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Que Jesus o abençoe.
Muita Paz
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Dissertações Mediúnicas sobre importante questões
que preocupam a humanidade
Pelo espírito de Emmanuel
Explicando...
Lembro-me de que, em 1931, numa de nossas reuniões habituais, vi a meu lado, pela
primeira vez, o bondoso Espírito Emmanuel.
Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro mediúnico, recebido
através de minhas humildes faculdades e experimentava os sintomas de grave moléstia
dos olhos.
Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na
suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava era que a generosa
entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de
uma cruz.
Às minhas perguntas naturais, respondeu o bondoso guia:
- "Descansa! Quando te sentires mais forte, pretendo colaborar igualmente na difusão da
filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre os teus passos e só hoje me vês, na tua
existência de agora, mas os nossos espíritos se encontram unidos pelos laços mais
santos da vida e o sentimento afetivo que me impele para o teu coração tem suas raízes
na noite profunda dos séculos . . ."
Essa afirmativa foi para mim imenso consolo e, desde essa época, sinto constantemente
a presença desse amigo invisível que, dirigindo as minhas atividades mediúnicas, está
sempre ao nosso lado, em todas as horas difíceis, ajudando-nos a raciocinar melhor, no
caminho da existência terrestre. A sua promessa de colaborar na difusão da consoladora
Doutrina dos Espíritos tem sido cumprida integralmente.
Desde 1933, Emmanuel tem produzido, por meu intermédio, as mais variadas páginas
sobre os mais variados assuntos. Solicitado por confrades nossos para se pronunciar
sobre esta ou aquela questão, noto-lhe sempre o mais alto grau de tolerância, afabilidade
e doçura, tratando sempre todos os problemas com o máximo respeito pela liberdade e
pelas idéias dos outros.
Convidado a identificar-se, várias vezes, esquivou-se delicadamente, alegando razões
particulares e respeitáveis , afirmando, porém, ter sido, na sua última passagem pelo
planeta, padre católico, desencarnado no Brasil.
Levando as suas dissertações ao passado longínquo, afirma ter vivido ao tempo de
Jesus, quando então se chamou Públio Lêntulos.
E de fato, Emmanuel, em todas as circunstâncias, tem dado a quantos o procuram os
testemunhos de grande experiência e de grande cultura.
Para mim, tem sido ele de incansável dedicação. Junto do Espírito bondoso daquela que
foi minha mãe na Terra, sua assistência tem sido um apoio para meu coração nas lutas
penosas de cada dia.
Muitas vezes, quando me coloco em relação com as lembranças de minhas vidas
passadas e quando sensações angustiosas me prendem o coração, sinto-lhe a palavra
amiga e confortadora.
Emmanuel leva-me, então, às eras mortas e explica-me o grande e pequeno porquê das
atribulações de cada instante. Recebo invariavelmente, com a sua assistência, um
conforto indescritível, e assim é que renovo minhas energias para a tarefa espinhosa da
mediunidade, em que somos ainda tão incompreendidos.
Alguns amigos, considerando o caráter de simplicidade dos trabalhos de Emmanuel,
esforçaram-se para que este volume despretensioso surgisse no campo da publicidade.
Entrar na apreciação do livro, em si mesmo, é coisa que não está na minha competência.
Apenas me cumpria o dever de prestar ao generoso guia dos nossos trabalhos a
homenagem do meu reconhecimento, com a expressão da verdade pura, pedindo a Deus
que o auxilie cada vez mais, multiplicando suas possibilidades no mundo espiritual, e
derramando-lhe n´alma fraterna e generosa as luzes benditas do seu infinito amor.
Pedro Leopoldo 16 de Setembro de 1937.
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
A TAREFA DOS GUIAS ESPIRITUAIS
Os guias invisíveis do homem não poderão, de forma alguma, afastar as dificuldades
materiais dos seus caminhos evolutivos sobre a face da Terra.
O Espaço está cheio de incógnitas para todos os Espíritos.
Se os encarnados sentem a existência de fluidos imponderáveis que ainda não podem
compreender, os desencarnados estão marchando igualmente para a descoberta de
outros segredos divinos que lhes preocupam a mente.
Quando falamos, portanto, da influência do Evangelho nas grandes questões sociológicas
da atualidade, apontamos às criaturas o corpo de leis, pelas quais devem nortear as suas
vidas no planeta. O chefe de determinados serviços recebe regulamentos necessários
dos seus superiores, que ele deverá pôr em prática na administração. Nossas atividades
são de colaborar com os nossos irmãos no domínio do conhecimento desses códigos de
justiça e de amor, a cuja base viverá a legislação do futuro. Os Espíritos não voltariam à
Terra apenas para dizerem, aos seus companheiros, das beatitudes eternas nos planos
divinos da imensidade. Todos os homens conhecem a fatalidade da morte e sabem que é
inevitável a sua futura mudança para a vida espiritual. Todas as criaturas estão, assim,
fadadas a conhecer aquilo que já conhecemos. Nossa palavra é para que a Terra vibre
conosco nos ideais sublimes da fraternidade e da redenção espiritual. Se falamos dos
mundos felizes, é para que o planeta terreno seja igualmente venturoso. Se dizemos do
amor que enche a vida inteira da Criação Infinita, é para que o homem aprenda também a
amar a vida e os seus semelhantes. Se discorremos acerca das condições aperfeiçoadas
da existência em planos redimidos do Universo, é para que a Terra ponha em prática
essas mesmas condições. Os códigos aplicados, em outras esferas mais adiantadas,
baseados na solidariedade universal, deverão, por sua vez, merecer ai a atenção e os
estudos precisos.
O orbe terreno não está alheio ao concerto universal de todos os sóis e de todas as
esferas que povoam o Ilimitado; parte integrante da infinita comunidade dos mundos, a
Terra conhecerá as alegrias perfeitas da harmonia da vida. E a vida é sempre amor, luz,
criação, movimento e poder.
Os desvios e os excessos dos homens é que fizeram do vosso planeta a mansão triste
das sombras e dos contrastes.
Fluidos misteriosos ligam a Deus todas as belezas da sua criação perfeita e inimitável. Os
homens terão, portanto, o seu quinhão de felicidade imorredoura, quando estiverem
integrados na harmonia com o seu Criador.
Os sóis mais remotos e mais distantes se unem ao vosso orbe de sombras, através de
fluidos poderosos e intangíveis. Há uma lei de amor que reúne todas as esferas, no seio
do éter universal, como existe essa força ignorada, de ordem moral, mantendo a coesão
dos membros sociais, nas coletividades humanas. A Terra é, pois, componente da
sociedade dos mundos. Assim como Marte ou Saturno já atingiram um estado mais
avançado em conhecimentos, melhorando as condições de suas coletividades, o vosso
orbe tem, igualmente, o dever de melhorar-se, avançando, pelo aperfeiçoamento das
suas leis, para um estágio superior, no quadro universal.
Os homens, portanto, não devem permanecer embevecidos, diante das nossas
descrições.
O essencial é meter mãos à obra, aperfeiçoando, cada qual, o seu próprio coração
primeiramente, afinando-o com a lição de humildade e de amor do Evangelho,
transformando em seguida os seus lares, as suas cidades e os seus países, a fim de que
tudo na Terra respire a mesma felicidade e a mesma beleza dos orbes elevados,
conforme as nossas narrativas do Infinito.
EMMANUEL
DOUTRINANDO A FÉ
I - AS ALMAS ENFRAQUECIDAS
Minhas palavras de hoje são dirigidas aos que ingressam nos estudos espiritistas,
tangidos pelos azorragues impiedosos do sofrimento; no auge das suas dores, recorreram
ao amparo moral que lhes oferecia a doutrina e sentiram que as tempestades
amainavam... Seus corações reconhecidos voltaram-se então para as coisas espirituais;
todavia, os tormentos não desapareceram. Passada uma trégua ligeira, houve
recrudescência de prantos amargos.
Experimentando as mesmas torturas, sentem-se vacilantes na fé e baldas do entusiasmo
das primeiras horas e é comum ouvirem-se as suas exclamações: – “Já não tenho mais
fé, já não tenho mais esperanças...” Invencível abatimento invade-lhes os corações tíbios
e enfraquecidos na luta, desamparados na sua vontade titubeante e na sua inércia
espiritual.
Essas almas não puderam penetrar o espírito da doutrina, vogando apenas entre as
águas das superficialidades.
O QUE É O MODERNO ESPIRITUALISMO
O moderno Espiritualismo não vem revogar as leis diretoras da evolução coletiva. As suas
concepções avançadas representam um surto evolutivo da Humanidade, uma época de
mais compreensão dos problemas da vida, sem oferecer talismãs ou artes mágicas, com
a pretensão de derrogar os estatutos da Natureza. Desvenda ao homem um fragmento
dos véus que encobrem o destino do ser imortal e ensina-lhe que a luta é o veiculo do seu
progresso e da sua redenção.
Traz consigo o nobre objetivo de enriquecer, com as suas benditas claridades, os homens
que as aceitam, longe da vaidade de prometer-lhes fortunas e gozos terrestres, bens
temporais que apenas servem para fortificar as raízes do egoísmo em seus corações,
agrilhoando-os ao potro das gerações dolorosas.
NECESSIDADE DO ESFORÇO PRÓPRIO
Pergunta-se, às vezes, por que razão não obstam os Espíritos esclarecidos, que em todos
os tempos acompanham carinhosamente a marcha dos acontecimentos do orbe, as
guerras que dizimam milhões de existências e empobrecem as coletividades,
influenciando os diretores de movimentos subversivos nos seus planos de gabinete;
inquire-se o porquê das existências amarguradas e aflitas de muitos dos que se dedicam
ao Espiritismo, dando-lhes o melhor de suas forças e sempre torturados pelas provas
mais amargas e pelos mais acerbos desgostos. Daqui, contemplamos melancolicamente
essas almas desesperadas e desiludidas, que nada sabem encontrar além das
puerilidades da vida.
Em desencarnando, não entra o Espírito na posse de poderes absolutos. A morte significa
apenas uma nova modalidade de existência, que continua, sem milagres e sem saltos.
É necessário encarar-se a situação dos desencarnados com a precisa naturalidade. Não
há forças miraculosas para os seres humanos, como não existem igualmente para nós. O
livre-arbítrio relativo nunca é ab-rogado em todos nós; em conjunto, somos obrigados, em
qualquer plano da vida, a trabalhar pelo nosso próprio adiantamento.
A PRECE
Faz-se preciso que o homem reconheça a necessidade da luta como a do pão cotidiano.
A crença deve ser a bússola, o farol nas obscuridades que o rodeiem na existência
passageira e a prece deve ser cultivada, não para que sejam revogadas as disposições
da lei divina, mas a fim de que a coragem e a paciência inundem o coração de fortaleza
nas lutas ásperas, porém necessárias.
A alma, em se voltando para Deus, não deve ter em mente senão a humildade sincera na
aceitação de sua vontade superior.
AOS ENFRAQUECIDOS NA LUTA
Almas enfraquecidas, que tendes, muitas vezes,sentido sobre a fronte o sopro frio da
adversidade, que tendes vertido muitos prantos nas jornadas difíceis em estradas de
sofrimentos rudes, buscai na fé, os vossos imperecíveis tesouros.
Bem sei a intensidade da vossa angústia e sei de vossa resistência ao desespero. Ânimo
e coragem! No fim de todas as dores, abre-se uma aurora de ventura imortal; dos
amargores experimentados, das lições recebidas, dos ensinamentos conquistados à custa
de insano esforço e de penoso labor, tece a alma sua auréola de eternidade gloriosa; eis
que os túmulos se quebram e da paz cheia de cinzas e sombras, dos jazigos, emergem
as vazes comovedoras dos mortos. Escutai-as!... elas vos dizem da felicidade do dever
cumprido, dos tormentos da consciência nos desvios das obrigações necessárias.
Orai, trabalhai e esperai. Palmilhai todos os caminhos da prova com destemor e
serenidade. As lágrimas que dilaceram, as mágoas que pungem, as desilusões que
fustigam o coração, constituem elementos atenuantes da vossa imperfeição, no tribunal
augusto, onde pontifica o mais justo, magnânimo e integro dos juízes. Sofrei e confiai, que
o silêncio da morte é o ingresso para uma outra vida, onde todas as ações estão contadas
e gravadas as menores expressões dos nossos pensamentos.
Amai muito, embora com amargos sacrifícios, porque o amor é a única moeda que
assegura a paz e a felicidade no Universo.
II - A ASCENDÊNCIA DO EVANGELHO
Nenhuma expressão fornece imagem mais justa do poder d’Aquele a quem todos os espíritos
da Terra rendem culto do que a de João, no seu Evangelho – “No princípio era o Verbo...”
Jesus, cuja perfeição se perde na noite imperscrutável das eras, personificando a sabedoria e
o amor, tem orientado todo o desenvolvimento da Humanidade terrena, enviando os seus
iluminados mensageiros, em todos os tempos, aos agrupamentos humanos e, assim como
presidiu à formação do orbe, dirigindo, como Divino Inspirador, a quantos colaboraram na
tarefa da elaboração geológica do planeta e da disseminação da vida em todos os
laboratórios da Natureza, desde que o homem conquistou a racionalidade, vem-lhe
fornecendo a idéias da sua divina origem, o tesouro das concepções de Deus e da
imortalidade do espírito, revelando-lhe, em cada época, aquilo que a sua compreensão pode
abranger.
Em tempos remotos, quando os homens, fisicamente, pouco dessemelhavam dos
antropopitecos, suas manifestações de religiosidade eram as mais bizarras, até que,
transcorridos os anos, no labirinto dos séculos, vieram entre as populações do orbe os
primeiros organizadores do pensamento religioso que, de acordo com a mentalidade geral,
não conseguiram escapar das concepções de ferocidade que caracterizavam aqueles seres
egressos do egoísmo animalesco da irracionalidade. Começaram aí os primeiros sacrifícios
de sangue aos ídolos de cada facção, crueldades mais longínquas que as praticadas nos
tempo de Baal, das quais tendes notícia pela História.
AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS
Vamos encontrar, historicamente, as concepções mais remotas da organização religiosa na
civilização chinesa, nas tradições da índia védica e bramânica, de onde também se irradiaram
as primeiras lições do culto dos mortos, na civilização resplandecente dos faraós, na Grécia
com os ensinamentos órficos e com a simbologia mitológica, existindo já grandes mestres,
isolados intelectualmente das massas, a quem ofereciam os seus ensinos exóticos,
conservando o seu saber de iniciados no círculo restrito daqueles que os poderiam
compreender devidamente.
OS MISSIONÁRIOS DO CRISTO
Fo-Hi, os compiladores dos Vedas, Confúcio, Hermes, Pitágoras, Gautama, os seguidores
dos mestres da antiguidade, todos foram mensageiros de sabedoria que, encarnando em
ambientes diversos, trouxeram ao mundo a idéia de Deus e das leis morais a que os homens
se devem submeter para a obtenção de todos os primores da evolução espiritual. Todos
foram mensageiros dAquele que era o Verbo do Princípio, emissários da sua doutrina de
amor. Em afinidade com as características da civilização e dos costumes de cada povo, cada
um deles foi portador de uma expressão do “amai-vos uns aos outros”. Compelidos, em razão
do obscurantismo dos tempos, a revestir seus pensamentos com os véus misteriosos dos
símbolos, como os que se conheciam dentro dos rigores iniciáticos, foram os missionários do
Cristo preparadores dos seus gloriosos caminhos.
A LEI MOSAICA
A lei mosaica foi a precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido de Termutis, depois
de se beneficiar com a cultura que o Egito lhe podia prodigalizar, foi inspirado a reunir todos
os elementos úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo e estabelecendo o
Decálogo, sob a inspiração divina, cujas determinações são até hoje a edificação basilar da
Religião da Justiça e do Direito, se bem que as doutrinas antigas já tivessem arraigado a
crença de Deus único, sendo o politeísmo apenas uma questão simbológica, apta a satisfazer
à mentalidade geral.
A legislação de Moisés está cheia de lendas e de crueldades compatíveis com a época, mas,
escoimada de todos os comentários fabulosos a seu respeito, a sua figura é, de fato, a de um
homem extraordinário, revestido dos mais elevados poderes espirituais. Foi o primeiro a
tornar acessíveis às massas populares os ensinamentos somente conseguidos à custa de
longa e penosa iniciação, com a síntese luminosa de grandes verdades.
JESUS
Com o nascimento de Jesus, há como que uma comunhão direta do Céu com a Terra.
Estranhas e admiráveis revelações perfumam as almas e o Enviado oferece aos seres
humanos toda a grandeza do seu amor, da sua sabedoria e da sua misericórdia.
Aos corações abre-se nova torrente de esperanças e a Humanidade, na Manjedoura, no
Tabor e no Calvário, sente as manifestações da vida celeste, sublime em sua gloriosa
espiritualidade.
Com o tesouro dos seus exemplos e das suas palavras, deixa o Mestre entre os homens a
sua Boa Nova. O Evangelho do Cristo é o transunto de todas as filosofias que procuram
aprimorar o espírito, norteando-lhe a vida e as aspirações.
Jesus foi a manifestação do amor de Deus, a personificação de sua bondade infinita.
O EVANGELHO E O FUTURO
Raças e povos ainda existem, que o desconhecem, porém não ignoram a lei de amor da sua
doutrina, porque todos os homens receberam, nas mais remotas plagas do orbe, as
irradiações do seu espírito misericordioso, através das palavras inspiradas dos seus
mensageiros.
O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a resistência das trevas. A
má-fé, a ignorância, a simonia, o império da força conspiração contra ele, mas tempo virá em
que a sua ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações coletivas, é
para a sua luz eterna que a Humanidade se voltará, tomada de esperança. Então, novamente
se ouvirão as palavras benditas do Sermão da Montanha e, através das planícies, dos montes
e dos vales, o homem conhecerá o caminho, a verdade, a vida.
III - ROMA E A HUMANIDADE
Meus caros amigos, alguns de vós, que aqui vos achais, possuís dedicação e amor à
causa da Luz e da Verdade; é lícito, portanto, procuremos corresponder aos vossos
esforços e aspirações de conhecimento, ofertando-vos todas as coisas do espírito, dentro
das nossas possibilidades, para que vos sirvam de auxílio na escalada difícil da verdade.
Numerosas são as falanges de seres que se entregam à difusão das teorias espiritualistas
e que operam, na atualidade, o milagre do ressurgimento da filosofia cristã, em sua
pureza de antanho. É que chegados são os dias das explicações racionais de todos os
séculos que tendes atravessados com os olhos vendados para os domínios da
espiritualidade, devidos aos preconceitos das posições sociais e sentimentos de
utilitarismo de vários sistemas religiosos e filosóficos, desvirtuados em suas finalidades,
em seus princípios.
Nossos desejos seriam os de que a nossa voz fosse ouvida, veiculando-se a palavra da
imortalidade sobre toda a Terra; todavia, não serão feitos em vão os nossos apelos.
Por constituir tema de interesse geral para quantos mourejam nas fainas benditas do
conhecimento da verdade, subordinei estas palavras à epígrafe “Roma e a Humanidade”,
a fim de levar-vos a minha pequena parcela de instrução sobre o Catolicismo que,
deturpando nos seus objetivos as lições do Evangelho, se tornou uma organização
política em que preponderam as características essencialmente mundanas.
ROMA EM SEUS PRIMÓRDIOS
Fundada em tempos remotíssimos, por agrupamentos de homens que experimentavam a
necessidade de recíproca defesa e proteção mútua, edificou-se Roma, sobre as lendas de
Rômulo, do rapto das sabinas e outras. Habitada por indivíduos acostumados à rudeza,
tornou-se populosa com os reforços de habitantes que constantemente lhe vinham dos
núcleos circunvizinhos, vindo a ser em breve a cidade que se transformaria na célebre
república, depois império, e que tão fortemente predomina sobre os destinos humanos.
Como, porém, não é objeto da nossa palestra o estudo da História Universal,
sintetizemos, para alcançar o nosso desiderato.
O CRISTIANISMO EM SUAS ORIGENS
Edificante é a investigação, o estudo acerca do Cristianismo nos primeiros tempos de sua
história; edificante lembrarmos as apagadas figuras de pescadores humildes, grosseiros e
quase analfabetos, a enfrentarem o extraordinário e secular edifício erguido pelos triunfos
romanos, objetivando a sua reforma integral.
Afrontando a morte em todos os caminhos, reconheceram, em breve, que inúmeros
Espíritos oprimidos os aguardavam e com eles se transformavam em anunciadores da
causa do Divino Mestre.
A história da Igreja cristã nos primitivos séculos está cheia de heroísmos santificantes e
de redentoras abnegações. Nas dez principais perseguições aos cristãos, de Nero a
Diocleciano, vemos, pelo testemunho da História, gestos de beleza moral, dignos de
monumentos imperecíveis. Foi assim que, contando com a animadversão das autoridades
da filosofia em voga na época, os seguidores de Cristo sentiram forte amparo na voz
esclarecida de Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes e outras sumidades do
tempo.
OS BISPOS DE ROMA
Nos primitivos movimentos de propaganda da nova fé, não possuíam nenhuma
supremacia os bispos romanos entre os seus companheiros de episcopado e a Igreja era
pura e simples, como nos tempos que se seguiram ao regresso do seu divino fundador às
regiões da Luz. As primeiras reformas surgiram no quarto século da vossa era, quando
Basílio de Cesaréia e Gregório Nazianzeno instituíram o culto aos santos.
Os bispos romanos sempre desejaram exercer injustificável primazia entre os seus
coirmãos; todavia, semelhantes pretensões foram sempre profligadas, destacando-se
entre os vultos que as combateram a venerável figura de Agostinho, que se tornara
adepto fervoroso do Crucificado à força de ouvir as prédicas de Ambrósia, bispo de Milão,
a cujos pés se prosternou Teodósio, o Grande, penitenciando-se das crueldades
perpetradas ao reprimir a revolta dos tessalonicenses.
Desde o primeiro concílio ecumênico de Nicéia, convocado para condenação do cisma de
Ário, continuaram as reuniões desses parlamentos eclesiásticos, onde eram debatidos
todos os problemas que interessavam ao movimento cristão. Datam dessas famosas
reuniões as inovações desfiguradoras da beleza simples do Evangelho; ainda aí, contudo,
nesses primeiros séculos que sucederam à implantação da doutrina de Jesus, destinada
a exercer tão acentuada influência na legislação de todos os povos, não se conhecia, em
absoluto, a hegemonia da Igreja de Roma entre as outras congêneres. Somente no
princípio do século VII a presunção dos prelados romanos encontrou guarida no
famigerado imperador Focas, que outorgou a Bonifácio a primazia injustificável de bispo
universal. Consumada essa medida, que facilitava ao orgulho e ao egoísmo toda sua
nociva expansibilidade, tem-se levado a efeito, até hoje, os maiores atentados, que
culminaram, em 1870, na declaração da infalibilidade papal.
INOVAÇÕES E DOGMAS ROMANOS
A doutrina de Jesus, concentrando-se à força na cidade de Césares, aí permaneceu como
encarcerada pelo poder humano e, passando por consecutivas reformas, perdeu a
simplicidade encantadora das suas origens, transformando-se num edifício de pomposas
exterioridades. Após a instituição do culto dos santos, surgiram imediatamente os
primeiros ensaios de altares e paramentos para as cerimônias eclesiásticas, medidas
aventadas pelos pagãos convertidos, os quais, constantemente, foram adaptando a Igreja
a todos os sistemas religiosos do passado. O dogma da trindade é uma adaptação da
Trimúrti da antiguidade oriental, que reunia nas doutrinas do bramanismo os três deuses –
Brama, Vishu e Siva. É verdade que as coisas inacessíveis ainda à vossa compreensão e
que constituem os mistérios celestes, só vos podem ser transmitidas em suas expressões
simbólicas; mas, o Catolicismo não pode aproveitar-se desse argumento para impor-se
como única doutrina infalível e soberana. Ele era uma escola religiosa, como qualquer
outra que busque nortear os homens para o bem e para Deus, mas que perdeu esse
objetivo, pecando constantemente por orgulho dos seus dirigentes, os quais raras vezes
sabem exemplificar a piedade cristã.
A história do papado é a do desvirtuamento dos princípios do Cristianismo, porque, pouco
a pouco, o Evangelho quase desapareceu sob as suas despóticas inovações, Criaram os
pontífices o latim nos rituais, o culto das imagens, a canonização, a confissão auricular, a
adoração da hóstia, o celibato sacerdotal e, atualmente, noventa por cento das
instituições são de origem humaníssima, fora de quaisquer características divinas.
AS PRETENSÕES ROMANAS
Perdido o cetro da sua hegemonia na antiguidade, o espírito de supremacia perdurou,
entretanto, na grande cidade, outrora teatro de todos os aviltamentos e corrupções da
Humanidade. Foi dessa ânsia, de operar um retrospecto da História, que nasceu
provavelmente o desejo de o bispo romano arvorar-se em chefe do Cristianismo; o que
Roma perdera, com o progresso e com a expansão dos povos, reaveria nos domínios das
coisas espirituais.
E assim aconteceu.
O Vaticano, porém, não soube senão produzir obras de caráter exclusivamente material,
tornando-se potência de poder e autoridade temporais. Afogou-se na vaidade, obtendo o
que procurava, porquanto tem o seu império na Terra, que ainda não é o reino de Jesus.
O seu fastígio, as suas suntuosas basílicas, as suas pomposas solenidades recordam o
politeísmo e as dissipações da sociedade romana e, quando o sumo-pontífice aparece em
vossos dias na sédia gestatória, é o retrato dos cônsules do antigo senado quando saiam
a público, precedidos de litores. O símile é perfeito.
Meu objetivo foi mostrar-vos a inexistência do selo divino nas instituições católicas. Toda
a força da Igreja, na atualidade, vem da sua organização política, que busca
contemporizar com a ignorância. O milagre que se operou nalguns espíritos de eleição,
como o divino inspirado da Úmbria, gerou-se da beleza do Evangelho e dos tempos
apostólicos, unicamente, porque, entre Jesus e o papa, entre os apóstolos e os clérigos,
há uma distância imensurável.
O Vaticano conservará seu poderio, enquanto puder adaptar-se a todos os costumes
políticos das nacionalidades; mas, quando o Evangelho for integralmente restabelecido,
quando a onda de uma reforma visceral purificar o ambiente das democracias com a
luminosa mensagem da fraternidade humana, desaparecerá, não podendo ser absolvido
na balança da História, porque ao lado dos poucos bens que espalhou está o peso
esmagador das suas muitas iniqüidades
IV - A BASE RELIGIOSA
No futuro, viverá a Humanidade fora desse ambiente de animosidade entre a Ciência e a
Religião e julgo mesmo que em nenhuma civilização pode a primeira substituir a segunda.
Uma e outra se completam no processo de evolução de todas as almas para o Criador e
para a perfeição de sua obra. As suas aparentes antinomias, que derivam, na atualidade,
da compreensão deficiente do homem, em face dos problemas transcendentes da vida,
serão eliminadas, dentro do estudo, da análise e do raciocínio.
O TÓXICO DO INTELECTUALISMO
Nos tempos modernos, mentalidades existem que pugnam pelo desaparecimento das
noções religiosas do coração dos homens, saturadas do cientificismo do século e
trabalhadas por idéias excêntricas, sem perceberem as graves responsabilidades dos
seus labores intelectuais, porquanto hão de colher o fruto amargo das sementes que
plantaram nas almas jovens e indecisas. Pede-se uma educação sem Deus, o
aniquilamento da fé, o afastamento das esperanças numa outra vida, a morte da crença
nos poderes de uma providência estranha aos homens. Essa tarefa é inútil. Os que se
abalançam a sugerir semelhantes empresas podem ser dignos de respeito e admiração,
quando se destacam por seus méritos científicos, mas assemelham-se a alguém que
tivesse a fortuna de obter um oásis entre imensos desertos. Confortados e satisfeitos na
sua felicidade ocasional, não vêem as caravanas inumeráveis de infelizes, cheias de sede
e fome, transitando sobre as areias ardentes.
EXPERIÊNCIA QUE FRACASSARIA
O sentimento religioso é a base de todas as civilizações. Preconiza-se uma educação
pela inteligência, concedendo-se liberdade aos impulsos naturais do homem. A
experiência fracassaria. É ocioso acrescentar que me refiro aqui à moral religiosa, que
deverá inspirar a formação do caráter e do instituto da família e não ao sectarismo do
círculo estreito das Igrejas terrestres, que costumam envenenar, aí no mundo, o ambiente
das escolas públicas, onde deverá prevalecer sempre o mais largo critério de liberdade de
pensamento. Falo do lar e do mundo íntimo dos corações.
No dia em que a evolução dispensar o concurso religiosos para a solução dos grandes
problemas educativos da alma do homem, a Humanidade inteira estará integrada na
religião, que é a própria verdade, encontrando-se unida a Deus, pela Fé e pela Ciência
então irmanadas.
A FALIBILIDADE HUMANA
Em cada século o progresso científico renova a sua concepção acerca dos mais
importantes problemas da vida.
Raramente os verdadeiros sábios são compreendidos por seus contemporâneos. Se as
contradições dos estudiosos são o sinal de que a Ciência evolve sempre, elas atestam,
igualmente, a fraqueza e inconsistência dos seus conhecimentos e a falibilidade humana.
O SUBLIME LEGADO
Diz-se que o pensamento religioso é uma ilusão. Tal afirmativa carece de fundamento.
Nenhuma teoria científica, nenhum sistema político, nenhum programa de reeducação
pode roubar do mundo a idéias de Deus e da imortalidade do ser, inatas no coração dos
homens. As ideologias novas também não conseguirão eliminá-la.
A religião viverá entre as criaturas, instruindo e consolando, como um sublime legado.
RELIGIÃO E RELIGIÕES
O que se faz preciso, em vossa época, é estabelecer a diferença entre religião e religiões.
A religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As religiões são
organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles próprios; dignas de todo o
acatamento pelo sopro de inspiração superior que as faz surgir, são como gotas de
orvalho celeste, misturadas com os elementos da terra em que caíram. Muitas delas,
porém, estão desviadas do bom caminho pelo interesse criminoso e pela ambição
lamentável dos seus expositores; mas a verdade um dia brilhará para todos, sem
necessitar da cooperação de nenhum homem.
SABEDORIA INTEGRAL E ORDEM INVIOLÁVEL
Cabe-nos, pois, a nós que depois da morte já não encontramos nenhum ponto de dúvida,
exclamar para os que crêem e esperam:
- “Ó irmãos nossos que confiais na Providência Divina, dentro da escuridão do mundo!...
Do portal de claridade do Além-Túmulo, nós vos estendemos mãos fraternas!... Nossas
palavras correm pelo mundo como sopro poderoso de verdades. A morte não existe e o
Espírito é a única realidade imutável da existência. Todas as Babilônias do passado
jazem no pó dos tempos, com as suas glórias reduzidas a um punhado de cinzas, mas
dentro do Universo mil laços nos unem. Sobre as ruínas, sobre os escombros das
civilizações mortas e dos templos desmoronados, nós viveremos eternamente. Uma
justiça soberana, íntegra e misericordiosa, preside aos nossos destinos. Na Terra ou no
Espaço, unamos os nossos esforços pelo bem coletivo. Guardai convosco o sagrado
patrimônio das crenças porque, acima das coisas transitórias do mundo, há uma
Sabedoria Integral e uma Ordem Inviolável. Lutemos, pois, com destemor e coragem,
porque Deus é justo e a alma é imortal.
V - A NECESSIDADE DA EXPERIÊNCIA
Em vossos dias, a luta a cada momento recrudesce sobre a face do mundo; inúmeras
causas a determinam e Deus permite que ela seja intensificada, em benefício de todos os
seus filhos. Todas as classes são obrigadas a grandes trabalhos, mormente aos trabalhos
intelectuais, porquanto procuram, com afinco, a solução da crise generalizada em todos
os países.
Ponderando a grande soma dos males atuais, buscam elas remédios para as suas
preocupações, espantadas com a situação econômica dos povos, cuja precariedade recai
sobre a vida das individualidades, multiplicando as suas angústias na luta pelo pão
cotidiano.
O quadro material que existe na Terra não foi formado pela vontade do Altíssimo; ele é o
reflexo da mente humana, desvairada pela ambição e pelo egoísmo.
O Céu admite apenas que o mundo sofra as conseqüências de tão perniciosos
elementos, porque a experiência é necessária como chave bendita que descerra as
portas da compreensão.
Cada um, pois, medite no quinhão de responsabilidades que lhe toca e não evite o
trabalho que eleva para as Alturas.
O MOMENTO DAS GRANDES LUTAS
Há quem despreze a luta, mergulhando em nociva impassibilidade, ante os combates que
se travam no seio de todas as coletividades humanas; a indiferença anula na alma as
suas possibilidades de progresso e oblitera os seus germens de perfeição, constituindo
um dos piores estados psíquicos, porque, roubando à individualidade o entusiasmo do
ideal pela vida, a obriga ao estacionamento e à esterilidade, prejudiciais em todos os
aspectos à sua carreira evolutiva.
Semelhante situação não se pode, todavia, eternizar, pois para todos os espíritos,
talhados todos para o supremo aperfeiçoamento, raia, cedo ou tarde, o instante da
compreensão que nos impele a contemplar os altos cimos... A alma estacionária, até
então refratária às pugnas do progresso, sente em si a necessidade de experiências que
lhe facultarão o meio de alcançar as culminâncias vislumbradas... Atira-se ai à luta com
devoção e coragem. Vezes inúmeras fracassa em seus bons propósitos, porém, é nesse
turbilhão de incessantes combates que ela evoluciona para a perfeição infinita,
desenvolvendo as suas possibilidades, aprimorando os seus poderes, enobrecendo-se,
enfim.
OS PLANOS DO UNIVERSO SÃO INFINITOS
Para os desencarnados da minha esfera, o primeiro dia do Espírito é tão obscuro como o
primeiro dia do homem o é para a Humanidade. Somente sabemos que todos nós,
indistintamente, possuímos germens de santidade e de virtude, que podemos desenvolver
ao infinito.
Podendo conhecer a causa de alguns dos fenômenos do vosso mundo de formas, não
conhecemos o mundo causal dos efeitos que nos cercam, os quais constituem para vós
outros, encarnados, matéria imponderável em sua substância.
Se para o vosso olhar existem seres invisíveis, também para o nosso eles existem, em
modalidade de vida que ainda estudamos nos seus primórdios, porquanto os planos da
evolução se caracterizam pela sua multiplicidade dentro do Infinito.
Aqui reconhecemos quão sublime é a lei de liberdade das consciências e dessa
emancipação provém a necessidade da luta e do aprendizado.
O PROGRESSO ISOLADO DOS SERES
A Ciência, a Arte, a Cultura, a Virtude, a Inteligência não constituem patrimônios
eventuais do homem, conforme podeis observar; semelhantes atributos só se revelam, na
Terra, nos organismos dos gênios, os quais representam a súmula de extraordinários
esforços individuais, em existências numerosas de sacrifício, abnegação e trabalho
constantes. Todos os seres, portanto, laboram insuladamente, na aquisição dessas
prerrogativas, de acordo com as suas vocações naturais, dentro das lutas planetárias.
Paulatinamente, vencem imperfeições, aparam arestas, aniquilam defeitos em suas
almas, norteando-as para o progresso, último objetivo de todas as nossas cogitações
comuns.
O FUTURO É A PERFEIÇÃO
Integrada no conhecimento de suas próprias necessidades de aprimoramento, a alma
jamais abandona a luta. Volta às existências preparatórias do seu futuro glorioso. Reúnese
aos seres que lhe são afins, desenvolvendo a sua atividade perseverante e incansável
nos carreiros da evolução.
Em existências obscuras, ao sopro das adversidades, amontoa os seus tesouros imortais,
simbolizados nas lições que aprende, devotadamente, nos sofrimentos que lhe apuram a
sensibilidade, Cada etapa alcançada é um ciclo de dores vencidas e de perfeições
conquistadas.
O QUE SIGNIFICAM AS REENCARNAÇÕES
Cada encarnação é como se fora um atalho nas estradas da ascensão. Por esse motivo,
o ser humano deve amar a sua existência de lutas e de amarguras temporárias,
porquanto ela significa uma benção divina, quase um perdão de Deus.
A golpes de vontade persistente e firme, o Espírito alcança elevados pontos na sua
escalada, nos quais não mais estacionará no caminho escabroso, mas sentirá cada vez
mais a necessidade de evolução e de experiência, que o ajudarão a realizar em si as
perfeições divinas.
VI - PELA REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO
Irmãos e amigos. Ainda é para o estudo e a prática do Evangelho, em sua primitiva
pureza, que tereis de voltar o vosso entendimento, se quiserdes salvar da destruição o
patrimônio de conquistas grandiosas da vossa civilização.
ÉPOCA DE DESOLAÇÃO
Tocastes a época da desolação, em que os homens não mais se compreendem uns aos
outros. A morte de todos os vossos ideais de concórdia, a falência dos vossos institutos
pró-paz requerem a atenção acurada da Sociologia e esta somente poderá solucionar os
problemas que vos assoberbam, cheios de complexidades e transcendência, com o
estudo do Evangelho do Cristo, porém, não segundo os ditames da convenção social, que
há muitos séculos vem transformando o ideal de perfeição do Crucificado num acervo de
exterioridades, que os homens adotaram por questões de esnobismo ou de acordo com
os interesses da facção ou da personalidade.
Novos sistemas políticos, sobre as bases dos nacionalismos que vêm criando no seio dos
povos a terrível autarquia, ou sobre os alicerces frágeis desse comunismo que objetiva a
extinção do sagrado instituto da família, apenas correrão o orbe com a sua feição de
ideologias ocas, envenenando os espíritos e intoxicando as consciências.
A NORMA DE AÇÃO EDUCATIVA
O psicólogo, o pedagogista, o formados das novas gerações, para entrarem na arena da
luta a prol do aperfeiçoamento de cada individualidade sobre a Terra, terão de buscar a
sua norma de ação dentro do próprio Cristianismo, em sua simplicidade inicial, se não
quiserem que a Humanidade atinja a culminância dos arrasamentos e das destruições.
As religiões literalistas passaram, desdobrando com as suas filosofias, sobre a fronte da
Humanidade, um manto rico de fantasias e de concepções variadas, mas baldas de
essência e de espírito que lhes vivificassem os ensinamentos.
A FALHA DA IGREJA ROMANA
A Igreja Católica, amigos, que tomou a si o papel de zeladora das idéias e das realizações
cristãs, pouco após o regresso do Divino Mestre às regiões da Luz, falhou
lamentavelmente aos seus compromissos sagrados. Desde o concílio ecumênico de
Nicéia, o Cristianismo vem sendo deturpado pela influenciação dos sacerdotes dessa
Igreja, deslumbrados com a visão dos poderes temporais sobre o mundo. Não valeu a
missão sacrossanta do iluminado da úmbria, tentando restabelecer a verdade e a doutrina
de piedade e de amor do Crucificado para que se solucionasse o problema milenar da
felicidade humana.
As castas, as seitas, as classes religiosas, a intolerância do clericalismo constituíram
enormes barreiras a abafarem a voz das realidades cristãs. A moral católica falhou aos
seus deveres e às suas finalidades.
A Espanha atual, alimentada de catecismo romano desde a sua formação, é bem, com os
seus incêndios e depredações de tudo o que fora feito, um atestado da falência dos
ensinamentos ou da orientação de Roma para alcançar o desiderato do progresso
coletivo e da ética social.
Não nos elícito influenciar os homens e as suas instituições. Todavia, podemos apreciar a
influência das idéias sobre as massas, apreciando-lhes os resultados. É o que desejamos
evidenciar, solicitando vossa atenção para o complexo de fenômenos dolorosos, de
ordem social e política, que vindes observando há alguns anos. Fazendo-o, temos o
objetivo de vos demonstrar a que resultado conduziu os povos a deturpação da palavra
do Cristo, e a necessidade de voltar-se o raciocínio individual e coletivo para a
compreensão dos deveres que dela decorrem.
O PROPÓSITO DOS ESPÍRITOS
O nosso propósito, na atualidade, é cooperar convosco pela obtenção da paz e da
concórdia no seio da coletividade humana.
Agora, filhos, já não são mais os homens os donos do trabalho, os senhores absolutos da
tarefa. Tomando por seus companheiros os de boa-vontade que se acham aí no planeta,
buscando o aprimoramento anímico e psíquico onde aí se encontrem, são os gênios do
Espaço que, sob a égide do Divino Mestre, vêm proclamar, por entre as sociedades
terrenas, as consoladoras verdades, as grandiosas verdades.
Já agora, não mais se poderá abafar o ensinamento no silêncio escuro dos calabouços,
porquanto uma nova concepção do direito e da liberdade felicita as criaturas.
É em razão disso que os túmulos falam, que os mortos voltam da sombra e do amontoado
das cinzas, para dizer-vos que a vida é o eterno presente e que a imortalidade, dentro dos
institutos da justiça incorruptível, que nos observa e julga, é um fato incontestável.
Conclamando os homens, nossos irmãos, trazemos a todos o fruto abençoado de nossas
penosas existências, asseverando a cada um que o problema da paz e da felicidade está
solucionado no estatuto divino. Todas as nossas atividades objetivam a revivescência do
Cristianismo na Terra, de modo que um templo se levante em cada lar e um hostiário em
cada coração.
Auxiliai-nos, trazendo-nos o concurso da vossa boa-vontade, de vosso querer; ajudai-nos
em nossos propósitos benditos de reedificação do Templo de Jesus, de cujos altares os
maus sacerdotes se descuidaram, levados pelos cantos de sereia da vaidade e dos
interesses do mundo.
Que o Mestre abençoe a cada um de vós, fortalecendo-vos a fé, para que possamos com
Ele, com a sua proteção e a sua misericórdia, vencer na luta em que nos achamos
emprenhados.
VII - O LABOR DAS ALMAS
Descerradas as pesadas cortinas materiais que aí na Terra nos cobriam os olhos do
Espírito, experimentamos, aliado às comoções de êxtase diante da imensidade, o desejo
de comunicar a verdade a todas as criaturas. Como, porém, atingir semelhante
desiderato?
Obstáculos inúmeros se nos antolham, avultando o da falta de um estabelecimento direto
entre o plano material e o espiritual, que somente poderíamos obter através de poderosa
mediunidade generalizada, capaz de registrar de maneira palpável todas as maravilhas do
mundo psíquico. Todavia, o porvir humano nos faz entrever essa ligação mais íntima dos
Espíritos, pertençam ou não ao orbe mental.
DIFICULDADES DA COMUNICAÇÃO
Na atualidade, quase todo fato mediúnico constitui o fenômeno, o mistério, o
acontecimento que exorbita das leis naturais, considerado, portanto, erradamente pelos
seus observadores. Daí o nascerem numerosas dificuldades para que muitas entidades
atuem de forma sensível em vossas existências. Mas, se lhes é impossível a
comunicação direta, é fácil a sua participação em vossos afazeres, estudos, pensamentos
e preocupações. Os Espíritos, prepostos a esse ou àquele mister no seio da Humanidade
e da natureza, formam um conjunto harmonioso e muito maior do que julgais.
Rompido o laço que a une à matéria, um dos primeiros pensamentos da alma é para os
seres queridos que ficaram à distância, e a ansiedade de revê-los constitui um dos mais
santos objetivos de suas aspirações. Nem sempre isso lhes é permitido, porquanto uma
ordem indefectível preside às leis cósmicas que são as leis divinas. Fazem tudo, porém,
para que se tornem dignas da confiança superior, e é assim que inúmeras criaturas
desencarnadas se entregam, em vossos ambientes, a misteres dignificantes e redentores.
O TRABALHO DOS ESPÍRITOS
Em vossa vida, tomam parte as entidades do Além: sem que as vejais, perambulam em
vosso meio, atuam em vossos atos, sem que os vossos nervos visuais lhes registrem a
presença;
Edificante é observarmos o sacrifício de tantos seres evolvidos que se consagram a
sagrados labores, no planeta das sombras, quais os da regeneração de individualidades
obcecadas no mal, operando abnegadamente a serviço da redenção de todas as almas,
atirando-se com destemor a tarefas penosas, cheios de renúncia santificadora.
NECESSIDADE DO SACRIFÍCIO
Fora da carne, compreende-se a excelência da abnegação e do sacrifico e prol de
outrem. A maioria das nossas obras pessoais são como bolhas de água sabonada que se
dispersam nos ares, porque, visando ao bem-estar e ao repouso do “eu”, têm como base
o egoísmo que atrofia a nossa evolução. Toda a felicidade do Espírito provém da
felicidade que deu aos outros, todos os seus bens são oriundos do bem que espalhou
desinteressadamente.
Compreendendo essas verdades, muitas vezes após as transformações da morte, não as
assimilamos tardiamente, porque, de posse das realidades próximas do Absoluto,
concatenamos as nossas possibilidades, laborando ativamente na obra excelsa do bem
comum e do progresso geral, encontrando, assim, forças novas que nos habilitam a
merecido êxito em novas existências de abnegação que nos levarão às esferas felizes do
Universo.
Venturosos são os raros Espíritos que sentem a excelsitude dessas verdades na vida
corporal. Sacrificando-se em benefício dos semelhantes, experimentam, mesmo sob a
cruz das dores, a suave emoção das venturas celestes que os aguardam nos planos
aperfeiçoados do Infinito.
DESENVOLVIMENTO DA INTUIÇÃO
Faz-se mister, em vossos tempos, que busqueis desenvolver todas as vossas energias
espirituais – forças ocultas que aguardam o vosso desejo para que desabrochem
plenamente. O homem necessita das suas faculdades intuitivas, através de sucessivos
exercícios da mente, a qual, por sua vez, deverá vibrar ao ritmo dos ideais generosos.
Cada individualidade deve alargar o círculo das suas capacidades espirituais, porquanto,
poderá, como recompensa à sua perseverança e esforço, certificar-se das sublimes
verdades do mundo invisível, sem o concurso de quaisquer intermediários.
O que se lhe faz, porém, altamente necessário é o amor, o devotamento, a aspiração pura
e a fé inabalável, concentrados nessa luz que o coração almeja fervorosamente; esse
estado espiritual aumentará o poder vibratório da mente e o homem terá então nascido
para uma vida melhor.
VIII - A CONFISSÃO AURICULAR:
Interpelado, há dias, a respeito da confissão auricular, nada mais pude fazer que dar uma
resposta resumida, de momento, adiando o instante de expender outras considerações
atinentes ao assunto.
Padre católico que fui, na minha última romagem terrena, sinto-me à vontade para falar
com imparcialidade sincera.
Não será a minha palavra que vá condenar qualquer religião, todas elas nascidas de uma
inspiração superior que os homens viciaram, acomodando as determinações de ordem
divina aos seus próprios interesses e conveniências, desvirtuando-lhes os sagrados
princípios.
Todas as doutrinas religiosas têm a sua razão de ser no seio das coletividades, onde
foram chamadas a desempenhar a missão de paz e de concórdia humana. Todos os seus
males provém justamente dos abusos do homem, em amoldá-las ao abismo de suas
materialidades habituais; e, de fato, constitui um desses abusos a instituição da confissão
auricular, pela Igreja Católica.
A CONFISSÃO NOS TEMPOS APOSTÓLICOS
Se é verdade que, na época do Precursor, os novos crentes adotavam o sistema de
confessar publicamente as suas faltas e os seus erros, tal costume diferia essencialmente
de tudo quanto criou a Igreja Católica, nesse particular, depois da partida, para o Além,
dos elevados Espíritos que lançaram, com o sangue dos seus sacrifícios e com a mais
sublime renúncia dos bens terrenos, as bases da fé, as quais têm resistido ao bolor dos
séculos. A confissão pública dos próprios defeitos, nos tempos apostólicos, constituía
para o homem forte barreira, evitando sua reincidência na falta. Um sentimento profundo
de verdadeira humildade movia o coração nesses momentos, oferecendo-lhe as melhores
possibilidades de resistência ao assédio das tentações, e semelhante princípio
representava como que uma vacina contra as úlceras do remorso e das chagas morais.
Todavia, os tempos decorreram e, no seu transcurso, observou-se a transformação
radical de todas as leis sublimes de fraternidade cristã, anteriormente preconizadas.
A CONFISSÃO AURICULAR E SUA GRANDE VÍTIMA
A confissão auricular constitui uma aberração, dentro do amontoado das doutrinas
desvirtuadas do romanismo. E é justamente a mulher, pelo espírito sensível de
religiosidade que caracteriza, a maior vítima do confessionário.
Infelizmente, toda a série de absurdos do inqualificável sacramento da penitência é
oriunda dos superiores eclesiásticos, dos teólogos e falsos moralistas da Igreja que,
perversamente, criaram os longos e indiscretos interrogatórios, aos quais terá a mulher de
submeter-se passivamente, diante de um homem solteiro, estranho, que ela, inúmeras
vezes, nem conhece.
Os padres, geralmente, em virtude do seu desconhecimento dos sagrados deveres da
paternidade, não a vão interpelar no tocante ás obrigações austeras do governo da casa;
ferem exatamente os problemas mais íntimos e mais delicados da vida do casal, violando
o sagrado respeito das questões do lar, dando pasto aos pensamentos mais injustificáveis
e, às vezes, repugnantes. E o véu de modéstia e de beleza que Deus concedeu à mulher,
para que ela pudesse mergulhar qual lírio de espiritualidade nos pântanos deste mundo, é
arrancado justamente por esse homem que se inculca ministro das luzes celestes. Muitas
vezes, é no confessionário que começa o calvário social da mulher. Dolorosos e pesados
tributos são cobrados das católicas-romanas, que, confiadas em Deus, se lançam aos pés
de um homem cheio das mesmas fraquezas dos outros mortais, na enganosa suposição
de que o sacerdote é a imagem da Divindade do Senhor.
REFORMA NECESSÁRIA
Não podeis calcular as imensidade de crimes perpetrados à sombra dos confessionários
penumbrosos, onde almas aflitas e fervorosas buscam consolação e conforto espiritual.
O que se faz necessário em vossos dias é a reforma de semelhantes costumes. Quando
essa renovação não parta das autoridades eclesiásticas, que ela possa nascer dos
esforços conjugados de todos os esposos e de todos os pais, substituindo eles os
confessores junto de suas esposas e de suas filhas.
Muitas vezes, quando procurado por consciência polutas, que me vinham fazer o triste
relato de suas existências repletas de deslizes, eu nunca me senti com autoridade
bastante para ouvi-las.
CONFESSAI-VOS UNS AOS OUTROS
Todo espírito do Evangelho, legado pelo Mestre à Humanidade sofredora, foi deturpado
pelo homem, dentro dos seus interesses mesquinhos e das suas idéias de
antropomorfismo.
Por isso, nós, que já trazemos o coração trabalhado nas mais penosas experiências,
podemos declarar, diante da nossa consciência e diante de Deus que nos ouve, que
nenhum bem pode prodigalizar a confissão auricular ao espírito, sendo um costume
eminentemente nocivo, com seus característicos de depravação moral, merecendo,
portanto, toda a atenção da sociologia moderna.
Confessai-vos uns aos outros, buscando de preferência aqueles a quem ofendestes e,
quando a vossa imperfeição não vo-lo permita, procurai ouvir a voz de Deus, na voz da
vossa própria consciência.
IX - A IGREJA DE ROMA NA AMÉRICA DO SUL
A Igreja Romana movimenta-se na América do Sul. Sentindo os perigos da Europa, onde
os produtos ideológicos de novas doutrinas lhe criaram uma situação profundamente
embaraçosa, a organização política do Catolicismo volta-se para a América Meridional,
onde os neolatinos, vivendo a existência reflexa dos grandes centros ocidentais,
trabalham ainda por adquirir uma personalidade coletiva.
Os últimos congressos eucarísticos na Argentina e no Brasil representam o apogeu das
suas atividades, no sentido de manter a sua falsa posição, à custa de exterioridade
suntuosas, dentro daquela megalomania característica das águias dominadoras do
império romano.
A GRANDE USURPADORA
Vivendo à custa da economia dos que trabalham, a Igreja Romana é a atual usurpadora
de grande percentagem do esforço penoso das coletividades.
Sem dúvida, a sua influência no passado beneficiou a civilização, muito embora tenha
sido essa influência saturada de movimentos condenáveis, à sombra do nome de Deus e
em nome do Evangelho. As guerras santas, a inquisição, as renovações religiosas dos
séculos pretéritos, apóiam a nossa assertiva. As obras beneficentes da Igreja estão ainda
cheias de sangue dos mártires. Quase todos os bens que o Vaticano conseguiu trazer à
civilização nascente fizeram-se acompanhar de terríveis acontecimentos.
O CATOLICISMO NA EUROPA MODERNA
A Europa moderna, pobre de possibilidades econômicas e compreendendo de perto a
ação defraudadora da Igreja Católica, tornou-se campo quase estéril para as suas
explorações. As tendências da mentalidade geral para uma organização econômica,
sobre a base da justiça que deve prevalecer em todas as leis do futuro, fizeram dos
países europeus terreno impróprio para uma indústria religiosa. Com exceção da política
de Berlim e de Roma, outras nacionalidades européias custariam a tolerar esses
movimentos de audaciosas explorações. A mística fascista é a única que procura o
amparo das ilusões religiosas do Catolicismo, com o objetivo de manter a coesão popular,
em torno da idolatria do Estado. Ainda agora, existem pronunciadas tendências da nova
Alemanha para que se crie, nos bastidores da política hitlerista, uma Igreja nacionalizada.
Mas os países democráticos, que se encaminham, com os seus estatutos de governo,
para o socialismo cristão do porvir, sentiriam dificuldade em suportar tutelas dessa
natureza. Trabalhadores por doutrinas libertárias, eles vêm pagando com sangue os seus
progressos penosamente obtidos. Longe de nós o aplaudirmos a política nefasta de Stalin
ou a suas atividades nos gabinetes de Léon Blum ou de Azaña; apenas salientamos a
tendência das massas para a liberdade, sacudindo o jugo milenar do Catolicismo, que a,
pretexto de prosseguir na obra cristã, apossou-se do Estado para dominar e escravizar as
consciências. A Igreja, se bem haja desempenhado missão preponderante no destino
desta civilização que, na atualidade, toca ao apogeu, fez mais vítimas que as dez
perseguições mais notáveis, efetuadas pelos imperadores de Roma antiga contra os
adeptos da abençoada doutrina do Crucificado.
A IGREJA CATÓLICA PROVOCANDO A POBREZA NO MUNDO
Integrada no conhecimento dessas grandes verdades é que a Europa de agora se
apresenta como um campo perigoso para as grandes concentrações católicas; e os
sacerdotes romanos que, com escasso automatismo de sibaritas, bem compreendem que
a visão dos seus faustos e de suas grandezas açulam o instinto terrível das massas,
trabalhadas pelas necessidades mais duras, reconhecendo, de modo extraordinário, os
movimentos homicidas dos extremismos da atualidade, cujas lutas nefastas vêm
amargurando a alma dos povos. Ninguém ignora a fortuna gigantesca que se encerra,
sem benefício para ninguém, nos cofres pesados do vaticano; capitais que para eles se
canalizam, com fertilidade assombrosa, ali repousam sem se converterem em benefício
dos que trabalham, conquistando com penoso suro o pão de cada dia. Os milhões de liras
que ali se arquivam, em detrimento da economia de todas as classes que produzem, têm
apenas uma utilidade, que é a do engrandecimento da obra suntuária do humildes
continuadores de Jesus.
AMARGOS CONTRASTES
Enquanto há fome e desolação no mundo, Sua Santidade distribui bênçãos e títulos
nobiliárquicos, compensados com os mais pingues tributos de ouro. As canonizações
custam verdadeiras fortunas aos países católicos. Para que a França conseguisse o altar
para a sua heroína de Domremy, muitos milhares de francos foram arrancados à
economia popular. A América do Sul ainda não conseguiu alguns santos do Vaticano, em
virtude da sua carência de recursos financeiros à consecução de tal projeto. Enquanto o
vaticano se entende com o Quirinal sobre as mais pesadas somas de ouro, destinadas às
atividades guerreiras, os padres se reúnem a e falam de paz; enquanto Pio XI se debruça
nos seus ricos apartamentos, passeando pelas suas galerias de arte de todos os séculos
e pelas vastas bibliotecas, exibindo a imagem do Crucificado nas suas sandálias, ou
entregando-se ao repouso no Castel Gandolfo, há criaturas morrendo a mingua de
trabalho, entregues a toda sorte de misérias e de vicissitudes.
O MUNDO TEM SEDE DE CRISTO
Inspirando-se na inteligência de Leão XIII, que deixou a sua “Rerum novarum” como alto
documento político de conciliação das classes proletárias e capitalistas, Pio XI publicou a
sua “Quadragésimo anno”, tentando estabelecer barreira ás doutrinas novas, que vêm pôr
em xeque a falsa posição da Igreja Católica. Alguns países vêm inspirando-se nessas
bulas pontifícias, para a criação de dispositivos constitucionais, aptos a manter o equilíbrio
social; todavia, importa considerar que a igreja é impotente e suspeita para tratar dos
interesses dos povos. Na sua situação parasitária, não pode falar aos que trabalham e
sofrem, aprendendo nas experiências mais dolorosas da vida.
A vossa civilização sente necessidade da prática evangélica, tem sede de Cristo, fome de
idealismo genuinamente cristão e, diante desse surto novo de fé das coletividades, nada
valem os congressos eucarísticos, porquanto é chegado o tempo de se fecharem as
portas da indústria da cruz. O Cristo terá de ressurgir dos escombros em que foi
mergulhado pela teologia do Catolicismo. O dogma conhecerá o seu fim com o advento
das verdades novas e é para esse movimento grandioso do porvir que os mortos vêm dar
as mãos aos vivos de boa-vontade.
Que a Igreja Romana se transforme, buscando guardar a essência dos exemplos terríveis
desta última revolução espanhola; que as provações coletivas hajam chegado ao seu
termo, sem necessidade de mais sangue, e de mais lágrimas e de mais vidas; que Roma
compreenda tudo isso e esclareça os seus tutelados, antes que os escravos de suas
ilusões recordem de sacudir as algemas por si mesmos; que a lei de Jesus impere desde
já, sem precisar das grandes dores que, por tantas vezes, têm lacerado o coração
sofredor da Humanidade terrestre.
X - AS PRETENSÕES CATÓLICAS
Achai possível e, sobretudo, conveniente que a Igreja volte a
sagrar o chefe do Estado no Brasil?
Em caso afirmativo, qual a Igreja caberia essa função?
Deverá o poder da República receber a sagração de todos os
cultos?
As perguntas acima revelam o assunto palpitante dos interesses inferiores da Igreja de
Roma na América do Saul, mormente no Brasil, segundo as nossas considerações em
anterior comunicado.
Motivam-nas algumas declarações feitas ultimamente por um padre católico,
considerando a “origem divina do poder sobre a Terra”, tentando reconduzir o Estado às
antigas bases absolutistas e teocráticas.
Decididamente, a igreja não esconde o seu propósito de escravizar ainda as consciências
humanas e, com os seus continuados pruridos de hegemonia sobre todos os outros
cultos, revela suas fundas saudades do Santo Ofício, para algemar o pensamento dos
homens às enxovias dos seus interesses.
Em pleno século XX, fala-se na necessidade de se delatarem os crimes dos pais, dos
esposos, dos irmãos; preconiza-se a devassa das instituições, dos lares e das
consciências. Não será surpresa para ninguém, se os padres católicos exumarem
amanhã, das cinzas da Idade Média para os dias que correm, o célebre Livro das Taxas,
do tempo de Leão X, em que todos os preços do perdão para os crimes humanos estão
estipulados.
O CULTO RELIGIOSO E O ESTADO
A evolução dos códigos políticos da América do Sul deveria merecer mais respeito por
parte dos elementos que se acham sob as ordens do Vaticano.
Falar-se em sagração do chefe do Estado pela Igreja Romana, aliando o direito divino às
obrigações políticas, depois de tantas conquistas sociais da República, seria quase
infantilidade, se isso não representasse algo de perigoso para os próprios códigos de
natureza política do país.
Nenhum culto, que se prenda a Deus pela devoção e por determinados deveres
religiosos, tem o direito de interferir nos movimentos transitórios do Estado, como este
último não tem o direito de interferir na vida privada da personalidade, em matéria de
gosto, de sentimento e de consciência, segundo as velhas fórmulas do liberalismo. Há
muito tempo, os fenômenos do progresso político dos povos proscrevem essas nefastas
influências religiosas sobre a política administrativa das coletividades.
SEMPRE COM CÉSAR
Já o próprio Cristo asseverava nas suas divinas lições; - “A César o que é de César e a
Deus o que é de Deus.”
Mas, a Igreja Católica Romana jamais ocultou sua preferência pela amizade de César.
Os tempos apostólicos, que ainda iluminam o coração da Humanidade sofredora, até os
tempos modernos, pela sua união com o Evangelho, foram muito curtos. Não tardou que
a organização dos bispos romanos preponderasse sobre todos os núcleos do verdadeiro
Cristianismo, sufocando-os com as suas forças temporais.
Inventaram-se todas as novidades para o ideal de simplicidade e pureza de Jesus e,
desde épocas remotas, o Catolicismo é bem retrato do farisaísmo dos tempos judaicos,
que conduziu o Divino Mestre á crucificação. Amiga dos poderosos, em todos os tempos,
bastilha do pensamento livre da Humanidade que tentou a civilização cristã, é talvez, por
esse motivo, que a Igreja, pela voz dos seus teólogos mais eminentes, procurou sempre
revestir o poder transitório dos felizes da Terra com um caráter de divindade. Batida pela
demagogia céptica de todos os filósofos e cientistas que seguiram no luminoso caminho
das concepções liberais, retirada da sua posição de opressora para se transformar em
instrumento humilde de outros opressores das criaturas humanas, a Igreja, na sua
assombrosa capacidade de adaptação, esperou pacientemente outras oportunidades para
reaquisição dos seus poderes e de suas tiranias e as encontrou dentro da mística do
Estado totalitário.
XI - MENSAGEM AOS MÉDIUNS
Venho exortar a quantos se entregaram na Terra à missão da mediunidade, afirmandolhes
que, ainda em vossa época, esse posto é o da renúncia, da abnegação e dos
sacrifícios espontâneos. Faz-se mister que todos os Espíritos, vindas ao planeta com a
incumbência de operar nos labores mediúnicos, compreendam a extensão dos seus
sagrados deveres para a obtenção do êxito no seu elevado e nobilitante trabalho.
Médiuns! A vossa tarefa deve ser encarada como um santo sacerdócio; a vossa
responsabilidade é grande, pela fração de certeza que vos foi outorgada, e muito se
pedirá aos que muito receberam. Faz-se, portanto, necessário que busqueis cumprir, com
severidade e nobreza, as vossas obrigações, mantendo a vossa consciência serena, se
não quiserdes tombar na luta, o que seria crestar com as vossas próprias mãos as flores
da esperança numa felicidade superior, que ainda não conseguimos alcançar! Pesai as
conseqüências dos vossos mínimos atas, porquanto é preciso renuncieis à própria
personalidade, aos desejos e aspirações de ordem material, para 'que a vossa felicidade
se concretize.
VIGIAR PARA VENCER
Felizes daqueles que, saturados de boa-vontade e de fé, laboram devotadamente para
que se espalhe no mundo a Boa Nova da imortalidade. Compreendendo a necessidade
da renúncia e da dedicação, não repararam nas pedras e nos acúleos do caminho,
encontrando nos recantos do seu mundo interior os tesouros do auxilio divino. Acendem
nos corações a luz da crença e das esperanças, e se, na maioria das vezes, seguem pela
estrada incompreendidos e desprezados, o Senhor enche com a luz do seu amor os
vácuos abertos pelo mundo em suas almas, vácuos feitos de solidão e desamparo.
Infelizmente, a Terra ainda é o orbe da sombra e da lágrima, e toda tentativa que se faz
pela difusão da verdade, todo trabalho para que a luz se esparja fartamente encontram a
resistência e a reação das trevas que vos cercam. Dai nascem as tentações que vos
assediam, e partem as ciladas em que muitos sucumbem, à falta da oração e da vigilância
apregoadas no Evangelho.
QUEM SÃO OS MÉDIUNS NA SUA GENERALIDADE
Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo;
são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso
das leis divinas, e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e ilimitadas
responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se
encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre, são
Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da
fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se sacrificarem em
favor do grande número de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da
caridade e da virtude. São almas arrependidas que procuram arrebanhar todas as
felicidades que perderam, reorganizando, com sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos
seus instantes de criminosas arbitrariedades e de condenável insânia.
AS OPORTUNIDADES DO SOFRIMENTO
As existências dos médiuns, em geral, têm constituído romances dolorosos, vidas de
amargurosas dificuldades, em razão da necessidade do sofrimento reparador; suas
estradas, no mundo, estão repletas de provações, de continências e desventuras. Faz-se,
porém, necessário que reconheçam o ascetismo e o padecer, como belas oportunidades
que a magnanimidade da Providência lhes oferece, para que restabeleçam a saúde dos
seus organismos espirituais, combalidos nos excessos de vidas mal orientadas, nas quais
se embriagaram à saciedade com os vinhos sinistros do vicio e do despotismo.
Humilhados e incompreendidos, faz-se mister que reconheçam todos os benefícios
emanantes das dores que purificam e regeneram, trabalhando para que representem, de
fato, o exemplo da abnegação e do desinteresse, reconquistando a felicidade perdida.
NECESSIDADE DA EXEMPLIFICAÇÃO
Todos os médiuns, para realizarem dignamente a tarefa a que foram chamados a
desempenhar no planeta, necessitam identificar-se com o ideal de Jesus, buscando para
alicerce de suas vidas o ensinamento evangélico, em sua divina pureza; a eficácia de sua
ação depende do seu desprendimento e da sua caridade, necessitando compreender, em
toda a amplitude, a verdade contida na afirmação do Mestre: “Dai de graça o que de
graça receberdes.”
Devendo evitar, na sociedade, os ambientes nocivos e viciosos, podem perfeitamente
cumprir seus deveres em qualquer posição social a que forem conduzidos, sendo uma de
suas precípuas obrigações melhorar o seu meio ambiente com o exemplo mais puro de
verdadeira assimilação da doutrina de que são pregoeiros.
Não deverão encarar a mediunidade como um dom ou como um privilégio, sim como
bendita possibilidade de reparar seus erros de antanho, submetendo-se, dessa forma,
com humildade, aos alvitres e conselhos da Verdade, cujo ensinamento está,
freqûentemente, numa inteligência iluminada que se nos dirige, mas que se encontra
igualmente numa provação que, humilhando, esclarece ao mesmo tempo o espírito,
enchendo-lhe o íntimo com as claridades da experiência.
O PROBLEMA DAS MISTIFICAÇÕES
O problema das mistificações não deve impressionar os que se entregam às tarefas
mediúnicas, os quais devem trazer o Evangelho de Jesus no coração. Estais muito longe
ainda de solucionar as incógnitas da ciência espírita, e se aos médiuns, às vezes, tornase
preciso semelhante prova, muitas vezes os acontecimentos dessa natureza são
também provocados por muitos daqueles que se socorrem das suas possibilidades.
Tende o coração sempre puro. E com a fé, com a pureza de intenções, com o sentimento
evangélico, que se podem vencer as arremetidas dos que se comprazem nas trevas
persistentes. ê preciso esquecer os investigadores cheios do espírito de mercantilismo!...
Permanecei na fé, na esperança e na caridade em Jesus - Cristo, jamais olvidando que só
pela exemplificação podereis vencer.
APELO AOS MEDIUNS
Médiuns, ponderai as vossas obrigações sagradas! preferi viver na maior das provações a
cairdes na estrada larga das tentações que vos atacam, insistentemente, em vossos
pontos vulneráveis.
Recordai-vos de que é preciso vencer, se não quiserdes soterrar a vossa alma na
escuridão dos séculos de dor expiatória. Aquele que se apresenta no Espaço como
vencedor de si mesmo é maior que qualquer dos generais terrenos, exímio na estratégia e
tino militares. O homem que se vence faz o seu corpo espiritual apto a ingressar em
outras esferas e, enquanto não colaborardes pela obtenção desse organismo etéreo,
através da virtude e do dever comprido, não saireis do círculo doloroso das
reencarnações.
XII - A PAZ DO ÚLTIMO DIA
Já pensastes na paz do último dia na Terra?
Há, na alma prestes a regressar à sua eterna pátria, um modo de sensações
desconhecidas.
Nesses olhos nublados de pranto, num corpo lavado pelo copioso suor da agonia,
gangrenado e semi-apodrecido, onde os órgãos rebeldes, em conflito, são centros das
mais violentas e rudes dores, existe todo um amontoado de mistérios indecifráveis para
aqueles que ficam.
Nesses rápidos minutos, um turbilhão de pensamentos represa-se nesse cérebro
esgotado pelos sofrimentos... O Espírito, no limiar do túmulo, sente angústia e receio; e,
nos estertores de sua impotência, vê numa continuidade assombrosa de imagens
movimentadas, toda inutilidade das ilusões da vida material. Todas as suas vaidades e
enganos tombam furiosamente, como se um ciclone impiedoso os arrancasse do seu
íntimo, e os que somente para esses enganos viveram sentem-se, na profundeza de suas
consciências, como se atravessassem um deserto árido e extenso; todos os erros do
passado gritam nos seus corações, todos os deslizes se lhes apresentam, e nessa
quietude aparente de uns lábios que se cerram no doloroso ricto da morte, existem brados
de blasfêmia e desesperação, que não escutais, em vosso próprio benefício.
OS QUE SE DEDICAM AS COISAS ESPIRITUAIS
Nunca nos cansaremos de repetir que a existência no orbe terreno constitui, para as
almas mais ou menos evolvidas, um estágio de aprendizado ou degredo; junto desses
seres sensíveis, vivem os espíritos retardados no seu adiantamento e aqueles que se
encontram no inicio da evolução.
Para todos, porém, a luta é a lei purificadora.
Os que vivem com mais dedicação às coisas do Espírito, esses encontram maiores
elementos de paz e felicidade no futuro; para eles, que sofreram mais em razão do seu
afastamento da vida mundana, a morte é um remanso de tranqüilidade e de esperança.
Encontrarão a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas torturantes, e sociedades
esclarecidas os esperam em seu seio, para celebrarem dignamente os seus atos de
heroísmo na tarefa árdua de resistência às inúmeras seduções que a existência planetária
oferece.
AS ALMAS TORTURADAS
Quão triste, toda via, é a situação dos que no mundo se apegaram, demasiadamente, às
alegrias mentirosas e aos prazeres fictícios. Muitos anos de dor os aguardam, nas regiões
espirituais, onde contemplam incessantemente os quadros do seu pretérito, em
desoladoras visões retrospectivas, na posse imaginária das coisas que os obsidiam.
Amantes do ouro, ali ouvem, continuamente, o tilintar de suas supostas moedas; ingratos,
escutam os que foram enganados pelas suas traições; cenas penosas se verificam e
muitas almas piedosas se entregam ao mister de guias e condutores espirituais desses
Espíritos enceguecidos na ilusão e nos tormentos. Só ao amor dessas almas carinhosas
permite que as esperanças não desfaleçam, cultivando-as incessantemente no coração
abatido e desolado dos sofredores, a fim de que renasçam para os resgates necessários.
A OUTRA VIDA
A vida no além é também atividade, trabalho, luta, movimento. Se as almas estão menos
submetidas ao cansaço, não combatem menos seu aperfeiçoamento.
A leis das afinidades a tudo preside, entre os seres despidos dos indumentos carnais, e,
liberto o Espírito dos laços que o agrilhoavam à matéria, recebe o apelo de quantos se
afinam pelas suas preferências e inclinações.
ESPÍRITOS FELIZES
Bem-aventurados todos aqueles que, ao palmilharem seus derradeiros caminhos,
encontram a alvorada da paz, luminosa e promissora; nos celeiros da luz, recolhem o pão
da verdade e da sabedoria, porque bem souberam cumprir suas obrigações morais.
À sombra das árvores magnânimas que planaram com seus atos de caridade, de fé e de
esperança, repousam a cabeça dilacerada nos amargores da Terra; divinas inspirações
descem das Alturas sobre suas mentes, que iluminam como tabernáculos sagrados e,
interpretando fielmente as disposições da vontade diretora do Universo, transformam-se
em mensageiros do Altíssimo.
AOS MEUS IRMÃOS
Homens, meus irmãos, considerai a fração de tempo da vossa passagem pela Terra.
Observai o exemplo das almas nobres que, em épocas diferentes, vos trouxeram a
palavra do Céu na vossa ingrata linguagem; suas vidas estão cheias de sacrifícios e
dedicações dolorosas. Não vos entregueis aos desvios que conduzem ao materialismo
dissolvente. Olhando o vosso passado, que constitui o passado da própria Humanidade,
uma cruciante amargura domina o vosso espírito: atrás de vós, a falência religiosa, ante
os problemas da evolução, impele-vos à descrença a ao egoísmo; muitos se recolhem
nas suas posições de mando e há uma sede generalizada de gozo material, com
perspectiva do nada, que a maioria das criaturas acredita encontrar no caminho silencioso
da morte; mas eis que, substituindo as religiões que faliram, à falta de cultivadores fiéis,
ouve-se a voz do Espírito da Verdade em todas as regiões da Terra. Os túmulos falam e
os vossos bem-amados vos dizem das experiências adquiridas e das dores que
passaram. Há um sublime conúbio do Céu com a Terra.
Vinde ao banquete espiritual onde a Verdade domina em toda a sua grandiosa
excelsitude. Vinde sem desconfianças, sem receios, não como novos Tomes, mas como
almas necessitadas de luz e de liberdade; não basta virdes com o espírito de cristicismo,
é preciso trazerdes um coração que saiba corresponder com sentimento elevado a um
raciocínio superior.
Outros mundos vos esperam na imensidade, onde os sóis realizam os fenômenos de sua
eterna trajetória. Dilatai vossa esperança, porque um dia chegará em que, na Terra,
devereis abandonar o exílio onde chorais como seres desterrados. Que todos vós
possais, no caso da existência, contemplar no céu da vossa consciência estrelas
resplandecentes da paz que representará a vossa glorificação imortal.
XIII - AS INVESTIGAÇÕES DA CIÊNCIA
Não é condenável, sob o ponto de vista do bom senso, sem quaisquer dogmatismos
intransigentes, a dúvida que levou a Ciência da vossa época a se recolher nas realidades
positivas; é claro que, segundo a opinião religiosa, o materialismo é pernicioso, debaixo
de todas as modalidades em que se nos apresente, mas é necessário vos convencerdes
de que em qualquer circunstância predomina sempre a lei do progresso.
O ateísmo reinante deriva dos abusos dogmáticos que a intransigência de alguns
sistemas tem pretendido impor à consciência humana, livre em suas íntimas expansões.
Todavia, na certeza absoluta da evolução que se realiza, através de todos os óbices
interpostos no seu caminho pela ignorância e pela má-fé, eis que, na atualidade, a própria
dúvida serve de base ao monumento da fé raciocinada do futuro.
O RESULTADO DAS INVESTIGAÇÕES
Vê-se a Ciência no dever de investigar, de estudar, e, no seu afã incessante de saber,
rolam por terra idéias errôneas, mantidas até hoje como alicerces de todas as suas
perquirições, como, por exemplo, a da teoria da indivisibilidade atômica. Descobrindo
centros imponderáveis de atração, como os electrônios componentes do átomo
infinitesimal e os iônios, atinge a verdade, quanto às teorias da vibração, que preside, na
base da matéria cósmica, a todos os movimentos da vida no Universo.
A ciência infatigável procura, agora, a matéria-padrão, a força-origem, simplificada, da
qual crê emanarem todos os compostos, e é nesse estudo proveitoso que ela própria,
afirmando-se atéia, descrente, caminha para o conhecimento de Deus.
O FRACASSO DE MUITAS INICIATIVAS
Não são poucos os estudiosos que procuram investigar os domínios da ciência psíquica,
na sede de encontrar o lado verdadeiro da vida; porém, se muitas vezes acham apenas o
malogro das suas esperanças, o soçobro dos seus ideais, é que se entregam os estudos
arriscados sem preparação prévia para resolver tão altas questões, errando
voluntariamente com espírito de cepticismo, muitas vezes injustificável, já que não é filho
de raciocínio acurado, profundo. O êxito no estudo de problemas tão transcendentais
demanda a utilização de fatores morais, raramente encontrados; daí a improdutividade de
entusiasmos e desejos que podem ser ardentes e sinceros.
O UTILITARISMO
A ausência de demonstrações histológicas não implica a inexistência do Espírito. E essa
certeza que compete à Ciência atingir.
Muitos obstáculos, contudo, se opõem à obtenção desse desiderato, aliando-se ao
preconceito acadêmico o utilitarismo desenfreado que infesta a política e a religião; é ele
o maior inimigo da expansão das verdades espiritualistas no mundo, porque oriundo de
interesses inferiores e mesquinhos. A própria tendência ao ateísmo, imperante em quase
todas as classes sociais, é um derivativo lógico do espírito de interesse, que tem
destruído a beleza dos princípios religiosos, desvirtuados pelo utilitarismo de falsos
missionários.
Mas, confiemos na influência do espiritualismo; em futuro próximo, a sua atuação
eminentemente benéfica há de se fazer sentir, destruindo tudo quanto de nocivo e inútil
encontrar em sua passagem.
OS TEMPOS DO PORVIR
Marchamos, pois, para uma época de crença firme e consoladora, que derramará o
bálsamo da fé pura e iluminada sobre as almas que adorarão o Criador, sem qualquer véu
de formalidades inadequadas e obsoletas.
Semelhantes transformações serão efetuadas após muitas lutas, que encherão de receios
e de espantos os espíritos encarnados. Lembremo-nos, porém, de que “Deus está no
leme”.
É esse o porvir do orbe em que viveis. Contudo, quanto tempo decorrerá, até que essa
nova era brilhe nos horizontes do entendimento humano? Ignoramos. Conjuguemos,
todavia, os nossos esforços a fim de alcançarmos esse desiderato.
Demonstrai, com o vosso exemplo, que a luz permanece em vossos corações e
cooperareis conosco, em favor dessas mutações precisas.
Toda reforma terá de nascer no interior. Da iluminação do coração vem a verdadeira
cristianização do lar, e do aperfeiçoamento das coletividades surgirá o novo e glorioso dia
da Humanidade.
XIV - A SUBCONSCIÊNCIA NOS FENÔMENOS PSÍQUICOS
Todas as teorias que pretendem elucidar os fenômenos mediúnicos, alheios à Doutrina
Espiritista, pecam pela insuficiência e falsidade.
Em vão, procura-se complicar a questão com termos rebuscados, apresentando-se as
hipóteses mais descabidas e absurdas, porquanto os conhecimentos hodiernos da Física,
da Fisiologia e da Psicologia não explicam fatos como os de levitação, de materialização,
de natureza, afinal, genuinamente espírita.
Para a ciência anquilosada nas concepções dogmáticas de cada escola, a fenomenologia
mediúnica não deve constituir objeto de ridículo e de zombaria, mas sim um amontoado
de materiais preciosos à sua observação.
Felizmente, se muitos dos pesquisadores criaram os mais complicados sistemas
elucidativos, cheios de extravagância nas suas enganadoras ilações, alguns deles,
desassombradamente, têm colaborado com a filosofia espiritualista para a consecução
dos seus planos grandiosos, que implicam a felicidade humana.
A SUBCONSCIÊNCIA
A subconsciência, tão investigada em vosso tempo, não elucida os problemas dos
chamados fenômenos intelectuais. Estudos levados a efeito sobre essa câmara escura da
mente são ainda mal orientados, apesar disso, muitas teorias apressadas presumem
explicar todo o mediunismo com a sua estranha influência sobre o “eu” consciente. De
fato, existem fenômenos subliminais; todavia, a subconsciência é o acervo de
experiências realizadas pelo o ser em suas existências passadas. O Espírito, no labor
incessante de suas múltiplas existências, vai ajudando as séries de suas conquistas, de
suas possibilidades, de seus trabalhos; no seu cérebro espiritual organiza-se, então, essa
consciência profunda, em cujos domínios misteriosos se vão arquivando as recordações,
e a alma, em cada etapa da sua vida imortal, renasce para uma nova conquista,
objetivando sempre o aperfeiçoamento supremo.
O OLVIDO TEMPORÁRIO
O esquecimento, nessas existências fragmentárias, obedecendo ás leis superiores que
presidem ao destino, representa a diminuição do estado vibratório do Espírito, em
contacto com a matéria. Esse olvido é necessário,e, afastando-se os benefícios espirituais
que essa questão implica, à luz das concepções cientificas, pode esse problemas ser
estudado atenciosamente.
Tomando um novo corpo, a alma tem necessidade de adaptar-se a esse instrumento.
Precisa abandonar a bagagem dos seus vícios, dos seus defeitos, das suas lembranças
nocivas, das suas vicissitudes nos pretéritos tenebrosos. Necessita de nova virgindade;
um instrumento virgem lhe é então fornecido. Os neurônios desse novo cérebro fazem a
função de aparelhos quebradores da luz; o sensório limita as percepções do Espírito, e ,
somente assim, pode o ser reconstruir o seu destino. Para que o homem colha benefícios
da sua vida temporária, faz-se mister que assim seja.
Sua consciência é apenas a parte emergente da sua consciência espiritual; seus sentidos
constituem apenas o necessário à sua evolução no plano terrestre. Daí, a exigüidade das
suas percepções visuais e auditivas, em relação ao número inconcebível de vibrações
que o cercam.
AS RECORDAÇÕES
Todavia, dentro dessa obscuridade requerida pela sua necessidade de estudo e
desenvolvimento, experimenta a alma, ás vezes, uma sensação indefinível... é uma
vocação inata que impele para esse ou aquele caminho; é uma saudade vaga e
incompreensível, que a persegue nas suas meditações; são os fenômenos introspectivos,
que a assediam freqüentemente.
Nesses momentos, uma luz vaga da subconsciência atravessa a câmara de sombras,
impostas pelas células cerebrais, e, através dessa luz coada, entra o Espírito em vaga
relação com o seu passado longínquo; tais fatos são vulgares nos seres evolvidos, sobre
quem a carne já não exerce atuação invencível. Nesses vagos instantes, parece que a
alma encarnada ouve o tropel das lembranças que passam em revoada; aversões
antigas, amores santificantes, gostos aprimorados, de tudo aparece numa fração no seu
mundo consciente; mas, faz-se mister olvidar o passado para que alcance êxito na luta.
XV - A IDÉIA DA IMORTALIDADE
Embalde os corifeus do ateísmo propagarão as suas amargas teorias, cujo objetivo é o
aniquilamento da idéia da imortalidade entre os homens; embalde o ensino de novos
sistemas de educação, dentro das inovações dos códigos políticos, tentará sufocá-la,
porque todas as criaturas nascem na Terra com ela gravada nos corações, inclusive os
pretensos incrédulos, cuja mentalidade, não conseguindo solucionar os problemas
complexos da vida, se revolta, imprecando contra a sabedoria suprema, como se os seus
gritos blasfematórios pudessem obscurecer a luz do amor divino, estacando os sublimes
mananciais da vida. Pode a política obstar à sua manifestação, antepondo-lhe forças
coercitivas: a idéia da imortalidade viverá sempre nas almas, como a aspiração latente do
Belo e o do Perfeito.
Acima do poder temporal dos governantes e da moral duvidosa dos pregadores das
religiões, ela continuamente prosseguirá dulcificando os corações e exaltando as
esperanças, porque significa em si mesma o luminoso patrimônio da alma encarnada,
como recordação perene da sua vida no Além, simbolizando o laço indestrutível que une
a existência terrena à Vida Eterna, vislumbrada, assim, pela sua memória
temporariamente amortecida.
A IDÉIA DE DEUS
Desde os pródromos da Civilização a idéia da imortalidade é congênita no homem. Todas
as concepções religiosas da mais remota antigüidade, se bem que embrionárias e
grosseiras em suas exteriorizações, no-la atestam. Entre as raças bárbaras abundaram
as idéias terroristas de um Deus, cuja cólera destruidora se abrandaria à custa dos
sacrifícios humanos e dos holocaustos de sangue, e, por toda a parte, onde homens
primitivos deixaram os vestígios de sua passagem, vê-se o sinal de uma divindade a cuja
providência e sabedoria as criaturas entregavam confiadamente os seus destinos.
A CONSCIÊNCIA
Na história de todos os povos, observar-se a tendência religiosa da Humanidade; é que,
em toda personalidade existe uma fagulha divina – a consciência, que estereotipa em
cada espírito a grandeza e a sublimidade de sua origem; no embrião, a princípio rude nas
suas menores manifestações, a consciência se vai despindo dos véus de imperfeição e
bruteza que rodeiam, debaixo de muitas vidas do seu ciclo evolutivo, em diferentes
círculos de existência, até que atinja a plenitude do aperfeiçoamento psíquico e o
conhecimento integral do seu próprio “eu”, que, então, se unirá ao centro criador do
Universo, no qual se encontram todas as causas reunidas e de onde irradiará o seu
poema eterno de sabedoria e amor.
É a consciência, centelha de luz divina, que faz nascer em cada individualidade a idéia da
verdade, relativamente aos problemas espirituais, fazendo-lhe sentir a realidade positiva
da vida imortal, atributo de todos os seres da criação.
O ANTROPOMORFISMO
Nos tempos primeiros, como na atualidade, o homem teve uma concepção
antropomórfica de Deus. Nos períodos primários da Civilização, como preponderavam as
leis da força bruta e a Humanidade era uma aglomeração de seres que nasciam da
brutalidade e da aspereza, que apenas conheciam os instintos nas suas manifestações, a
adoração aos seres invisíveis que personificavam os seus deuses era feita de sacrifícios
inadmissíveis em vossa época. Hodiernamente, nos vossos tempos de egoísmo utilitário,
Deus é considerado como poderoso magnata, a quem se pode peitar com bajulação e
promessa, no seio de muitas doutrinas religiosas.
O CULTO DOS MORTOS
Dentro, porém, de quase todas as idéias dessa natureza, no seio das raças primigênias
em seus remotíssimos agrupamentos, o culto dos mortos atinge proporções espantosas.
Inúmeras eram as tribos que se entregavam às invocações dos traspassados, por meio
de encantamentos e de cerimônias de magia. As excessivas homenagens aos mortos, no
seio da civilização dos egípcios, constituem, até em vossos dias, objeto de estudos
especiais. Toda a vida oriental está amalgamada nos mistérios da morte e, no Ocidente,
pode-se reparar, entre as raças primitivas, a do povo celta como a depositária de
tradições longínquas, que dizem respeito à espiritualidade.
A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS RELIGIOSOS
A idéia da imortalidade é latente em todas as almas e é o substrato de todas as religiões
antigas e modernas.
Os sistemas religiosos, em cada período de progresso humano, renovam-se na fonte de
verdade relativa que promana do Alto, compatível com a época.
Nos tempos modernos, as idéias novas, referentes ao espiritualismo e à imortalidade,
necessitam difusão por toda parte. Não mais a concepção de Deus terrível, criando a
eternidade dos tormentos, segundo a teologia em voga, que tem ensinado erradamente a
idéia de um paraíso beatífico, insípido, e um inferno aterrador, irremissivelmente eterno;
não mais a religião que malsina o progresso e a investigação, mas a idéia pura e
verdadeira da imortalidade para todas as criaturas, a vida estuando em todo o Universo, e
a luta em todos os seus mais recônditos argamassando, à custa dos esforços de cada
um, o portentoso edifício da evolução humana.
XVI - AS VIDAS SUCESSIVAS E OS MUNDOS HABITADOS
Alguns estudiosos, há muitos séculos, guardam as verdadeiras concepções do Universo,
o qual não se encontra circunscrito ao minúsculo orbe terreno e é representado pelo
infinito dos mundos, dentro do infinito de Deus.
Não obstante as teorias do sistema geocêntrico, que encarava a Terra como o centro do
grupo de planetas em que vos encontrais, a idéia da multiplicidade dos sóis vinha, de há
muito, animando o cérebro dos pensadores da antigüidade.
Apesar da objetiva dos vossos telescópios, que descortinam, na imensidade, “as terras do
céu”, julga-se erradamente que apenas o vosso mundo oferece condições de
habitabilidade e somente nele se verifica o florescimento da vida.
Infelizmente, são inúmeros os que duvidam dessa realidade inconteste, aprisionados em
escolas filosóficas que pecam pelo seu caráter obsoleto e incompatível com a evolução
da Humanidade, em geral.
É que não reconhecem que a Terra minúscula é apenas um ponto obscuro e opaco, no
concerto sideral, e nada de singular existe nela que lhe outorgue, com exclusividade, o
privilégio da vida; em contraposição aos assertos dos negadores, podeis notar,
cientificamente, que é mesmo, em vosso plano, o local do Universo onde a vida encontra
mais dificuldades para se estabelecer.
ESPONTANEIDADE IMPOSSÍVEL
Grande é a tortura dos seres racionais que, no mundo terráqueo, buscam guarda para as
suas aspirações de progresso, porquanto, do berço ao túmulo, suas existências
representam grande soma de esforços combatendo com a Natureza inconstante, com as
mais diversas condições climatéricas, arrasadoras da saúde e causas de um combate
acérrimo da parte do homem, porque não lhe é possível viver em afinidade perfeita com a
natureza submetida às mais bruscas mutações, sendo obrigado a criar a sua moradia,
organizar a sua habitação, que representa, de fato, a sua escravidão, que representa , de
fato, a sua escravidão primeira, impedindo-lhe um a existência cheia de harmonia e
espontaneidade.
O vosso mundo vos obriga a uma vida artificial, já que sois obrigados a buscar,
cotidianamente, o sustento do corpo que se gasta e consome nessa batalha sem tréguas.
Nele, as mais belas faculdades espirituais são freqüentemente sufocadas, em virtude das
mais imperiosas necessidades da matéria.
HÁ MUNDOS INCONTÁVEIS
Que se calem os que puderem descobrir a vida apenas em vossa obscura penitência de
náufragos morais.
Por que razão a Vontade Divina colocaria na amplidão essas plagas longínquas?
Enxergar nesses mundos distantes somente objetos de estudo da vossa Astronomia é um
erro; eles estão, às vezes, regulados por forças mais ou menos idênticas às que
controlam a vossa vida. Em sua superfície observam-se os fenômenos atmosféricos e
outros, cuja explicação é inacessível ao vosso entendimento. Por que os formaria o
Criador para o ermo do silêncio e do deserto? Podereis conceber cidades bem
construídas, abarrotadas de tesouros e magnificências, apodrecendo sem habitantes?
Há mundos incontáveis e muitos deles formados de fluidos rarefeitos, inatingidos, na
atualidade, pelos vossos instrumentos de ótica.
MUNDO DE EXÍLIO E ESCOLA REGENERADORA
A terra não representa senão um detalhe obscuro no ilimitado da Vida, região da
amargura, da provação e do exílio; constituindo, porém, uma plaga de sombras, varrida,
muitas vezes, pelos cataclismos do infortúnio e da destruição, deve representar, para
todos quantos a habitam, uma abençoada escola, onde se regenera o Espírito culpado e
onde ele se prepara, demandando glorioso porvir.
Significa um dever de todo homem o trabalho próprio, no sentido de atenuar as más
condições do seu meio ambiente, aplainando todas as dificuldades de ordem material e
moral, porquanto a evolução depende de todos os esforços individuais no conjunto das
coletividades.
Forças ocultas, leis desconhecidas, esperam que a alma humana delas se utilize e, à
medida que se espalhe o progresso moral, mais os homens se beneficiarão na fonte
bendita do conhecimento.
O ESTÍMULO DO CONHECIMENTO
Para a Humanidade terrestre a revelação de outras pátrias do firmamento, fragmentos da
Pátria Universal, não deve constituir uma razão para desânimo de quantos se entregam
aos labores profícuos do estudo. Os desequilíbrios que se verificam no orbe terreno
obedecem a uma lei de justiça, acima de todas as coisas transitórias; e, além disso, a
primeira obrigação de todo homem é colaborar, em todos os minutos de sua passageira
existência, em prol da melhoria do seu próximo, consciente de que trabalhar a benefício
de outrem é engrandecer-se.
O conhecimento das condições perfeitas da vida em outros mundos, não deve trazer
abatimento aos extremistas do ideal. Semelhante verdade deve encher o coração humano
de sagrados estímulos.
Saudai, pois, o concerto da vida, do seio dos vosso combates salvadores!...
Sóis portentosos, luzes policrômicas, mundos maravilhosos, existem embalados pelas
harmonias que a perfeição eleva à Entidade Suprema!...
Além do Grande Cão, da Ursa, de Hércules, outras constelações testam a grandeza
divina. Os firmamentos sucedem-se ininterruptamente nas amplidões etéreas, mas a
Humanidade, para Deus, é uma só e o laço do seu amor reúne todos os seres.
XVII - SOBRE OS ANIMAIS
Com o desenvolvimento das idéias espiritualistas no mundo, torna-se um estudo
obrigatório, e para todos os dias, o grande problema que implica o drama da evolução
anímica.
Teria sido a alma criada no momento da concepção, na mulher, segundo as teorias antireencarnacionistas?
Como será a preexistência? O espírito já é criado pela potência
suprema do Universo, apto a ingressar nas fileiras humanas? E os pensadores se voltam
para os vultos eminentes do passado. As autoridades católicas valem-se de Tomás de
Aquino, que acreditava na criação da alma no período de tempo que precede o
nascimento de um novo ser, esquecendo-se dos grandes padres da antigüidade, como
Orígenes, cuja obra é um atestado eterno em favor das verdades da preexistência. Outras
doutrinas religiosas buscam a opinião falível da sua ortodoxia e dos seus teólogos,
relutando em aceitar as realidades luminosas da reencarnação. Pascal, escrevendo na
adolescência o seu tratado sobre os cones, e inúmeros Espíritos de escol, laborando com
a sua genialidade precoce nas grandes tarefas para as quais foram chamados à Terra,
constituem uma prova eloqüente, aos olhos dos menos perspicazes e dos estudiosos de
mentalidades tardas no raciocínio, a prol da verdade reencarnacionista.
O homem atual recorda instintivamente os seus labores e as suas observações do
passado. Sua existência de hoje á a continuação de quanto efetuou nos dias do pretérito.
As conquistas de agora representam a soma dos seus esforços de antanho, e a
civilização é a grande oficina onde cada um deixa estereotipada a própria obra.
A SOMBRA DOS PRINCÍPIOS
Contempla-se, porém, até hoje, a sombra dos princípios como noite insondável sobre
abismos.
Os desencarnados de minha esfera não se acham indenes, por enquanto, do socorro das
hipóteses. A única certeza obtida é a da imortalidade da vida e como não é possível
observar a essência da sabedoria, sem iniciativas individuais e sem ardorosos trabalhos,
discutimos e estudamos as nobres questões que, na Terra, preocupavam o nosso
pensamento.
Um desses problemas, que mais assombram pela sua singular transcendência, é o das
origens. Se na Terra o progresso humano se verifica, através de dois caminhos, o da
Ciência e o da Revelação espiritual, ainda não encontramos, em identidade de
circunstâncias, em nossa evolução relativa, nenhuma estrada estritamente científica para
determinar o Alfa do Universo, senão a das hipóteses plausíveis. Contudo, saturada da
mais profunda compreensão moral, copiosa é a nossa fonte de revelações, a qual
constitui para nós um elemento granítico, servindo de base à sabedoria de amanhã.
OS ANIMAIS, NOSSOS PARENTES PRÓXIMOS
Se bem haja no próprio circulo dos estudiosos dos espaços o grupo dos opositores das
grandes idéias sobre o evolucionismo do princípio espiritual através das espécies, sou
dos que o estudam, atenta e carinhosamente.
Eminentes naturalistas do mundo, como Charles Darwin, vislumbram grandiosas
verdades, levando a efeito preciosos estudos, os quais, aliás, se prejudicaram pelo
excessivo apego à ciência terrena, que se modifica e se transforma, com os próprios
homens; e, dentro das minhas experiências, posso afirmar, sem laivos de dogmatismo,
que oriundos na flora microbiana, em séculos remotíssimos, não poderemos precisar
onde se encontra o acume as espécies ou da escala dos seres, no pentagrama universal.
E, como o objetivo desta palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores, sintome
à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu acanhado círculo
evolutivo. São eles os nossos parentes próximos, apesar da teimosia de quantos
persistem em o não reconhecer.
Considera-se, às vezes, como afronta ao gênero humano a aceitação dessas verdades. E
pergunta-se como poderíamos admitir um princípio espiritual nas arremetidas furiosas das
feras indomesticadas, ou como poderíamos crer na existência de um rio de luz divina na
serpente venenosa ou na astúcia traiçoeira dos carnívoros. Semelhantes inquirições,
contudo, são filhas de entendimento pouco atilado. Atualmente, precisamos modificar
todos os nossos conceitos acerca de Deus, porquanto nos falece autoridade para defini-lo
ou individualizá-lo. Deus existe.
Eis a nossa luminosa afirmação, sem poder, todavia, classificá-lo, em sua essência. Os
que nos interpelam por essa forma, olvidam as histórias de calúnias, de homicídios, no
seio das perversidades humanas. Para que o homem se conservasse nessa posição
especial de perfectibilidade única, deveria apresentar todos os característicos de uma
entidade irrepreensível, dento do orbe onde foi chamado a viver. Tal não se verifica e,
diariamente, comentais os dramas dolorosos da Humanidade, os assassínios, os
infanticídios nefandos, efetuados em circunstâncias nas quais, muitas vezes, as
faculdades imperfeitas dos irracionais agiriam com maior benignidade e clemência, dando
testemunho de melhor conhecimento das leis de amor que regem o mecanismo do
mundo.
A ALMA DOS ANIMAIS
Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com
atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos do homem, merecendo, por
isso, a sua proteção e amparo.
Seria difícil ao médico legista determinar, nas manchas de sangue, qual o que pertence
ao homem ou ao animal, tal a identidade dos elementos que o compõem. A organização
óssea de ambos é quase a mesma, variando apenas na sua conformação e observandose
diminuta diferença nas vértebras.
O homem está para o animal, simplesmente como um superior hierárquico. Nos
irracionais desenvolvem-se igualmente as faculdades intelectuais. O sentimento de
curiosidade é, na maioria deles, altamente avançado e muitas espécies nos demonstram
as suas elevadas qualidades, exemplificando o amor conjugal, o sentimento da
paternidade, o amparo ao próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza. Para
verificar a existência desses fenômenos, basta que se possua um sentimento acurado de
observação e de análise.
Inúmeros espíritos trouxeram à luz o fruto de suas pacientes indagações, que são para
vós elementos de inegável valor. Entre muitos, citaremos Darwin, Gratiolet e vários outros
estudiosos dedicados a esses notáveis problemas.
Os mais ferozes animais têm para com a prole ilimitada ternura. Aves existem que se
deixam matar, quando não se lhes permite a defesa das suas famílias. Os cães, os
cavalos, os macacos, os elefantes deixam entrever apreciáveis qualidades de inteligência.
É conhecido o caso dos cavalos de um regimento que mastigavam o feno para um de
seus companheiros, inutilizado e enfermo. Conta-se que uma fêmea de cinocéfalo, muito
conhecida pela sua mansidão, gostava de recolher os macaquinhos, os gatos e os cães,
dos quais cuidava com desvelado carinho; certo dia, um gato revoltou-se contra a sua
benfeitora, arranhando-lhe o rosto, e a mãe adotiva, revelando a mais refletida
inteligência, examinou-lhe as patas, cortando-lhe as unhas pontiagudas com os dentes.
Constitui um fato observável a sensibilidade dos cães e dos cavalos ao elogio e às
reprimendas.
Longe iríamos com as citações. O que podemos assegurar é que, sobre os mundos,
laboratórios da vida no Universo, todas as forças naturais contribuem para o nascimento
do ser.
TODOS SOMOS IRMÃOS
De milênios remotos. Viemos todos nós, em pesados avatares.
Da noite dos grandes princípios, ainda insondável para nós, emergimos para o concerto
da vida. A origem constitui, para o nosso relativo entendimento, um profundo mistério,
cuja solução ainda não nos foi possível atingir, mas sabemos que todos os seres
inferiores e superiores participam do patrimônio da luz universal.
Em que esfera estivemos um dia, esperando o desabrochamento de nossa racionalidade?
Desconheceis ainda os processos, os modismos dessas transições, etapas percorridas
pelas espécies, evoluindo sempre, buscando a perfeição suprema e absoluta, mas sabeis
que um laço de amor nos reúne a todos, diante da Entidade Suprema do Universo.
É certo que o Espírito jamais retrograda, constituindo uma infantilidade as teorias da
metempsicose dos egípcios, na antiguidade. Mas, se é impossível o regresso da alma
humana ao circulo da irracionalidade, recebei como obrigação sagrada o dever de
amparar os animais na escala progressiva de suas posições variadas no planeta.
Estendei até eles a vossa concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá,
mais profundamente, os grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e
doces mistérios da vida.
XVII - A EUROPA MODERNA EM FACE DO EVANGELHO
É inegável a importância da tarefa dos europeus, impulsando o progresso dos
outros continentes do planeta. Foi a sua grandiosa civilização, cujos primórdios o
Cristianismo alimentou com a rica substancialidade dos seus ideais, que renovou as
atividades cientificas e industriais dos povos do Oriente, inaugurando, ainda, nas terras
americanas, uma vida nova, não obstante as atrocidades execráveis praticadas pelos
conquistadores, para submeterem o elemento indígena.
Com exceção das doutrinas filosóficas, que a Civilização Ocidental não poderia
oferecer, com uma substancia superior, aos povos orientais, de vez que a obra cristã se
encontrou sempre deturpada desde a sua união com as forças políticas do Estado, foram
os europeus que instituíram, com a sua imaginação criadora, um surto novo de progresso
para as fontes da cultura humana. Os seus esforços são inapreciáveis; suas atividades,
grandiosas, nesse movimento de inventar as comodidades da Civilização e as utilidades
dos povos. Todavia, espiritualmente, os povos europeus cometeram o erro terrível de
perturbar a evolução do Cristianismo, assimilando-o às obsoletas concepções da
mitologia grega e às velhas tradições de imperialismo dos patrícios de Roma, de cujo
confucionismo nasceu à doutrina da simplicidade cristã.
DORES INEVITÁVEIS
É ociosa qualquer referencia à falsa posição dessa Igreja, que se mantém no mundo
atual ao preço da ignorância de uns e do interesse condenável de outros, vivendo a
existência transitória das organizações políticas.
Compete aos estudiosos somente a analise comparativa dos tempos, tentando, com
os seus esforços, operar a regeneração das sociedades, procurando salvar da destruição
tudo o que possa beneficiar os Espíritos nos eu aprendizado sobre a face da Terra.
Todavia, apesar de nossas atividades conjugadas com as de todos os homens de boavontade
que aí representam os instrumentos sadios da vontade do Alto, no sentido de
preservar do arrasamento o patrimônio de conquistas úteis da Humanidade, não é
possível criar-se um obstáculo às grandes dores que, inevitavelmente terão de promover
o movimento expiatório dos indivíduos e das coletividades, onde as criaturas mergulharão
a alma no batismo de purificação pelo sofrimento.
AUSÊNCIA DE UNIDADE ESPIRITUAL
Aventam-se todas as hipóteses com o objetivo de verificar-se na Europa, eixo das
atividades políticas do mundo, um grande movimento de unificação e de paz, chegandose
à tentativa de uma frente única européia, para evitar a queda irremediável da
civilização do Ocidente. Essa frente única é, porém, impossível. Não existe ali a unidade
espiritual necessária à consecução desse grandioso projeto. Apenas o Cristianismo, se
não fossem os desvios lamentáveis da Igreja Romana, poderia fornecer essa
intangibilidade de fé a todos os espíritos. Mas, a obra cristã ali se encontra virtualmente
degenerada. E, em virtude de semelhantes desequilíbrios, todos os ideais antifraternos
foram desenvolvidos no Velho Mundo, intensificando-se o regime de separatividade entre
as nações. Cada país europeu procura insular-se da comunidade continental e somente o
Pacto de Versalhes e o instituto genevriano representam, com a sua atuação, essa trégua
de 18 anos, depois do conflito de 1914; contudo, esses dois diques, que impediam os
movimentos armados, sem, aliás, obstar-lhes a preparação, têm as suas influencias
anuladas. O Tratado de Versalhes caiu com as deliberações políticas do novo Reich e a
Liga das Nações compreendeu a inaplicabilidade do seu estatuto, no momento decisivo
da campanha italiana na Abissínia.
A PAZ ARMADA
Todos os povos entenderam bem essas profundas desilusões. Procura-se a paz na
corrida aos armamentos. Mais de 100.000 homens mecanizados estão preparados no
Velho Continente, só para a ofensiva do ar. Busca-se a todo transe uma solução para os
problemas da guerra. Uma reforma visceral nos estatutos da Sociedade de Genebra é
inutilmente sugerida. Estuda-se a possibilidade de um acordo entre a França e a Itália, no
sentido de assegurar-se a paz continental, atendendo-se às necessidades da região
danubiana e equilibrando a Alemanha com o resto da Europa. Tenta-se a colaboração de
todos os gabinetes. Os partidos iniciam a guerra das ideologias. Mas a Europa, nos seus
conflitos inquietantes, conhece perfeitamente a sua condenação à guerra.
SOCIEDADES EDIFICADAS NA PILHAGEM
A ilação dolorosa que se pode extrais da situação atual é a de que essas
sociedades foram edificadas à revelia do Evangelho, necessitando as suas bases de mais
profundas transformações. Fundadas com o rotulo de Cristianismo, elas não o
conheceram. A sombra do Deus antropomórfico que criaram para as suas comodidades,
inverteram todas as lições do Salvador, em cujo ideal de fraternidade e pureza
asseveraram progredir e viver. Distanciadas, porém, como se encontram, de uma
identidade perfeita com os estatutos evangélicos, as sociedades européias sucumbem
sob o peso da sua opulência miserável. Suas fontes de cultura acham-se visceralmente
envenenadas com as suas descobertas e ciências, que são recursos macabros para a
destruição e para a morte. Não existe, ali, nenhuma unidade espiritual, à base do espírito
religioso, mantenedora do progresso coletivo.
Como poderá persistir de pé uma civilização dessa natureza, se todos os seus
trabalhos objetivam o extermínio dos mais fracos, estabelecendo o condenável critério da
força? O Ocidente terá de conhecer uma vida nova. Um sopro admirável de verdades há
de confundir os seus erros seculares. As sociedades edificadas na pilhagem hão de
purificar-se, inaugurando o seu novo regime à base da lição fraterna de Jesus.
Esperemos, confiantes, a alvorada luminosa que se aproxima, porque, depois das
grandes sombras e das grandes dores que envolverão a face da Terra, o Evangelho há
de criar, no mundo inteiro, a verdadeira Cristandade.
XIX - A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL
É imprescindível não perdermos de vista os aspectos sociais da civilização moderna, para
encontrarmos os falsos princípios das suas bases e o fim próximo que a espera
inevitavelmente.
As corridas armamentistas e as angustiosas conversações diplomáticas destes últimos
tempos, no continente europeu, que representa o cérebro da Civilização Ocidental,
denotam os perigos ameaçadores da guerra. Todo o organismo social da Europa
moderna repousa em bases militaristas. Da indústria das armas, mais que da agricultura,
e isso é lamentável, depende a estabilidade da civilização de todo o Ocidente. Os
exércitos compactos, as casas manufatureiras do canhão e da bomba explosiva, as
coletividades atentas às atividades bélicas, constituem os elementos vitais da evolução
européia. Um surto de civilização dessa natureza não pode prescindir da guerra e é por
essa razão que o perigo iminente da carnificina bate de novo à porta da alma humana,
saturada de temores e sofrimentos.
Não bastou ao Velho Mundo a dolorosa experiência de 1914, que lhe custou trezentos
bilhões de dólares e mais de trinta milhões de vidas. A guerra quer devorar as derradeiras
energias desses povos que não souberam edificar suas leis.
A Europa é um grande vulcão em repouso. Nos gabinetes os estadistas se desenganam à
procura de uma solução objetiva, em favor da paz internacional. Há uma pergunta
angustiosa e aflitiva em todos os corações. As mentalidades diretoras dos povos tremem
ao enunciar as suas sentenças e julgamentos. Ninguém deseja arcar com as
responsabilidades da última palavra.
Enquanto isso ocorre, observa-se a decadência da Civilização Ocidental para orientar o
pensamento do mundo.
POSSIBILIDADES DO ORIENTE
Desde o primeiro quartel do século XX, após a vitória japonesa em Tsushima, multiplicamse
as possibilidades do Oriente, para onde parece transportar-se o centro evolutivo da
Humanidade. O Pacífico volve a revestir-se de vida nova. A China movimenta-se com as
suas revoluções internas. Em centros remotos, como o Afeganistão e a Turquia, percebese
uma onda de renovação geral. A Rússia soviética, há muito tempo, dirige as suas
vistas para o Extremo Oriente. k na Sibéria Oriental que repousam, na atualidade, as mais
importantes de suas bases militares. A Nova Zelândia e a Austrália são celeiros de
possibilidades infinitas. A Índia, não obstante o domínio britânico, fornece ao planeta
exemplos e doutrinas regeneradoras. Figuras preeminentes dos povos orientais são hoje
acatadas em todo o mundo. A figura de Gandhi tem a sua projeção universal. As costas
do Pacifico estão cheias de movimentos comerciais; nas suas margens, as Repúblicas da
América Meridional acusam uma vida nova, no plano da cultura, do progresso e do
pensamento. Todos os movimentos mais importantes do orbe afiguram-se-nos, mais ou
menos, deslocados de novo para a Ásia, onde o Japão assume o papel de orientador
desse incontestável movimento de organização.
O FANTASMA DA GUERRA
A Europa, na atualidade, é o gigante cansado, à beira do seu túmulo. Infelizmente, o
senso arraigado do militarismo envenenou-lhe os centros de força. A Alemanha e a Itália
superlotadas apeiam para os recursos que a guerra lhes oferece. Não obstante todos os
tratados e pactos em favor da tranqüilidade européia, nunca, como agora, foi a paz, ali,
tão vilipendiada. O Tratado de Versalhes e os Acordos de Locarno nada mais foram que
fenômenos diplomáticos da própria guerra em perspectiva. Nunca houve um propósito
sincero de fraternidade e de igualdade nessas alianças. Em 1928, foi assinado o Pacto
Briand-Kellogg, como se fora uma esperança para todas as nacionalidades. Entretanto,
jamais, como nestes últimos anos, o armamentismo tomou tanto incremento, em todos os
países do planeta. Só a França, nas suas estatísticas do ano passado, acusava uma
despesa de mais de treze bilhões de francos, invertidos nos programas de sua defesa. E,
atrás dos grandes vasos de guerra, das metralhadoras de pesado calibre, das granadas
destruidoras, escondem-se os novos gases asfixiantes e os terríveis elementos da guerra
bacteriológica, que os algozes da ciência engendraram criminosamente para suplício dos
povos. O momento é de angústia justificável. A própria Inglaterra, que nunca se encontrou
tão poderosa e tão rica quanto agora, sente de perto a catástrofe; sua missão
colonizadora toca, igualmente, o fim. Ao lado dos bens que os ingleses prodigalizaram a
diversas regiões do planeta, houve de sua parte lamentável esquecimento: o de que cada
povo tem a sua personalidade independente.
ÂNSIA DE DOMíNIO E DE DESTRUIÇÃO
Diz-se que todo o Oriente se ocidentaliza na atualidade; todavia, o Oriente apenas
aproveita o fruto de experiências que hoje lhe entrega a Civilização Ocidental,
pressentindo o sintoma de sua decadência.
O Cristianismo, deturpado na Europa, degenerado pela influenciação dos bispos
romanos, não conseguiu ser o baluarte dessa civilização que, aos poucos, vai
desmoronando.
As nações do Velho Mundo apenas cuidaram de dominar os outros países como seus
vassalos; mas, é passada a época desses domínios injustificáveis. Os pretextos de
expansionismo não se justificam dentro dos princípios da paz internacional e os
movimentos de conquista apenas servem para enfraquecer a economia dos povos que se
abandonam aos seus excessos. A Europa moderna esqueceu-se de que a Ásia tem a
massa considerável de setecentos milhões de almas, como elementos de energia
potencial, aguardando igualmente o instante de sua necessária expansão; olvidou que a
América é consciente, agora, de sua importância e de suas infinitas possibilidades,
prescindindo da sua tutela e dos seus estatutos e, no momento atual, o continente
europeu reconhece a ineficácia de suas teorias de paz, diante da sua necessidade
irrevogável de guerra, de destruição. Integrada no conhecimento de seus falsos
princípios, edificados, todos eles, na base armamentista, a Civilização Ocidental
reconhece o seu próprio desprestígio; há muitos anos, o vírus do morticínio lhe vem
solapando os alicerces, e as épocas de aflição e de crise periodicamente se repetem. A
França que, em 1870, foi procurar socorro às portas da Rússia poderosa dos czares,
acossada pela Alemanha, volta-se hoje para a união pseudocomunista de Stalin, pedindo
a mesma aliança para conjurar o perigo germânico. A Grã-Bretanha observa, da sua
tribuna, o movimento e prepara-se para surpresas eventuais; tentando conservar seu
poderio, volve à política de conciliação; todavia, a guerra é inevitável no ambiente dessa
civilização de monumentos grandiosos de ciência no plano material, mas feita de fogosfátuos
no domínio da espiritualidade. Os povos, em virtude da organização de suas leis,
têm necessidade de deflagração dos movimentos bélicos. Não poderão viver muito mais
tempo sem eles. A destruição lhes é necessária.
A quem caberá então o cetro da cultura, a lide-rança do pensamento? Sabe-o Deus.
O FUTURO DAS GRANDEZAS MATERIAIS
Dentro de alguns séculos, os colossos de Paris, de Roma e' de Londres serão
contemplados com o embevecimento histórico das recordações; a torre Eiffel, a Abadia de
Westminster serão como as ruínas do Coliseu de Vespasiano e das construções antigas
do Spalato. Os ventos tristes da noite hão de soluçar sobre os destroços, onde os homens
se encontraram para se destruírem, uns aos outros, em vez de se amarem como irmãos.
Os raios da Lua deixarão ver, nas margens do Tamisa, do Tibre e do Sena, o local onde a
Civilização Ocidental suicidou-se à míngua de conhecimentos espirituais. O império
britânico conhecerá então, como a Península Ibérica, a recordação dos seus domínios e
das suas conquistas. A França sentirá, como a Grécia antiga, um orgulho nobre por ter
cooperado na enunciação dos Direitos do Homem e a Itália se lembrará
melancolicamente de suas lutas.
De cada vez que os homens querem impor-se, arbitrários e despóticos, diante das leis
divinas, há uma força misteriosa que os faz cair, dentro dos seus enganos e de suas
próprias fraquezas. A impenitência da civilização moderna, corrompida de vícios e
mantida nos seus maiores centros à custa das indústrias bélicas, não é diferente do
império babilônico que caiu, apesar do seu fastígio e da sua grandeza. No banquete dos
povos ilustres da atualidade terrestre, lêem-se as três palavras fatídicas do festim de
Baltasar. Uma força invisível gravou novamente o “Mane – Thécel – Phares” na festa do
mundo.
Que Deus, na Sua misericórdia, ampare os humildes e os justos.
XX - A DECADÊNCIA INTELECTUAL DOS TEMPOS MODERNOS
Pesam sobre os corações atribulados da Terra amargas apreensões, com respeito
ao fatalismo da guerra. E, infelizmente, ninguém poderá calcular a extensão dos
movimentos que se preparam, objetivando a luta do porvir. A Europa moderna não
representa a vanguarda da cultura dos povos, e é fácil estabelecer-se um estudo analítico
de sua situação de pura decadência intelectual, depois da catástrofe de 1914-1918.
PROFUNDA POBREZA INTELECTUAL
As ditaduras européias revivem, na atualidade, a época napoleônica da pátria
francesa, quando, segundo Chateaubriand, tudo respirava o senhor, homenageava o
senhor, vivia para o senhor. No \velho Mundo, em quase todos os países que o
constituem, vive-se o governo e mais nada. O livro, a escola, o jornal, a oficina, são
núcleos de recepção do pensamento dos maiores ditadores que o mundo há conhecido. A
imprensa, manietada pelas medidas draconianas, não pode criar o cooperativismo
intelectual das classes e das administrações, obrigada a viver a fase de absoluta união
com os programas de governo; os grandes pensadores que sobreviveram à Grande
Guerra não podem produzir expressões de pensamento livre, que abranjam a solução dos
enigmas destes tempos novos, trabalhados por leis vexatórias e humilhantes, e vemos,
pelo mundo inteiro, a invasão das forças perversoras da consciência humana. Jornais
integrados nas doutrinas mais absurdas, falsa educação pelo radio que vem complicar,
sobremaneira, a situação, e os livros da guerra, a literatura bélica, inflada de demagogia e
de estandartes, de símbolos e de bandeiras, incentivando a separatividade. Qualquer
estudioso desses assuntos poderá verificar a realidade de nossas afirmativas.
Os homens, nessa fase de preparação armamentista, vivem uma época de profunda
pobreza intelectual.
O porvir há de falar aos pósteros, dessas calamidades dolorosas. O mundo chegou
a uma fase evolutiva em que é preciso encarar-se de frente a questão da fraternidade
humana para resolve-la com justiça.
DITADURAS E PROBLEMAS ECONÔMICOS
Os governos fortes, fatores da decadência espiritual dos povos, que guardavam
consigo a vanguarda evolutiva do mundo, não podem trazer solução satisfatória aos
problemas profundos que vos interessam.
Afigura-se-nos que a função das ditaduras é preparar as reações incendiarias das
coletividades. A atualidade do mundo necessita criar um novo mecanismo de justiça
econômica entre os povos. Que se aventem medidas conciliatórias para essa situação de
pauperismo e alto imperialismo das nações. Os que estudam a política internacional
podem resolver grande parte dos fenômenos revolucionários que convulsionam o mundo,
analisando a chamada questão das matérias-primas. Matérias-primas quer dizer colônias
e colônias significam possibilidades de vida e de expansão. É verdade que na Espanha
atual, antes de tudo, reside o imperativo da dor, redimido grandes culpados de outrora,
constituindo essa dolorosa situação um dos quadros mais pungentes das provações
coletivas; mas não somente as ideologias extremistas ali se combatem, pressagiando um
novo organismo político para o planeta. Um dos dois diretores de um manicômio espanhol
asseverava, há pouco tempo, que mais de quatrocentas pessoas, em um ano, tinham
procurado refugio naquele pouso de alienados, como loucas, em virtude das
necessidades da fome. A Espanha é pobre de terras. De cem hectares de terrenos, talvez
somente uns trinta poderão oferecer campo propicio à agricultura. E não só a velha
península se debate nessas necessidades tão duras. A China não está suportando o
aumento continuo da sua população? O Japão se vem fortificando para poder nutrir o seu
povo. A Polônia estuda um projeto de colocar na África ou na América mais de cinco
milhões de criaturas, que a sua possibilidade econômica não comporta.
NECESSIDADE DA COOPERAÇÃO FRATERNA
Nessas aluviões de protestos, ouvem-se os tinidos das armas, e melhor fora que o
homem voltasse as vistas para o campo fraterno, antes da destruição que se fará
consumar. Seria melhor estudar-se a questão carinhosamente, analisando-se os códigos
das leis imigratórias e que as nações não se deixassem dominar pelo prurido de mau
nacionalismo, tentando estabelecer um plano de concessões racionais e resolvendo-se a
questão da troca de produtos entre os países, solucionando-se o enigma da repartição
que a economia política não pôde conseguir até hoje, apesar da sua perfeição técnica, no
circulo da direção das possibilidades produtoras.
O que verificamos é que, sem a pratica da fraternidade verdadeira, todos esses
movimentos pró-paz são encenações diplomáticas sem fundo pratico, não obstante
intenções respeitáveis.
Mas, consideremos também que o mundo não marcha à revelia das leis
misericordiosas do Alto, e estas, no momento oportuno, saberão opor um dique à chacina
e ao arrasamento; confiemos nelas, porque os códigos humanos serão sempre
documentos transitórios, como o papel em que são registrados, enquanto não se
associarem, parágrafo por parágrafo, ao Evangelho de Jesus.
XXI - CIVILIZAÇÃO EM CRISE
Alguns modernos escritores europeus, estudando o caos da sociedade moderna, após a
Grande Guerra, tentaram estabelecer as causas profundas da crise da Civilização
Ocidental.
O movimento armado de 1914 - 1918 veio destruir grande número de princípios filosóficos
que reagiam a vida das coletividades. Nas suas ruínas fumegantes caíram muitas ilusões
sociais e políticas, e os povos, na sua existência de profundas inquietações, iniciaram em
todo o período “post bellum” uma série de longas experiências.
FASE DE EXPERIMENTAÇÕES
A Civilização Ocidental está em crise; os observadores e os sociólogos trazem, para o
amontoado de várias considerações, o resultado dos seus estudos. Alguns proclamam
que toda civilização tem a fragilidade de uma vida; outros aventam hipóteses mais ou
menos aceitáveis, e alguns apeiam para a cristianização dos espíritos. Estes últimos
estão acertados em seus pareceres; todavia, não no sentido de um retorno à Idade
Média, à preponderância da fradaria, à disseminação dos princípios católico-romanos;
mas no de se organizar, de fato, no mundo, um espírito cristão sobre a base do
Evangelho. As novas experiências da Europa, em matéria de política administrativa, não
poderão conduzi-la senão aos movimentos armados, inevitáveis. Dentro das vibrações
antagônicas do fascismo e do bolchevismo, fórmulas transitórias de atividades políticas do
Velho Mundo, todos os que falam em decadência do liberalismo estão errados. Os
governos fortes da atualidade, tenham eles os rótulos de nacionalismo ou
internacionalismo, hão de voltar-se, do círculo de suas experiências, para as conquistas
liberais do espírito humano, caminhando com essas conquistas na sua estrada evolutiva,
progredindo e avançando para o socialismo cristão do porvir.
NA DEPENDÊNCIA DA GUERRA
Terminada a última guerra, todos os povos ponderaram a necessidade de paz, dentro de
uma política regeneradora. Esgotadas e empobrecidas, as nações européias idealizaram
tratados, conferências e institutos que equilibrassem o continente, prevenindo-se contra a
possibilidade de futuros arrasamentos. Alterou-se a carta geográfica do mundo europeu
repartindo-se colônias, criou-se uma literatura antibélica e iniciaram-se novas
experiências políticas com a formação das repúblicas soviéticas. Mas a verdade é que
cada país multiplicou os seus organismos de guerra; cada qual pensou na paz,
trabalhando na sombra para as lutas do porvir. E quando, depois de anos a fio de
conversações diplomáticas e de citações de determinados artigos dos supostos estatutos
da tranqüilidade coletiva, caíram os sonhos de um desarmamento geral e diminuíram em
eficácia os processos da Sociedade de Genebra, o mundo viu, aterrado, aumentar os
efetivos das forças armadas de todas as nações.
Vê-se, mais que nunca, que toda a vida do Ocidente depende da guerra. Milhares de
operários têm suas atividades postas ao serviço da manufatura das armas homicidas.
Milhares de homens estão empregados no trabalho de militarização. Milhares de criaturas
se movimentam e ganham o pão cotidiano nas indústrias guerreiras.
SENTENÇA DE DESTRUIÇÃO
A civilização está em crise porque conheceu a sua sentença de destruição. A guerra, no
seu mecanismo industrial, econômico e político, é imprescindível e inevitável.
Comunismo e fascismo, nas suas oposições ideológicas, só poderão apressá-la.
Ainda há pouco tempo, um jovem europeu ex-clamava para um colega americano: “Ai de
nós! se nos prepararmos pelo estudo para a luta de nossas próprias edificações! bem
sabemos que o Estado exigirá, amanhã, as nossas vidas. Temos de rir e beber para
esquecer essas fatalidades irremediáveis.”
Essa observação caracteriza, de fato, as calamidades morais da sociedade moderna.
A ausência de um apoio espiritual estabelece a vacilação moral das criaturas. O
sentimento dos homens requer uma base religiosa, e a transformação de quase todos os
valores religiosos do Velho Mundo, em forças de política transitória, deu causa às fundas
inquietações contemporâneas. As criaturas vivem a sua tragédia de pessimismo e
descrença, à sombra dos governos de experiências tão penosas às coletividades e
encaminham-se, com indiferença, para a subversão e para a desordem.
O FUTURO PERTENCERÁ AO EVANGELHO
A Civilização está em crise, repetimos com os observadores do mundo. Pode-se apontar
como uma das causas desse estado caótico a defecção espiritual da Igreja Católica,
negando-se a cumprir as determinações divinas para disputar um lugar de dominação, no
banquete dos poderes temporários do mundo. Se houvesse mantido a sua posição
espiritual, fortificando as almas no seu longo caminho evolutivo, como mediadora entre o
Céu e a Terra, as transições sociais, inevitáveis, não seriam tão penosas para as
gerações do século XX. A estabilidade da Civilização Ocidental, sua evolução para o
socialismo de Jesus, dependiam da fidelidade da Igreja Católica aos princípios cristãos.
Mas, a Igreja negou-se ao cumprimento de sua grandiosa missão espiritual e o resultado
temo-lo na desesperação das almas humanas, em face dos problemas transcendentes da
vida.
A luta está travada.
A Civilização em crise, organizada para a guerra e vivendo para a guerra, há de cair
inevitavelmente; mas o futuro nascerá dos seus escombros, para vê-ver o novo ciclo da
Humanidade, sem os extremismos anti-racionais, na época gloriosa da justiça econômica.
Não duvidemos, dentro da nossa certeza incontestável. O porvir humano pertence à
vitória do Evangelho.
XXII - FLUIDOS MATERIAIS E FLUIDOS ESPIRITUAIS
1º - Serão os fluidos correntes de electrônios?
2º - Serão essas correntes de duas naturezas – uma para atuar
sobre a matéria e outra sobre o Espírito preso a essa matéria?
3º - A corrente espiritual será formada pelas ondas eletrônicas?
4º - O electrônio da corrente espiritual será o mesmo da corrente
material?
1º – A ciência terrestre classifica o electrônio como a derradeira unidade de matéria, de
carga elétrica negativa. No mundo do Infinitesimal, porém, temos um caminho ilimitado e
progressivo a percorrer.
O homem, diante da incapacidade da sua estrutura e em face da sua zona sensorial
limitada, não consegue ir além, no labirinto de segredos do microcosmo e, para que nos
façamos entendidos, não podemos convir convosco em que os fluidos, de um modo geral,
sejam correntes de electrônios, ainda mesmo considerando-se a necessidade de
representar-se, com essa unidade, uma base para a vossa possibilidade de compreensão
e de análise, porque os electrônios são ainda expressões de matéria em estado de
grande rarefação.
2º, 3º e 4° – Embora sintéticas, pela sua construção fraseológica, essas proposições são
bastante complexas em si mesmas.
As correntes de fluidos espirituais têm a sua organização particular e estão aptas a
determinar a transformação das correntes de força material, em qualquer circunstância.
Seria aconselhável nunca se confundir as ondas eletrônica com os fluidos de natureza
espiritual. A matéria, atingindo sublimidades de quintessência, quase se confunde no
plano puro do espírito, constituindo tarefa difícil para o eletromagnetismo positivar onde
termina uma e onde começa outro.
Ainda agora, os cientistas, investigando a natureza da radioatividade em todos os corpos
da matéria viva, perguntam ansiosos qual a fonte permanente e inesgotável onde os
corpos absorvem, incessante e automaticamente, os elementos necessários a essa
perene e inextinguível irradiação. No que se refere às ondas electrônicas ou aos
elementos radioativos da matéria em si mesma, essa fonte reside, sem dúvida, na energia
solar, que vitaliza todo o organismo planetário. O orbe terrestre é um grande magneto,
governado pelas forças positivas do Sol. Toda matéria tangível representa uma
condensação de energia dessas forças sobre o planeta e essa condensação se verifica
debaixo da influência organizadora do princípio espiritual, preexistindo a todas as
combinações químicas e moleculares. É a alma das coisas e dos seres o elemento que
influi no problema das formas, segundo a posição evolutiva de cada unidade individual.
Todas as correntes electrônicas, portanto, ou ondas de matéria rarefeita, são elementos
subordinados às correntes de fluidos ou vibrações espirituais; aquelas são os
instrumentos passivos, estas as forças ativas e renovadoras do Universo.
Os corpos terrestres encontram no Sol a fonte mantenedora de suas substâncias
radioativas, mas todas essas correntes de energia são inconscientes e passivas. Os
Espíritos, por sua vez, encontram em Deus a fonte suprema de todas as suas forças, em
perene evolução, no drama dinâmico dos sistemas. As correntes fluídicas no mundo
espiritual são, pois, vibrações da alma consciente, dentro da sua gloriosa imortalidade.
Concluímos, assim, que há fluidos materiais e fluidos espirituais; que os primeiros são
elementos inconscientes e passivos e os últimos a força eterna e transformadora dos
mundos, salientando-se que uma só lei rege a vida, em sua identidade substancial. Nas
ondas electrônicas, filhas da energia solar, chama-se-lhe afinidade, magnetismo, atração,
e, nas correntes de fluidos espirituais, filhas da alma, partícula divina, chama-se-lhe
misericórdia, simpatia, piedade e amor. Nessa lei única, que liga a Criação ao seu Criador
e da qual estudamos os fenômenos isolados, desenrola-se o drama da evolução do
espírito imortal.
XXIII - A SAÚDE HUMANA
Justifica-se o esforço dos experimentadores da medicina tentando descobrir um caminho
novo para atenuar a miséria humana; todavia, sem abstrairmos das diretrizes espirituais, que
orientam os fenômenos patogênicos nas questões das provas individuais, temos necessidade
de reconhecer a imprescindibilidade da saúde moral, antes de atacarmos o enigma doloroso e
transcendente das enfermidades físicas do homem.
A RENOVAQÃO DOS MÉTODOS DE CURA
Em todos os séculos tem-se estudado o problema da saúde humana.
Até à metade do século XVlll, admitia-se plena-mente a medicina da Idade Média que, por
sua vez, representava quase integralmente o mesmo processo de cura dos egípcios, na
antiguidade. Todas as moléstias eram atribuídas à vacilação dos humores, baseando-se a
maior parte dos métodos terapêuticos na sangria e nas substâncias purgativas. No século
XIX, as grandes descobertas científicas eliminaram esses antigos conhecimentos. Os
aparelhos de laboratório perquirindo o mundo obscuro e vastíssimo da microbiologia, as
novas teses anatomopatológicas, apresentadas pelos estudiosos do assunto, estabelecem,
com a severidade das análises, que as moléstias residem na modificação das partes sólidas
do organismo, abandonando-se a teoria da alteração dos humores. Os médicos esqueceram,
então, o estudo dos líquidos viciados do corpo, concentrando atenções e pesquisas na lesão
orgânica, criando novos métodos de cura.
OS PROBLEMAS CLÍNICOS INQUIETANTES
Não obstante a nobreza e a sublimidade da missão de quantos se entregam ao sagrado labor
de aliviar as amarguras alheias ai no mundo, reconhecemos que muitos estudiosos perdem
um tempo precioso, mergulhados na discussão de mesquinhas rivalidades profissionais,
quando não se acham atolados no pântano dos interesses exclusivistas e particulares,
desconhecendo a grandiosidade espiritual do seu sacerdócio.
O que se torna altamente necessário nos tempos modernos é reconhecer-se, acima de todos
os processos artificiais de cura da atualidade, o método indispensável da medicina natural,
com suas potencialidades infinitas.
Analisando-se todos os descobrimentos notáveis dos sistemas terapêuticos dos vossos dias,
orientados pelas doutrinas mais avançadas, em virtude dos novos conhecimentos humanos
com respeito à bacteriologia, à biologia, à química, etc., reconhecemos que, com exceção da
cirurgia, que teve com Ambroise Paré, e outros inteligentes cirurgiões de guerra, o mais
amplo dos desenvolvimentos, pouco têm adiantado os homens na solução dos problemas da
cura, dentro dos dispositivos da medicina artificial por eles inventada. Apesar do concurso
precioso do microscópio, existem hoje questões clínicas tão inquietantes, como há duzentos
anos. Os progressos regulares que se verificam na questão angustiosissima do câncer e da
lepra, da tuberculose e de outras enfermidades contagiosas, não foram além das medidas
preconizadas pela medicina natural, baseadas na profilaxia e na higiene. Os investigadores
puderam vislumbrar o mundo microbiano sem saber eliminá-la. Se foi possível devassar o
mistério da Natureza, a mentalidade humana ainda não conseguiu apreender o mecanismo
das suas leis. O que os estudiosos, com poucas exceções, se satisfazem com o mundo
aparente das formas, demorando-se nas expressões exteriores, incapazes de uma excursão
espiritual no domínio das origens profundas. Sondam os fenômenos sem lhes auscultarem as
causas divinas.
MEDICINA ESPIRITUAL
A saúde humana nunca será o produto de comprimidos, de anestésicos, de soros, de
alimentação artificialíssima. O homem terá de voltar os olhos para a terapêutica natural, que
reside em si mesmo, na sua personalidade e no seu meio ambiente. Há necessidade, nos
tempos atuais, de se extinguirem os absurdos da “fisiologia dirigida”. A medicina precisa criar
os processos naturais de equilíbrio psíquico, em cujo organismo, se bem que remoto para as
suas atividades anatômicas, se localizam todas as causas dos fenômenos orgânicos
tangíveis. A medicina do futuro terá de ser eminentemente espiritual, posição difícil de ser
atualmente alcançada, em razão da febre maldita do ouro; mas os apóstolos dessas
realidades grandiosas não tardarão a surgir nos horizontes acadêmicos do mundo,
testemunhando o novo ciclo evolutivo da Humanidade. O estado precário da saúde dos
homens, nos dias que passam, tem o seu ascendente na longa série de abusos individuais e
coletivos das criaturas, desviadas da lei sábia e justa da Natureza. A Civilização, na sua sede
de bem-estar, parece haver homologado todos os vícios da alimentação, dos costumes, do
sexo e do trabalho. Todavia, os homens caminham para as mais profundas sínteses
espirituais. A máquina, que estabeleceu tanta miséria no mundo, suprimindo o operário e
intensificando a facilidade da produção, há de trazer, igualmente, uma nova concepção da
civilização que multiplicou os requintes do gosto humano, complicando os problemas de
saúde; há de ensinar às criaturas a maneira de viverem em harmonia com a Natureza.
O MUNDO MARCHA PARA A SÍNTESE
Marcha-se para a síntese e não deve causar surpresa a ninguém a minha assertiva de que
não vos achais na época em que a ciência prática da vida vos ensinará o método do equilíbrio
perfeito, em matéria de saúde. Os corpos humanos serão alimentados, segundo as suas
necessidades especiais, sem dispêndio excessivo de energias orgânicas. As proteínas, os
hidratos de carbono e as gorduras, que constituem as matérias-primas para a produção de
calorias necessárias à conservação do vosso corpo e que representam o celeiro das
economias físicas do vosso organismo, não serão tomados de maneira a prejudicar-se o
metabolismo, estabelecendo-se, dessa forma, uma harmonia perfeita no complexo celular da
vossa personalidade tangível, harmonia essa que perdurará até o fenômeno da
desencarnação.
Mas, todas essas exposições objetivam a necessidade de aplicarmos largamente as nossas
possibilidades na solução dos problemas humanos para a melhoria do futuro.
É verdade que, por muito tempo ainda, teremos, em oposição ao nosso idealismo, a questão
do interesse e do dinheiro, porém, trabalhemos confiantes na misericórdia divina.
Emprestemos o nosso concurso a todas as iniciativas que nobilitem o penoso esforço das
coletividades humanas, e não olvidemos que todo bem praticado reverterá em benefício da
nossa própria individualidade.
Trabalhemos sempre com o pensamento voltado para Jesus, reconhecendo que a preguiça, a
suscetibilidade e a impaciência nunca foram atributos das almas desassombradas e
valorosas.
XXIV - O CORPO ESPIRITUAL
De todos os fenômenos da vida, os que se apresentam ao raio visual da ciência humana,
mantenedores do seu entretenimento, são os da assimilação e desassimilação; todavia,
os que afetam mais particularmente a percepção do homem não são os da atividade vital
em si mesma, consubstanciados nas sínteses orgânicas assimiladoras, mas justamente
os fenômenos da morte. É um axioma fisiológico a extinção das células que constituem o
suporte de todas as manifestações e apenas fazeis geralmente uma idéia da vida por
intermédio desses movimentos destruidores.
A VIDA CORPORAL – EXPRESSÃO DA MORTE
Quando, no homem ou nos irracionais, um gesto se opera, a Natureza determina o
desaparecimento de certa percentagem de substância da economia vital; quando a
sensibilidade se exterioriza e os pensamentos se manifestam, eis que os nervos se
consomem, gastando-se o cérebro em suas atividades funcionais.
A vida corporal é bem a expressão da morte, através da qual efetuais as vossas
observações e os vossos estudos.
Não dispondes, dentro da exigüidade dos vossos sentidos, senão de elementos
constatadores da perda de energia, da luta vital, dos conflitos que se estabelecem para
que os seres se mantenham no seu próprio habitat.
A vida, em suas causalidades profundas, escapa aos vossos escalpelos e apenas o
embriologista observa, no silêncio da penumbra, infinitésima fração do fenômeno
assimilatório das criações orgânicas.
INACESSIVEL AOS PROCESSOS DA INDAGAÇÃO CIENTÍFICA
Segundo os dados da vossa fisiologia, a célula primitiva é comum a todos os seres
vertebrados e espanta ao embriólogo a lei organogênica que estabelece a idéia diretora
do desenvolvimento fetal, desde a união do espermatozoário ao óvulo, especificando os
elementos amorfos do protoplasma; nos domínios da vida, essa idéia diretriz conserva-se
inacessível até hoje aos vossos processos de indagação e de análise, porquanto esse
desenho invisível não está subordinado a nenhuma determinação físico-química, porém,
unicamente ao corpo espiritual preexistente, em cujo molde se realizam todas as ações
plásticas da organização, e sob cuja influência se efetuam todos os fenômenos
endosmóticos.
O organismo fluídico, caracterizado por seus elementos imutáveis, é o assimilador das
forças protoplasmáticas, o mantenedor da aglutinação molecular que organiza as
configurações típicas de cada espécie, incorporando-se, átomo por átomo, à matéria do
germe e dirigindo-a segundo a sua natureza particular.
RESPONDENDO ÀS OBJEÇÕES
Algumas objeções científicas têm sido apresentadas à teoria irrefutável do corpo espiritual
preexistente, destacando-se entre elas, por mais digna de exame, a hereditariedade, a
qual somente deve ser ponderável sob o ponto de vista fisiológico. Todos os tipos de
reino mineral, vegetal, animal, incluindo-se o hominal, organizam-se segundo as
disposições dos seus precedentes ancestrais, dos quais herdam, naturalmente, pela lei
das afinidades, a sua sanidade ou os seus defeitos de origem orgânica, unicamente.
De todos os estudos referentes ao assunto, em vossa época, salienta-se a teoria
darwiniana das gêmulas, corpúsculos infinitesimais que se transmitem pela vida seminal
aos elementos geradores, contendo na matéria embrionária disposição de todas as
moléculas do corpo, as quais se reproduzem dentro de cada espécie. A maioria das
moléstias, inclusive a dipsomania, é transmissível; porém, isso não implica um fatalismo
biológico que engendre o infortúnio dos seres, porque inúmeros Espíritos, em traçando o
mapa do seu destino, buscam, com o escolher determinado instrumento, alargar as suas
possibilidades de triunfo sobre a matéria, como um fato decorrente das severas leis
morais, que, como no ambiente terrestre, prevalecem no mundo espiritual, o que não nos
cabe discutir neste estudo.
Não obstante a preponderância dos fatores físicos nas funções procriadoras, é totalmente
inaceitável e descabido o atavismo psicológico, hipótese aventada pelos
desconhecedores da profunda independência da individualidade espiritual, hipótese que
aventada pelos desconhecedores da profunda independência da individualidade
espiritual, hipótese que reveste a matéria de poderes que nunca ela possuiu em sua
condição de passividade característica.
Reconhecendo-se, pois, a veracidade da argumentação de quantos aceitam a
hereditariedade fisiológica nos fenômenos da procriação, representando cada ser o
organismo que provêm por filiação, afastemos a hipótese da hereditariedade psicológica,
porquanto, espiritualmente, temos a considerar, apenas, ao lado da influência ambiente, a
afinidade sentimental.
ATRAVÉS DOS ESCANINHOS DO UNIVERSO ORGÂNICO
De todas as funções gerais que caracterizam os seres viventes, somente os fenômenos
de nutrição podem ser estudados pela perquirição científica e, mesmo assim,
imperfeitamente, há uma força inerente aos corpos organizados, que mantém coesas as
personalidades celulares, sustentando-se dentro das particularidades de cada órgão,
presidindo aos fenômenos partenogenéticos de sua evolução, substituindo, através da
segmentação, quantas delas se consomem nas secreções glandulares, no trabalho
mantenedor da atividade orgânica.
Essa força é o que denominais princípio vital, essência fundamental que regula a
existência das células vivas, e no qual elas se banham constantemente, encontrando
assim a sua necessária nutrição, força que se encontra esparsa por todos os escaninhos
do universo orgânico, combinada às substâncias minerais, azotadas e ternárias, operando
os atos nutritivos de todas as moléculas. O princípio vital é o agente entre o corpo
espiritual, fonte de energia e da vontade, e a matéria passiva, inerente às faculdades
superiores do Espírito, que o adapta segundo as forças cósmicas que constituem as leis
físicas de cada plano de existência, proporcionando essa adaptação às suas
necessidades intrínsecas.
Essa força ativa e regeneradora, de cujo enfraquecimento decorre a ausência de tônus
vital, precursor da destruição orgânica, é simplesmente a ação criadora e plasmadora do
corpo espiritual sobre os elementos físicos.
O SANTUÁRIO DA MEMÓRIA
O corpo espiritual não retém somente a prerrogativa de constituir a fonte da misteriosa
força plástica da vida, a qual opera a oxidação orgânica; é também ele a sede das
faculdades, dos sentimentos, da inteligência e, sobretudo o santuário da memória, em que
o ser encontra os elementos comprobatórios da sua identidade, através de todas as
mutações e transformações da matéria.
O PRODIGIOS ALQUIMISTA
Todas as células orgânicas renovam-se incessantemente; e como poderia a criatura
conhecer-se entre essas continuadas transubstanciações? Para que se manifeste o
pensamento – que desconhece as glândulas que o segregam, porquanto constitui a
vibração do corpo espiritual dentro de sua profunda consciência – quantas células se
consomem e se queimam?
O cérebro assemelha-se a complicado laboratório onde o espírito, prodigioso alquimista,
efetua inimagináveis associações atômicas e moleculares, necessárias às exteriorizações
inteligentes.
É ainda, pois, ao corpo espiritual que se deve a maravilha da memória, misteriosa chapa
fotográfica, onde tudo se grava, sem que os menores coloridos das imagens se
confundam entre si.
ALMA E CORPO
Tem-se procurado explicar, pela prática dos neurologistas, toda a classe de fenômenos
intelectuais, através das ações combinadas do sistema nervoso; e, de fato, a Ciência
atingiu certezas irrefutáveis, como, por exemplo, a de que uma lesão orgânica faz cessar
a manifestação que lhe corresponde e que a destruição de uma rede nervosa faz
desaparecer uma faculdade.
Semelhante asserto, porém, não afasta a verdade da influência de ordem espiritual e
invisível, porque se faz mister compreender, não a alma insulada do corpo, mas ligada a
esse corpo, o qual representa a sua forma objetivada, com um aglomerado de matérias
imprescindíveis à sua condição de tangibilidade, animadas pela sua vontade e por seus
atributos imortais.
Algumas escolas filosóficas fizeram da alma uma abstração, mas a psicologia moderna
restabeleceu a verdade, unindo os elementos psíquicos aos materiais, reconhecendo no
corpo a representação da alma, representação material necessária, segundo as leis
físicas imperantes na Terra, as quais colocaram no sensório o limite das percepções
humanas, que são exíguas em relação ao número ilimitado das vibrações da vida, que
para elas se conservam inapreensíveis.
É, pois, o corpo espiritual a alma fisiológica, assimilando a matéria ao seu molde, à sua
estrutura, a fim de materializar-se no mundo palpável. Sem ele, a fecundação constaria de
uma composição amorfa e todas as manifestações inteligentes e sábias da Natureza, que
para todos nós devem significar a expressão da vontade divina, constituiriam uma série
de atos irregulares e incompreensíveis, sem objetivo determinado.
A EVOLUÇÃO INFINITA
E como se tem operado a evolução do corpo espiritual?
Remontai ao caos telúrico do vosso Globo nas épocas primárias.
Cessadas as perturbações geológicas, estabelecido o repouso em algumas grandes
extensões de matéria resfriada, eis que, entre as forças cósmicas associadas, aparece o
primeiro rudimento de vida organizada – o protoplasma. Eis que os séculos se escoam...
eis as amebas, os zoófilos, os seres monstruosos das profundidades
submarinas...Recapitulemos os milênios passados e acharemos a nossa própria história;
a individualidade, o nosso “ego” constitui o nosso maior triunfo. E, chegados ao raciocínio
e ao sentimento da Humanidade, através de vidas inumeráveis, teremos atingido o zênite
da nossa evolução anímica? Não. Se nos achamos acima dos nossos semelhantes
inferiores – os irracionais -, acima de nós se encontram os seres superiores da
espiritualidade, que se hierarquizam ao infinito e cuja perfeição nos compete alcançar.
XXV - OS PODERES DO ESPÍRITO
Grande será o dia em que todos os homens reconhecerem sobre a matéria a soberana
influência do Espírito.
Toda a imensa bagagem de progresso das civilizações não se fez sem o princípio
espiritual: dele, as menores coisas dependeram, como ainda dependem; do seu
reconhecimento, por parte de quantos habitam o orbe, advirão os resplendores da época
de luz e de esclarecimento.
Esse tempo há de assinalar a época da crença pura e reconfortadora das almas, como
manancial de esperanças; só esse surto de espiritualidade pode vivificar as construções
religiosas, combalidas atualmente pelos abusos da grande maioria dos seus expositores,
que, traindo os seus compromissos, se desviaram do píncaro luminoso do exemplo para o
chavascal de mesquinhas materialidades.
OS MENDIGOS DA SABEDORIA
Nos últimos tempos, a sede humana de saber o que existe além da Terra tem feito com
que o homem engendre as mais fantasiosas teorias concernentes aos mistérios do ser e
do destino, sobre o orbe terreno; no afã de estraçalhar os véus espessos que cobrem os
enigmas da sua evolução, muitos foram os que descambaram para terrenos perigosos,
onde encontram, apenas, os espinhos do ateísmo dissolvente. Esses Espíritos que,
torturados com os problemas da vida, aí se entregam à criação de engenhosos sistemas,
afiguram-se-nos desesperados à porta da sabedoria, orgulhosos na sua impotência e na
sua incapacidade.
Muitos deles, anos e anos, persistem no mesmo trabalho e no mesmo esforço, alegando
não terem encontrado o espírito em suas indagações científicas, abandonando a vida
material com um passado que os encobre pela atividade, bem-intencionada, por eles
despendida, mas desolados, em reconhecendo infrutuosos os seus esforços, que outra
coisa não conseguiram senão lançar a descrença e a confusão nas almas.
INSUFICIÊNCIA SENSORIAL
Reconhecem, então, a insuficiência sensorial que lhes obstava a compreensão do
verdadeiro panorama da vida, no seu desdobramento universal; sentem a exigüidade dos
sentidos do homem carnal e a relatividade de suas funções, ao penetrarem no domínio de
vibrações que se lhes conservaram inacessíveis, chegando à conclusão de que as
filosofias não podem ser substituídas pelas ciências positivas, e que sobre o mundo físico
e objetivo paira uma região transcendente, onde a investigação não se pode fazer sentir,
à falta de elementos de ordem material.
A INÚTIL TENTATIVA
É inútil a tentativa de afastamento do Espírito na obra da evolução terrena. É ele, desde
os primórdios da Civilização, a alma de todas as realizações; e indestrutível é a doutrina
biológica do vitalismo, porque o sistema do monismo e o mecanicismo da seleção natural,
se satisfazem a algumas questões insuladas, não resolvem os problemas mais
importantes da vida.
O princípio das espécies, a origem dos instintos, as organizações primitivas das raças,
das sociedades e das leis, só as teorias espiritualistas explicam satisfatoriamente.
TUDO É VIBRAÇÃO ESPIRITUAL
Já não nos referindo aos poderes plásticos do Espírito, no tocante às questões
fisiológicas, quais sejam as dos fenômenos osmóticos, a autonomia de certos órgãos que
parecem independentes na sua cão dentro do organismo, o trabalho da célula que fabrica
a antitoxina apta a destruir o micróbio que a ataca, a estrutura do princípio fetal, os sinais
de nascença que a Ciência tem negado, baseando-se na ausência de ligação nervosa
entre o feto e o organismo materno, desçamos ao mundo zootécnico. Somente a
intervenção do princípio espiritual explica as metamorfoses dos insetos, o mimetismo,
como o embrião dos instintos e das possibilidades do futuro. Tudo, nos domínios da
matéria, se concatena e se reúne, sob a orientação de um princípio estranho às suas
qualidades amorfas.
A MATÉRIA
A matéria não organiza, é organizada. E não representa senão uma modalidade da
energia esparsa no Universo. Os seus elementos não fazem outra coisa senão submeterse
às injunções do Espírito; e é a soberana influência deste último que elucida todos os
problemas intrincados dos seres e dos destinos, É ao seu apelo, cedendo aos seus
desejos, que todas as matérias brutas se vêm rarefazendo, oferecendo aspectos novos e
delicados. A Civilização, as conquistas científicas e as concepções religiosas representam
o fruto dos labores dos Espíritos que, na Terra, se iniciaram nos trabalhos que regeneram
e aperfeiçoam. O que lhes compete, na atualidade é o não estacionamento nos domínios
conquistados, laborando para que os ideais de justiça, de verdade e de paz se
concretizem na face do orbe. É nessa tarefa bendita que devem concentrar os seus
esforços para que o planeta terrestre não veja sucumbir, na aluvião de insânias das
guerras, o seu patrimônio de progressos, obtidos à custa de trabalhos penosos e ingentes
sacrifícios.
XXVI - OS TEMPOS DO CONSOLADOR
A permissão de Deus para que nos manifestássemos ostensivamente, entre os
agrupamentos dos nossos irmãos encarnados, chegou, justamente, a seu tempo, quando
o espírito humano despido das vestes da puberdade, com o juízo amadurecido para
assimilar algo da Verdade, tateava entre vacilações e incertezas, estabelecidas pela
investigação da Ciência, sem conseguir adaptar-se ao demasiado simbolismo das idéias
religiosas, latentes na alma humana, desde os tempos primevos dos trogloditas.
Justamente na época requerida, consoante as profecias do Divino Mestre, derramou-se
da sua luz sobre toda a carne, e os emissários do Alto, segundo as suas possibilidades e
aos méritos individuais, têm auxiliado a ascensão dos conhecimentos humanos para os
planos elevados da espiritualidade.
A CONCEPÇÃO DA DIVINDADE
Desde as eras primárias da Civilização, a idéia de um poder superior, interferindo ns
questões mundanas, vem guiando o homem através dos seus caminhos e a Religião
sempre constituiu o maior fator da moral social, se bem que apresentasse a divindade à
semelhança do homem, em seus ensinamentos exotéricos.
O Cristianismo, inaugurando um novo ciclo de progresso espiritual, renovou as
concepções de Deus no seio das idéias religiosas; todavia, após a sua propagação, várias
foram as interpretações escriturísticas, dado azo a que as facções sectaristas tentassem
isoladamente, ser as suas únicas representantes; a Igreja Católica e as numerosas seitas
protestantes, nascidas do ambiente por ela formado, têm levado longe a luta religiosa,
esquecidas de que a Providência Divina é Amor. Estabeleceram com a sua acanhada
hermenêutica os dogmas de fé, nutrindo-se das fortunas iníquas a que se referem os
Evangelhos, prejudicando os necessitados e os infelizes.
A FÉ ANTE A CIÊNCIA
Mas, como o progresso não conhece obstáculos, os artigos de fé equivaleram a
estagnações isoladas.Se conseguiram satisfazer à Humanidade em um período mais ou
menos remoto da sua evolução, caducaram desde que o laboratório obscureceu a
sacristia.
A Ciência desvendou o espírito humano as perspectivas inconcebíveis do Infinito; o
telescópio descortinou a grandeza do Universo e os novos conhecimentos cosmogônicos
demandaram outra concepção do Criador. Desvendando, paulatinamente, as sublimes
grandiosidades da natureza invisível, a Ciência embriagou-se com a beleza de tão lindos
mistérios e estabeleceu o caminho positivo para encontrar Deus, como descobrira o
mundo microbiano, ao preço de acuradas perquirições. É que a Divindade das religiões
vigentes era defeituosa e deformada pelos seus atributos exclusivamente humanos; as
igrejas estavam acorrentadas ao dogmatismo e escravizadas aos interesses do mundo. A
confusão estabeleceu-se. Foi quando o Espiritismo fez sentir mais claramente a grandeza
do seu ensinamento, dirigindo-se não só ao coração, mas igualmente ao raciocínio. O céu
descerrou um fragmento do seu mistério e a voz dos Espaços se fez ouvir.
OS ESCLARECIMENTOS DO ESPIRITISMO
Foi assim que a religião da verdade surgiu na Terra, no momento oportuno. As Igrejas
estagnadas encontravam-se no obsoletismo, incapazes de sancionar as idéias novas,
vivendo quase que exclusivamente das suas características de materialidade e do seu
simbolismo, terminado o tempo de sua necessária influência no mundo. As conquistas
científicas não se coadunavam n com o espírito dogmático, e o Espiritismo, com as suas
lições magníficas, alargou infinitamente a perspectiva da vida universal. Explicando e
provando que a existência não se observa somente na face da Terra opaca e cheia de
dores.
Há céus inumeráveis e inumeráveis mundos onde a vida palpita numa eterna mocidade;
todos eles se encadeiam, se abraçam dentro do magnetismo universal, vivificados pela
luz, imagem real da alma Divina, presente em toda parte.
A carne é uma vestimenta temporária, organizada segundo a vibração espiritual, e essa
mesma vibração esclarece todos os enigmas da matéria.
NÓS VIVEREMOS ETERNAMENTE
A Doutrina dos Espíritos, pois, veio desvendar ao homem o panorama da sua evolução e
esclarece-lo no problema das suas responsabilidades, porque a vida não é privilégio da
Terra obscura, mas a manifestação do Criador em todos os recantos do Universo.
Nós viveremos eternamente, através do Infinito e o conhecimento da imortalidade expõe
os nossos deveres de solidariedade para com todos os seres, em nosso caminho;por esta
razão, a Doutrina Espiritista é uma síntese gloriosa de fraternidade e de amor. O seu
grande objeto é esclarecer a inteligência humana.
Oxalá possam os homens compreender a excelsitude do ensinamento dos Espíritos e
aproveitar o fruto bendito das suas experiências; com o entendimento esclarecido,
interpretarão com fidelidade o “Amai-vos uns aos outros”, em sua profunda significação.
Os instrutores dos planos espirituais, em que nos achamos, regozijam-se com todos os
triunfos da vossa ciência, porque toda conquista importa em grande e abençoado esforço
e, pelo trabalho perseverante, o homem conhecerá todas as leis que lhe presidem ao
destino.
XXVII - OS DOGMAS E OS PRECONCEITOS
Os maiores obstáculos, para que se propaguem no seio das sociedades modernas os
ensinamentos salutares e proveitosos do Consolador, são constituídos pelas imensas
barreiras que lhes levantam os dogma e preconceitos de todos os matizes, nas escolas
científicas e facções religiosas, militantes em todas as partes do Globo.
AÇÕES PERTURBADORAS
Muitos espíritos, afeitos ao tradicionalismo intransigente e rotineiro, são incapazes de
conceber a estrada ascensional do progresso, como de fato ela é, cheia de lições novas e
crescentes resplendores; é assim que, completando as longas fileiras de retardatários,
perturbam,,às vezes, a paz dos que estudam devotamente no livro maravilhoso da Vida,
com as suas opiniões disparatadas, prevalecendo-se de certas posições mundanas,
abusando de prerrogativas transitórias que lhes são outorgadas pelas fortunas iníquas.
Não conseguem, porém, mais do que estabelecer a confusão, sem que as suas mentes
egoístas tragam algo de belo, de novo ou de verdadeiro, que aproveite ao progresso
geral. Seus trabalhos se prestam unicamente às suas experiências pessoais nos
domínios do conhecimento, não conseguindo viver na memória dos pósteros, porquanto a
veneração da posteridade é uma galeria gloriosa reservada, quase que invariavelmente,
aos que passaram na Terra perseguidos e desprezados, e que se impuseram A
Humanidade ofertando-lhe generosamente o fruto abençoado dos seus sacrifícios
imensos e das suas dores incontáveis.
CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE MODERNA
Desalentadoras são as características da sociedade moderna, porque, se a coletividade
se orgulha dos seus progressos físicos, o homem se encontra, moralmente, muito
distanciado dessa evolução. Semelhante anomalia é a conseqüência inevitável da
ignorância das criaturas, com respeito à sua própria natureza, desconhecimento
deplorável que as incita a todos os desvios. Vivendo apenas entre as coisas relativas à
matéria, submergem nas superficialidades prejudiciais ao seu avanço espiritual. Ignoram,
quase que totalmente, o que sejam as suas forças latentes e as suas possibilidades
infinitas, adormecendo ao canto embalador dos gozos falsos do “eu pessoal”, e apenas os
sofrimentos e as dificuldades as obrigam a despertar para a existência espiritual, na qual
reconhecem quanta alegria dimana do exercício do Bem e da prática da virtude, entre as
santas lições da verdadeira fraternidade.
A CIÊNCIA E A RELIGIÃO
Infelizmente, se a Ciência e a Religião constituem as forças matrizes de esclarecimento
das almas, vemos uma empoleirada na negação absoluta e a outra nas afirmações
arriscadas e absurdas. A Ciência criou a academia, e a religião sectarista criou a sacristia;
uma e outra, abarrotadas de dogmas e preconceitos, repelindo-se como pólos contrários,
dentro dos seus conflitos têm somente realizado separação em vez de união, guerra em
vez de paz, descrença em vez de fé, arruinando as almas e afastando-as da luz da
verdadeira espiritualidade.
Entre a força de um preconceito e o atrevimento de um dogma, o espírito se perturba, e,
no círculo dessas vibrações antagônicas, acha-se sem bússola no mundo das coisas
subjetivas, concentrando, naturalmente, na esfera das coisas físicas, todas as suas
preocupações.
O TRABALHO DOS INTELECTUAIS
É por essa razão que de grandes responsabilidades se investem aqueles que se
entregam na Terra aos labores espirituais sob todos os aspectos em que se nos
apresentam; grandes serviços constam de suas incumbências e elevada conta lhes será
solicitada dos seus afazeres sobre a face do planeta. Dolorosas decepções os aguardam
na existência de além-túmulo, quando menosprezam as suas possibilidades para o bem
comum, fazendo de suas faculdades intelectuais objeto de mercantilismo, em troca de
prebendas, as quais, augurando-lhes um porvir de repouso egoístico na vida transitória,
os fazem estacionários e nocivos às coletividades, o que equivale a existências de provas
amargas, entre prolongadas obliterações dos seus poderes de expressão.
Não é que o artista e o pensador devam aderir a este ou àquele sistema religioso, ou
alistar-se sob determinada bandeira filosófica; o que se faz mister é compreender a
necessidade da tarefa de espiritualização, trabalhando no edifício sublime do progresso
comum, colaborando na campanha de regeneração e de reforma dos caracteres,
auxiliando todas as idéias nobres e generosas, em qualquer templo, facção ou casta em
que vicejem, espiritualizando as suas concepções, transformando a ação inteligente num
apelo a todos os espíritos para a perfeição, desvendando-lhes os segredos da beleza, da
luz, do bem, do amor, através da arte na Ciência e na Religião, em suas manifestações
mais rudimentares.
Que todos operem na difusão da verdade, que-brando a cadeia férrea dos formalismos
impostos pelas pseudo-autoridades da cátedra ou do altar, amando a vida terrena com
intensidade e devotamento, cooperando para que se ampliem as suas condições de
perfectibilidade, convencendo-se de que as suas felicidades residem nas coisas mais
simples.
XXVIII - AS COMUNICAÇÕES ESPÍRITAS
Por todos os recantos da Terra, fazem-se ouvir, nos tempos que correm, as vazes dos
Espíritos que, na sua infatigável atividade, conduzem a luz da verdade a todos os
ambientes, dosando as suas lições segundo o grau de perceptibilidade daqueles que as
recebem.
Os ensinamentos do Espaço pululam nas escolas, nos templos, nas oficinas e, aos
poucos, ides compreendendo a comunhão do orbe terráqueo com os planos invisíveis. O
Espiritismo tem doutrinado convenientemente a Fé e a Ciência, preparando-as para os
esponsais do porvir.
Se é verdade que a tibieza de alguns trabalha-dores, obcecados pelos preconceitos, tem
entravado a marcha da doutrina consoladora, devemos reconhecer que muitas
mentalidades, saturadas de suas claridades benditas, têm concorrido com os melhores
esforços da sua existência em favor da propagação dos seus salutares princípios,
desobrigando-se nobre-mente dos seus deveres para com a bondade divina.
O MEDIUNISMO
Vários autores não têm visto, na extensa bibliografia dos escritores mediúnicos, senão
reflexos da alma dos médiuns, emersões da subconsciência, que impelem os mais
honestos a involuntárias mistificações.
Excetuando-se alguns casos esporádicos, em que abundam os elementos prestantes à
identificação, as mensagens mediúnicas são repositórios de advertências morais, cuja
repetição se lhes afigura soporífera. Todavia, erram os que formulam semelhantes juízos.
Diminuta é a percentagem dos intrínsecos, já que todo o mediunismo, ainda que na
materialização e no automatismo perfeitos, se baseia no Espiritismo e Animismo
conjugados.
A COMUNHÃO DOS DOIS MUNDOS
Os desencarnados não podem imiscuir-se na vida material com a plenitude das
faculdades readquiridas e o médium, por sua vez, freqüentemente, em vista das suas
condições e circunstâncias, está impossibilitado de corresponder à potencialidade
vibratória daqueles que o procuram para veicular o seu pensamento.
A alma, emancipada dos liames terrestres, integra a comunidade do outro mundo, que
não é o da carne, e, daí, a necessidade imprescindível de submeter-se às condições de
ordem material para se manifestar; esse fato constitui uma dificuldade extraordinária à
consciência depurada, que já desferiu o vôo altíssimo aos denominados planos felizes do
Universo, dificuldade que essa adaptação à materialidade implica.
A comunhão dos dois mundos, o físico e o invisível, está, pois, baseada nos mais sutis
elementos de ordem espiritual.
Por essa razão, as luminosas mensagens dos grandes mentores da Humanidade são
inspiradas aos seres terrenos através de processos inacessíveis ao seu entendimento
atual, e a maioria das entidades comunicantes são verdadeiros homens comuns, relativos
e falhos, porquanto são almas que conservam, às vezes integralmente, o seu corpo
somático e cujo habitat é o próprio orbe que lhes guarda os despojos e as vastas zonas
dos espaços que o cercam, atmosferas do próprio planeta, que poderíamos classificar de
colônias terrenas nos planos da erraticidade.
Ai se congregam os seres afins e, nesse meio, vivem e operam muitas elites espirituais,
constituídas por Espíritos benignos, mas não aperfeiçoados, os quais, sob ordens
superiores, laboram pelo seu próprio adiantamento e a prol da evolução humana,
volvendo novamente à carne ou trabalhando pelo progresso no seio das coletividades
terrestres.
O QUE REPRESENTAM AS COMUNICAÇÕES
Dos motivos expostos, infere-se que a suposta vulgaridade dos ditados mediúnicos é um
fato naturalismo, porque emanam das almas dos próprios homens da Terra, imbuídos de
gosto pessoal, já que o corpo das suas impressões persiste com precisão matemática, e
somente os séculos, com o seu conseqüente aglomerado de experiências, conseguem
modificar as disposições cármicas ou perispirituais de cada indivíduo. Procuram agir no
plano físico unicamente para demonstração da sobrevivência além da morte, levantando
os ânimos enfraquecidos, porque dilatam os horizontes da fé e da esperança no futuro,
porém, jamais serão portadores da palavra suprema do progresso, não só porque a sua
sabedoria é igualmente relativa, como também porque viriam anular o valor da iniciativa
pessoal e a insofismável realidade do arbítrio humano.
OS PLANOS DA EVOLUÇÃO
Assim como o Infinito é uma lei para os estados das consciências, temos o infinito de
planos no Universo e todos os planos se interpenetram, dentro da maravilhosa lei de
solidariedade; cada plano recebe, daquele que lhe é superior, apenas o bastante ao seu
estado evolutivo, sendo de efeito contraproducente ministrar-lhe conhecimentos que não
poderia suportar.
A evolução, sob todos os seus aspectos, deve ser procurada com afinco, pois é dentro
dessa aspiração que vemos a verdade da afirmação evangélica – “a quem mais tiver,
mais será dado”. '
À medida que o homem progride moralmente, mais se aperfeiçoará o processo da sua
comunhão com os planos invisíveis que lhe são superiores.
XXIX - DO “MODUS OPERANDI” DOS ESPÍRITOS
O “modus operandi” das entidades que se comunicam, nos ambientes terrestres, tem a
sua base no magnetismo universal, dentro do qual todos os seres e mundos gravitam
para a perfeição suprema; e incalculável é a extensão do papel que a sugestão e a
telepatia representam nos fenômenos mediúnicos.
O PROCESSO DAS COMUNICAÇÕES
O processo das comunicações entre os planos visível e invisível, mormente quando se
trata de trabalhos que interessam de perto o progresso moral das criaturas, trabalhos
esses que requerem a utilização de inteligências nobilíssimas do Espaço, cujo grau de
elevação o meio terrestre não pode comportar, verifica-se, quase que invariavelmente,
dentro de um teledinamismo poderoso, que estais longe ainda de apreciar nas vossas
condições de espíritos encarnados.
Entidades sábias e benevolentes, que já se desvencilharam totalmente dos envoltórios
terrenos, basta que o desejem, para que distâncias imensas sejam facilmente anuladas, a
fim de que os seus elevados ensinamentos sejam ministrados, desde que haja cérebro
possuidor de capacidade receptiva e que lhes não ofereça obstáculos insuperáveis.
OS APARELHOS MEDIÚNICOS
Aqueles que possuem essas faculdades registradoras dos pensamentos, que dimanam
dos planos invisíveis, são os chamados sensitivos ou médiuns, porém, essa condição
será a de todos os homens do porvir. São inúmeras as legiões de seres que perambulam
convosco, sem os indumentos carnais, e que permanecem nas latitudes do vossa planeta,
sendo necessário considerar que a maioria dos que evolutiram e se conservam nas
esferas de um conhecimento muito superior ao vosso, pelas condições inerentes à sua
própria natureza, não vos podem estar próximos. Enviam aos homens a sua mensagem
luminosa dos cimos resplandecentes em que se encontram, e, formulando o desejo de
ação nos planos da matéria, atuam com a sua vontade superior sobre o cérebro visado, o
qual se encontra em afinidade com as suas vibrações e, através de forças teledinâmicas,
que podereis avaliar com os fluidos elétricos, cuja utilização encetais na face do Globo,
influenciam a natureza particular do sensitivo, afetando-lhe o sensório, atuando sobre os
seus centros óticos e aparelhos auditivos, desaparecendo perfeitamente as distâncias que
se,não medem; na alma do “sujet” começa então a operar-se uma série de fenômenos
alucinatórios sob a ação consciente do Espírito que o guia dos planos intangíveis. Este,
segundo a sua necessidade, o induz a ver essa ou aquela imagem, em vibrações que o
envolvem, as quais são traduzidas pelo sensitivo de acordo com as suas possibilidades
intelectivas e sentimentais. Há instrumentos que interpretam com fidelidade o que se lhes
entrega; outras, porém, não dispõem de elementos necessários para esse fim.
Não se conjeture a necessidade, por parte dos desencarnados, de trabalho fatigante para
que tais fenômenos se verifiquem, concretizando-se no plano físico; tais fatos se realizam
naturalmente, bastando para isso o seu desejo e o poder de fazê-la.
A IDEOPLASTICIDADE DO PENSAMENTO
Ignorais, na Terra, a maravilhosa ideoplasticidade do pensamento. Conhecendo a
plenitude de suas faculdades, após haver triunfado em muitas experiências que lhes
asseguraram elevada posição espiritual, senhores de portentosos dons psíquicos,
conquistados com a fé e com a virtude incorruptíveis, os Espíritos superiores possuem
uma vontade potente e criadora de todas as formas da beleza. As vezes, apresentam-se
ao vidente grandiosas cenas da história do planeta, multidões luminosas, legiões de
almas, quadros esses que, na maioria das vezes, constituem os pensamentos
materializados das mentes evoluídas que os arquitetam, e que atuam sobre os centros
visuais dos sensitivos, objetivando o progresso geral.
É assim que se estabelece a união dos dois mundos, o físico e o espiritual, através de
fatores inacessíveis às vossas medidas e instrumentos materiais.
O tempo reserva muitas surpresas ao homem, dentro da proporção da sua evolução
moral, concretizando o edifício imortal de todas as idéias altruísticas, nobres e generosas,
sendo totalmente inútil que alguns deles se arvorem em supremas autoridades nos
variados ramos da vida, porque, dentro da sua pretensiosa indigência, se perderão
fatalmente no labirinto discursivo dos seus argumentos mateotécnicos.
XXX - EVANGELIZAÇÃO AOS DESENCARNADOS
São-nos gratas a todos nós que já nos libertamos da cadeia material, as vossas reuniões
de evangelização. A alguém poderá parecer que, com essa preferência, criamos também,
para cá dos limites da Terra, um círculo vicioso, onde eternamente nos debatemos. Tal
opinião, porém, será erradamente emitida, porquanto, desconhecendo o nosso "modus
vivendi", muitas vezes não considerais que o homem, acima de tudo, é espírito, alma,
vibração e que esse espírito, somente em casos excepcionais, não se conserva o mesmo,
após a morte do corpo, com idênticos defeitos e as mesmas inclinações que o
caracterizavam na face do mundo.
Conduzimos, portanto, freqüentemente, até o vosso meio, afim de se colocarem em
contacto com a verdade da sua nova situação, aqueles dos nossos semelhantes que aqui
se encontram ainda impregnados das sensações corporais.
A SITUAÇÃO DOS RECÉM-LIBERTOS DA CARNE
Identificados por tal forma com a matéria, sentindo tão intensamente as suas impressões,
não se encontram aptos a compreender a nossa linguagem e precisam ouvir a voz
materializada daqueles que, cumprindo os desígnios do Alto, ainda se conservam no
exílio, aguardando a alvorada de sua redenção
É ainda reduzido o número dos que despertam na luz espiritual, plenamente cônscios da
sua situação, porque diminuta é a percentagem de seres humanos que se preocupam
sinceramente com as questões do seu aprimoramento moral. A maioria dos
desencarnados, nos seus primeiros dias da vida além do túmulo, não encontra senão os
reflexos dos seus péssimos hábitos e das suas paixões que, nos ambientes diversos de
outra vida, os aborrecem e deprimem. O corpo das suas impressões físicas prossegue
perfeito, fazendo-lhes experimentar acerbas torturas e inenarráveis sofrimentos.
AS EXORTAÇÕES EVANGÉLICAS
As exortações evangélicas são, pois, lenitivos de muitos padecimentos morais, de muitas
dores amaríssimas que acompanham as almas, após a travessia da morte, cheia de
sombras ou de claridades. Há sofrimentos a aliviar, ignorantes a instruir, sedentos de paz
e de amor. Quando assim acontece, é natural que o tempo seja dedicado à nobre tarefa
de espalhar a luz do ensino e do conforto espiritual.
Numa assembléia dos que se consagram ao estudo das ciências, é natural a discussão
sobre a matéria cósmica, sobre a onda hertziana, mas, ao lado da turba dos infelizes, é
preciso mostrar a estrada da regeneração e da verdadeira ventura.
O Espiritismo não é somente o antídoto para as crises que perturbam os habitantes da
Terra; os seus ensinamentos salutares e doces reerguem nos desencarnados as
esperanças desfalecidas à falta de amparo e de alimento; é aí que a doutrina edifica os
transviados do dever e os sofredores saturados desses acerbos remorsos que somente
as lágrimas fazem desaparecer.
A LIÇÃO DAS ALMAS
Cada alma que se vos apresenta e que leva até aos vossos ouvidos o eco das suas
palavras, trás em sua fronte o estatuto da verdade que vos compele aos atos puros e
meritórios e aos pensamentos elevados que enobrecem a consciência.
Não regressaríamos da morte, sem um alto e nobre objetivo.
O escopo das nossas atividades é a demonstração da realidade insofismável de que
vivemos e regressamos do plano invisível para vos dizer que o Espaço, como um livro
misterioso, encerra toda a nossa vida. Uma intenção, uma lágrima oculta, uma virtude
nobilitante estão patentes nas suas páginas prodigiosas que, por uma disposição,
inacessível ainda à vossa compreensão, registra os mais recônditos pensamentos e
ações da nossa existência.
Objetivamos, portanto, cultivar em vossos corações a certeza consoladora da crença
pura, trabalhando para que a tolerância, a meditação e a caridade sejam as vossas
companheiras assíduas.
ENSINAR E PRATICAR
Todas as ciências estão ricas de especulações teóricas, todas as religiões que se
divorciaram do amor estão repletas de palavras, quase sempre vazias e
incompreensíveis.
As predicações são ouvidas, por toda parte; mas a prática, esta é rara e daí a
necessidade de se habituar a ela com devotamento, para que os atos revelem os
sentimentos, operando com o espírito de verdadeira humildade.
Caminhai, pois, nos pedregosos caminhos das provações. À medida que marchardes,
cheios de serenidade e de confiança, mais belas provas colhereis da luminosa manhã da
imortalidade que vos espera, além do silêncio dos túmulos.
XXXI - OS ESPÍRITOS DA TERRA
Está cheio o vosso mundo de Espíritos atrasados em sua evolução, encarnados e
desencarnados, em cujas mentes ainda não se fixaram nitidamente as noções do dever
em todos os seus prismas.
Admirai-vos, às vezes, os que vos acolheis sob a bandeira da paz da consoladora
Doutrina dos Espíritos, da incompreensão que lavra no mundo e da teimosia de muitas
consciências rebeldes à luz e refratárias à Verdade; a Terra está cheia de dores, oriundas
dos abusos levados a efeito por elevado número dos seus habitantes que, aliás,
constituem considerável maioria.
Vós, porém, que estudais e vos sentis possuídos da aspiração de melhorar, procurai
ponderar todas as questões que se vos apresentem, com acurada atenção, procurando
resolver todos os problemas à luz de esclarecido entendimento.
ESPÍRITOS DA TERRA
A Terra está povoada, em quase todas as latitudes, de seres que se desenvolveram com
ela própria e que se afinam perfeitamente às suas condições fluídicas.
Pequena percentagem de homens é constituída de elementos espirituais de outros orbes
mais elevados que o vosso; dai, a enorme diferença de avanço moral entre os seres
humanos e os abnegados apóstolos da luz que, em todos os tempos, tentam clarear-lhes
as estradas do progresso. É comum conhecerem-se pessoas que nutrem perfeita
adoração a todos os prazeres que o mundo lhes oferece. Por minuto de voluptuosidade,
pela contemplação dos seus haveres efêmeros, por uma hora de contacto com as suas
ilusões, jamais procurariam o conhecimento das verdades da eterna vida do espírito;
procuram toda casta de gozos, evitam qualquer estudo ou meditação e se entregam,
freneticamente, ao bem-estar que a carne lhes oferta. Essas criaturas, invariavelmente,
são espíritos estritamente terrenos, que não saem dos âmbitos da existência mesquinha
do planeta; esta afirmação, porém, não implica, de modo geral, a origem desses seres em
vosso próprio orbe, mas, sim, a verdade de que muitos deles, pelas suas condições
psíquicas, mereceram viver em sua superfície, como prova, expiação ou meio de
progresso. Apegam-se com fervor a tudo quanto seja carnal e experimentam o pavor da
morte, inseguros na sua fé e falhos de conhecimentos quanto à sua vida futura.
COMO SE OPERA O PROGRESSO GERAL
O progresso espiritual dessas criaturas verifica-se com a vinda incessante, ao planeta, de
almas esclarecidas, que já tiveram a ventura de conhecer outros planos mais elevados do
Universo, e que deles vêm mais ricas em conhecimento e virtude, derramando lições
preciosas nos ambientes em que encarnam. Quando notardes, em meio de uma
coletividade, certas almas que dela se distanciam por suas elevadas qualidades morais,
mais adiantadas que seus irmãos em noções dignificadoras do espírito, podeis crer que
esses seres estão na Terra temporariamente, isto é, por tempo breve, resgatando desvios
de pretérito longínquo ou desempenhando o elevado papel de missionários. Trazem
sempre exemplos nobilitantes, que obrigam os seus semelhantes à imitação ou realizam
reformas nos domínios das atividades a que se dedicam, com o conhecimento inato de
que são portadores, em razão da sua permanência em outras esferas.
É assim que se observa a evolução moral e intelectual do homem terreno, que vem
adaptando, através dos evos, o que tem recebido dos nobres mensageiros das mansões
iluminadas do Universo, corporificados em seu meio ambiente.
OS PERÍODOS DE RENOVAÇÃO
Quando se verifica um “statu quo” nas correntes evolutivas, que parecem, às vezes,
estagnar, grandes conjuntos de almas evolvidas combinam entre si uma vinda coletiva ao
orbe terreno, e ativamente abrem novas portas à Arte, à Ciência, à Virtude e à Inteligência
da Humanidade.
Conheceis, em vossa História, desses períodos de ressurreição espiritual! Tendes
exemplos relevantes no século de Péricles, na antiga Hélade e no movimento de
renovação que se operou na Europa, com os artistas inspirados que encheram de luz os
dias da Renascença.
MISSÃO DO ESPIRITISMO
Em vossos dias, o Espiritismo, que representa o Consolador prometido pelo Cristo aos
séculos posteriores à sua vinda ao mundo, é uma extraordinária mensagem do Céu à
Terra, e faz-se necessário aquilatar-lhe o valor.
Inda existem multidões de Espíritos rebeldes, porém, a consciência terrena, em suas
características gerais, está agora apta a receber, depois de tantos anos de lutas, o
conhecimento espiritual que lhe fará desprezar os últimos resquícios da materialidade
inconsciente, aprendendo a discernir os seus erros. Espalhando a boa nova da
imortalidade a doutrina de amor abrirá novos horizontes à esperança dos homens,
conduzindo-os à aquisição do tesouro espiritual, reservado por Deus a todas as suas
criaturas.
Quando todos os homens compreenderem o sentido de suas magníficas lições, o vosso
planeta terá atingido uma nova fase evolutiva e o Espiritismo terá concluído, entre vós, a
sua sagrada e gloriosa missão.
XXXII - DOS DESTINOS
Não poucas vezes vos preocupais, nas lides planetárias, com as provações necessárias,
que julgais excessivas para as vossas forças.
Crede! O fardo que faz vergar os vossos ombros não é demasiado para as vossas
possibilidades.
Deus tudo prevê e, sobretudo, a escolha de semelhantes provações é uma questão de
preferência individual; é freqüente a vossa incompreensão a respeito desse ensinamento
espiritualista.
Estais, porém, entre as masmorras da carne, a vossa consciência limitada
freqüentemente se nega a encarar a luz em todos os seus divinos resplendores.
A VIDA VERDADEIRA
Somente fora da existência material podeis refletir acertadamente sobre a verdade.
Apenas a vida espiritual é verdadeira e eterna.
E estais certos de que, com a satisfação dos menores caprichos sobre a face do mundo,
poderíeis adquirir elementos meritórios para a existência real? O gozo reiterado não vos
enlaçaria, mais ainda, na trama da carne passageira? Sabeis se poderíeis suportar a
riqueza sem os desregramentos, a mesa lauta sem os desvios da gula, a posse sem o
egoísmo, o bem-estar próprio com o interesse caridoso pela sorte dos outros seres?
Ponderai tudo isso e descobrireis o motivo pelo qual a quase totalidade dos seres
humanos escolheu o cenário obscuro e triste das dores para argamassar o tesouro de
suas felicidades imorredouras e o patrimônio de suas aquisições espirituais.
A ESCOLHA DAS PROVAÇÕES
Várias vezes já têm sido repetidos os ensinamentos que estou transmitindo sobre as
provações terrenas de cada indivíduo.
Muito antes da encarnação, o Espírito faz o cômputo de suas possibilidades, estuda o
caminho que melhor se lhe afigura na luta da perfectibilidade e, de acordo com as suas
vocações e segundo o grau de evolução já alcançado, escolhe, em plena posse de sua
consciência, a estrada que se lhe desenha no porvir, fecunda de progressos espirituais.
Dentro do infinito do Universo e com as faculdades integrais do seu próprio “eu”,
reconhece a alma que somente a luta lhe oferta inúmeras possibilidades de evolução, em
todos os setores da atividade humana; e, dai, a preferência pelos ambientes de dor e
privação, abençoados corretivos que a Providência lhe oferece para a redenção do
passado ou para o desenvolvimento das suas forças latentes e imprecisas; cada Espírito,
voluntariamente, escolhe as suas sendas futuras, conforme o seu progresso e de acordo
com os desígnios superiores.
O ESQUECIMENTO DO PASSADO
Na existência corporal, todavia, a alma sente a memória obscurecida, num olvido quase
total do passado, a fim de que os seus esforços se valorizem; a consciência então é
fragmentária, parcial, porquanto as suas faculdades estão eclipsadas pelos pesados véus
da matéria, os quais atenuam ao mínimo as suas vibrações, constituindo, porém, esses
poderes prodigiosos, mas ocultos, as extraordinárias possibilidades da vasta
subconsciência, que os cientistas do século estudam acuradamente.
Tais forças e progressos adquiridos, o Espírito jamais os perde; são parte' integrante do
seu patrimônio e, na vida material, podem emergir no exercício da mediunidade, nas
hipnoses profundas, ou em outras circunstâncias que facilitam o desprendimento
temporário dos elementos psíquicos.
O HOMEM E SEU DESTINO
Isoladamente, cada um tem no planeta o mapa das suas lutas e dos seus serviços. O
berço de todo homem é o princípio de um labirinto de tentações e de dores, inerentes à
própria vida na esfera terrestre, labirinto por ele mesmo traçado e que necessita palmilhar
com intrepidez moral.
Portanto, qualquer alma tem o seu destino traçado sob o ponto de vista do trabalho e do
sofrimento, e, sem paradoxos, tem de combater com o seu próprio destino, porque o
homem não nasceu para ser vencido; todo espírito labora para dominar a matéria e
triunfar dos seus impulsos inferiores.
A VIDA É SEMPRE AMOR
É dessa verdade que necessitais convencer-vos. Existe a provação e faz-se mister não se
entregar inteiramente a ela. O espírito ordena e o corpo obedece. A luta é o meio para o
êxito na conquista da vida. E a vida integral não é a existência terrena, repleta de
vicissitudes sem conta; é a glorificação do amor, da atividade, da luz, de tudo quanto é
nobre e belo no Universo; e a consciência é o laço que liga cada espírito a esse “nec plus
ultra” que denominamos – a Eternidade.
XXXIII - QUATRO QUESTÕES DE FILOSOFIA
DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO
Pergunta – O futuro, de um modo geral, estará rigorosamente determinado, como parece
demonstrado pelos fenômenos ditos premonitórios, ou esses fenômenos envolvem um
determinismo conciliável com os dados imediatos da consciência sobre os quais são
geralmente estabelecidas as noções de liberdade e responsabilidade individuais? E em
que termos, nestes últimos casos, se exerce esse determinismo, do ponto de vista
teleológico?
Resposta – Os seres da minha esfera não conhecem o futuro, nem podem interferir nas
coisas que lhe pertencem. Acreditamos, todavia, que o porvir, sem estar rigorosamente
determinado, está previsto nas suas linhas gerais.
Imaginai um homem que fosse efetuar uma viagem. Todo o seu trajeto está previsto: dia
de partida, caminhos, etapas, dia de chegada. Todas as atividades, contudo, no
transcurso da viagem, estão afetas ao viajante, que se pode desviar ou não do roteiro
traçado, segundo os ditames da sua vontade. Daí se infere que o livre-arbítrio é lei
irrevogável na esfera individual, perfeitamente separável das questões do destino,
anteriormente preparado. Os atas premonitórios são sempre dirigidos por entidades
superiores, que procuram demonstrar a verdade de que a criatura não se reduz a um
complexo de oxigênio, fosfato, etc., e que, além das percepções limitadas do homem
físico, estão as faculdades superiores do homem transcendente.
O TEMPO E O ESPAÇO
Pergunta – O espaço e o tempo serão apenas formas viciosas do intelecto, ou terão uma
expressão objetiva no esquema da realidade pura? E, neste último caso, quais serão as
relações fundamentais entre espaço e tempo?
Resposta – No esquema das realidades eternas e absolutas, tempo e espaço não têm
expressões objetivas; se são propriamente formas viciosas do vosso intelecto, elas são
precisas ao homem como expressões de controle dos fenômenos da sua existência. As
figuras, em cada plano de aperfeiçoamento da vida, são correspondentes à organização
através da qual o Espírito se manifesta.
ESPÍRITO E MATERIA
Pergunta – Será licito considerar-se espírito e. matéria como dois estados alotrópicos de
um só elemento primordial, de maneira a obter-se a conciliação das duas escolas
perpetuamente em luta, dualista e monista, chegando-se a uma concepção unitária do
Universo?
Resposta – É licito considerar-se espírito e matéria como estados diversos de uma
essência imutável, chegando-se dessa forma a estabelecer a unidade substancial do
Universo. Dentro, porém, desse monismo físico-psíquico, perfeitamente conciliável com a
doutrina dualista, faz-se preciso considerar a matéria como o estado negativo e o espírito
como o estado positivo dessa substância. O ponto de integração dos dois elementos
estreitamente unidos em todos os planos do nosso relativo conhecimento, ainda não o
encontramos.
A ciência terrena, no estudo das vibrações, chegará a conceber a unidade de todas as
forças físicas e psíquicas do Universo. O homem, porém, terá sempre um limite nas suas
investigações sobre a matéria e o movimento. Esse limite é determinado por leis sábias e
justas, mas, cientificamente poderemos classificar esse estado inibitório como oriundo da
estrutura do seu olho e da insuficiência das suas faculdades sensoriais.
O PRINCÍPIO DE UNIDADE
Pergunta – Todos nós temos consciência dos princípios de unidade e variação, ou de
universalidade e individualidade, que funcionam juntos em nosso mundo. Onde se
encontra o ponto de interação, ou lugar de reunião desses dois termos opostos?
Resposta – Se temos aí consciência dos princípios de unidade e variação, ainda aqui os
observamos, sem haver descoberto o seu ponto íntimo de união.
Todavia, o princípio soberano de unidade absorve todas as variações, crendo nós que,
sem perdermos a consciência individual no transcurso dos milênios, chegaremos a reunirnos
no grande princípio da unidade, que é a perfeição.
XXXIV - VOZES NO DESERTO
A psicologia dos tempos modernos, no planeta terrestre, apresenta as questões mais
interessantes à observação das inteligências atiladas e estudiosas dos problemas sérios
da vida.
Todos os sociólogos falam da necessidade de providências que amparem os homens, à
beira dos abismos escuros do morticínio e da destruição.
Ante o domínio das crises de toda natureza, foi na Europa que começaram os clamores e
as exortações. Todos os analistas dos problemas sociais falaram em morte da Civilização,
em necessidades imperiosas dos povos, em doutrinas novas de revigoramento das
coletividades, dentro do propósito de solucionar as suas questões econômicas. No exame
de quase todos os problemas desse jaez, solicitou-se a colaboração da Sociedade de
Genebra, com objetivo da cooperação necessária de todos os países. Surgiram, então,
regimes de experiência, em que, na atualidade, assistimos às atividades dos
manipuladores das massas. E nesses mesmos clamores transportam-se à Ásia. Enquanto
a China preferia descansar no seio das suas tradições, o Japão estabelecia um pacto de
cooperação com o Ocidente, organizava tratados e entendimentos, criando,
apressadamente, a sua hegemonia pelas armas, com a doutrina da unidade asiática.
Todas as nações organizadas da Europa e do Oriente se queixam da superlotação e da
necessidade de colônias. Os clamores então se transportam igualmente para a América,
que, se já sofria os funestos efeitos da inquietude do mundo, sentia-se na obrigação de
salvaguardar os seus imensos patrimônios territoriais e as suas não menores
possibilidades econômicas, contra possíveis avanços do imperialismo político e da
pilhagem das grandes potências. As místicas nacionalistas são então exaltadas. Alguns
artistas do pensamento se vendem à exibição e à falsa glória do Estado e, como
D’Annunzio, abençoam os ventres maternos que tiveram a ventura de gerar um soldado
para os massacres da pátria e exaltam o adolescente que encontrou numa ponta de
baioneta o seu primeiro e último amor.
A verdade, porém, é que os esforços de todos os estudiosos do assunto não têm passado
de um jogo deslumbrante de palavras.
Há muitos anos se fala que o mundo necessita de paz. Entretanto, talvez que a corrida
armamentista de agora exceda a de 1914. Todos os países organizam as suas armadas,
as suas frotas aéreas e os seus exércitos mecanizados, com todos os requisitos
estratégicos, isto é, integrados no conhecimento de toda a tecnologia moderna e com a
guerra química, na qualidade de complemento indispensável das atividades bélicas de
cada nação.
Há muitos anos se fala da necessidade de um entendimento econômico entre todos os
países. Cada vez mais, porém, complica-se a questão com as doutrinas do isolamento,
com as barreiras alfandegárias, oriundas do nacionalismo de incompreensão, com a
ausência formal de qualquer colaboração e com princípios absurdos que vão paralisando
milhões de braços para o trabalho construtor, gerando a miséria, a desarmonia e a morte.
A cultura moderna sai a campo para pregar as necessidades dos tempos. Escritores,
artistas, homens do pensamento, reformistas, falam exaltadamente da regeneração
esperada; condenam a sociedade, de cujos erros participam todos os dias, fazem a
exposição das angústias da época, relacionam as suas necessidades, mas, se as
criaturas bem-intencionadas lhes perguntam sobre a maneira mais fácil de socorrer o
homem aflito dos tempos atuais, essas vozes se calam ou se tornam incompreensíveis,
no domínio das sugestões duvidosas e das hipóteses inverossímeis.
É que o espírito humano está esgotado com todos os recursos das reformas exteriores.
Para que a fórmula da felicidade não seja uma banalidade vulgar, é preciso que a criatura
terrestre ouça aquela voz – “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.
Os reformadores e os políticos falarão inutilmente da transformação necessária, porque
todas as modificações para o bem têm de começar no íntimo de cada um. E por essa
razão que todos os apelos morrem, na atualidade, na boca dos seus expositores, como as
vazes clamantes no deserto; ninguém os entende, porque quase todos se esqueceram da
transformação de si mesmos, e é ainda por isso que, no frontispício social dos tempos
modernos, no planeta terrestre, pesam os mais sombrios e sinistros vaticínios.
XXXV - EDUCAÇÃO EVANGÉLICA
Todas as reformas sociais, necessárias em vossos tempos de indecisão espiritual, têm de
processar-se sobre a base do Evangelho.
Como? – podereis objetar-nos. Pela educação, replicaremos.
O plano pedagógico que implica esse grandioso problema tem de partir ainda do simples
para o complexo. Ele abrange atividades multiformes e imensas, mas não é impossível.
Primeiramente, o trabalho de vulgarização deverá intensificar-se, lançando, através da
palavra falada ou escrita do ensinamento, as diminutas raízes do futuro.
O RESULTADO DOS ERROS RELIGIOSOS
Toda essa demagogia filosófico-doutrinária, que vedes nas fileiras do Espiritismo, tem sua
razão de ser. As almas humanas se preparam para o bom caminho. A missão do
Cristianismo na Terra não era a de mancomunar-se com as forças políticas que lhe
desviassem a profunda significação espiritual para os homens. O Cristo não teria vindo ao
mundo para instituir castas sacerdotais e nem impor dogmatismos absurdos. Sua ação
dirigiu-se, justamente, para a necessidade de se remodelar a sociedade humana,
eliminando-se os preconceitos religiosos, constituindo isso a causa da sua cruz e do seu
martírio, sem se desviar, contudo, do terreno das profecias que o anunciavam.
Todas essas atividades bélicas, todas as lutas antifraternas no seio dos povos irmãos,
quase a totalidade dos absurdos, que complicam a vida do homem, vieram da
escravização da consciência ao conglomerado de preceitos dogmáticos das Igrejas que
se levantaram sobre a doutrina do Divino Mestre, contrariando as suas bases,
digladiando-se mutua-mente, condenando-se umas às outras em nome de Deus.
Aliado ao Estado, o Cristianismo deturpou-se, perdendo as suas características divinas.
FIM DE UM CICLO EVOLUTIVO
Sabemos todos que a Humanidade terrena atinge, atualmente, as cumeadas de um dos
mais importantes ciclos evolutivos. Nessas transformações, há sempre necessidade do
pensamento religioso para manter-se a espiritualidade das criaturas em momentos tão
críticos. A idéia cristã se encontrava afeto o trabalho de sustentar essa coesão dos
sentimentos de confiança e de fé das criaturas humanas nos seus elevados destinos;
todavia, encarcerada nas grades dos dogmas católico-romanos, a doutrina de Jesus não
poderia, de modo algum, amparar o espírito humano nessas dolorosas transições.
Todas as exterioridades da Igreja deixam nas almas atuais, sedentas de progresso, um
vazio muito amargo.
URGE REFORMAR
Foi justamente quando o Positivismo alcançava o absurdo da negação, com Auguste
Comte., e o Catolicismo tocava às extravagâncias da afirmativa, com Pio IX proclamando
a infalibilidade papal, que o Céu deixou cair à Terra a revelação abençoada dos túmulos.
O Consolador prometido pelo Mestre chegava no momento oportuno. Urge reformar,
reconstruir, aproveitar o material ainda firme, para destruir os elementos apodrecidos na
reorganização do edifício social. E é por isso que a nossa palavra bate insistentemente
nas antigas teclas do Evangelho cristão, porquanto não existe outra fórmula que possa
dirimir o conflito da vida atormentada dos homens. A atualidade requer a difusão dos seus
divinos ensina-mentos. Urge, sobretudo, a criação dos núcleos verdadeiramente
evangélicos, de onde possa nascer a orientação cristã a ser mantida no lar, pela
dedicação dos seus chefes. As escolas do lar são mais que precisas, em vossos tempos,
para a formação do espírito que atravessará a noite de lutas que a vossa Terra está
vivendo, em demanda da gloriosa luz do porvir.
NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO PURA E SIMPLES
Há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo, dentro do
Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da auto-educação. Evangelizado o
indivíduo, evangeliza-se a família; regenerada esta, a sociedade estará a caminho de sua
purificação, reabilitando-se simultaneamente a vida do mundo.
No capítulo da preparação da infância, não preconizamos a educação defeituosa de
determinadas noções doutrinárias, mas facciosas, facilitando-se na alma infantil a eclosão
de sectarismos prejudiciais e incentivando o espírito de separatividade, e não
concordamos com a educação ministrada absolutamente nos moldes desse materialismo
demolidor, que não vê no homem senão um complexo celular, onde as glândulas, com as
suas secreções, criam uma personalidade fictícia e transitória. Não são os suco e os
hormônios, na sua mistura adequada nos laboratórios internos do organismo, que fazem a
luz do espírito imortal. Ao contrário dessa visão audaciosa dos cientistas, são os fluidos,
imponderáveis e invisíveis, atributos da individualidade que preexiste ao corpo e a ele
sobrevive, que dirigem todos os fenômenos orgânicos que os utopistas da biologia tentam
em vão solucionar, com a eliminação da influência espiritual. Todas as câmaras
misteriosas desse admirável aparelho, que é o mecanismo orgânico do homem, estão
repletas de uma luz invisível para os olhos mortais.
FORMAÇÃO DA MENTALIDADE CRISTÃ
As atividades pedagógicas do presente e do futuro terão de se caracterizar pela sua
feição evangélica e espiritista, se quiserem colaborar no grandioso edifício do progresso
humano.
Os estudiosos do materialismo não sabem que todos os seus estudos se baseiam na
transição e na morte. Todas as realidades da vida se conservam inapreensíveis às suas
faculdades sensoriais. Suas análises objetivam somente a carne perecível. O corpo que
estudam, a célula que examinam, o corpo químico submetido à sua crítica minuciosa, são
acidentais e passageiros. Os materiais humanos postos sob os seus olhos pertencem ao
domínio das transformações, através do suposto aniquilamento. Como poderá, pois, esse
movimento de extravagância do espírito humano presidir à formação da mentalidade geral
que o futuro requer, para a consecução dos seus projetos grandiosos de fraternidade e de
paz? A intelectualidade acadêmica está fechada no circulo da opinião dos catedráticos,
como a idéia religiosa está presa no cárcere dos dogmas absurdos.
Os continuadores do Cristo, nos tempos modernos, terão de marchar contra esses
gigantes, com a liberdade dos seus atas e das suas idéias.
Por enquanto, todo o nosso trabalho objetiva a formação da mentalidade cristã, por
excelência, mentalidade purificada, livre dos preceitos e preconceitos que impedem a
marcha da Humanidade. Formadas essas correntes de pensadores esclarecidos do
Evangelho, entraremos, então, no ataque às obras. Os jornais educativos, as estações
radiofônicas, os centros de estudo, os clubes do pensamento evangélico, as assembléias
da palavra, o filme que ensina e moraliza, tudo à base do sentimento cristão, não
constituem uma utopia dos nossos corações. Essas obras que hoje surgem, vacilantes e
indecisas no seio da sociedade moderna, experimentando quase sempre um fracasso
temporário, indicam que a mentalidade evangélica não se acha ainda edificada. A
andaimaria, porém, ai está, esperando o momento final da grandiosa construção.
Toda a tarefa, no momento, é formar o espírito genuinamente cristão; terminado esse
trabalho, os homens terão atingido o dia luminoso da paz universal e da concórdia de
todos os corações.
XXXVI - AOS TRABALHADORES DA VERDADE
Nos tempos atuais, todo o trabalho de quantos se devotam à disseminação das teorias
espiritistas deve ser o de colaboração com os estudiosos da Verdade. Não é o desejo de
proselitismo ou de publicidade que os deve animar, porém, a boa-vontade em cooperar
com os seus atas, palavras e pensa-mentos, a favor da grande causa.
Todos nós objetivamos, com a nossa árdua tarefa, ampliar o conhecimento humano, com
respeito às realidades espirituais que constituem a vida em si mesma, a fim de que se
organize o ambiente favorável ao estabelecimento da verdadeira solidariedade entre os
homens.
A FENOMENOLOGIA ESPÍRITA
A fenomenologia, nos domínios do psiquismo, em vosso século, visa ao ensinamento, à
formação da profunda consciência espiritual da Humanidade, constituindo, desse modo,
um curso propedêutico para as grandes lições do porvir. f por essa razão que
necessitamos de operar ativamente para que a Ciência descubra, nos próprios planos
físicos, as afirmações de espiritualidade.
Pode parecer que o materialismo separou para sempre a Ciência da Fé; isso, porém, não
aconteceu, e o nosso trabalho de agora simboliza o esforço para que os investigadores
cheguem a compreender o que o Céu tem revelado em todos os tempos.
A PSICOLOGIA E A “MENS SANA”
A psicologia antiga pecava extremamente pela insuficiência dos seus métodos. O ser
pensante achava-se, para ela, isolado do corpo, estudando assim os seus fenômenos
introspectivos de maneira deficiente e imperfeita.
A psicologia moderna vai mais longe. A sua metodologia avançada estuda racionalmente
todos os problemas da personalidade humana, unindo os elementos materiais e
espirituais, resolvendo uma das grandes questões dos cientistas de antanho.
O corpo nada mais é que o instrumento passivo da alma, e da sua condição perfeita
depende a perfeita exteriorização das faculdades do espírito. Da cessação da atividade
deste ou daquele centro orgânico, resulta o término da manifestação que lhe é
correspondente: dai provém toda a verdade da “mens sana” e o grande subsídio que a
psicologia moderna fornece aos fisiologistas como guia esclarecedor da patogenia.
O corpo não está separado da alma; é a sua representação. As suas células são
organizadas segundo as disposições perispiriticas dos indivíduos, e o organismo doente
retrata um espírito enfermo. A patologia está orientada por elementos sutis, de ordem
espiritual.
O PROGRESSO ANÍMICO
Os porquês da evolução anímica devem impressionar a quantos se consagram ao estudo.
Os progressos da vida terrestre podem ser verificados pelos geólogos, pelos
antropologistas. Há no planeta toda uma escala grandiosa de ascensão. No fundo de
vossos oceanos ainda existem os infusórios, os organismos unicelulares, que remontam a
um passado multimilenário e cujo aparecimento é contemporâneo dos princípios da vida
organizada do orbe.
A TRAJETÓRIA DAS ALMAS
Que longa tem sido a trajetória das almas!...
A origem do princípio anímico perde-se dentro de uma noite de labirintos; tudo, porém,
dentro do dinamismo do Universo, se encadeia numa ordem equânime e absoluta.
Da irritabilidade à sensação, da sensação à percepção, da percepção ao raciocínio,
quantas distâncias preenchidas de lutas, dores e sofrimentos!... Todavia, desses
combates necessários promana o cabedal de experiências do Espírito em sua evolução
gloriosa. A racionalidade do homem é a suprema expressão do progresso anímico que a
Terra lhe pode prodigalizar; ela simboliza uma auréola de poder e de liberdade que
aumenta naturalmente os seus deveres e responsabilidades. A conquista do livre-arbítrio
compreende as mais nobres obrigações.
Chegado a esse ponto, o homem se encontra no limiar da existência em outras esferas,
onde a matéria rarefeita oferece novas modalidades de vida, em outras mais sublimes
manifestações, as quais escapam naturalmente à insuficiência dos vossos sentidos.
AS REALIDADES DO FUTURO
Os Espíritos se regozijam a cada novo passo de progresso da ciência humana, porque
dos seus labores, das suas dedicações, brotará o conhecimento superior, que felicitará os
núcleos de criaturas, porquanto ficará patente, plenamente evidenciada, a grande missão
do Espírito como elemento criador, organizador e conservador de todos os fenômenos
que regulam a vida material.
Quanto mais avançam os cientistas, mais se convencem das realidades de ordem
subjetiva, nos fenômenos universais.
As palavras natureza, fatalismo, tônus vital não bastam para elucidar a alma humana,
quanto aos enigmas da sua existência: faz-se mister a intervenção das sínteses
espirituais, reveladoras das mais elevadas verdades.
É para essas grandiosas afirmações que trabalhamos em comum, e esse desiderato
constituirá a luminosa coroa da Ciência do porvir.