo ou

internacionalismo, hão de voltar-se, do círculo de suas experiências, para as conquistas

liberais do espírito humano, caminhando com essas conquistas na sua estrada evolutiva,

progredindo e avançando para o socialismo cristão do porvir.

NA DEPENDÊNCIA DA GUERRA

Terminada a última guerra, todos os povos ponderaram a necessidade de paz, dentro de

uma política regeneradora. Esgotadas e empobrecidas, as nações européias idealizaram

tratados, conferências e institutos que equilibrassem o continente, prevenindo-se contra a

possibilidade de futuros arrasamentos. Alterou-se a carta geográfica do mundo europeu

repartindo-se colônias, criou-se uma literatura antibélica e iniciaram-se novas

experiências políticas com a formação das repúblicas soviéticas. Mas a verdade é que

cada país multiplicou os seus organismos de guerra; cada qual pensou na paz,

trabalhando na sombra para as lutas do porvir. E quando, depois de anos a fio de

conversações diplomáticas e de citações de determinados artigos dos supostos estatutos

da tranqüilidade coletiva, caíram os sonhos de um desarmamento geral e diminuíram em

eficácia os processos da Sociedade de Genebra, o mundo viu, aterrado, aumentar os

efetivos das forças armadas de todas as nações.

Vê-se, mais que nunca, que toda a vida do Ocidente depende da guerra. Milhares de

operários têm suas atividades postas ao serviço da manufatura das armas homicidas.

Milhares de homens estão empregados no trabalho de militarização. Milhares de criaturas

se movimentam e ganham o pão cotidiano nas indústrias guerreiras.

SENTENÇA DE DESTRUIÇÃO

A civilização está em crise porque conheceu a sua sentença de destruição. A guerra, no

seu mecanismo industrial, econômico e político, é imprescindível e inevitável.

Comunismo e fascismo, nas suas oposições ideológicas, só poderão apressá-la.

Ainda há pouco tempo, um jovem europeu ex-clamava para um colega americano: “Ai de

nós! se nos prepararmos pelo estudo para a luta de nossas próprias edificações! bem

sabemos que o Estado exigirá, amanhã, as nossas vidas. Temos de rir e beber para

esquecer essas fatalidades irremediáveis.”

Essa observação caracteriza, de fato, as calamidades morais da sociedade moderna.

A ausência de um apoio espiritual estabelece a vacilação moral das criaturas. O

sentimento dos homens requer uma base religiosa, e a transformação de quase todos os

valores religiosos do Velho Mundo, em forças de política transitória, deu causa às fundas

inquietações contemporâneas. As criaturas vivem a sua tragédia de pessimismo e

descrença, à sombra dos governos de experiências tão penosas às coletividades e

encaminham-se, com indiferença, para a subversão e para a desordem.

O FUTURO PERTENCERÁ AO EVANGELHO

A Civilização está em crise, repetimos com os observadores do mundo. Pode-se apontar

como uma das causas desse estado caótico a defecção espiritual da Igreja Católica,

negando-se a cumprir as determinações divinas para disputar um lugar de dominação, no

banquete dos poderes temporários do mundo. Se houvesse mantido a sua posição

espiritual, fortificando as almas no seu longo caminho evolutivo, como mediadora entre o

Céu e a Terra, as transições sociais, inevitáveis, não seriam tão penosas para as

gerações do século XX. A estabilidade da Civilização Ocidental, sua evolução para o

socialismo de Jesus, dependiam da fidelidade da Igreja Católica aos princípios cristãos.

Mas, a Igreja negou-se ao cumprimento de sua grandiosa missão espiritual e o resultado

temo-lo na desesperação das almas humanas, em face dos problemas transcendentes da

vida.

A luta está travada.

A Civilização em crise, organizada para a guerra e vivendo para a guerra, há de cair

inevitavelmente; mas o futuro nascerá dos seus escombros, para vê-ver o novo ciclo da

Humanidade, sem os extremismos anti-racionais, na época gloriosa da justiça econômica.

Não duvidemos, dentro da nossa certeza incontestável. O porvir humano pertence à

vitória do Evangelho.

XXII - FLUIDOS MATERIAIS E FLUIDOS ESPIRITUAIS

1º - Serão os fluidos correntes de electrônios?

2º - Serão essas correntes de duas naturezas – uma para atuar

sobre a matéria e outra sobre o Espírito preso a essa matéria?

3º - A corrente espiritual será formada pelas ondas eletrônicas?

4º - O electrônio da corrente espiritual será o mesmo da corrente

material?

1º – A ciência terrestre classifica o electrônio como a derradeira unidade de matéria, de

carga elétrica negativa. No mundo do Infinitesimal, porém, temos um caminho ilimitado e

progressivo a percorrer.

O homem, diante da incapacidade da sua estrutura e em face da sua zona sensorial

limitada, não consegue ir além, no labirinto de segredos do microcosmo e, para que nos

façamos entendidos, não podemos convir convosco em que os fluidos, de um modo geral,

sejam correntes de electrônios, ainda mesmo considerando-se a necessidade de

representar-se, com essa unidade, uma base para a vossa possibilidade de compreensão

e de análise, porque os electrônios são ainda expressões de matéria em estado de

grande rarefação.

2º, 3º e 4° – Embora sintéticas, pela sua construção fraseológica, essas proposições são

bastante complexas em si mesmas.

As correntes de fluidos espirituais têm a sua organização particular e estão aptas a

determinar a transformação das correntes de força material, em qualquer circunstância.

Seria aconselhável nunca se confundir as ondas eletrônica com os fluidos de natureza

espiritual. A matéria, atingindo sublimidades de quintessência, quase se confunde no

plano puro do espírito, constituindo tarefa difícil para o eletromagnetismo positivar onde

termina uma e onde começa outro.

Ainda agora, os cientistas, investigando a natureza da radioatividade em todos os corpos

da matéria viva, perguntam ansiosos qual a fonte permanente e inesgotável onde os

corpos absorvem, incessante e automaticamente, os elementos necessários a essa

perene e inextinguível irradiação. No que se refere às ondas electrônicas ou aos

elementos radioativos da matéria em si mesma, essa fonte reside, sem dúvida, na energia

solar, que vitaliza todo o organismo planetário. O orbe terrestre é um grande magneto,

governado pelas forças positivas do Sol. Toda matéria tangível representa uma

condensação de energia dessas forças sobre o planeta e essa condensação se verifica

debaixo da influência organizadora do princípio espiritual, preexistindo a todas as

combinações químicas e moleculares. É a alma das coisas e dos seres o elemento que

influi no problema das formas, segundo a posição evolutiva de cada unidade individual.

Todas as correntes electrônicas, portanto, ou ondas de matéria rarefeita, são elementos

subordinados às correntes de fluidos ou vibrações espirituais; aquelas são os

instrumentos passivos, estas as forças ativas e renovadoras do Universo.

Os corpos terrestres encontram no Sol a fonte mantenedora de suas substâncias

radioativas, mas todas essas correntes de energia são inconscientes e passivas. Os

Espíritos, por sua vez, encontram em Deus a fonte suprema de todas as suas forças, em

perene evolução, no drama dinâmico dos sistemas. As correntes fluídicas no mundo

espiritual são, pois, vibrações da alma consciente, dentro da sua gloriosa imortalidade.

Concluímos, assim, que há fluidos materiais e fluidos espirituais; que os primeiros são

elementos inconscientes e passivos e os últimos a força eterna e transformadora dos

mundos, salientando-se que uma só lei rege a vida, em sua identidade substancial. Nas

ondas electrônicas, filhas da energia solar, chama-se-lhe afinidade, magnetismo, atração,

e, nas correntes de fluidos espirituais, filhas da alma, partícula divina, chama-se-lhe

misericórdia, simpatia, piedade e amor. Nessa lei única, que liga a Criação ao seu Criador

e da qual estudamos os fenômenos isolados, desenrola-se o drama da evolução do

espírito imortal.

XXIII - A SAÚDE HUMANA

Justifica-se o esforço dos experimentadores da medicina tentando descobrir um caminho

novo para atenuar a miséria humana; todavia, sem abstrairmos das diretrizes espirituais, que

orientam os fenômenos patogênicos nas questões das provas individuais, temos necessidade

de reconhecer a imprescindibilidade da saúde moral, antes de atacarmos o enigma doloroso e

transcendente das enfermidades físicas do homem.

A RENOVAQÃO DOS MÉTODOS DE CURA

Em todos os séculos tem-se estudado o problema da saúde humana.

Até à metade do século XVlll, admitia-se plena-mente a medicina da Idade Média que, por

sua vez, representava quase integralmente o mesmo processo de cura dos egípcios, na

antiguidade. Todas as moléstias eram atribuídas à vacilação dos humores, baseando-se a

maior parte dos métodos terapêuticos na sangria e nas substâncias purgativas. No século

XIX, as grandes descobertas científicas eliminaram esses antigos conhecimentos. Os

aparelhos de laboratório perquirindo o mundo obscuro e vastíssimo da microbiologia, as

novas teses anatomopatológicas, apresentadas pelos estudiosos do assunto, estabelecem,

com a severidade das análises, que as moléstias residem na modificação das partes sólidas

do organismo, abandonando-se a teoria da alteração dos humores. Os médicos esqueceram,

então, o estudo dos líquidos viciados do corpo, concentrando atenções e pesquisas na lesão

orgânica, criando novos métodos de cura.

OS PROBLEMAS CLÍNICOS INQUIETANTES

Não obstante a nobreza e a sublimidade da missão de quantos se entregam ao sagrado labor

de aliviar as amarguras alheias ai no mundo, reconhecemos que muitos estudiosos perdem

um tempo precioso, mergulhados na discussão de mesquinhas rivalidades profissionais,

quando não se acham atolados no pântano dos interesses exclusivistas e particulares,

desconhecendo a grandiosidade espiritual do seu sacerdócio.

O que se torna altamente necessário nos tempos modernos é reconhecer-se, acima de todos

os processos artificiais de cura da atualidade, o método indispensável da medicina natural,

com suas potencialidades infinitas.

Analisando-se todos os descobrimentos notáveis dos sistemas terapêuticos dos vossos dias,

orientados pelas doutrinas mais avançadas, em virtude dos novos conhecimentos humanos

com respeito à bacteriologia, à biologia, à química, etc., reconhecemos que, com exceção da

cirurgia, que teve com Ambroise Paré, e outros inteligentes cirurgiões de guerra, o mais

amplo dos desenvolvimentos, pouco têm adiantado os homens na solução dos problemas da

cura, dentro dos dispositivos da medicina artificial por eles inventada. Apesar do concurso

precioso do microscópio, existem hoje questões clínicas tão inquietantes, como há duzentos

anos. Os progressos regulares que se verificam na questão angustiosissima do câncer e da

lepra, da tuberculose e de outras enfermidades contagiosas, não foram além das medidas

preconizadas pela medicina natural, baseadas na profilaxia e na higiene. Os investigadores

puderam vislumbrar o mundo microbiano sem saber eliminá-la. Se foi possível devassar o

mistério da Natureza, a mentalidade humana ainda não conseguiu apreender o mecanismo

das suas leis. O que os estudiosos, com poucas exceções, se satisfazem com o mundo

aparente das formas, demorando-se nas expressões exteriores, incapazes de uma excursão

espiritual no domínio das origens profundas. Sondam os fenômenos sem lhes auscultarem as

causas divinas.

MEDICINA ESPIRITUAL

A saúde humana nunca será o produto de comprimidos, de anestésicos, de soros, de

alimentação artificialíssima. O homem terá de voltar os olhos para a terapêutica natural, que

reside em si mesmo, na sua personalidade e no seu meio ambiente. Há necessidade, nos

tempos atuais, de se extinguirem os absurdos da “fisiologia dirigida”. A medicina precisa criar

os processos naturais de equilíbrio psíquico, em cujo organismo, se bem que remoto para as

suas atividades anatômicas, se localizam todas as causas dos fenômenos orgânicos

tangíveis. A medicina do futuro terá de ser eminentemente espiritual, posição difícil de ser

atualmente alcançada, em razão da febre maldita do ouro; mas os apóstolos dessas

realidades grandiosas não tardarão a surgir nos horizontes acadêmicos do mundo,

testemunhando o novo ciclo evolutivo da Humanidade. O estado precário da saúde dos

homens, nos dias que passam, tem o seu ascendente na longa série de abusos individuais e

coletivos das criaturas, desviadas da lei sábia e justa da Natureza. A Civilização, na sua sede

de bem-estar, parece haver homologado todos os vícios da alimentação, dos costumes, do

sexo e do trabalho. Todavia, os homens caminham para as mais profundas sínteses

espirituais. A máquina, que estabeleceu tanta miséria no mundo, suprimindo o operário e

intensificando a facilidade da produção, há de trazer, igualmente, uma nova concepção da

civilização que multiplicou os requintes do gosto humano, complicando os problemas de

saúde; há de ensinar às criaturas a maneira de viverem em harmonia com a Natureza.

O MUNDO MARCHA PARA A SÍNTESE

Marcha-se para a síntese e não deve causar surpresa a ninguém a minha assertiva de que

não vos achais na época em que a ciência prática da vida vos ensinará o método do equilíbrio

perfeito, em matéria de saúde. Os corpos humanos serão alimentados, segundo as suas

necessidades especiais, sem dispêndio excessivo de energias orgânicas. As proteínas, os

hidratos de carbono e as gorduras, que constituem as matérias-primas para a produção de

calorias necessárias à conservação do vosso corpo e que representam o celeiro das

economias físicas do vosso organismo, não serão tomados de maneira a prejudicar-se o

metabolismo, estabelecendo-se, dessa forma, uma harmonia perfeita no complexo celular da

vossa personalidade tangível, harmonia essa que perdurará até o fenômeno da

desencarnação.

Mas, todas essas exposições objetivam a necessidade de aplicarmos largamente as nossas

possibilidades na solução dos problemas humanos para a melhoria do futuro.

É verdade que, por muito tempo ainda, teremos, em oposição ao nosso idealismo, a questão

do interesse e do dinheiro, porém, trabalhemos confiantes na misericórdia divina.

Emprestemos o nosso concurso a todas as iniciativas que nobilitem o penoso esforço das

coletividades humanas, e não olvidemos que todo bem praticado reverterá em benefício da

nossa própria individualidade.

Trabalhemos sempre com o pensamento voltado para Jesus, reconhecendo que a preguiça, a

suscetibilidade e a impaciência nunca foram atributos das almas desassombradas e

valorosas.

XXIV - O CORPO ESPIRITUAL

De todos os fenômenos da vida, os que se apresentam ao raio visual da ciência humana,

mantenedores do seu entretenimento, são os da assimilação e desassimilação; todavia,

os que afetam mais particularmente a percepção do homem não são os da atividade vital

em si mesma, consubstanciados nas sínteses orgânicas assimiladoras, mas justamente

os fenômenos da morte. É um axioma fisiológico a extinção das células que constituem o

suporte de todas as manifestações e apenas fazeis geralmente uma idéia da vida por

intermédio desses movimentos destruidores.

A VIDA CORPORAL – EXPRESSÃO DA MORTE

Quando, no homem ou nos irracionais, um gesto se opera, a Natureza determina o

desaparecimento de certa percentagem de substância da economia vital; quando a

sensibilidade se exterioriza e os pensamentos se manifestam, eis que os nervos se

consomem, gastando-se o cérebro em suas atividades funcionais.

A vida corporal é bem a expressão da morte, através da qual efetuais as vossas

observações e os vossos estudos.

Não dispondes, dentro da exigüidade dos vossos sentidos, senão de elementos

constatadores da perda de energia, da luta vital, dos conflitos que se estabelecem para

que os seres se mantenham no seu próprio habitat.

A vida, em suas causalidades profundas, escapa aos vossos escalpelos e apenas o

embriologista observa, no silêncio da penumbra, infinitésima fração do fenômeno

assimilatório das criações orgânicas.

INACESSIVEL AOS PROCESSOS DA INDAGAÇÃO CIENTÍFICA

Segundo os dados da vossa fisiologia, a célula primitiva é comum a todos os seres

vertebrados e espanta ao embriólogo a lei organogênica que estabelece a idéia diretora

do desenvolvimento fetal, desde a união do espermatozoário ao óvulo, especificando os

elementos amorfos do protoplasma; nos domínios da vida, essa idéia diretriz conserva-se

inacessível até hoje aos vossos processos de indagação e de análise, porquanto esse

desenho invisível não está subordinado a nenhuma determinação físico-química, porém,

unicamente ao corpo espiritual preexistente, em cujo molde se realizam todas as ações

plásticas da organização, e sob cuja influência se efetuam todos os fenômenos

endosmóticos.

O organismo fluídico, caracterizado por seus elementos imutáveis, é o assimilador das

forças protoplasmáticas, o mantenedor da aglutinação molecular que organiza as

configurações típicas de cada espécie, incorporando-se, átomo por átomo, à matéria do

germe e dirigindo-a segundo a sua natureza particular.

RESPONDENDO ÀS OBJEÇÕES

Algumas objeções científicas têm sido apresentadas à teoria irrefutável do corpo espiritual

preexistente, destacando-se entre elas, por mais digna de exame, a hereditariedade, a

qual somente deve ser ponderável sob o ponto de vista fisiológico. Todos os tipos de

reino mineral, vegetal, animal, incluindo-se o hominal, organizam-se segundo as

disposições dos seus precedentes ancestrais, dos quais herdam, naturalmente, pela lei

das afinidades, a sua sanidade ou os seus defeitos de origem orgânica, unicamente.

De todos os estudos referentes ao assunto, em vossa época, salienta-se a teoria

darwiniana das gêmulas, corpúsculos infinitesimais que se transmitem pela vida seminal

aos elementos geradores, contendo na matéria embrionária disposição de todas as

moléculas do corpo, as quais se reproduzem dentro de cada espécie. A maioria das

moléstias, inclusive a dipsomania, é transmissível; porém, isso não implica um fatalismo

biológico que engendre o infortúnio dos seres, porque inúmeros Espíritos, em traçando o

mapa do seu destino, buscam, com o escolher determinado instrumento, alargar as suas

possibilidades de triunfo sobre a matéria, como um fato decorrente das severas leis

morais, que, como no ambiente terrestre, prevalecem no mundo espiritual, o que não nos

cabe discutir neste estudo.

Não obstante a preponderância dos fatores físicos nas funções procriadoras, é totalmente

inaceitável e descabido o atavismo psicológico, hipótese aventada pelos

desconhecedores da profunda independência da individualidade espiritual, hipótese que

aventada pelos desconhecedores da profunda independência da individualidade

espiritual, hipótese que reveste a matéria de poderes que nunca ela possuiu em sua

condição de passividade característica.

Reconhecendo-se, pois, a veracidade da argumentação de quantos aceitam a

hereditariedade fisiológica nos fenômenos da procriação, representando cada ser o

organismo que provêm por filiação, afastemos a hipótese da hereditariedade psicológica,

porquanto, espiritualmente, temos a considerar, apenas, ao lado da influência ambiente, a

afinidade sentimental.

ATRAVÉS DOS ESCANINHOS DO UNIVERSO ORGÂNICO

De todas as funções gerais que caracterizam os seres viventes, somente os fenômenos

de nutrição podem ser estudados pela perquirição científica e, mesmo assim,

imperfeitamente, há uma força inerente aos corpos organizados, que mantém coesas as

personalidades celulares, sustentando-se dentro das particularidades de cada órgão,

presidindo aos fenômenos partenogenéticos de sua evolução, substituindo, através da

segmentação, quantas delas se consomem nas secreções glandulares, no trabalho

mantenedor da atividade orgânica.

Essa força é o que denominais princípio vital, essência fundamental que regula a

existência das células vivas, e no qual elas se banham constantemente, encontrando

assim a sua necessária nutrição, força que se encontra esparsa por todos os escaninhos

do universo orgânico, combinada às substâncias minerais, azotadas e ternárias, operando

os atos nutritivos de todas as moléculas. O princípio vital é o agente entre o corpo

espiritual, fonte de energia e da vontade, e a matéria passiva, inerente às faculdades

superiores do Espírito, que o adapta segundo as forças cósmicas que constituem as leis

físicas de cada plano de existência, proporcionando essa adaptação às suas

necessidades intrínsecas.

Essa força ativa e regeneradora, de cujo enfraquecimento decorre a ausência de tônus

vital, precursor da destruição orgânica, é simplesmente a ação criadora e plasmadora do

corpo espiritual sobre os elementos físicos.

O SANTUÁRIO DA MEMÓRIA

O corpo espiritual não retém somente a prerrogativa de constituir a fonte da misteriosa

força plástica da vida, a qual opera a oxidação orgânica; é também ele a sede das

faculdades, dos sentimentos, da inteligência e, sobretudo o santuário da memória, em que

o ser encontra os elementos comprobatórios da sua identidade, através de todas as

mutações e transformações da matéria.

O PRODIGIOS ALQUIMISTA

Todas as células orgânicas renovam-se incessantemente; e como poderia a criatura

conhecer-se entre essas continuadas transubstanciações? Para que se manifeste o

pensamento – que desconhece as glândulas que o segregam, porquanto constitui a

vibração do corpo espiritual dentro de sua profunda consciência – quantas células se

consomem e se queimam?

O cérebro assemelha-se a complicado laboratório onde o espírito, prodigioso alquimista,

efetua inimagináveis associações atômicas e moleculares, necessárias às exteriorizações

inteligentes.

É ainda, pois, ao corpo espiritual que se deve a maravilha da memória, misteriosa chapa

fotográfica, onde tudo se grava, sem que os menores coloridos das imagens se

confundam entre si.

ALMA E CORPO

Tem-se procurado explicar, pela prática dos neurologistas, toda a classe de fenômenos

intelectuais, através das ações combinadas do sistema nervoso; e, de fato, a Ciência

atingiu certezas irrefutáveis, como, por exemplo, a de que uma lesão orgânica faz cessar

a manifestação que lhe corresponde e que a destruição de uma rede nervosa faz

desaparecer uma faculdade.

Semelhante asserto, porém, não afasta a verdade da influência de ordem espiritual e

invisível, porque se faz mister compreender, não a alma insulada do corpo, mas ligada a

esse corpo, o qual representa a sua forma objetivada, com um aglomerado de matérias

imprescindíveis à sua condição de tangibilidade, animadas pela sua vontade e por seus

atributos imortais.

Algumas escolas filosóficas fizeram da alma uma abstração, mas a psicologia moderna

restabeleceu a verdade, unindo os elementos psíquicos aos materiais, reconhecendo no

corpo a representação da alma, representação material necessária, segundo as leis

físicas imperantes na Terra, as quais colocaram no sensório o limite das percepções

humanas, que são exíguas em relação ao número ilimitado das vibrações da vida, que

para elas se conservam inapreensíveis.

É, pois, o corpo espiritual a alma fisiológica, assimilando a matéria ao seu molde, à sua

estrutura, a fim de materializar-se no mundo palpável. Sem ele, a fecundação constaria de

uma composição amorfa e todas as manifestações inteligentes e sábias da Natureza, que

para todos nós devem significar a expressão da vontade divina, constituiriam uma série

de atos irregulares e incompreensíveis, sem objetivo determinado.

A EVOLUÇÃO INFINITA

E como se tem operado a evolução do corpo espiritual?

Remontai ao caos telúrico do vosso Globo nas épocas primárias.

Cessadas as perturbações geológicas, estabelecido o repouso em algumas grandes

extensões de matéria resfriada, eis que, entre as forças cósmicas associadas, aparece o

primeiro rudimento de vida organizada – o protoplasma. Eis que os séculos se escoam...

eis as amebas, os zoófilos, os seres monstruosos das profundidades

submarinas...Recapitulemos os milênios passados e acharemos a nossa própria história;

a individualidade, o nosso “ego” constitui o nosso maior triunfo. E, chegados ao raciocínio

e ao sentimento da Humanidade, através de vidas inumeráveis, teremos atingido o zênite

da nossa evolução anímica? Não. Se nos achamos acima dos nossos semelhantes

inferiores – os irracionais -, acima de nós se encontram os seres superiores da

espiritualidade, que se hierarquizam ao infinito e cuja perfeição nos compete alcançar.

XXV - OS PODERES DO ESPÍRITO

Grande será o dia em que todos os homens reconhecerem sobre a matéria a soberana

influência do Espírito.

Toda a imensa bagagem de progresso das civilizações não se fez sem o princípio

espiritual: dele, as menores coisas dependeram, como ainda dependem; do seu

reconhecimento, por parte de quantos habitam o orbe, advirão os resplendores da época

de luz e de esclarecimento.

Esse tempo há de assinalar a época da crença pura e reconfortadora das almas, como

manancial de esperanças; só esse surto de espiritualidade pode vivificar as construções

religiosas, combalidas atualmente pelos abusos da grande maioria dos seus expositores,

que, traindo os seus compromissos, se desviaram do píncaro luminoso do exemplo para o

chavascal de mesquinhas materialidades.

OS MENDIGOS DA SABEDORIA

Nos últimos tempos, a sede humana de saber o que existe além da Terra tem feito com

que o homem engendre as mais fantasiosas teorias concernentes aos mistérios do ser e

do destino, sobre o orbe terreno; no afã de estraçalhar os véus espessos que cobrem os

enigmas da sua evolução, muitos foram os que descambaram para terrenos perigosos,

onde encontram, apenas, os espinhos do ateísmo dissolvente. Esses Espíritos que,

torturados com os problemas da vida, aí se entregam à criação de engenhosos sistemas,

afiguram-se-nos desesperados à porta da sabedoria, orgulhosos na sua impotência e na

sua incapacidade.

Muitos deles, anos e anos, persistem no mesmo trabalho e no mesmo esforço, alegando

não terem encontrado o espírito em suas indagações científicas, abandonando a vida

material com um passado que os encobre pela atividade, bem-intencionada, por eles

despendida, mas desolados, em reconhecendo infrutuosos os seus esforços, que outra

coisa não conseguiram senão lançar a descrença e a confusão nas almas.

INSUFICIÊNCIA SENSORIAL

Reconhecem, então, a insuficiência sensorial que lhes obstava a compreensão do

verdadeiro panorama da vida, no seu desdobramento universal; sentem a exigüidade dos

sentidos do homem carnal e a relatividade de suas funções, ao penetrarem no domínio de

vibrações que se lhes conservaram inacessíveis, chegando à conclusão de que as

filosofias não podem ser substituídas pelas ciências positivas, e que sobre o mundo físico

e objetivo paira uma região transcendente, onde a investigação não se pode fazer sentir,

à falta de elementos de ordem material.

A INÚTIL TENTATIVA

É inútil a tentativa de afastamento do Espírito na obra da evolução terrena. É ele, desde

os primórdios da Civilização, a alma de todas as realizações; e indestrutível é a doutrina

biológica do vitalismo, porque o sistema do monismo e o mecanicismo da seleção natural,

se satisfazem a algumas questões insuladas, não resolvem os problemas mais

importantes da vida.

O princípio das espécies, a origem dos instintos, as organizações primitivas das raças,

das sociedades e das leis, só as teorias espiritualistas explicam satisfatoriamente.

TUDO É VIBRAÇÃO ESPIRITUAL

Já não nos referindo aos poderes plásticos do Espírito, no tocante às questões

fisiológicas, quais sejam as dos fenômenos osmóticos, a autonomia de certos órgãos que

parecem independentes na sua cão dentro do organismo, o trabalho da célula que fabrica

a antitoxina apta a destruir o micróbio que a ataca, a estrutura do princípio fetal, os sinais

de nascença que a Ciência tem negado, baseando-se na ausência de ligação nervosa

entre o feto e o organismo materno, desçamos ao mundo zootécnico. Somente a

intervenção do princípio espiritual explica as metamorfoses dos insetos, o mimetismo,

como o embrião dos instintos e das possibilidades do futuro. Tudo, nos domínios da

matéria, se concatena e se reúne, sob a orientação de um princípio estranho às suas

qualidades amorfas.

A MATÉRIA

A matéria não organiza, é organizada. E não representa senão uma modalidade da

energia esparsa no Universo. Os seus elementos não fazem outra coisa senão submeterse

às injunções do Espírito; e é a soberana influência deste último que elucida todos os

problemas intrincados dos seres e dos destinos, É ao seu apelo, cedendo aos seus

desejos, que todas as matérias brutas se vêm rarefazendo, oferecendo aspectos novos e

delicados. A Civilização, as conquistas científicas e as concepções religiosas representam

o fruto dos labores dos Espíritos que, na Terra, se iniciaram nos trabalhos que regeneram

e aperfeiçoam. O que lhes compete, na atualidade é o não estacionamento nos domínios

conquistados, laborando para que os ideais de justiça, de verdade e de paz se

concretizem na face do orbe. É nessa tarefa bendita que devem concentrar os seus

esforços para que o planeta terrestre não veja sucumbir, na aluvião de insânias das

guerras, o seu patrimônio de progressos, obtidos à custa de trabalhos penosos e ingentes

sacrifícios.

XXVI - OS TEMPOS DO CONSOLADOR

A permissão de Deus para que nos manifestássemos ostensivamente, entre os

agrupamentos dos nossos irmãos encarnados, chegou, justamente, a seu tempo, quando

o espírito humano despido das vestes da puberdade, com o juízo amadurecido para

assimilar algo da Verdade, tateava entre vacilações e incertezas, estabelecidas pela

investigação da Ciência, sem conseguir adaptar-se ao demasiado simbolismo das idéias

religiosas, latentes na alma humana, desde os tempos primevos dos trogloditas.

Justamente na época requerida, consoante as profecias do Divino Mestre, derramou-se

da sua luz sobre toda a carne, e os emissários do Alto, segundo as suas possibilidades e

aos méritos individuais, têm auxiliado a ascensão dos conhecimentos humanos para os

planos elevados da espiritualidade.

A CONCEPÇÃO DA DIVINDADE

Desde as eras primárias da Civilização, a idéia de um poder superior, interferindo ns

questões mundanas, vem guiando o homem através dos seus caminhos e a Religião

sempre constituiu o maior fator da moral social, se bem que apresentasse a divindade à

semelhança do homem, em seus ensinamentos exotéricos.

O Cristianismo, inaugurando um novo ciclo de progresso espiritual, renovou as

concepções de Deus no seio das idéias religiosas; todavia, após a sua propagação, várias

foram as interpretações escriturísticas, dado azo a que as facções sectaristas tentassem

isoladamente, ser as suas únicas representantes; a Igreja Católica e as numerosas seitas

protestantes, nascidas do ambiente por ela formado, têm levado longe a luta religiosa,

esquecidas de que a Providência Divina é Amor. Estabeleceram com a sua acanhada

hermenêutica os dogmas de fé, nutrindo-se das fortunas iníquas a que se referem os

Evangelhos, prejudicando os necessitados e os infelizes.

A FÉ ANTE A CIÊNCIA

Mas, como o progresso não conhece obstáculos, os artigos de fé equivaleram a

estagnações isoladas.Se conseguiram satisfazer à Humanidade em um período mais ou

menos remoto da sua evolução, caducaram desde que o laboratório obscureceu a

sacristia.

A Ciência desvendou o espírito humano as perspectivas inconcebíveis do Infinito; o

telescópio descortinou a grandeza do Universo e os novos conhecimentos cosmogônicos

demandaram outra concepção do Criador. Desvendando, paulatinamente, as sublimes

grandiosidades da natureza invisível, a Ciência embriagou-se com a beleza de tão lindos

mistérios e estabeleceu o caminho positivo para encontrar Deus, como descobrira o

mundo microbiano, ao preço de acuradas perquirições. É que a Divindade das religiões

vigentes era defeituosa e deformada pelos seus atributos exclusivamente humanos; as

igrejas estavam acorrentadas ao dogmatismo e escravizadas aos interesses do mundo. A

confusão estabeleceu-se. Foi quando o Espiritismo fez sentir mais claramente a grandeza

do seu ensinamento, dirigindo-se não só ao coração, mas igualmente ao raciocínio. O céu

descerrou um fragmento do seu mistério e a voz dos Espaços se fez ouvir.

OS ESCLARECIMENTOS DO ESPIRITISMO

Foi assim que a religião da verdade surgiu na Terra, no momento oportuno. As Igrejas

estagnadas encontravam-se no obsoletismo, incapazes de sancionar as idéias novas,

vivendo quase que exclusivamente das suas características de materialidade e do seu

simbolismo, terminado o tempo de sua necessária influência no mundo. As conquistas

científicas não se coadunavam n com o espírito dogmático, e o Espiritismo, com as suas

lições magníficas, alargou infinitamente a perspectiva da vida universal. Explicando e

provando que a existência não se observa somente na face da Terra opaca e cheia de

dores.

Há céus inumeráveis e inumeráveis mundos onde a vida palpita numa eterna mocidade;

todos eles se encadeiam, se abraçam dentro do magnetismo universal, vivificados pela

luz, imagem real da alma Divina, presente em toda parte.

A carne é uma vestimenta temporária, organizada segundo a vibração espiritual, e essa

mesma vibração esclarece todos os enigmas da matéria.

NÓS VIVEREMOS ETERNAMENTE

A Doutrina dos Espíritos, pois, veio desvendar ao homem o panorama da sua evolução e

esclarece-lo no problema das suas responsabilidades, porque a vida não é privilégio da

Terra obscura, mas a manifestação do Criador em todos os recantos do Universo.

Nós viveremos eternamente, através do Infinito e o conhecimento da imortalidade expõe

os nossos deveres de solidariedade para com todos os seres, em nosso caminho;por esta

razão, a Doutrina Espiritista é uma síntese gloriosa de fraternidade e de amor. O seu

grande objeto é esclarecer a inteligência humana.

Oxalá possam os homens compreender a excelsitude do ensinamento dos Espíritos e

aproveitar o fruto bendito das suas experiências; com o entendimento esclarecido,

interpretarão com fidelidade o “Amai-vos uns aos outros”, em sua profunda significação.

Os instrutores dos planos espirituais, em que nos achamos, regozijam-se com todos os

triunfos da vossa ciência, porque toda conquista importa em grande e abençoado esforço

e, pelo trabalho perseverante, o homem conhecerá todas as leis que lhe presidem ao

destino.

XXVII - OS DOGMAS E OS PRECONCEITOS

Os maiores obstáculos, para que se propaguem no seio das sociedades modernas os

ensinamentos salutares e proveitosos do Consolador, são constituídos pelas imensas

barreiras que lhes levantam os dogma e preconceitos de todos os matizes, nas escolas

científicas e facções religiosas, militantes em todas as partes do Globo.

AÇÕES PERTURBADORAS

Muitos espíritos, afeitos ao tradicionalismo intransigente e rotineiro, são incapazes de

conceber a estrada ascensional do progresso, como de fato ela é, cheia de lições novas e

crescentes resplendores; é assim que, completando as longas fileiras de retardatários,

perturbam,,às vezes, a paz dos que estudam devotamente no livro maravilhoso da Vida,

com as suas opiniões disparatadas, prevalecendo-se de certas posições mundanas,

abusando de prerrogativas transitórias que lhes são outorgadas pelas fortunas iníquas.

Não conseguem, porém, mais do que estabelecer a confusão, sem que as suas mentes

egoístas tragam algo de belo, de novo ou de verdadeiro, que aproveite ao progresso

geral. Seus trabalhos se prestam unicamente às suas experiências pessoais nos

domínios do conhecimento, não conseguindo viver na memória dos pósteros, porquanto a

veneração da posteridade é uma galeria gloriosa reservada, quase que invariavelmente,

aos que passaram na Terra perseguidos e desprezados, e que se impuseram A

Humanidade ofertando-lhe generosamente o fruto abençoado dos seus sacrifícios

imensos e das suas dores incontáveis.

CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE MODERNA

Desalentadoras são as características da sociedade moderna, porque, se a coletividade

se orgulha dos seus progressos físicos, o homem se encontra, moralmente, muito

distanciado dessa evolução. Semelhante anomalia é a conseqüência inevitável da

ignorância das criaturas, com respeito à sua própria natureza, desconhecimento

deplorável que as incita a todos os desvios. Vivendo apenas entre as coisas relativas à

matéria, submergem nas superficialidades prejudiciais ao seu avanço espiritual. Ignoram,

quase que totalmente, o que sejam as suas forças latentes e as suas possibilidades

infinitas, adormecendo ao canto embalador dos gozos falsos do “eu pessoal”, e apenas os

sofrimentos e as dificuldades as obrigam a despertar para a existência espiritual, na qual

reconhecem quanta alegria dimana do exercício do Bem e da prática da virtude, entre as

santas lições da verdadeira fraternidade.

A CIÊNCIA E A RELIGIÃO

Infelizmente, se a Ciência e a Religião constituem as forças matrizes de esclarecimento

das almas, vemos uma empoleirada na negação absoluta e a outra nas afirmações

arriscadas e absurdas. A Ciência criou a academia, e a religião sectarista criou a sacristia;

uma e outra, abarrotadas de dogmas e preconceitos, repelindo-se como pólos contrários,

dentro dos seus conflitos têm somente realizado separação em vez de união, guerra em

vez de paz, descrença em vez de fé, arruinando as almas e afastando-as da luz da

verdadeira espiritualidade.

Entre a força de um preconceito e o atrevimento de um dogma, o espírito se perturba, e,

no círculo dessas vibrações antagônicas, acha-se sem bússola no mundo das coisas

subjetivas, concentrando, naturalmente, na esfera das coisas físicas, todas as suas

preocupações.

O TRABALHO DOS INTELECTUAIS

É por essa razão que de grandes responsabilidades se investem aqueles que se

entregam na Terra aos labores espirituais sob todos os aspectos em que se nos

apresentam; grandes serviços constam de suas incumbências e elevada conta lhes será

solicitada dos seus afazeres sobre a face do planeta. Dolorosas decepções os aguardam

na existência de além-túmulo, quando menosprezam as suas possibilidades para o bem

comum, fazendo de suas faculdades intelectuais objeto de mercantilismo, em troca de

prebendas, as quais, augurando-lhes um porvir de repouso egoístico na vida transitória,

os fazem estacionários e nocivos às coletividades, o que equivale a existências de provas

amargas, entre prolongadas obliterações dos seus poderes de expressão.

Não é que o artista e o pensador devam aderir a este ou àquele sistema religioso, ou

alistar-se sob determinada bandeira filosófica; o que se faz mister é compreender a

necessidade da tarefa de espiritualização, trabalhando no edifício sublime do progresso

comum, colaborando na campanha de regeneração e de reforma dos caracteres,

auxiliando todas as idéias nobres e generosas, em qualquer templo, facção ou casta em

que vicejem, espiritualizando as suas concepções, transformando a ação inteligente num

apelo a todos os espíritos para a perfeição, desvendando-lhes os segredos da beleza, da

luz, do bem, do amor, através da arte na Ciência e na Religião, em suas manifestações

mais rudimentares.

Que todos operem na difusão da verdade, que-brando a cadeia férrea dos formalismos

impostos pelas pseudo-autoridades da cátedra ou do altar, amando a vida terrena com

intensidade e devotamento, cooperando para que se ampliem as suas condições de

perfectibilidade, convencendo-se de que as suas felicidades residem nas coisas mais

simples.

XXVIII - AS COMUNICAÇÕES ESPÍRITAS

Por todos os recantos da Terra, fazem-se ouvir, nos tempos que correm, as vazes dos

Espíritos que, na sua infatigável atividade, conduzem a luz da verdade a todos os

ambientes, dosando as suas lições segundo o grau de perceptibilidade daqueles que as

recebem.

Os ensinamentos do Espaço pululam nas escolas, nos templos, nas oficinas e, aos

poucos, ides compreendendo a comunhão do orbe terráqueo com os planos invisíveis. O

Espiritismo tem doutrinado convenientemente a Fé e a Ciência, preparando-as para os

esponsais do porvir.

Se é verdade que a tibieza de alguns trabalha-dores, obcecados pelos preconceitos, tem

entravado a marcha da doutrina consoladora, devemos reconhecer que muitas

mentalidades, saturadas de suas claridades benditas, têm concorrido com os melhores

esforços da sua existência em favor da propagação dos seus salutares princípios,

desobrigando-se nobre-mente dos seus deveres para com a bondade divina.

O MEDIUNISMO

Vários autores não têm visto, na extensa bibliografia dos escritores mediúnicos, senão

reflexos da alma dos médiuns, emersões da subconsciência, que impelem os mais

honestos a involuntárias mistificações.

Excetuando-se alguns casos esporádicos, em que abundam os elementos prestantes à

identificação, as mensagens mediúnicas são repositórios de advertências morais, cuja

repetição se lhes afigura soporífera. Todavia, erram os que formulam semelhantes juízos.

Diminuta é a percentagem dos intrínsecos, já que todo o mediunismo, ainda que na

materialização e no automatismo perfeitos, se baseia no Espiritismo e Animismo

conjugados.

A COMUNHÃO DOS DOIS MUNDOS

Os desencarnados não podem imiscuir-se na vida material com a plenitude das

faculdades readquiridas e o médium, por sua vez, freqüentemente, em vista das suas

condições e circunstâncias, está impossibilitado de corresponder à potencialidade

vibratória daqueles que o procuram para veicular o seu pensamento.

A alma, emancipada dos liames terrestres, integra a comunidade do outro mundo, que

não é o da carne, e, daí, a necessidade imprescindível de submeter-se às condições de

ordem material para se manifestar; esse fato constitui uma dificuldade extraordinária à

consciência depurada, que já desferiu o vôo altíssimo aos denominados planos felizes do

Universo, dificuldade que essa adaptação à materialidade implica.

A comunhão dos dois mundos, o físico e o invisível, está, pois, baseada nos mais sutis

elementos de ordem espiritual.

Por essa razão, as luminosas mensagens dos grandes mentores da Humanidade são

inspiradas aos seres terrenos através de processos inacessíveis ao seu entendimento

atual, e a maioria das entidades comunicantes são verdadeiros homens comuns, relativos

e falhos, porquanto são almas que conservam, às vezes integralmente, o seu corpo

somático e cujo habitat é o próprio orbe que lhes guarda os despojos e as vastas zonas

dos espaços que o cercam, atmosferas do próprio planeta, que poderíamos classificar de

colônias terrenas nos planos da erraticidade.

Ai se congregam os seres afins e, nesse meio, vivem e operam muitas elites espirituais,

constituídas por Espíritos benignos, mas não aperfeiçoados, os quais, sob ordens

superiores, laboram pelo seu próprio adiantamento e a prol da evolução humana,

volvendo novamente à carne ou trabalhando pelo progresso no seio das coletividades

terrestres.

O QUE REPRESENTAM AS COMUNICAÇÕES

Dos motivos expostos, infere-se que a suposta vulgaridade dos ditados mediúnicos é um

fato naturalismo, porque emanam das almas dos próprios homens da Terra, imbuídos de

gosto pessoal, já que o corpo das suas impressões persiste com precisão matemática, e

somente os séculos, com o seu conseqüente aglomerado de experiências, conseguem

modificar as disposições cármicas ou perispirituais de cada indivíduo. Procuram agir no

plano físico unicamente para demonstração da sobrevivência além da morte, levantando

os ânimos enfraquecidos, porque dilatam os horizontes da fé e da esperança no futuro,

porém, jamais serão portadores da palavra suprema do progresso, não só porque a sua

sabedoria é igualmente relativa, como também porque viriam anular o valor da iniciativa

pessoal e a insofismável realidade do arbítrio humano.

OS PLANOS DA EVOLUÇÃO

Assim como o Infinito é uma lei para os estados das consciências, temos o infinito de

planos no Universo e todos os planos se interpenetram, dentro da maravilhosa lei de

solidariedade; cada plano recebe, daquele que lhe é superior, apenas o bastante ao seu

estado evolutivo, sendo de efeito contraproducente ministrar-lhe conhecimentos que não

poderia suportar.

A evolução, sob todos os seus aspectos, deve ser procurada com afinco, pois é dentro

dessa aspiração que vemos a verdade da afirmação evangélica – “a quem mais tiver,

mais será dado”. '

À medida que o homem progride moralmente, mais se aperfeiçoará o processo da sua

comunhão com os planos invisíveis que lhe são superiores.

XXIX - DO “MODUS OPERANDI” DOS ESPÍRITOS

O “modus operandi” das entidades que se comunicam, nos ambientes terrestres, tem a

sua base no magnetismo universal, dentro do qual todos os seres e mundos gravitam

para a perfeição suprema; e incalculável é a extensão do papel que a sugestão e a

telepatia representam nos fenômenos mediúnicos.

O PROCESSO DAS COMUNICAÇÕES

O processo das comunicações entre os planos visível e invisível, mormente quando se

trata de trabalhos que interessam de perto o progresso moral das criaturas, trabalhos

esses que requerem a utilização de inteligências nobilíssimas do Espaço, cujo grau de

elevação o meio terrestre não pode comportar, verifica-se, quase que invariavelmente,

dentro de um teledinamismo poderoso, que estais longe ainda de apreciar nas vossas

condições de espíritos encarnados.

Entidades sábias e benevolentes, que já se desvencilharam totalmente dos envoltórios

terrenos, basta que o desejem, para que distâncias imensas sejam facilmente anuladas, a

fim de que os seus elevados ensinamentos sejam ministrados, desde que haja cérebro

possuidor de capacidade receptiva e que lhes não ofereça obstáculos insuperáveis.

OS APARELHOS MEDIÚNICOS

Aqueles que possuem essas faculdades registradoras dos pensamentos, que dimanam

dos planos invisíveis, são os chamados sensitivos ou médiuns, porém, essa condição

será a de todos os homens do porvir. São inúmeras as legiões de seres que perambulam

convosco, sem os indumentos carnais, e que permanecem nas latitudes do vossa planeta,

sendo necessário considerar que a maioria dos que evolutiram e se conservam nas

esferas de um conhecimento muito superior ao vosso, pelas condições inerentes à sua

própria natureza, não vos podem estar próximos. Enviam aos homens a sua mensagem

luminosa dos cimos resplandecentes em que se encontram, e, formulando o desejo de

ação nos planos da matéria, atuam com a sua vontade superior sobre o cérebro visado, o

qual se encontra em afinidade com as suas vibrações e, através de forças teledinâmicas,

que podereis avaliar com os fluidos elétricos, cuja utilização encetais na face do Globo,

influenciam a natureza particular do sensitivo, afetando-lhe o sensório, atuando sobre os

seus centros óticos e aparelhos auditivos, desaparecendo perfeitamente as distâncias que

se,não medem; na alma do “sujet” começa então a operar-se uma série de fenômenos

alucinatórios sob a ação consciente do Espírito que o guia dos planos intangíveis. Este,

segundo a sua necessidade, o induz a ver essa ou aquela imagem, em vibrações que o

envolvem, as quais são traduzidas pelo sensitivo de acordo com as suas possibilidades

intelectivas e sentimentais. Há instrumentos que interpretam com fidelidade o que se lhes

entrega; outras, porém, não dispõem de elementos necessários para esse fim.

Não se conjeture a necessidade, por parte dos desencarnados, de trabalho fatigante para

que tais fenômenos se verifiquem, concretizando-se no plano físico; tais fatos se realizam

naturalmente, bastando para isso o seu desejo e o poder de fazê-la.

A IDEOPLASTICIDADE DO PENSAMENTO

Ignorais, na Terra, a maravilhosa ideoplasticidade do pensamento. Conhecendo a

plenitude de suas faculdades, após haver triunfado em muitas experiências que lhes

asseguraram elevada posição espiritual, senhores de portentosos dons psíquicos,

conquistados com a fé e com a virtude incorruptíveis, os Espíritos superiores possuem

uma vontade potente e criadora de todas as formas da beleza. As vezes, apresentam-se

ao vidente grandiosas cenas da história do planeta, multidões luminosas, legiões de

almas, quadros esses que, na maioria das vezes, constituem os pensamentos

materializados das mentes evoluídas que os arquitetam, e que atuam sobre os centros

visuais dos sensitivos, objetivando o progresso geral.

É assim que se estabelece a união dos dois mundos, o físico e o espiritual, através de

fatores inacessíveis às vossas medidas e instrumentos materiais.

O tempo reserva muitas surpresas ao homem, dentro da proporção da sua evolução

moral, concretizando o edifício imortal de todas as idéias altruísticas, nobres e generosas,

sendo totalmente inútil que alguns deles se arvorem em supremas autoridades nos

variados ramos da vida, porque, dentro da sua pretensiosa indigência, se perderão

fatalmente no labirinto discursivo dos seus argumentos mateotécnicos.

XXX - EVANGELIZAÇÃO AOS DESENCARNADOS

São-nos gratas a todos nós que já nos libertamos da cadeia material, as vossas reuniões

de evangelização. A alguém poderá parecer que, com essa preferência, criamos também,

para cá dos limites da Terra, um círculo vicioso, onde eternamente nos debatemos. Tal

opinião, porém, será erradamente emitida, porquanto, desconhecendo o nosso "modus

vivendi", muitas vezes não considerais que o homem, acima de tudo, é espírito, alma,

vibração e que esse espírito, somente em casos excepcionais, não se conserva o mesmo,

após a morte do corpo, com idênticos defeitos e as mesmas inclinações que o

caracterizavam na face do mundo.

Conduzimos, portanto, freqüentemente, até o vosso meio, afim de se colocarem em

contacto com a verdade da sua nova situação, aqueles dos nossos semelhantes que aqui

se encontram ainda impregnados das sensações corporais.

A SITUAÇÃO DOS RECÉM-LIBERTOS DA CARNE

Identificados por tal forma com a matéria, sentindo tão intensamente as suas impressões,

não se encontram aptos a compreender a nossa linguagem e precisam ouvir a voz

materializada daqueles que, cumprindo os desígnios do Alto, ainda se conservam no

exílio, aguardando a alvorada de sua redenção

É ainda reduzido o número dos que despertam na luz espiritual, plenamente cônscios da

sua situação, porque diminuta é a percentagem de seres humanos que se preocupam

sinceramente com as questões do seu aprimoramento moral. A maioria dos

desencarnados, nos seus primeiros dias da vida além do túmulo, não encontra senão os

reflexos dos seus péssimos hábitos e das suas paixões que, nos ambientes diversos de

outra vida, os aborrecem e deprimem. O corpo das suas impressões físicas prossegue

perfeito, fazendo-lhes experimentar acerbas torturas e inenarráveis sofrimentos.

AS EXORTAÇÕES EVANGÉLICAS

As exortações evangélicas são, pois, lenitivos de muitos padecimentos morais, de muitas

dores amaríssimas que acompanham as almas, após a travessia da morte, cheia de

sombras ou de claridades. Há sofrimentos a aliviar, ignorantes a instruir, sedentos de paz

e de amor. Quando assim acontece, é natural que o tempo seja dedicado à nobre tarefa

de espalhar a luz do ensino e do conforto espiritual.

Numa assembléia dos que se consagram ao estudo das ciências, é natural a discussão

sobre a matéria cósmica, sobre a onda hertziana, mas, ao lado da turba dos infelizes, é

preciso mostrar a estrada da regeneração e da verdadeira ventura.

O Espiritismo não é somente o antídoto para as crises que perturbam os habitantes da

Terra; os seus ensinamentos salutares e doces reerguem nos desencarnados as

esperanças desfalecidas à falta de amparo e de alimento; é aí que a doutrina edifica os

transviados do dever e os sofredores saturados desses acerbos remorsos que somente

as lágrimas fazem desaparecer.

A LIÇÃO DAS ALMAS

Cada alma que se vos apresenta e que leva até aos vossos ouvidos o eco das suas

palavras, trás em sua fronte o estatuto da verdade que vos compele aos atos puros e

meritórios e aos pensamentos elevados que enobrecem a consciência.

Não regressaríamos da morte, sem um alto e nobre objetivo.

O escopo das nossas atividades é a demonstração da realidade insofismável de que

vivemos e regressamos do plano invisível para vos dizer que o Espaço, como um livro

misterioso, encerra toda a nossa vida. Uma intenção, uma lágrima oculta, uma virtude

nobilitante estão patentes nas suas páginas prodigiosas que, por uma disposição,

inacessível ainda à vossa compreensão, registra os mais recônditos pensamentos e

ações da nossa existência.

Objetivamos, portanto, cultivar em vossos corações a certeza consoladora da crença

pura, trabalhando para que a tolerância, a meditação e a caridade sejam as vossas

companheiras assíduas.

ENSINAR E PRATICAR

Todas as ciências estão ricas de especulações teóricas, todas as religiões que se

divorciaram do amor estão repletas de palavras, quase sempre vazias e

incompreensíveis.

As predicações são ouvidas, por toda parte; mas a prática, esta é rara e daí a

necessidade de se habituar a ela com devotamento, para que os atos revelem os

sentimentos, operando com o espírito de verdadeira humildade.

Caminhai, pois, nos pedregosos caminhos das provações. À medida que marchardes,

cheios de serenidade e de confiança, mais belas provas colhereis da luminosa manhã da

imortalidade que vos espera, além do silêncio dos túmulos.

XXXI - OS ESPÍRITOS DA TERRA

Está cheio o vosso mundo de Espíritos atrasados em sua evolução, encarnados e

desencarnados, em cujas mentes ainda não se fixaram nitidamente as noções do dever

em todos os seus prismas.

Admirai-vos, às vezes, os que vos acolheis sob a bandeira da paz da consoladora

Doutrina dos Espíritos, da incompreensão que lavra no mundo e da teimosia de muitas

consciências rebeldes à luz e refratárias à Verdade; a Terra está cheia de dores, oriundas

dos abusos levados a efeito por elevado número dos seus habitantes que, aliás,

constituem considerável maioria.

Vós, porém, que estudais e vos sentis possuídos da aspiração de melhorar, procurai

ponderar todas as questões que se vos apresentem, com acurada atenção, procurando

resolver todos os problemas à luz de esclarecido entendimento.

ESPÍRITOS DA TERRA

A Terra está povoada, em quase todas as latitudes, de seres que se desenvolveram com

ela própria e que se afinam perfeitamente às suas condições fluídicas.

Pequena percentagem de homens é constituída de elementos espirituais de outros orbes

mais elevados que o vosso; dai, a enorme diferença de avanço moral entre os seres

humanos e os abnegados apóstolos da luz que, em todos os tempos, tentam clarear-lhes

as estradas do progresso. É comum conhecerem-se pessoas que nutrem perfeita

adoração a todos os prazeres que o mundo lhes oferece. Por minuto de voluptuosidade,

pela contemplação dos seus haveres efêmeros, por uma hora de contacto com as suas

ilusões, jamais procurariam o conhecimento das verdades da eterna vida do espírito;

procuram toda casta de gozos, evitam qualquer estudo ou meditação e se entregam,

freneticamente, ao bem-estar que a carne lhes oferta. Essas criaturas, invariavelmente,

são espíritos estritamente terrenos, que não saem dos âmbitos da existência mesquinha

do planeta; esta afirmação, porém, não implica, de modo geral, a origem desses seres em

vosso próprio orbe, mas, sim, a verdade de que muitos deles, pelas suas condições

psíquicas, mereceram viver em sua superfície, como prova, expiação ou meio de

progresso. Apegam-se com fervor a tudo quanto seja carnal e experimentam o pavor da

morte, inseguros na sua fé e falhos de conhecimentos quanto à sua vida futura.

COMO SE OPERA O PROGRESSO GERAL

O progresso espiritual dessas criaturas verifica-se com a vinda incessante, ao planeta, de

almas esclarecidas, que já tiveram a ventura de conhecer outros planos mais elevados do

Universo, e que deles vêm mais ricas em conhecimento e virtude, derramando lições

preciosas nos ambientes em que encarnam. Quando notardes, em meio de uma

coletividade, certas almas que dela se distanciam por suas elevadas qualidades morais,

mais adiantadas que seus irmãos em noções dignificadoras do espírito, podeis crer que

esses seres estão na Terra temporariamente, isto é, por tempo breve, resgatando desvios

de pretérito longínquo ou desempenhando o elevado papel de missionários. Trazem

sempre exemplos nobilitantes, que obrigam os seus semelhantes à imitação ou realizam

reformas nos domínios das atividades a que se dedicam, com o conhecimento inato de

que são portadores, em razão da sua permanência em outras esferas.

É assim que se observa a evolução moral e intelectual do homem terreno, que vem

adaptando, através dos evos, o que tem recebido dos nobres mensageiros das mansões

iluminadas do Universo, corporificados em seu meio ambiente.

OS PERÍODOS DE RENOVAÇÃO

Quando se verifica um “statu quo” nas correntes evolutivas, que parecem, às vezes,

estagnar, grandes conjuntos de almas evolvidas combinam entre si uma vinda coletiva ao

orbe terreno, e ativamente abrem novas portas à Arte, à Ciência, à Virtude e à Inteligência

da Humanidade.

Conheceis, em vossa História, desses períodos de ressurreição espiritual! Tendes

exemplos relevantes no século de Péricles, na antiga Hélade e no movimento de

renovação que se operou na Europa, com os artistas inspirados que encheram de luz os

dias da Renascença.

MISSÃO DO ESPIRITISMO

Em vossos dias, o Espiritismo, que representa o Consolador prometido pelo Cristo aos

séculos posteriores à sua vinda ao mundo, é uma extraordinária mensagem do Céu à

Terra, e faz-se necessário aquilatar-lhe o valor.

Inda existem multidões de Espíritos rebeldes, porém, a consciência terrena, em suas

características gerais, está agora apta a receber, depois de tantos anos de lutas, o

conhecimento espiritual que lhe fará desprezar os últimos resquícios da materialidade

inconsciente, aprendendo a discernir os seus erros. Espalhando a boa nova da

imortalidade a doutrina de amor abrirá novos horizontes à esperança dos homens,

conduzindo-os à aquisição do tesouro espiritual, reservado por Deus a todas as suas

criaturas.

Quando todos os homens compreenderem o sentido de suas magníficas lições, o vosso

planeta terá atingido uma nova fase evolutiva e o Espiritismo terá concluído, entre vós, a

sua sagrada e gloriosa missão.

XXXII - DOS DESTINOS

Não poucas vezes vos preocupais, nas lides planetárias, com as provações necessárias,

que julgais excessivas para as vossas forças.

Crede! O fardo que faz vergar os vossos ombros não é demasiado para as vossas

possibilidades.

Deus tudo prevê e, sobretudo, a escolha de semelhantes provações é uma questão de

preferência individual; é freqüente a vossa incompreensão a respeito desse ensinamento

espiritualista.

Estais, porém, entre as masmorras da carne, a vossa consciência limitada

freqüentemente se nega a encarar a luz em todos os seus divinos resplendores.

A VIDA VERDADEIRA

Somente fora da existência material podeis refletir acertadamente sobre a verdade.

Apenas a vida espiritual é verdadeira e eterna.

E estais certos de que, com a satisfação dos menores caprichos sobre a face do mundo,

poderíeis adquirir elementos meritórios para a existência real? O gozo reiterado não vos

enlaçaria, mais ainda, na trama da carne passageira? Sabeis se poderíeis suportar a

riqueza sem os desregramentos, a mesa lauta sem os desvios da gula, a posse sem o

egoísmo, o bem-estar próprio com o interesse caridoso pela sorte dos outros seres?

Ponderai tudo isso e descobrireis o motivo pelo qual a quase totalidade dos seres

humanos escolheu o cenário obscuro e triste das dores para argamassar o tesouro de

suas felicidades imorredouras e o patrimônio de suas aquisições espirituais.

A ESCOLHA DAS PROVAÇÕES

Várias vezes já têm sido repetidos os ensinamentos que estou transmitindo sobre as

provações terrenas de cada indivíduo.

Muito antes da encarnação, o Espírito faz o cômputo de suas possibilidades, estuda o

caminho que melhor se lhe afigura na luta da perfectibilidade e, de acordo com as suas

vocações e segundo o grau de evolução já alcançado, escolhe, em plena posse de sua

consciência, a estrada que se lhe desenha no porvir, fecunda de progressos espirituais.

Dentro do infinito do Universo e com as faculdades integrais do seu próprio “eu”,

reconhece a alma que somente a luta lhe oferta inúmeras possibilidades de evolução, em

todos os setores da atividade humana; e, dai, a preferência pelos ambientes de dor e

privação, abençoados corretivos que a Providência lhe oferece para a redenção do

passado ou para o desenvolvimento das suas forças latentes e imprecisas; cada Espírito,

voluntariamente, escolhe as suas sendas futuras, conforme o seu progresso e de acordo

com os desígnios superiores.

O ESQUECIMENTO DO PASSADO

Na existência corporal, todavia, a alma sente a memória obscurecida, num olvido quase

total do passado, a fim de que os seus esforços se valorizem; a consciência então é

fragmentária, parcial, porquanto as suas faculdades estão eclipsadas pelos pesados véus

da matéria, os quais atenuam ao mínimo as suas vibrações, constituindo, porém, esses

poderes prodigiosos, mas ocultos, as extraordinárias possibilidades da vasta

subconsciência, que os cientistas do século estudam acuradamente.

Tais forças e progressos adquiridos, o Espírito jamais os perde; são parte' integrante do

seu patrimônio e, na vida material, podem emergir no exercício da mediunidade, nas

hipnoses profundas, ou em outras circunstâncias que facilitam o desprendimento

temporário dos elementos psíquicos.

O HOMEM E SEU DESTINO

Isoladamente, cada um tem no planeta o mapa das suas lutas e dos seus serviços. O

berço de todo homem é o princípio de um labirinto de tentações e de dores, inerentes à

própria vida na esfera terrestre, labirinto por ele mesmo traçado e que necessita palmilhar

com intrepidez moral.

Portanto, qualquer alma tem o seu destino traçado sob o ponto de vista do trabalho e do

sofrimento, e, sem paradoxos, tem de combater com o seu próprio destino, porque o

homem não nasceu para ser vencido; todo espírito labora para dominar a matéria e

triunfar dos seus impulsos inferiores.

A VIDA É SEMPRE AMOR

É dessa verdade que necessitais convencer-vos. Existe a provação e faz-se mister não se

entregar inteiramente a ela. O espírito ordena e o corpo obedece. A luta é o meio para o

êxito na conquista da vida. E a vida integral não é a existência terrena, repleta de

vicissitudes sem conta; é a glorificação do amor, da atividade, da luz, de tudo quanto é

nobre e belo no Universo; e a consciência é o laço que liga cada espírito a esse “nec plus

ultra” que denominamos – a Eternidade.

XXXIII - QUATRO QUESTÕES DE FILOSOFIA

DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO

Pergunta – O futuro, de um modo geral, estará rigorosamente determinado, como parece

demonstrado pelos fenômenos ditos premonitórios, ou esses fenômenos envolvem um

determinismo conciliável com os dados imediatos da consciência sobre os quais são

geralmente estabelecidas as noções de liberdade e responsabilidade individuais? E em

que termos, nestes últimos casos, se exerce esse determinismo, do ponto de vista

teleológico?

Resposta – Os seres da minha esfera não conhecem o futuro, nem podem interferir nas

coisas que lhe pertencem. Acreditamos, todavia, que o porvir, sem estar rigorosamente

determinado, está previsto nas suas linhas gerais.

Imaginai um homem que fosse efetuar uma viagem. Todo o seu trajeto está previsto: dia

de partida, caminhos, etapas, dia de chegada. Todas as atividades, contudo, no

transcurso da viagem, estão afetas ao viajante, que se pode desviar ou não do roteiro

traçado, segundo os ditames da sua vontade. Daí se infere que o livre-arbítrio é lei

irrevogável na esfera individual, perfeitamente separável das questões do destino,

anteriormente preparado. Os atas premonitórios são sempre dirigidos por entidades

superiores, que procuram demonstrar a verdade de que a criatura não se reduz a um

complexo de oxigênio, fosfato, etc., e que, além das percepções limitadas do homem

físico, estão as faculdades superiores do homem transcendente.

O TEMPO E O ESPAÇO

Pergunta – O espaço e o tempo serão apenas formas viciosas do intelecto, ou terão uma

expressão objetiva no esquema da realidade pura? E, neste último caso, quais serão as

relações fundamentais entre espaço e tempo?

Resposta – No esquema das realidades eternas e absolutas, tempo e espaço não têm

expressões objetivas; se são propriamente formas viciosas do vosso intelecto, elas são

precisas ao homem como expressões de controle dos fenômenos da sua existência. As

figuras, em cada plano de aperfeiçoamento da vida, são correspondentes à organização

através da qual o Espírito se manifesta.

ESPÍRITO E MATERIA

Pergunta – Será licito considerar-se espírito e. matéria como dois estados alotrópicos de

um só elemento primordial, de maneira a obter-se a conciliação das duas escolas

perpetuamente em luta, dualista e monista, chegando-se a uma concepção unitária do

Universo?

Resposta – É licito considerar-se espírito e matéria como estados diversos de uma

essência imutável, chegando-se dessa forma a estabelecer a unidade substancial do

Universo. Dentro, porém, desse monismo físico-psíquico, perfeitamente conciliável com a

doutrina dualista, faz-se preciso considerar a matéria como o estado negativo e o espírito

como o estado positivo dessa substância. O ponto de integração dos dois elementos

estreitamente unidos em todos os planos do nosso relativo conhecimento, ainda não o

encontramos.

A ciência terrena, no estudo das vibrações, chegará a conceber a unidade de todas as

forças físicas e psíquicas do Universo. O homem, porém, terá sempre um limite nas suas

investigações sobre a matéria e o movimento. Esse limite é determinado por leis sábias e

justas, mas, cientificamente poderemos classificar esse estado inibitório como oriundo da

estrutura do seu olho e da insuficiência das suas faculdades sensoriais.

O PRINCÍPIO DE UNIDADE

Pergunta – Todos nós temos consciência dos princípios de unidade e variação, ou de

universalidade e individualidade, que funcionam juntos em nosso mundo. Onde se

encontra o ponto de interação, ou lugar de reunião desses dois termos opostos?

Resposta – Se temos aí consciência dos princípios de unidade e variação, ainda aqui os

observamos, sem haver descoberto o seu ponto íntimo de união.

Todavia, o princípio soberano de unidade absorve todas as variações, crendo nós que,

sem perdermos a consciência individual no transcurso dos milênios, chegaremos a reunirnos

no grande princípio da unidade, que é a perfeição.

XXXIV - VOZES NO DESERTO

A psicologia dos tempos modernos, no planeta terrestre, apresenta as questões mais

interessantes à observação das inteligências atiladas e estudiosas dos problemas sérios

da vida.

Todos os sociólogos falam da necessidade de providências que amparem os homens, à

beira dos abismos escuros do morticínio e da destruição.

Ante o domínio das crises de toda natureza, foi na Europa que começaram os clamores e

as exortações. Todos os analistas dos problemas sociais falaram em morte da Civilização,

em necessidades imperiosas dos povos, em doutrinas novas de revigoramento das

coletividades, dentro do propósito de solucionar as suas questões econômicas. No exame

de quase todos os problemas desse jaez, solicitou-se a colaboração da Sociedade de

Genebra, com objetivo da cooperação necessária de todos os países. Surgiram, então,

regimes de experiência, em que, na atualidade, assistimos às atividades dos

manipuladores das massas. E nesses mesmos clamores transportam-se à Ásia. Enquanto

a China preferia descansar no seio das suas tradições, o Japão estabelecia um pacto de

cooperação com o Ocidente, organizava tratados e entendimentos, criando,

apressadamente, a sua hegemonia pelas armas, com a doutrina da unidade asiática.

Todas as nações organizadas da Europa e do Oriente se queixam da superlotação e da

necessidade de colônias. Os clamores então se transportam igualmente para a América,

que, se já sofria os funestos efeitos da inquietude do mundo, sentia-se na obrigação de

salvaguardar os seus imensos patrimônios territoriais e as suas não menores

possibilidades econômicas, contra possíveis avanços do imperialismo político e da

pilhagem das grandes potências. As místicas nacionalistas são então exaltadas. Alguns

artistas do pensamento se vendem à exibição e à falsa glória do Estado e, como

D’Annunzio, abençoam os ventres maternos que tiveram a ventura de gerar um soldado

para os massacres da pátria e exaltam o adolescente que encontrou numa ponta de

baioneta o seu primeiro e último amor.

A verdade, porém, é que os esforços de todos os estudiosos do assunto não têm passado

de um jogo deslumbrante de palavras.

Há muitos anos se fala que o mundo necessita de paz. Entretanto, talvez que a corrida

armamentista de agora exceda a de 1914. Todos os países organizam as suas armadas,

as suas frotas aéreas e os seus exércitos mecanizados, com todos os requisitos

estratégicos, isto é, integrados no conhecimento de toda a tecnologia moderna e com a

guerra química, na qualidade de complemento indispensável das atividades bélicas de

cada nação.

Há muitos anos se fala da necessidade de um entendimento econômico entre todos os

países. Cada vez mais, porém, complica-se a questão com as doutrinas do isolamento,

com as barreiras alfandegárias, oriundas do nacionalismo de incompreensão, com a

ausência formal de qualquer colaboração e com princípios absurdos que vão paralisando

milhões de braços para o trabalho construtor, gerando a miséria, a desarmonia e a morte.

A cultura moderna sai a campo para pregar as necessidades dos tempos. Escritores,

artistas, homens do pensamento, reformistas, falam exaltadamente da regeneração

esperada; condenam a sociedade, de cujos erros participam todos os dias, fazem a

exposição das angústias da época, relacionam as suas necessidades, mas, se as

criaturas bem-intencionadas lhes perguntam sobre a maneira mais fácil de socorrer o

homem aflito dos tempos atuais, essas vozes se calam ou se tornam incompreensíveis,

no domínio das sugestões duvidosas e das hipóteses inverossímeis.

É que o espírito humano está esgotado com todos os recursos das reformas exteriores.

Para que a fórmula da felicidade não seja uma banalidade vulgar, é preciso que a criatura

terrestre ouça aquela voz – “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.

Os reformadores e os políticos falarão inutilmente da transformação necessária, porque

todas as modificações para o bem têm de começar no íntimo de cada um. E por essa

razão que todos os apelos morrem, na atualidade, na boca dos seus expositores, como as

vazes clamantes no deserto; ninguém os entende, porque quase todos se esqueceram da

transformação de si mesmos, e é ainda por isso que, no frontispício social dos tempos

modernos, no planeta terrestre, pesam os mais sombrios e sinistros vaticínios.

XXXV - EDUCAÇÃO EVANGÉLICA

Todas as reformas sociais, necessárias em vossos tempos de indecisão espiritual, têm de

processar-se sobre a base do Evangelho.

Como? – podereis objetar-nos. Pela educação, replicaremos.

O plano pedagógico que implica esse grandioso problema tem de partir ainda do simples

para o complexo. Ele abrange atividades multiformes e imensas, mas não é impossível.

Primeiramente, o trabalho de vulgarização deverá intensificar-se, lançando, através da

palavra falada ou escrita do ensinamento, as diminutas raízes do futuro.

O RESULTADO DOS ERROS RELIGIOSOS

Toda essa demagogia filosófico-doutrinária, que vedes nas fileiras do Espiritismo, tem sua

razão de ser. As almas humanas se preparam para o bom caminho. A missão do

Cristianismo na Terra não era a de mancomunar-se com as forças políticas que lhe

desviassem a profunda significação espiritual para os homens. O Cristo não teria vindo ao

mundo para instituir castas sacerdotais e nem impor dogmatismos absurdos. Sua ação

dirigiu-se, justamente, para a necessidade de se remodelar a sociedade humana,

eliminando-se os preconceitos religiosos, constituindo isso a causa da sua cruz e do seu

martírio, sem se desviar, contudo, do terreno das profecias que o anunciavam.

Todas essas atividades bélicas, todas as lutas antifraternas no seio dos povos irmãos,

quase a totalidade dos absurdos, que complicam a vida do homem, vieram da

escravização da consciência ao conglomerado de preceitos dogmáticos das Igrejas que

se levantaram sobre a doutrina do Divino Mestre, contrariando as suas bases,

digladiando-se mutua-mente, condenando-se umas às outras em nome de Deus.

Aliado ao Estado, o Cristianismo deturpou-se, perdendo as suas características divinas.

FIM DE UM CICLO EVOLUTIVO

Sabemos todos que a Humanidade terrena atinge, atualmente, as cumeadas de um dos

mais importantes ciclos evolutivos. Nessas transformações, há sempre necessidade do

pensamento religioso para manter-se a espiritualidade das criaturas em momentos tão

críticos. A idéia cristã se encontrava afeto o trabalho de sustentar essa coesão dos

sentimentos de confiança e de fé das criaturas humanas nos seus elevados destinos;

todavia, encarcerada nas grades dos dogmas católico-romanos, a doutrina de Jesus não

poderia, de modo algum, amparar o espírito humano nessas dolorosas transições.

Todas as exterioridades da Igreja deixam nas almas atuais, sedentas de progresso, um

vazio muito amargo.

URGE REFORMAR

Foi justamente quando o Positivismo alcançava o absurdo da negação, com Auguste

Comte., e o Catolicismo tocava às extravagâncias da afirmativa, com Pio IX proclamando

a infalibilidade papal, que o Céu deixou cair à Terra a revelação abençoada dos túmulos.

O Consolador prometido pelo Mestre chegava no momento oportuno. Urge reformar,

reconstruir, aproveitar o material ainda firme, para destruir os elementos apodrecidos na

reorganização do edifício social. E é por isso que a nossa palavra bate insistentemente

nas antigas teclas do Evangelho cristão, porquanto não existe outra fórmula que possa

dirimir o conflito da vida atormentada dos homens. A atualidade requer a difusão dos seus

divinos ensina-mentos. Urge, sobretudo, a criação dos núcleos verdadeiramente

evangélicos, de onde possa nascer a orientação cristã a ser mantida no lar, pela

dedicação dos seus chefes. As escolas do lar são mais que precisas, em vossos tempos,

para a formação do espírito que atravessará a noite de lutas que a vossa Terra está

vivendo, em demanda da gloriosa luz do porvir.

NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO PURA E SIMPLES

Há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo, dentro do

Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da auto-educação. Evangelizado o

indivíduo, evangeliza-se a família; regenerada esta, a sociedade estará a caminho de sua

purificação, reabilitando-se simultaneamente a vida do mundo.

No capítulo da preparação da infância, não preconizamos a educação defeituosa de

determinadas noções doutrinárias, mas facciosas, facilitando-se na alma infantil a eclosão

de sectarismos prejudiciais e incentivando o espírito de separatividade, e não

concordamos com a educação ministrada absolutamente nos moldes desse materialismo

demolidor, que não vê no homem senão um complexo celular, onde as glândulas, com as

suas secreções, criam uma personalidade fictícia e transitória. Não são os suco e os

hormônios, na sua mistura adequada nos laboratórios internos do organismo, que fazem a

luz do espírito imortal. Ao contrário dessa visão audaciosa dos cientistas, são os fluidos,

imponderáveis e invisíveis, atributos da individualidade que preexiste ao corpo e a ele

sobrevive, que dirigem todos os fenômenos orgânicos que os utopistas da biologia tentam

em vão solucionar, com a eliminação da influência espiritual. Todas as câmaras

misteriosas desse admirável aparelho, que é o mecanismo orgânico do homem, estão

repletas de uma luz invisível para os olhos mortais.

FORMAÇÃO DA MENTALIDADE CRISTÃ

As atividades pedagógicas do presente e do futuro terão de se caracterizar pela sua

feição evangélica e espiritista, se quiserem colaborar no grandioso edifício do progresso

humano.

Os estudiosos do materialismo não sabem que todos os seus estudos se baseiam na

transição e na morte. Todas as realidades da vida se conservam inapreensíveis às suas

faculdades sensoriais. Suas análises objetivam somente a carne perecível. O corpo que

estudam, a célula que examinam, o corpo químico submetido à sua crítica minuciosa, são

acidentais e passageiros. Os materiais humanos postos sob os seus olhos pertencem ao

domínio das transformações, através do suposto aniquilamento. Como poderá, pois, esse

movimento de extravagância do espírito humano presidir à formação da mentalidade geral

que o futuro requer, para a consecução dos seus projetos grandiosos de fraternidade e de

paz? A intelectualidade acadêmica está fechada no circulo da opinião dos catedráticos,

como a idéia religiosa está presa no cárcere dos dogmas absurdos.

Os continuadores do Cristo, nos tempos modernos, terão de marchar contra esses

gigantes, com a liberdade dos seus atas e das suas idéias.

Por enquanto, todo o nosso trabalho objetiva a formação da mentalidade cristã, por

excelência, mentalidade purificada, livre dos preceitos e preconceitos que impedem a

marcha da Humanidade. Formadas essas correntes de pensadores esclarecidos do

Evangelho, entraremos, então, no ataque às obras. Os jornais educativos, as estações

radiofônicas, os centros de estudo, os clubes do pensamento evangélico, as assembléias

da palavra, o filme que ensina e moraliza, tudo à base do sentimento cristão, não

constituem uma utopia dos nossos corações. Essas obras que hoje surgem, vacilantes e

indecisas no seio da sociedade moderna, experimentando quase sempre um fracasso

temporário, indicam que a mentalidade evangélica não se acha ainda edificada. A

andaimaria, porém, ai está, esperando o momento final da grandiosa construção.

Toda a tarefa, no momento, é formar o espírito genuinamente cristão; terminado esse

trabalho, os homens terão atingido o dia luminoso da paz universal e da concórdia de

todos os corações.

XXXVI - AOS TRABALHADORES DA VERDADE

Nos tempos atuais, todo o trabalho de quantos se devotam à disseminação das teorias

espiritistas deve ser o de colaboração com os estudiosos da Verdade. Não é o desejo de

proselitismo ou de publicidade que os deve animar, porém, a boa-vontade em cooperar

com os seus atas, palavras e pensa-mentos, a favor da grande causa.

Todos nós objetivamos, com a nossa árdua tarefa, ampliar o conhecimento humano, com

respeito às realidades espirituais que constituem a vida em si mesma, a fim de que se

organize o ambiente favorável ao estabelecimento da verdadeira solidariedade entre os

homens.

A FENOMENOLOGIA ESPÍRITA

A fenomenologia, nos domínios do psiquismo, em vosso século, visa ao ensinamento, à

formação da profunda consciência espiritual da Humanidade, constituindo, desse modo,

um curso propedêutico para as grandes lições do porvir. f por essa razão que

necessitamos de operar ativamente para que a Ciência descubra, nos próprios planos

físicos, as afirmações de espiritualidade.

Pode parecer que o materialismo separou para sempre a Ciência da Fé; isso, porém, não

aconteceu, e o nosso trabalho de agora simboliza o esforço para que os investigadores

cheguem a compreender o que o Céu tem revelado em todos os tempos.

A PSICOLOGIA E A “MENS SANA”

A psicologia antiga pecava extremamente pela insuficiência dos seus métodos. O ser

pensante achava-se, para ela, isolado do corpo, estudando assim os seus fenômenos

introspectivos de maneira deficiente e imperfeita.

A psicologia moderna vai mais longe. A sua metodologia avançada estuda racionalmente

todos os problemas da personalidade humana, unindo os elementos materiais e

espirituais, resolvendo uma das grandes questões dos cientistas de antanho.

O corpo nada mais é que o instrumento passivo da alma, e da sua condição perfeita

depende a perfeita exteriorização das faculdades do espírito. Da cessação da atividade

deste ou daquele centro orgânico, resulta o término da manifestação que lhe é

correspondente: dai provém toda a verdade da “mens sana” e o grande subsídio que a

psicologia moderna fornece aos fisiologistas como guia esclarecedor da patogenia.

O corpo não está separado da alma; é a sua representação. As suas células são

organizadas segundo as disposições perispiriticas dos indivíduos, e o organismo doente

retrata um espírito enfermo. A patologia está orientada por elementos sutis, de ordem

espiritual.

O PROGRESSO ANÍMICO

Os porquês da evolução anímica devem impressionar a quantos se consagram ao estudo.

Os progressos da vida terrestre podem ser verificados pelos geólogos, pelos

antropologistas. Há no planeta toda uma escala grandiosa de ascensão. No fundo de

vossos oceanos ainda existem os infusórios, os organismos unicelulares, que remontam a

um passado multimilenário e cujo aparecimento é contemporâneo dos princípios da vida

organizada do orbe.

A TRAJETÓRIA DAS ALMAS

Que longa tem sido a trajetória das almas!...

A origem do princípio anímico perde-se dentro de uma noite de labirintos; tudo, porém,

dentro do dinamismo do Universo, se encadeia numa ordem equânime e absoluta.

Da irritabilidade à sensação, da sensação à percepção, da percepção ao raciocínio,

quantas distâncias preenchidas de lutas, dores e sofrimentos!... Todavia, desses

combates necessários promana o cabedal de experiências do Espírito em sua evolução

gloriosa. A racionalidade do homem é a suprema expressão do progresso anímico que a

Terra lhe pode prodigalizar; ela simboliza uma auréola de poder e de liberdade que

aumenta naturalmente os seus deveres e responsabilidades. A conquista do livre-arbítrio

compreende as mais nobres obrigações.

Chegado a esse ponto, o homem se encontra no limiar da existência em outras esferas,

onde a matéria rarefeita oferece novas modalidades de vida, em outras mais sublimes

manifestações, as quais escapam naturalmente à insuficiência dos vossos sentidos.

AS REALIDADES DO FUTURO

Os Espíritos se regozijam a cada novo passo de progresso da ciência humana, porque

dos seus labores, das suas dedicações, brotará o conhecimento superior, que felicitará os

núcleos de criaturas, porquanto ficará patente, plenamente evidenciada, a grande missão

do Espírito como elemento criador, organizador e conservador de todos os fenômenos

que regulam a vida material.

Quanto mais avançam os cientistas, mais se convencem das realidades de ordem

subjetiva, nos fenômenos universais.

As palavras natureza, fatalismo, tônus vital não bastam para elucidar a alma humana,

quanto aos enigmas da sua existência: faz-se mister a intervenção das sínteses

espirituais, reveladoras das mais elevadas verdades.

É para essas grandiosas afirmações que trabalhamos em comum, e esse desiderato

constituirá a luminosa coroa da Ciência do porvir.