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sábado, 29 de janeiro de 2011

Espírito e Vida-Divaldo Pereira Franco

ESPÍRITO E VIDA

DIVALDO PEREIRA FRANCO

DITADO POR JOANNA DE ÂNGELIS


ÍNDICE


ESPÍRITO E VIDA

Ainda hoje, no turbilhão da vida moderna, o Evangelho de Jesus é lição incomparável, veiculando em cada fasto o espírito da vida para a atormentada mente humana..

No momento mesmo em que para psicólogos res­peitáveis teimam por negar a realidade insofismável do espírito imortal, tentando reduzi-lo a uma “força exte­riorizadda pelo cérebro” e não por ele manifestada, confundindo, por preconceito científico a causa ao efei­to ou este àquela, a palavra do Cristo atualizada por Allan Kardec na gigantesca epopéia do Pentateuco (*), tem caráter de urgência.

Até o instante da Codificação Espírita, embora os esforços titânicos de Erasmo e Lutero, tanto quanto de outros veneráveis cristãos, a mensagem evangélica esteve confundida na “letra que mata” e no dogmatis­mo ultramontano, sem conseguir atingir os altos objeti­vos a que se destinava, no inquieto panorama sócio­-moral da Humanidade.

Com a Doutrina Espírita expressões nebulosas, revelações absurdas, fenômenos ditos milagrosos e en­sinamentos que se demoravam na clausura do fantástico, adquiriram coerência graças às luzes da razão, que fulgem, desde então, clarificantes e consoladoras.

Espírito e vida.

Vida do espírito.

Espírito da vida.

Na mensagem evangélica examinada em espírito ressumbra a vida da lição atualizada e oportuna.

Com os instrumentos do bom-senso e da lógica adquiridos nos conceitos espiritistas, a vida do espírito se confirma em toda sua pujança, enquanto a Doutrina mesma desata o espírito da vida para os que jazem amortalhados no preconceito ou na ignorância desta ou daquela modalidade.

O modesto trabalho que hoje apresentamos, sem pretensão de espécie alguma, foi elaborado paulatina-mente e algumas das suas páginas agora refundidas e reestruturadas já apareceram, ao seu tempo, em letra de forma, na imprensa espírita, atendendo à diretriz para a qual foram escritas: consolar e esclarecer.

Utilizamo-nos de preciosos parágrafos da Codi­ficação Kardequiana para os estudos do presente tra­balho. Estas páginas agora enfeixadas em livro se destinam a oferecer lenitivo a muitas dores, consolo a diversas aflições e sugestões fraternas à luz do Evange­lho e do Espiritismo a quem se encontra ante as encru­zilhadas que, muitas vezes, surpreendem a todos nós, face às atitudes que devemos ou não tomar. (1)

Não guardamos no íntimo a fantasia de conseguir qualquer posição literária e não acarinhamos outro de­sejo senão aquele de apresentar os resultados da pró­pria experiência haurida diversas vezes com lágrimas acerbas, na carne e fora dela.

E assim procedemos estimulada como estamos pela identificação da ânsia de Deus que treme em cére­bros e corações atormentados, em todas as esferas da vida atual.

Não faz muito tempo e o filósofo inglês Tomás Hardy, exclamou, aflito: “O homem moderno perdeu o endereço de Deus”... Alguns anos depois, o físico alemão Alberto Einstein algo desanimado, escreveu:

“Vivemos num Universo em expansão. Toda conquis­ta, no entanto, tem levado o homem quase sempre àdissolução”...

Nosso despretencioso trabalho não pretende apre­sentar um novo “endereço de Deus”, antes pelo con­trário, afirmar aquela direção multimilenária: “Fazer a outrem o que se deseja que outrem lhe faça”, equiva­lente ao amor com que sempre e incessantemente Jesus nos tem amado.

Não conservamos a presunção de estancar, com estas páginas, o caudal da “dissolução” dos costumes em voga, mas sim mantemos a esperança de estimular os espíritos valorosos que, em luta renhida contra as manifestações inferiores, se esforçam para prossegui­rem intimoratos pela senda do bem, por sabermos que o bem é bom para quem o pratica, como a verdade é luz para quem a conduz, iluminando primeiro aquele que com ela se identifica.

Enquanto as indústrias da guerra derramam o morticínio em massa e “a psicose da ensiedade”, desse estado resultante, destrói em escala igual à do câncer, Jesus hoje como ontem acalma, harmoniza, pacifica.

Seu Evangelho é rota, seus exemplos são susten­tação e diretriz.

A traidos por Sua voz à Seara da vida, trabalhado­res que nos candidatamos “à última hora” ao serviço na Vinha do Amor, rumemos confiantes, renovando-nos interiormente, exemplificando em espírito e vida, a excelência da revelação que chega “à hora predita”, e aceitemos os instrumentos para arrebentar as cruéis algemas do “eu” a que nos encontramos milenarmente atados.

Agradecendo ao Senhor os júbilos do dever cum­prido como serva que “dá conta da sua administração”, trabalhadora imperfeita que reconhecemos ser, supli­camos suas dadivosas bênçãos para todos nós que ne­cessitamos do seu inefável amor.

Joanna de Ãngelis.

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão da noite de 2/7/ 1966, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, em Salvador, Bahia).

(*) Pentateuco kardequiano: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”.

(1) Usamos para cada Obra consultada as suas letras iniciais. Por exemplo: “O Livro dos Espíritos” — O LIVRO DOS ESPÍRITOS; “O Livro dos Mé­diuns” — O LIVRO DOS MÉDIUNS etc., com os respectivos Capítulos e Itens donde extraimos o ensino.

As Obras consultadas foram editadas pela F. E. B., respectivamen­te: O LIVRO DOS ESPÍRITOS 29ª edição; O LIVRO DOS MÉDIUNS 28ª edição; O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO 52ª edição; O CÉU E O INFERNO 19ª edição; A GÊNESE 14ª edição.

(Notas da Autora espiritual).


1

DIRETRIZ ESPÍRITA

“Com a perseverança é que chegarás a colher os frutos de teus trabalhos. O prazer que experimentarás, vendo a Doutrina propa­gar-se e bem compreendida, será uma recom­pensa, cujo valor integral conhecerás talvez mais no futuro do que no presente. Não te inquietes, pois, com os espíritos e as pedras que os incrédulos ou os maus acumularão no teu caminho. Conserva a confiança: com ela chegarás ao fim e merecerás ser sempre ajudado”.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS — Prolegômenos.

Muitas são as direções que podes tomar, impri­mindo novo curso à vida.

Estradas se multiplicam atraentes, dificultando-te a opção.

Aparentemente conduzem aos redutos onde a fe­licidade se acolhe festiva.

Vês passarem as multidões dos que seguem os diferentes rumos.

Há em verdade rotas e rotas. Umas conduzem à morte, raras conduzem à vida.

Estás na diretriz espírita e pareces seguir a medo, imaginando...

Nem festas, nem fantasias encontras.

A realidade se desvela, apresentando-se legítima.

Vês a dor arrancando a máscara de ilusão das faces envilecidas pelo cansaço, pelo despudor.

Por onde segues enxergas aflições que passam ignoradas por outros, sombreando mais ainda semblan­tes já sombrios.

Identificas enfermidades minando organizações físicas e mentais que se gastam na perversão dos costu­mes entre esgares e angústias.

Pode parecer-te que no roteiro escolhido somente estão os trôpegos e estropiados, os enfermos e mendi­gos sob lancinante opressão.

As outras vias se te afiguram formosas e os que por ali avançam demonstram louçania.

Não te enganes, porem.

A ferida purulenta que todos enxergam é irmã menor do câncer ignorado a adentrar-se pelo organis­mo, em metástase irreversível.

A miséria vestida de andrajos é companheira dos malogros morais escondidos em linho e adamascados custosos.

O festival do prazer termina, invariavelmente, em prólogo de desgraça.

A direção por onde seguem os fáceis conduz àpraça sem nome do remorso tardio.

Numa das suas últimas publicações Darwin regis­trou que certa vez, embora enfermo e gasto, conseguiu contar ao microscópio mais de vinte mil sementes de determinada planta.

Fresnel, sem dar trégua ao cansaço nem ao abati­mento, identificou as “ondas luminosas como sendo vibrações transversais do éter”.

Boas depois de ingentes esforços conseguiu provar que a “raça branca” é de todas a mais mesclada e em nada é superior às demais, ensejando bases para melhor confraternização entre os homens.

Todos os construtores do pensamento e das idéias que possibilitaram novas conquistas através dos tempos vergaram, infatigáveis, ao peso de mil aflições silencio­sas, vivendo sob rudes ansiedades, seguindo, no entan­to, a direção da verdade que se empenhavam descobrir.

Não estacionaram ante os fracassos aparentes.

Não desanimaram ao defrontar aspérrimas lutas.

Muitos venderam tudo quanto possuíam para não parar; outros perderam tudo para não desistir; diversos ofereceram até a saúde para não interromper os labo­res; e um número sem conta doou a própria vida, víti­mas que foram dos próprios inventos mas, principal­mente da ignorância em várias manifestações, para não abandonarem a honra de investigar os melhores meios de resolver os problemas do homem e do Universo para a felicidade do próprio homem.

Prossegue na direção espírita.

Há pranto em volta de ti e choras também. En­xuga, no entanto, as lágrimas alheias e as próprias lá­grimas usando o conhecimento espírita.

A lição espírita ensina o porquê da aflição e o como sofrê-la, oferecendo a luz do discernimento para agires com acerto e seguires com determinação.

Na diretriz espírita aprendes “que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproxi­mam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da ma­téria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para experimen­tá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e pro­teção ao Fraco, porqüanto transgride a lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo dos Espíritos nada podendo, estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas; que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvemos procedido mal Constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espíri­tos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.

“Mas, ensinam também (os Espíritos) não haver faltas irremissíveis, que a expiação não possa apagar. Meio de conseguí-lo encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conformemente aos seus desejos e esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino final”; conforme defi­niu Allan Kardec sabiamente no seu resumo da Dou­trina Espírita. (*)

Avança, portanto, pautando a conduta na firmeza dos postulados abraçados, e se o caminho parecer áspe­ro, de difícil acesso, recorda Jesus na direção do Bem inominado sofrendo todas as ingentes manifestações da ignorância e da impiedade humanas sem desistir nem desanimar, para oferecer à posteridade o código de amor e justiça inserto no Evangelho como meio de har­monia perfeita para o espírito em evolução e que hoje reaparece ao teu entendimento na diretriz espírita por onde receias seguir.

(*) O Livro dos Espíritos — Introdução 29ª Edição — FEB. (Nota da Autora espiritual).


2

DESLIZES OCULTOS

“167. Qual o fim objetivado com a reen­carnação?

“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Punge-te o coração o sofrimento do hanseniano lacerado, com amputações, carpindo rude expiação.

Aflige-te o espírito o obsesso emparedado nos cor­redores escuros do desalinho psíquico.

Angustia-te a sensibilidade o canceroso com prazo marcado na contingência carnal...

Faz-te sofrer o cerceamento social imposto ao de­linqüente, que se comprometeu por infelicidade mo­mentânea, arruinando outrem e a si mesmo inf e-licitando.

Constrange-te a visão do deformado físico, tera­togênico ou vítima circunstancial de um desastre ou tragédia, que arrasta a ruína orgânica, em viagem de longo curso.

Suscita-te piedade o espetáculo deprimente dos órfãos ao desamparo e dos velhinhos sem agassalho, exibindo a miséria nas ruas do desconforto.

Confrangem-te o peito os caídos ao relento, que fizeram dos passeios e portais rústicos de ruelas escuras o grabato de dolorosas provações.

Dói-te a patética das mães viúvas e esfaimadas e dos enfermos sem medicamentos ou, ainda, dos esque­cidos pelo organismo social.

Todos são passíveis do teu melhor sentimen­to de amor e compunção.

Ao fitá-lo, recordas-te dos “filhos do Calvário” e evocas, naturalmente, Jesus...

Eles, porém, estes sofredores, estão em resgate, dependendo deles mesmos a felicidade para o amanhã.

Já foram alcançados pelo invencível poder da Lei Divina.

Outros há que passam distribuindo simpatia e cordialidade, merecedores, no entanto, da mais profun­da comiseração.

Alguns têm o corpo jovem, e fazem dele merca­doria de preço variável na insegura balança das emo­ções negociáveis.

Muitos sorriem e são tiranos da família, que esmagam impiedosamente.

Vários são disputados nas altas rodas das comu­nidades e vivem do fruto infeliz das drogas estupefa­cientes.

Diversos mantêm bordéis e aliciam jovens le­vianos.

Uns jogam na bolsa da usura e ludibriam corações invigilantes e arrebatados...

Outros comercializam a honorabilidade do lar ou envilecem a dignidade dos ascendentes.

Inúmeros são agiotas corteses, conquanto inescru­pulosos e cruéis.

Incontáveis caluniam, amaldiçoam, apontam as falhas do próximo e, aparentemente, são justos, leais e bons.

Alçados alguns às posições invejáveis das artes, da política, das religiões são mendazes e empedernidos, delicados por profissão e criminosos disfarçados.

Uma infinidade destes, porém, ao nosso lado ou sob o nosso teto parecem nobres e honrados, sadios e corretos, mas não são..

Aqueles, os em resgate, possivelmente encontram-se arrependidos, ou, sob o látego da dor predispõem­-se às tarefas de recomeço feliz, mais tarde.

Estes, como são ignorados pelas leis dos homens, desconhecidos dos magistrados, prosseguem na carrei­ra insidiosa da loucura que os arrasta à meta do auto­cídio direto ou indireto.

Ludibriando sempre, esquecem-se de si mesmos.

Não os esquecerá, todavia, a Lei.

O que fazem e como o fazem, o que pensam e contra quem pensam inscrevem-no, gravam-no no perispírito com rigorosa precisão, para depois...

Todas as culpas ocultas se transformarão em feri­das que clamarão pelo tempo e espaço medicamentos eficazes e dolorosos.

Expoliadores dos bens divinos, experimentarão o fruto da falácia e da zombaria.

Ouviram, sim, através dos tempos, os apelos da verdade e da vida.

Conheceram e sabem qual a trilha da retidão.

Podem agir com acerto.

Preferem, no entanto, assim. São os construtores do amanhã.

Ora e apiadas-te, meditando neles e nos seus cri­mes disfarçados e ocultos, para te acautelares.

A queda e o erro, o ato infeliz e o compromisso negativo que os demais ignoram, todos podem condu­zir em silencioso calvário. É necessário, porém, o esforço para a reeducação da mente e a disciplina do espírito.

Todas as vezes em que o Mestre ofereceu miseri­córdia e socorro a alguém no sublime desiderato do seu apostolado redentor, foi claro e severo quanto à não continuidade no erro.

Pensando nisso, dilata o amor aos sofredores, a piedade aos geradores de sofrimentos, mas cuida de não te comprometeres com a retaguarda, porqüanto amanhã, diante da consciência liberta, as tuas sombras serão os fantasmas a criarem problemas contigo ante a Lei Sublime do Excelso Amor.


3

NAS DORES E RUDES PROVAÇÕES

“169. É invariável o número das encarna­ções para todos os Espíritos?

“Não; aquele que caminha depressa, a mui­tas provas se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porqüanto o progresso é quase infinito.”

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Levanta o espírito combalido e avança na direção do bem que te convida à felicidade.

Quantos se demoraram no exame dos insucessos, recolhendo reproche e coletando amarguras, estão na retaguarda, em dolorosas lamentações.

Aqueles que colocaram a lâmina cortante da intri­ga e da suspeita no coração, receosos de movimentos libertadores, continuam temerosos entre os que fica­ram para trás.

Todos os que fizeram libações perigosas na taça do medo, encontram-se narcotizados, sem força para reagirem contra o mal, para seguirem intimoratos na direção da verdade.

Muitos que se ligaram à hipnose perturbadora da impiedade, que medra em vigorosas mentes desencar­nadas, acumpliciaram-se com as hordas selvagens do Além-Túmulo, sucumbindo, inermes, sob tenazes rudes.

O medo como o arrependimento são ópio nefasto para a alma.

Como a censura é carro de cinza e lama, a triste­za e a taciturnidade são nimbos compactos ante o claro sol, dificultando a expansão da luz.

Não permitas que a névoa do cansaço ou a noite do desencanto povoem o país da tua alma com fantas­mas que se desintegram ao contato da verdade.

Não os vitalizes, não os agasalhes.

O cristão decidido está entregue a Jesus, nEle confia, a Ele se dá. E se a dificuldade teima em per­segui-lo, como se tomasse corpo e movimento, ele se arma com a oração e o amor, e avança.

Se a desordem reina, ele faz-se o equilíbrio de todos.

Se a dor impera, ele é a esperança de saúde para todos.

Se o desespero cresce ele é o porto de segurança onde todos se encontram.

Se o mal, em qualquer manifestação reponta, ele é o bem em representação atuante e vigorosa, ajudan­do e confiando sem temor nem cansaço até o fim.

Não te deixes, portanto, abater, nunca. Lembra-te de que Jesus, podendo ter vivido cerca­do de bajuladores e comparsas, guindado às altas esfe­ras do mundo entre prazeres e facéias, no gozo ilusó­rio do imediatismo carnal, escolheu os recintos onde se demorava a dor, e para companheiros homens sim­ples e corações problematizados, amigos atormentados e perseguidos, perseguido Ele mesmo, para logo depois de julgamento arbitrário e cárcere humilhante, seguidos de ignominiosa crucificação e obscura morte, alçar-se às excelsas planuras da Imortalidade, vitorioso e subli­me, continuando a esperar por nós, pelos séculos sem-fim, nos infinitos caminhos do tempo.


4

NÃO SÓ JUSTIÇA

“Todos os Espíritos tendem para a perfei­ção e Deus lhes faculta os meios de alcançá-­la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não pu­deram fazer ou concluir numa primeira prova.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS (Comentários de ALLAN KARDEC à resposta 171).

— “Vale de lágrimas”! — exclamam corações em tormento.

— “Região de trevas e desespero”! — propõem sofredores de diversos matizes.

— “Oásis de gozo” — afirmam os doentes do prazer.

— “Recanto de delícias” — esclarecem os forni­cadores da loucura.

— “Colônia de alegrias ao alcance da sagacidade” — expõem cerebrações enrijecidas no mal.

— “Punição, viver” — bradam uns.

— “Vivamos e gozemos” — proclamam outros.

“Viver é pagar alto tributo à vida” — gritam alguns revoltados.

“Viver é aproveitar o favor da oportunidade” — repitam os desassisados.

A carne, como porta de renascimento, é alta con­cessão da Divinidade para a felicidade do espírito.

A Terra é abençoado educandário onde se for­mam valores e se afirmam expressões superiores para a Vida.

Atados à conceituação deficitária da unicidade da experiência carnal para o espírito, os discípulos de tal escola, contemplam, estarrecidos, a dor, formulando hipóteses cruéis, nas quais mentalizam a Justiça Divina através dos recursos mesquinhos da arbitrariedade humana...

Vinculados a um materialismo grotesco e revel, homens e mulheres desnorteados, derivam no prazer, as apreensões que mantêm quanto à vida-além-túmulo.

Informados da pluralidade das experiências car­nais, face ao sofrimento, há quem diga que a reencar­nação é justiça, severa justiça...

Não só justiça mas misericórdia também.

Alta e valiosa misericórdia significa o trânsito na carne, a recapitulação entre novo berço e novo túmulo.

Por natural evocação das paisagens da vida extra-física, todos guardamos nas telas mentais os sinais da imortalidade.

Estes relutam e asfixiam as lembranças nos nim­bos cerrados da rebeldia.

Esses reagem e apagam as evocações com a bor­racha da indiferença.

Aqueles insistem na negativa e anulam as recor­dações ante a teimice do prazer.

Todos, no entanto, renascem assinalados pelos ca­racteres trazidos da vida espiritual onde foi cultivada a aflição ou a ventura decorrente da jornada prece­dente...

Aguça os ouvidos e registrarás vozes de ontem, falando hoje.

Educa os olhos e enxergarás companheiros que a morte não consumiu nem aniquilou.

Aprimore a mente e decifrarás os enigmas do mo­mento encontrando-lhes as chaves no pretérito.

Recorda e sentirás que viveste, vives e viverás...

Diante do arguto doutor do Sinédrio, a serenidade e segurança de Jesus afirmaram: “É necessário nas­cer de novo”. E ante as interrogações e dúvidas que assomavam ao interlocutor, Ele expôs: “O vento so­pra onde quer, ouves-lhe a voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim é o espírito”... ense­jando-nos a marcha da evolução, o grande porvir hoje em começo, através da Justiça e da Divina Misericór­dia também.


5

REVOLTA

192. a) — Pode ao menos o homem na vida presente, preparar com segurança, para si, uma existência futura menos prenhe de amarguras”?

“Sem dúvida. Pode reduzir a extensão e as dificuldades do caminho. Só o descuidoso per­manece sempre no mesmo ponto.”

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Indiscutivelmente, defrontas a revolta em toda a Terra, carregando u’a máscara de mil faces com que se apresenta, dominadora.

Revolta da pobreza que não se pode adornar de ouro frio nas competições infrenes do luxo...

Revolta da fortuna porque não pode conquistar o mundo, cavalgando as consciências honradas...

Revolta da vaidade que não logra sobrepor-se àdignidade alheia...

Revolta de quem não pode disseminar a perversão moral...

Revolta daqueles que não souberam preservar a saúde...

Revolta de quantos tombaram nos testemunhos àvirtude, resvalando nos lamaçais do vicio...

Revolta da ignorância por não envenenar a cultu­ra que lhe desvela a cegueira...

Revolta do mal por não dispor de recursos para instaurar a anarquia no mundo...

Revolta da ambição dos que muito possuem e não estão satisfeitos, fazendo-se, eles mesmos, escravos do que ainda não têm, e revolta da ambição dos que nada têm, atormentando-se, eles próprios, na grilheta da pos­se que ainda não lhes chegou às mãos, olvidando, todos eles, o aproveitamento dos bens disponíveis para a dis­seminação da alegria e da felicidade nos corações...

Revolta dos que não têm fé, atirando-se nos ci­poais do desespero, longe da disposição de aprimora­mento da alma, e revolta dos que receberam o chamado da fé, mas não foram poupados aos necessários resgates das velhas dívidas, comprometendo-se, ainda mais, nos espinheiros da reclamação injusta, em flagrante des­respeito às sábias Leis que regem a vida...

Há, porém, uma revolta mais lamentável: aquela que surge na inconformação do homem esclarecido pe­la consoladora Doutrina de Cristo e que se embrutece na violência do prazer ultrajante, porque não consegue imprimir aos caprichos soezes um cunho superior, es­magando na posse quantos se negam a compactuar-lhe as fraquezas e indignidades, esquecido de que o cami­nho da paz é pavimentado de renúncia e humildade, embora a aflição que corrói e gasta.

Liberta-te da revolta de qualquer espécie e busca examinar, através do amor total, os recursos ao teu alcance, desdobrando esforços para a utilização justa do tempo e da dor, convertido em experiência primoro­sa, em favor da tua integração nas tarefas a que te propões, a benefício de ti mesmo, porque “só o descui­doso permanece sempre no mesmo ponto”.


6

MENTORES E TAREFAS

“491. Qual a missão do Espírito protetor?

“A de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas “pro­vas da vida.”

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

O processo de transferência de responsabilidade vigentes entre os encarnados, lentamente está sendo aplicado na Seara Espírita pela invigilância dos com­panheiros residentes na organização física.

Considerando os Instrutores Espirituais amigos devotados e incondicionais como realmente o são, para estes pretendem relegar, por ignorância doutrinária, as tarefas e realizações que lhes dizem respeito, justifi­cando tal conduta com as referências de amor.

Amor para aqueles que assim pensam e agem significa servidão; e justiça, para eles, passa a ser coni­vência com os seus erros.

Convidados à fidelidade aos postulados de fé que afirmam abraçar, mediante o testemunho pelo sofri­mento, gritam pelos Amigos Espirituais, rogando liber­tação das dores.

Diante de problemas que a serenidade e o discer­nimento podem solucionar, exoram aos Benfeitores De­sencarnados, a fim de que afastem o fardo.

Incompreendidos nas atividades a que se dizem afervorados e fiéis, clamam pelos Espíritos Amorosos exigindo seja comprovada sua inocência.

Enfrentando dificuldades no lar, solicitam aos Ins­piradores Espirituais que atendam a família, amenizan­do-lhes as provas domésticas.

Empreguismo, melhoria de “sorte”, afetos, posi­ções de destaque são partes essenciais dos seus requeri­mentos aos Espíritos Superiores, no sentido de recebe­rem no Mundo Maior tais concessões, sem qualquer esforço apreciável.

E quando enfrentam o portal da vida verdadeira, após a desencarnação, exigem a presença dos Espíritos Felizes para os conduzirem às Excelsas Mercês...

Há diversos desses exploradores espirituais que se dizem beneficiários contínuos dos Espíritos Nobres, continuando, no entanto, asseveram, “muito necessita­dos de socorro e orientação”.

Esquecem-se de que os Instrutores Sublimes orien­tam e socorrem mas não realizam as incumbências que não lhes dizem respeito, mesmo quando fortes vínculos do amor estreitado em múltiplas reencarnações, os li­gam aos requerentes.

Sabem que evolução é tarefa individual intrans­ferível e que as Divinas Leis não registram artigos de protecionismo especial ou de condescendência crimino­sa a benefício de uns e em detrimento de outros.

Não executam os Benfeitores Espirituais os com­promissos dos seus pupilos, por conhecerem que o espí­rito ascende na jornada evolutiva, assinalado pelas condecorações próprias, isto é, as cicatrizes e os suores da experiência.

Sofrimento, dificuldade, limitação, doença são ex­pressões de aprendizagem para o uso correto dos recur­sos malbaratados ontem a escassearem hoje.

Ama, desse modo, os teus Protetores Espirituais e respeita-os.

Faze a tua parte conscientemente.

Apóia-te na dignidade do dever e realiza quanto te seja possível.

Encarregados pelos Excelsos Representantes de Jesus Cristo, teus Mentores Espirituais conhecem o pro­grama dos teus compromissos e confiam no teu esforço, realizando a parte que lhes cabe desenvolver.

Respeita-os, Mentores Veneráveis que são, situa­dos acima das questões que engendras e só a ti perten­cem, orando ao Senhor nos instantes difíceis para que a inspiração do trabalho que deves executar flua gene­rosa deles a ti, em intercâmbio refazente do qual re­tornes confiante e renovado.

João Huss convidado ao doloroso testemunho, traído e malsinado, orou ao Pai e deu-se à Verdade sem restrições, numa fogueira, após o que, suas cinzas foram atiradas sobre as águas do Reno...

Joana d’Arc, acossada e perseguida, confiou nas Vozes e sem solicitações inconcussas nem débeis, entre­gou-se ao Socorro Divino, orando, enquanto as labare­das lhe devoravam as carnes..

Lucílio Vanini, confiando na Proteção Superior, foi acusado e queimado vivo, por ateismo, tendo sofri­do, antes da morte, a extirpação da língua por tenazes poderosas...

E Allan Kardec, lutando contra adversários im­piedosos em ambos os planos da vida, para fazer o legado da Mensagem Espírita à posteridade, embora dirigido pelo Espírito Verdade não transferiu o dever assumido antes do berço, entregando-se intemerato e incansável ao labor até a desencarnação, como a infor­mar que os Mentores Espirituais ajudam, inspiram e socorrem, mas a tarefa a cada um compete executar.

7

ARMADURA DE SEGURANÇA

600. A prece torna melhor o homem?

“Sim, porqüanto aquele que ora com fer­vor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espí­ritos para assistí-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.”

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Quando o problema tomou proporções alarmantes ao revés de demandares a fonte augusta da prece, ba­nhando o coração com a água lustral do equilíbrio e da serenidade, hauridos na comunhão com as Esferas Elevadas, te deixaste arrastar por inexplicável desespero que se fez peso morto a complicar os movimentos da tua libertação.

Murmuraste, enraivecido: “Tudo de ruim me acontece!”

Acrescentaste azedamente: “Onde o auxílio su­perior?”

Revidaste com mágoa: “Sou espírita, mas também sou humano!”

Completaste revoltado: “Assim não suporto. De­serto a qualquer hora”!

Gritaste, impelido pela insânia: “Chega! É de­mais! Para fazer o bem não é necessário perder a paz, sofrendo tanto!...“

Quando te candidataste à tarefa cristã com que o Espiritismo te acenava vitória espiritual sobre o pre­térito culposo, sorriste em deslumbramento com a men­te em febre de justa emoção, iluminado por compre­ensível alegria.

Explicaste, confiante: “A fé será minha lâmpa­da na noite do testemunho.”

Esclareceste, empolgado: “Saberei fazer jus à con­fiança do Mestre..

Expuseste, deslumbrado: “Agora encontrei o ro­teiro que me faltava”.

Elucidaste, jovial: “Que o Senhor me honre com o trabalho e a luta na construção da Humanidade melhor!”

Concluíste, fascinado: “Porfiarei até o fim, haja o que houver!

Se a morte chegar às minhas carnes, que ela me encontre de pé no campo!...”

Quando as palavras de renovação dos Amigos Es­pirituais atingem a acústica da tua alma, deixas-te arrastar pelos rios perfumados da emoção, deslizando no barco da esperança.

O céu, no entanto, não se limita aqui ou ali com a terra — interpenetram-se terra e céu.

O entusiasmo dinamiza o espírito de luta mas só a maturidade favorece o espírito com os valores reais e necessários à luta.

É muito comum aguardarem os crentes desta ou daquela denominação religiosa que a Providência Di­vina apresente soluções facilitadas e respostas prontas para todas as questões.

O Espiritismo, sendo a Doutrina resultante das experiências dos desencarnadOS, não favorece a fé acumpliciada com o ludíbrio, não se compadece das promessas quiméricas nem se apóia no culto à perso­nalidade.

Não salva.

Não resolve problemas.

Não adia tarefas.

Mostra a rota salvadora.

Ensina diretrizes seguras.

Apresenta os impositivos da realização.

Favorece o crescimento espiritual.

Produz responsabilidade e enseja libertação.

Veste o discípulo com a armadura de segurança da dignidade real.

Quando o problema vier...

Quando a dor surpreender...

Quando a incompreensão se estabelecer...

Quando a enfermidade se instalar..

Quando a luta eclodir...

Quando a soledade afligir...

Quando... Quando forem convocado à tarefa para a qual o Espiritismo vem armando tua mente e ‘teu coração com os instrumentos rutiLantes da ver­dade, unge-te de humildade, deixa que vibrem as altas harmonias do Cristianismo em teu mundo íntimo, hon­rando-te com a oportunidade de expressar a ti mesmo a excelência do verbo crer, na atividade do ser, pela senda do merecer. E insistindo sem cansaço, porfian­do sem desídia, vencerás trevas e conflitos, refugiando na oração porque, inspirado por Jesus, a Quem deves buscar em todos os instantes da vida, a Ele que, há tanto tempo te tem buscado, paciente...


8

PREGUIÇA

“682. Sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, o repouso não é também uma lei da Natureza?

“Sem dúvida. O repouso serve para a re­paração das forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a fim de que se eleve acima da matéria.”

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Na sua primeira Epístola à Igreja de Corinto, no capítulo onze, versículo trinta, o Apóstolo Paulo infor­ma: “... há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem”.

Em seu zelo incomparável para com o Espírito, o Missionário das Gentes se refere àqueles que não sa­bem portar-se ante a evocação da Ceia do Senhor... Todavia, em nos reportando aos que “dormem”, suge­rimos alguns comentários oportunos, em considerando as lides em que nos encontramos empenhados, tendo em vista a nossa redenção espiritual.

O homem inteligente, que descobre através do Es­piritismo os objetivos essenciais da reencarnação, fácil­mente se liberta das superficialidades, aprofundando o interesse pessoal nas questões transcendentais, em que se renova e felicita.

Aproveita ao máximo os tesouros tempo e opor­tunidade, valorizando o conhecimento pela sua bem di­rigida aplicação.

Não se deixa engolfar pelas seduções que o ames­quinham nem entesoura paixões que o degradam.

Aprimora os sentimentos e cultiva a mente, a si mesmo permitindo somente os valores ponderáveis e expressivos para a auto-realização.

Procura viver com respeito pela vida, exercitando equilíbrio e sensatez.

Sabe que uma jornada longa, na carne, é uma hon­ra e como aproveitá-la sabiamente é tarefa que lhe compete.

Por análise e dedução compreende que a desen­carnação cedo, raras exceções, é punição que se apli­cam antigos suicidas, cujos fluidos degenerescentes gas­tam a harmonia das células, produzindo desajustes incontroláveis, que os perturbam além-túmulo, pelos choques psíquicos que advêm do renascer e logo desen­carnar...

Em verdade, na Terra, dorme-se em demasia.

Dorme-se por necessidade de refazimento orgâni­co, dorme-se por não se “ter o que fazer”, dorme-se por dormir...

Uma expressiva maioria dos homens ditos civili­zados, na caça de emoções brutalizantes, troca as noites pelos dias e, insensibilizados, dormem.

Outros dormem sob hipnose vigorosa de mentes que intercambiam com suas mentes, impossibilitando-lhes o estudo, a atenção, o trabalho...

Dormem no lar, dormem em reuniões de qualquer natureza, quando edificantes e úteis, dormem no trans­porte, dormem no trabalho. .. Hibernam-se pela compulsória obsessiva e, mesmo desencarnados perma­necem em estado de sono com os centros da consciên­cia lesados.

Enfermidades se desenvolvem facilmente quando a inércia mental lhes concede campo!

Males se agravam naqueles que, tardos, não ofe­recem ressistência às aflições que os visitam.

Autocídios inconscientes se desenvolvem ignora­dos, nos que mantêm a casa mental vazia de objetivos superiores.

Amolentados, deixam-se arrastar pela preguiça, e esta trabalha a indumentária que mata, por cons­trição, o corpo de qualquer ideal em desenvolvimento e asfixia toda expressão de luta.

O título universitário conferido sem mérito éadorno ridículo.

O instrumento que reluz, sem utilidade, torna-se incômodo.

O espírito encarnado inoperante é prejuízo na eco­nomia social.

Desperta para a vida.

Exercita mente e membros na ação.

Luta contra os vapores entorpecenteS que te ven­cem a lucidez mental.

Atua, diligente, onde estejas. Em todo lugar há oportunidades para quem gosta de trabalhar.

O problema que muito se destaca na atualidade é o da preguiça.

Empreguismo, fácilidade, repouso, amolentamen­to moral, prazer são condimentoS que temperam a pre­guiça a funcionar qual ferrugem destruidora nas engre­nagens do espírito, corroendo o homem.

O cristão decidido, a exemplo do seu Mestre, éatuante, adversário natural e espontâneo desse corro­sivo odiento, no entanto, muito requestado e bem aceito.

Quando sentires, sem motivos procedentes e reais, moleza e avassaladora necessidade de repouso demora­do, desperta e produze.

Não durmas senão o necessário.

Vigia e ora.

Jesus no Horto, à hora do testemunho doloroso, mais de uma vez, encontrou-se a sós, apesar dos com­panheiros ao seu lado... dormindo.

E como a desencarnação advirá agora ou mais tarde, prefere partir cansado ou extenuado produzindo para o bem, a partir radiante de saúde e estuante de força nos braços amolentados da preguiça.


9

SERVE E CONFIA

“784. Bastante grande é a perversidade do homem. Não parece que, pelo menos do pon­to de vista moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos?

“Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que o homem se adianta, pois que me­lhor compreende o que é mal, e vai dia-a-dia reprimindo os abusos. Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para tornar compreen­sível a necessidade do bem e das reformas:

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Alma que sofre, olha a terra encharcada e ferida, coberta de árvores quebradas e banhada pelas águas dos rios transbordantes!

Aqui e ali a destruição e o lamaçal assinalam a passagem terrível da tormenta desenfreada.

Contempla o jardim despedaçado pelo granizo e o vento, deixando flores mortas no chão e raízes acima do solo.

Fita as águas lodosas dos rios cheios conduzindo destroços e morte..

A devastação passou abraçada à ruína e a vida periclita em derredor.

No entanto, no dia seguinte, brilha o sol genero­so. Osculando tudo, indistintamente, leva a toda a parte a bênção da esperança e do refazimento.

Confiante, o homem resolve cooperar com a men­sagem de mais alto. Abre valas, desvia os cursos dágua, revolve a terra, retifica a vegetação destroçada e semeia na gleba úmida.

O tempo se encarrega de devolver a esse homem resoluto a beleza da paisagem, a bênção do grão e o doce aroma das flores espalhado no ar... E o sol compassivo segue adiante.

Vai mais além, alma em sofrimento, e fita a terra ressequida, o chão ferido pelas setas douradas do sol, os rios em pó, nem água nem lama, a vegetação cresta­da e a vida a morrer...

A seca impiedosa tudo destruiu.

Todavia, subitamente, carreadas por ventos bons, nuvens andantes entornam suas ânforas cheias, cobrin­do de umidade e vida a terra torturada.

O homem, animado pelo auxílio inesperado, corre ao chão e o afaga com os instrumentos de amanho, sendo felicitado, depois, com o verde dos campos e o ouro das espigas, contemplando as fontes cantantes a sombra do arvoredo... E o sol compassivo segue adiante.

Enxuga, então, tuas lágrimas de agora.

Se a tormenta hoje te inunda o coração, desfazen­do o jardim dos teus sonhos ou alagando com as lágri­mas da inquietação o teu pomar de fantasias, aguarda o Sol generoso, doador de bênçãos, serve e confia, se­meando a esperança no próprio coração.

Se a ingratidão queimou o frescor da tua alegria e a injustiça secou o teu rio de confiança na vida, serve ainda mais e mais confia nas abençoadas nuvens por­tadoras da abundância da felicidade. Quando che­garem, renovarão teus celeiros com os sadios grãos da serenidade e da paz.

Cala todas as dores para que a cortina líqüida do pranto não obnubile a visão azul dos céus que te man­darão o socorro em mensagens de luminoso alento.

Hoje significa o teu momento de semear, sejam quais forem as condições.

Deixa ao futuro aquilo que o presente ainda não pode resolver e, sem desfalecimento, serve e confia, observando que “o homem se adianta, pois que melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos”, inspirado, esse homem em crescimento, que te observa a conduta espírita e cristã, nos teus salutares exemplos de fé e serviço.


10

AUTO-DOAÇÃO

“893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?

“Toda virtude tem seu mérito próprio por­que todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendo­res. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinte­ressada caridade”.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Aprende a doar-te, se desejas atingir a prática legítima do Evangelho.

Pregador que se alça à tribuna dourada, derra­mando conceitos brilhantes mas não se gasta nos labo­res que propõe é apenas máquina de falar, inconsciente e inconseqüente.

O verdadeiro aprendiz da Boa Nova está sempre a postos.

Se convidado a dar algo, abre a bolsa humilde, e, recordando-se da parábola da viúva pobre, oferta o seu óbulo sem constrangimento.

Se chamado a dar-se, empenha-se no trabalho, gastando-se em amor, consumindo as energias recor­dando o Mestre na carpintaria nobre.

Há muita gente nas fileiras do Cristianismo que ensina com fácilidade, utilizando linguagem escorreita, falando ou escrevendo, mas logo que é convocada a dar ou doar-se recua apressadamente ferida no amor próprio.

Prefere as posições superiores de mando, distante das honrosas situações do serviço.

Pode ser compa­rada a parasitas em alta posição na árvore de que se nutrem, inúteis.

Em comezinhos exemplos, encontrarás, no quoti­diano, o ajudar-gastando-se.

A pedra que afia a lâmina, consome-se no mister.

A grafite que escreve, desaparece enquanto re­gistra.

O sabão que higieniza, dissolve-se, atendendo ao objetivo.

Em razão disso, não receies sofrer nas tarefas a que te propões.

São os maus que te necessitam. Os enfermos te aguardam e os infelizes confiam em ti.

Pede a ti mesmo, algo por ele, e embora o teu verbo não tenha calor nem a tua pena seja portadora da fraseologia retumbante, haverá sempre muita beleza em teus atos e muita bondade em teus gestos quando dirigidos àqueles para quem, afinal, a Boa Nova está no mundo, recordando que Jesus, após cada pregação sublime, dava-se a si mesmo para a felicidade geral.

A estes oferecia a palavra de alento e paz.

Àqueles ministrava, compassivo, lições de vida e gestos de amor.

A uns abria os olhos fechados ou os ouvidos moucos.

A outros lavava as mazelas em forma de pústulas ou recuperava a paz, afastando os Espíritos infelizes.

E a todos se doava, sem cessar, cantando a Boa Nova e vivendo-a entre os sofredores até a Cruz, que transformou em ponte de luz na direção da Vida Im­perecível.

11

OBSIDIADOS

“972. Como procedem os maus Espíritos para tentar os outros Espíritos, não podendo jogar com as paixões?

“As paixões não existem materialmente, mas existem no pensamento dos Espíritos atrasa­dos. Os maus dão pasto a esses pensamentos, conduzindo suas vítimas aos lugares onde se lhes ofereça o espetáculo daquelas paixões e de tudo que as possa excitar’’.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Jornadeiam sob dramas angustiantes que vivem mentalmente.

O pensamento dirigido por lembranças vigorosas do passado não consegue romper os laços que o vincula à rememoração continuada.

Atormentados em sinistros dédalos íntimos, desfazem a máscara da aparência sob qualquer impacto emocional.

Irritadiços, vivem desgovernados.

Traumatizados, são sonâmbulos em plena incons­ciência da realidade.

Trânsfugas, não conseguem fugir aos cenários de sombras onde residem psiquicamente.

Refletem nas atitudes o próprio desgoverno e so­frem aflições que procuram ocultar, amedrontados.

A maioria esconde o pavor por detrás da aspereza em que se enclausura.

Uns enxergam os adversários do mundo íntimo em todos os que os cercam.

Outros ouvem em todas as expressões verbais o sarcasmo de que são vítimas incessantes.

Transitam, atordoados, monologando ou travando diálogos de vil hostilidade.

Nos painéis da tua mente muitas outras mentes procuram refúgio, constrangendo-te ao recuo.

Falam contigo, procurando recordar-te...

Apresentam-se à hora do parcial desprendimento pelo sono, tentando imprimir nos centros sensíveis os seus espectros em cujas fáceis a dor e a revolta se refletem.

Atropelam-te, imiscuindo-se nas tarefas que te dizem respeito e interferindo mesmo em questões insig­nificantes do dia-a-dia.

Inspiram-te sombrias maquinações.

Transmitem sugestões malévolas.

Zombam da tua resistência.

Assediam a tua casa psíquica.

Também eles, os outros companheiros do envol­tório carnal, igualmente sofrem a compressão desses desencarnados em estado pestilencial do ódio.

Como tu, também lutam tenazmente.

Alguns já se renderam, deixando-se arrastar sub­missos.

Diversos estão recorrendo aos estupefacientes a fim de fugirem, caindo, logo depois, indefesos, nas ciladas bem urdidas em que se demoram hipnotizados.

Muitos buscam a ação dos eletrochoques e da in­sulina e repousam apagados sem recobrarem, logo mais, a paz, voltando às evocações logo cessam os efei­tos psicoterápicos de um ou de outro.

E há os que procuram em vão, na infância, as causas de suas aflições, deixando-se analisar...

Ignoram, todos eles, as causas transcendentes dos sofrimentos, a anterioridade das obsessões.

Com todo o respeito que nos merecem os métodos da Ciência e as modernas doutrinas psicológicas, asso­cia a prece e o passe às demais terapêuticas de que te serves.

Faze da prece um lenitivo constante e do passe um medicamento refazente.

Renova a mente com o recurso valioso da carida­de fraternal.

Sai da cela pessoal e visita outros encarcerados, trabalhando por eles, socorrendo-os, se estiverem em situação mais grave e danosa.

Insculpe no pensamento as asas da esperança e alça a mente às Regiões da Luz, assimilando o hálito divino espalhado em toda a parte.

Sentirás estímulo para lutar e ajudarás, através das atitudes de renovação, os próprios perseguidores desencarnados.

Ora por eles, os teus sicários.

Serve-te do passe evangélico e procura assimilar as energias que te serão transmitidas.

Mas, sobretudo, faze o bem, ajuda sem cessar, harmoniza-te e tem pa­ciência.

O tempo é um benfeitor anônimo.

Diante de obsessores e obsidiados o Excelso Psicó­logo manteve sempre a mesma atitude: amor pelo enfermo na carne e piedade pelo enfermo desencarnado, libertando um e outro com o beneplácito da sua mise­ricórdia e os conclamando. a realizarem a tarefa de renovação pelo trabalho, em incessante culto ao perdão pelo amor, em cujas páginas se inscrevem a paz e a felicidade sem jaça.


12

MEDICAMENTO EFICAZ

“Ora, o Espiritismo, que entende com as mais graves questões de filosofia, com todos os ramos da ordem social, que abrange tanto o homem físico quanto o homem moral, é, em si mesmo, uma ciência, uma filosofia, que já não podem ser aprendidas em algumas horas, como nenhuma outra ciência.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 1ª parte, Capítulo 2º — Item 13.

Desde que o clarão estelar do Espiritismo norteia tua vida, abrindo clareiras luminosas no matagal por onde avanças, em plena vilegiatura carnal, ama aos espíritos árduos que te seguem em pós, na intimidade do ninho doméstico ou em volta das tuas relações.

O obsessor ultriz, que zurze o açoite da impieda­de, quando no além, ao se reemboscar no invólucro de cinza e lama, que se torna matéria, não modifica a estrutura do próprio caráter.

Impulsionado pela Lei ao renascimento junto ao teu coração, esse cobrador insaciável é a tua vítima dantanho, exigindo-te humildade e resgate.

Amarga as tuas horas; inutiliza os teus melhores planejamentos; inquieta os teus momentos de paz; som­breia o sorriso nos teus lábios antes que irrompa; avi­nagra o sabor dos teus sonhos; impiedoso, é fiscal e cobrador que não cessa de exigir.

Se o encontrasses no santuário mediúnico certa­mente terias comiseração e piedade, oferecendo-lhe o perdão de que tem necessidade, em bagatelas de enten­dimento fraternal.

Faze de conta que o corpo de que ele se utiliza, oferece uma psicofonia atormentada de longo curso.

Doutrina-o com o silêncio da resolução firme.

Esclarece-o com o verbo eloqüente da paciência.

Ilumina-o com a claridade da tua fé regeneradora.

Tudo isso podes fazer, porque a Doutrina Espírita te ensinou, desde ontem, que irrompeste de um passa­do sombrio para a madrugada imortalista de bênçãos.

A eternidade por que anseias, sem passado e sem futuro, no entanto, vige no teu coração em cada ins­tante, anulando as sombras e estuando de claridades.

O clan Júlia, em Roma, a família Médicis, em Florença, as casas Tudors e Stuarts, na Grã-Bretanha e o poderio dos Bourbons, em França, fizeram à histó­ria um legado de obsessões tormentosas, em família.

Ascendentes perseguidos renasceram nas carnes de descendentes perseguidores.

E em todos eles como em outros tantos, parentes pela consangüinidade e colaterais estiveram no círculo vicioso e estreito de obsessões irreversíveis e cala­mitosas.

Ignoravam todos esses infelizes o sublime roteiro do Espiritismo cristão. E ainda hoje como há pouco, famílias e famílias estão enleadas nas obsessões devas­tadoras em que se extingüem para recomeçar, rastrean­do ódios; vinditas há que se consomem em loucuras e aniquilamentos recíprocos, porque não dispõem da Mensagem Espiritista, esse clarão estelar, que consubstancializa a verdade, na noite de sombras da consciên­cia pervertida.

Tu tens, porém, no Espiritismo que restaura o Cristianismo na sua pujança inicial “O Livro dos Es­píritos” e o “Livro dos Médiuns” esses medicamentOS eficazes para todas as enfermidades do espírito e do corpo, já que aflições têm as suas nascentes no imo do espírito imortal.

O Livro Espírita que te liberta da ignorância e da superstição é o amigo incondicional da tua lucidez, oferecendo-te pão e lume, agasalho e remédio para as horas difíceis de provança da tua jornada atual.

Como o amor, segundo preceituou Jesus, é a alma da vida e a caridade é a vida da alma, os Espíritos Su­blimes que vieram corporificar a mensagem cristã na Terra, para a redenção da Humanidade, foram explí­citos: o estudo é o libertador do homem, no cadinho difícil das reencarnações dolorosas, porqüanto o conhe­cimento dá-lhes armas para se librarem acima de todo o mal e viverem todo o amor nas trilhas santificantes da caridade com Jesus.


13

COM DIGNIDADE

“O verdadeiro espírita jamais deixará de fazer o bem. Lenir corações aflitos, consolar, acalmar desesperos, operar reformas morais, essa a sua missão. É nisso tambem que en­contrará satisfação real.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 1ª parte, Capítulo 3º — Item 30.

Queixosos expelem, intermináveis, o amargor das aflições, cultivando-as, no entanto, prazerosamente. Conhecem os meios de libertação do sofrimento e se afervoram à insânia.

Pessimistas espalham fartamente a indigência mo­ral a que se apegam, embora saibam que a esperança agasalhada no imo lhes concederia tranqüilidade.

Enfermos insistem na descrição dos males a que se vinculam, apesar de identificarem nominalmente os antídotos para as mazelas que descrevem.

Viciados lamentam a própria “sina”, enquanto se firmam nos propósitos da auto-piedade sem o menor esforço pela recuperação deles mesmos.

Sabem dos métodos curadores mas prosseguem inveterados.

Inquietos comentam a instabilidade emocional de que são vítimas, solicitando excusas, todavia perseve­ram na sementeira da irresponsabilidade como se igno­rassem os males que praticam.

Mendigos da piedade exibem chagas imaginárias e enredam-se em problemas que estão longe de possuir. Entretanto, podendo seguir a rota da ação enobrece­dora, insistem no círculo estreito da infelicidade que engendram.

Outros mais, acalentando viciações mentais diver­sas formam a caravana dos cômodos da realização su­perior, aguardando comiseração e socorro que, no entanto, se negam a aceitar.

Solicitam auxílio dos outros e possuem em si mes­mos os recursos necessários para o equilíbrio.

Desejam cooperação sem a idéia de oferecer pelo menos receptividade.

Pedem e não doam sequer a quota mínima de esperança.

São os que aprenderam felicidade pelas vias tor­mentosas da fraude.

Preferem o parasitismo.

Agradam-se em viver assim, vítimas hipotéticas da vida e da Lei Divina, herdeiros, porém, da preguiça que elegem como nubente ideal.

Estão sempre contra, do outro lado, revoltados, quando a migalha da compaixão real de alguém ou da falsa piedade geral não lhes chega à arca da insatis­fação.

Acautela-te!

Junto a ele ajuda em silêncio, sem perda de tempo.

Convivendo ao lado deles, ora em silêncio para não te identificares com a sua vibração.

Fazendo o exame de consciência habitual, corrige as disposições mentais quando amolentadas para te não incorporares à malta deles.

Confunde-se amor, a todo instante, com senti­mentalismo injustificável e pretende-se que o Evange­lho, apresentando o amor como o excelente filão da vida, seja um valhacouto de caracteres irresponsáveis e espíritos fáceis.

Se assim fosse, seria o mesmo que transformar a ordem do Universo, em nome do amor ao capricho dos tíbios e dos parvos.

Em passagem alguma da Boa Nova, encontramos o Rabi na usança da falsa piedade ou na acomodação com a indolência.

Construtor do Orbe, não pode ser considerado um incipiente.

Administrador da Terra, não poderia ser confun­dido com um acolhedor de néscios.

Foi, por excelência, a ação dinâmica.

De atitudes firmes e caráter diamantino em hora alguma se manifestou como um fraco ou fez a apologia da cobardia.

Se proferiu a morte, fê-lo pelo heroísmo de não chafurdar as coisas elevadas do espírito indômito com as dissipações do corpo frágil.

Se se deixou conduzir a um julgamento arbitrário, fê-lo para não postergar os direitos de exemplificar o valor da verdade, passando-os a mãos acumpliciadas com a criminalidade.

Se permitiu docilmente a traição de um amigo, teve em mente lecionar vigilância, oração e dignidade, prescrevendo, em silêncio, que sublimação é tarefa pes­soal, intransferível.

Se conviveu com a gente dita de “má vida” ensi­nou, através disso, que as aparências físicas não refle­tem as realidades básicas da existência.

E em todo instante foi forte: na multidão, em so­ledade; no aparente triunfo, no abandono aparente; pregando a esperança, sorvendo o vinagre e o fel; no instante supremo, na ressurreição insuperável.

A mensagem que nos legou, ofertou-no-la vibran­te, estóica.

O Evangelho é repositório de força, vitalidade, vida. Vazado em termos de meiguice mudou a rota dos tempos.

Desvelado, agora, pelos Espíritos Imortais, modi­ficará a face do Orbe.

“Reconhece-se o verdadeiro espírita — disse Allan Kardec — pela sua transformação moral, pelos esforços que emprega para domar suas inclinações mas

Imanado ao espírito do Espiritismo que te liberta da ignorância e das sombras, elevando o padrão moral da tua vida, preserva-o dos que o utilizam com cho­carrice e deles se servem como arrimo para esconde­rem as misérias espirituais em que se comprazem.

De referência ao amor, não dês lugar à zombaria e não zombes, não agasalhes supertições nem permitas paralelísmos deprimentes, não te concedas leviandades nem perfilhes dissipações alheias, subestimando esse Consolador que enxuga suores e lágrimas mas que, aci­ma de tudo prescreve dignidade na luta, inspirada no Herói da Ação Incessante, como normativa segura para a construção de um Mundo Melhor e de uma humani­dade ditosa.

14

COMPROMISSO SIGNIFICATIVO

“Por essa meditação dos nossos ensinos éque conhecemos os espÍritas verdadeiramente sérios. Não podemos dar esse nome aos que na realidade, não passam de amadores de comunicações.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 17º — Item 220 (5ª)

Quando as provações se fizerem mais rudes, escasseando nos celeiros íntimos a coragem e a espe­rança, buscaste o Espiritismo para haurir força nova e descobriste tesouros de abençoada renovação que te felicitaram o espírito.

Respostas que tardavam, chegaram facilmente, eqüacionando problemas aparentemente insolúveis.

Tranqüilidade espontânea dominou os painéis da tua mente sobrepujando alienações injustificáveis, que te ameaçavam a integridade mental.

Alegria pura e simples substituiu os deprimentes estados emocionais que sombreavam as alamedas do pensamento angustiado.

Vitalidade desconhecida retemperou-te o ânimo fazendo-te crer num retorno da juventude.

Ignotas promessas de felicidade enfloresceram na­turais, na esfera das tuas aspirações apagando as den­sas trevas do pessimismo que te dominava..

Fraternidade jamais experimentada derramou o licor da afeição singela em volta dos teus sentimentos, franqueando o teu círculo de operações com amigos, ontem escassos.

Trabalho agradável e beneficente favoreceu tuas horas preenchendo as lacunas do tédio, que te asfixiava em gases letais.

Planos edificantes começaram a corporificar-se no teu setor de atividades humanas e sociais...

Subitamente, porém, as dores voltaram, recrudes­ceram as dificuldades.

Sitiado pela incompreensão de alguns poucos ami­gos novos e afligido pelos resgates do pretérito, que ressumbram agora, inadiáveis, contemplas o desmoro­nar do quanto arquitetaste.

Desejavas que as primeiras impressões do contato com a fé espírita não se desfizessem...

Tudo seguia em ritmo animador.

O sorriso era comensal dos teus lábios e a espe­rança se hospedara no teu coração.

Agora sentes novo desencanto.

O Espiritismo longe de destinar-se a criar uma classe de diletantes da alegria tem como objetivo mo­ral a reforma íntima do homem.

Toda reforma moral implica em esforço titânico e luta demorada.

Os espíritas, por isso mesmo, não são melhores nem piores do que os outros homens. São espíritos em provas.

O conhecimento do Espiritismo não cria o favori­tismo personalista, anulando o valor de cada espírito em crescimento na esfera de ação a que se afervora.

Ultrapassada a fase inicial do conhecimento dou­trinário, o Espiritismo, lenindo as ulcerações do can­didato às suas fileiras explica a função benéfica do so­frimento e as razões fundamentais da reencarnação.

Confere, igualmente madureza ao espírito, e, à semelhança de pedagogo eficiente, conduz o aprendiz pelas diversas classes do educandário evolutivo, inspi­rando-o, lecionando sabedoria e Vivência cristã.

Retifica o estado de ânimo em que te encontras.

Corrige o raciocínio e reflete com calma.

Ponderação é medida diretiva em qualquer ensejo.

Transferir para os outros as deficiências que nos tisnam os propósitos de alevantamento representa fuga espetacular ao dever com justificativas sem fun­mento.

Aquele que travou contato com as lições do Es­piritismo não tem o direito de exigir dos outros nem mesmo o de que é capaz. Compete-lhe melhorar sem­pre, ajudando sempre.

O repasto espiritista é de qualidade superior, e, pois, com o devido respeito, deve ser servido para uma assimilação perfeita.

Mergulha o pensamento e o coração nas lições do Espiritismo libertador e, embora usando a canga ne­cessária para o pagamento dos velhos débitos, afervo­ra-te na Continuidade do trabalho a que te ligaste, nele encontrando o cadinho purificador.

O Espiritismo é compromisso significativo que se assume ante a própria Consciência.

Recorda que Jesus, em aceitando a oferenda da mulher obsidiada, que buscava renovação, exortou-a ao amor incessante, advertindo-a, no entanto, para que não voltasse a pecar, a fim de que a mensagem que se emboscava no seu atribulado espírito fulgurasse como luzeiro sublime por onde seguisse, junto a quem esti­vesse, atestando a excelência do compromisso com a fé santificante.


15

GLÓRIAS E MEDIUNIDADE

“Não creias que a faculdade mediúnica seja dada somente para correção de uma, ou duas pessoas, não. O objetivo é mais alto: trata-se da Humanidade. Um médium é um instru­mento pouquíssimo importante, como indi­víduo.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 20º — Item 226 (5.a).

Desde tempos imemoriais a competição vem ofe­recendo aos triunfadores a coroa de glória com que estes se destacam na comunidade.

Glórias da dominação violenta — glória do po­der exagerado.

Glórias que se manifestam como bafo venenoso de orgulho desmedido, adornadas de branzões reluzen­tes, medalhas vistosas e condecorações pomposas.

Glórias que nascem em rios de sangue e glórias que surgem nos espinheiros da calúnia.

Glórias pela posse que se aprisiona em cofres mortos onde a usura se enfurna acompanhada pela insensatez.

Glórias da perversidade e do crime que permane­cem ocultos sob máscaras afiveladas a faces carcomi­das pela enfermidade moral.

Glórias do aplauso popular, transitório e engana­dor, e glórias do destaque social que emurchece sob o sorriso da ilusão.

As Academias oferecem as glórias que se crista­lizam na prepotência da cultura e na dominação da inteligência.

Os estádios glorificam os seus heróis de um dia.

Glórias e triunfos em todo lugar.

Lauréis aos que sistematizam diretrizes para a vida nos concertos sociais e triunfos que guardam suas vozes no silêncio cruel das preocupações sem palavras.

Sucessos que, no entanto, não seguem além do túmulo.

O cristão não desfruta dos prêmios e das glórias imediatas. Servo do Cristo, no seu Modelo e Guia vê a mais alta expressão do serviço que lhe cabe realizar.

Se te candidatas à mediunidade, no serviço com Jesus, renuncia a quaisquer glórias ou aos enganosos florilégios da existência, porque jornadearás pela senda de espinhos, pés sangrando e mãos feridas, coração azorragado, sem ouvidos que escutem e entendam os teus apelos mudos...

Solidão e abandono muitas vezes para que o exer­cício do dever enfloreça o amor no teu coração em favor dos abandonados e solitários.

Apostolado de silêncio, culto do dever, auto-conhecimento — eis o caminho da glória mediúnica, através de cuja senda encontrarás, no país da alma encarnada, os sentimentos puros que te oferecerão os filtros para o registro da Mensagem de vida eterna, com que o Mestre Divino, de braços abertos, traduzirá aos teus ouvidos a glória da consciência reta, consoan­te o ensino do Apóstolo dos Gentios na 2ª Epístola aos Gentios, Capítulo 1º e versículo 12.


16

NA SEARA MEDIÚNICA

“Todas as imperfeições morais são tantas portas abertas ao acesso dos maus Espíritos. A quem, porém, eles exploram com mais ha­bilidade é o orgulho, porque é a que a cria­tura menos confessa a si mesma. O orgulho tem pedido muitos médius dotados das mais belas faculdades e que, se não fora essa im­perfeição, teriam podido tornar-se instrumen­tos notáveis e muito úteis, ao passo que presas de Espíritos mentirosos, suas faculda­des, depois de se haverem pervertido, aniqui­laram-se e mais de um se viu humilhado por amaríssimas decepções.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 20º — Item 228.

Sim, gostarias de contribuir.

Almejas cooperar na seara dos médiuns e com satisfação nomeias os dons de que eles são investidos.

Este vê as Entidades angélicas e deslumbra-se com a percepção visual dilatada.

Esse ouve as mensagens transcendentes e renova-se para as tarefas difíceis da existência.

Essoutro incorpora Instrutores lúcidos e transfor­ma a boca em instrumento sublime de orientação e consolo.

Aquele escreve em circunstâncias especiais, e as mãos se convertem em raios de luz a esparzirem pági­nas sublimes.

Aqueloutro aplica recursos magnéticos e a saúde escorre pelos seus dedos revigorando a todos.

Outro mais, inspirado pelas Altas-Potestades, in­jeta alento novo nos corações, traçando roteiros aben­çoados para o mundo.

Mais outro e outros tantos materializam, levitam, desdobram-se, realizam intervenções cirúrgicas em ple­no transe, construindo a fé nos corações.

Assim pensas, assim crês.

Mas não são exatas as tuas conclusões.

Muitos beneficiários da mediunidade desertam da seara do dever.

Mediunidade não é apenas campo experimental com laboratório de fórmulas mágicas. É solo de ser­viço edificante tendo por base de trabalho o sacrifício e a renúncia pessoal.

Médiuns prodígios sempre os houve na Humani­dade. Também passaram inúteis como aves de bela plumagem que o tempo destruiu e desconsiderou.

Com o Espiritismo, que fez renascer o Cristianis­mo puro, somos informados da mediunidade-serviço-santificante e com essa bênção descobrimos a honra de ajudar.

Não te empolgues apenas com as notícias dos Mundos Felizes.

Há muita dor em volta de ti, e até atingires as Esferas Sublimes há muito que fazer.

Almas doentes em ambos os planos enxameiam em volta da mediunidade.

Dedicando-te à seara mediúnica não esqueças de que todos os começos são difíceis e de que a visão colorida e bela somente surge em toda a sua grandeza aos olhos que se acostumaram às paisagens aflitivas onde o sofrimento fez morada...

Para que os Mentores Espirituais possam utilizar-te mais firmemente faz-se necessário conhecer tua ca­pacidade de serviço em favor dos semelhantes.

Antes de pretenderes ser instrumento dos desen­carnados acostuma-te a ser portador da luz clara da es­perança onde estejas e com quem estejas, para que ela em se apagando no teu archote não se faça “sombra na sombra”.


17

OBSESSORES

“A obsessão apresenta caracteres diversos, que é preciso distinguir e que resultam do grau do constrangimento e da natureza dos efeitos que produz. A palavra obsessão é, de certo modo, um termo genérico, pelo qual se designa esta espécie de fenômeno, cujas prin­cipais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 23º — Ítem 237.

Efetivamente há muitos tipos de obsessores, inu­meráveis formas de obsessão.

Não somente pela constrição violenta de um de­sencarnado sobre outro encarnado.

Não apenas provocada pelos habitantes da Erra­ticidade.

Obsessor, em bom vernáculo, é todo aquele que causa obsessão, que perturba, que inquieta.

O amor pervertido é obsessor impiedoso.

A maledicência contumaz é corrosivo aniquilante.

O egoísmo vigoroso é verdugo cruel.

A impiedade treda é inimigo fementido.

O despotismo inexorável é companheiro da loucura.

A revolta permanente é sequaz da morte.

O ódio ominoso é précito infeliz.

A avareza mesquinha é algoz hórrido.

O vício de qualquer natureza é comparsa mefítico.

A fraqueza moral é vassalo da destruição

Obsessão por dinheiro.

Fascinação pelo sexo.

Subjugação ao prazer.

Loucura pela posse.

Muitos pensamentos cruzam o éter, na esfera dos homens, estabelecendo contato entre pessoas encarna­das em processos de terrível obsessão.

Idéias fixas que ressumbram dos escaninhos da consciência culpada de ontem supliciam e azorragam, enredando outros comensais do sofrimento em conluios nefandos, de libertação problemática.

Permutas psíquicas em forma de viciação dão vida a larvas e formas mentais lamentáveis que intercam­biam alimentadas por ondas-pensamento poderosas...

E além destas, as obsessões geradas pelos espíritos desnudados da carne, aumentam os problemas afligen­tes que fazem parte da agenda dos homens, dando lar­gas à alienação que campeia desenfreada.

Há, no entanto, na Doutrina Espírita, antídotos valiosos para quaisquer modalidades obsessivas, para todos os obsessores.

Ao apelo do Cristo, o discípulo encontra as armas necessárias para enfrentar os embates da via redentora.

A prece é armadura indestrutível.

O amor desinteressado nas suas manifestações fraternas converte os braços em asas da caridade para o vôo aos Cimos da Vida.

A paciência oferece medicamento eficaz.

E o conhecimento das verdades espirituais ensej a robustez de ânimo e fé, conduta ilibada e renovação para o bem, que servem de base à saúde e ao compor­tamento cristão e salvador.

Exemplifica, pois, sempre e a cada instante, o co­nhecimento espírita, que borda o teu espírito de ale­grias ante as alvíssaras da felicidade perfeita.

Espiritismo é também tratado de sublimação do Espírito.

Modesto ato de humildade projeta luz estelar nas sombras de mentes entenebrecidas que te espreitam.

Singelo gesto de amor representa baga de espe­rança aos que têm fome de compreensão.

Não menosprezes as migalhas cristãs que são exór­dios do teu futuro cabedal de ações santificantes.

Minúsculo pólen é agente da vida.

Humilde gota de essência esparze aroma em derredor.

Se pretendes a montanha altaneira começa a as­censão pela base, acostumando-te lentamente às al­turas.

Escuta a voz do sofrimento nos corações alheios e não negues a tua escudela de bondade cheia de enten­dimento.

O Mestre, antes de alçar-se à glória estelar, lecio­nou, utilizando um grão de mostarda, uma insignifican­te moeda, uma figueira estéril, uma ovelha desgarra­da... Escutou, paciente, os problemas corriqueiros que afligiam o povo e revelou-lhes terapêutica precisa para os diversos males... Verberou, inconcusso, os abusos de toda natureza e o crime, no entanto, sempre magnânimo, não separou a cordura da energia nem a bondade do amor. Sábio e humilde silenciou no Pre­tório a própria defesa, todavia erguera muitas vezes a voz para instruir o fraco e oprimido, clareando as mentes e os corações com a luz dos seus ensinos liber­tadores de obsessão e obsessores, fazendo-nos o precioso legado de uma Doutrina de ação sem florilégios ver­bais ou inflamada retórica vazia...


18

SINCERIDADE

“Aliás, não é de bom aviso atacar brusca­mente os preconceitos. Esse o melhor meio de não se ser ouvido. Por essa razão é que os Espíritos muitas vezes falam no sentido da opinião dos que os ouvem: é para o trazer pouco a pouco à verdade. Apropriam na linguagem às pessoas, como tu mesmo farás, se fores um orador mais ou menos hábil.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 27º — Item 301 (3ª)

Em nome da verdade não apliques a palavra con­tundente sobre a fraqueza daqueles que caminham de­sequilibrados ao teu lado.

A pretexto de servir à causa do Bem não derrames espinhos pela senda onde segue teu próximo, tentando, dessa forma, ser coerente com as próprias convicções.

Falando em nome do ideal que esposas, evita a exposição petulante dos conhecimentos que um dia te conferiram; apresenta-os aos ouvintes com a simplici­dade que agrada e sem a pretensão de emitires o último conceito.

Justificando a tua maneira sadia de viver, não te faças desagradável companhia, usando, indiscriminada­mente, a palavra ferinte e o argumento intolerante, a expressão deprimente e a frase impiedosa em relação àqueles que ainda não podem seguir-te os passos.

Procurando libertar a tua alma do erro, não inten­tes escravizar aos teus caprichos de

pensamentos quantos não têm possibilidade de voar contigo na amplidão do conhecimento.

Nas observações que fazes, não te esqueças que nem todos os seres se encontram preparados para ouvir-te as repreensões, mesmo quando coroadas das melhores intenções.

Procurando ajudar, não te detenhas, apenas, na descoberta da ferida; utiliza-te do singelo chumaço do algodão e cobre a enfermidade com medicação bal­sâmica.

Não te esqueças de que a verdade, semelhante àmoral penetra, lentamente, acendendo luzes na escuri­dão e vencendo trevas sem precipitação em gritos, ge­neralizando-se, poderosa.

Muitas vezes se serve melhor à verdade, calando a palavra ofensiva e constringente que jamais edifica.

Saber e silenciar, receber e guardar, ouvir e reter são manifestações que contribuem mais para a campa­nha de esclarecimento do que expor a verdade, aos gritos, junto às almas que não se encontram prepara­das para a renovação.

Sinceridade!.

Quantas vezes em teu nome se destrói, esmaga-se, desanima-se e persegue-se, acreditando servir à honra e ao bem.

Por isso mesmo, lavra tew campo, meu irmão, semeia a bondade e a luz e, sendo sincero para contigo mesmo, serve ao ideal do Cristo na humanidade intei­ra, ajudando, sém cessar, a quantos caminham pelas tuas veredas.

Não será isto, porventura, o que Jesus faz conosco?


19

RECOLHERÁS COMO PEDIRES

“Numa palavra, qualquer que seja o cará­ter de uma reunião, haverá sempre Espíritos dispostos a secundar as tendências dos que a componham”.

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 29º — Item 327.

Na abençoada Obra de Nosso Pai tudo são trocas. Receberás sempre consoante requereres. Desvairado, se te atiras ao coração querido, ferin­do-lhe a sensibilidade, obterás somente reprimenda nas­cida no desgosto.

Inquieto, se buscas paz, afligindo os que te cercam no lar, recolherás azedume e animosidade.

Combalido, se procuras repouso, exigindo acomo­dação dos outros, receberás apenas repulsa e antago­nismo.

Isto porque, a resposta procede dos termos da pe­tição, de acordo com o merecimento da apresentação.

Não esqueças, entretanto, que o coração magoado é constrangido à aflição, os familiares atormentados es­condem-se no desencanto e os outros, atacados por exi­gências, reagem, naturalmente.

Respeita a mão distendida ao alcance da tua mão e recebe-lhe a oferenda.

Nem ameaces o equilíbrio de quem se inclina a auxiliar-te.

Nem avances exigente para quem estugou o passo na caminhada, ao ouvir-te o apelo.

Aflição projetada traduz aflição que retornará.

Aversão espalhada pressagia antipatia para colhei­ta futura.

Se desejas aspirar o aroma do amor, libertando-te das dificuldades pessoais com o auxilio alheio, não ex­presses confiança sob impropérios nem segurança de fé com chuvas de irritabilidade.

Favorece os meios simples para o trabalho eficien­te e a obra crescerá em torno da tua planificação.

Ajuda para que te ajudem.

Ilumina para que te iluminem.

Coopera-servindo para que a inteligência ambicio­sa não estiole a expressão do coração necessitado.

Pergunta-esclarecendo para que a inutilidade não te assinale a vida.

Fortalece o digno ideal da produção para que a produtividade te enriqueça.

Entende as dificuldades do próximo a fim de que ele te entenda, igualmente, a dificuldade.

Em qualquer dificuldade recorda o poder da ora­ção e roga inspiração ao Céu, realizando sempre o melhor para que o melhor se faça em ti e através de ti sem olvidares que todo apelo encontra resposta, con­soante o merecimento de quem pede e a forma como pede.


20

CONVERSAÇÕES DOENTIAS

“Os médiuns obsidiados, que se recusam a reconhecer que o são se assemelham a esses doentes que se iludem sobre a própria en­fermidade e se perdem, por se não submete­rem a um regime salutar”.

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 29º — Ítem 329.

Semelhante a carro de lixo que espalha emanação morbífica por onde passa, as conversações doentias as­sinalam os roteiros por onde seguem.

Quando se instalam, destroem o domicílio da paz e a suspeita se aloja, vitoriosa, atormentando, impla­cável.

Como gás de fácil expansão, o tóxico da informa­ção menos digna se expande, asfixiando esperanças e matando aspirações superiores.

Por onde passa, a conversação infeliz gera a hipocrisia, desenvolvendo uma atmosfera anti-fraterna em que assenta suas afirmações.

A má palestra nada poupa. Fácilmente se dissol­ve em ácido calunioso ou brasa acusadora; atinge cora­ções honestos e enlameia famílias enobrecidas pelo trabalho; deslustra uma existência honrada com uma frase, atirando ignomínia e desdouro; estimula a men­tira, que se transforma em injúria, fomentando crime e loucura.

Nutrida pela ociosidade a conversação insidiosa é mãe da corrupção moral.

Se os ensinos edificantes tentam exaltar a digni­dade e o dever, oferecendo campo à verdade e ao brio, o veneno da informação descaridosa aparece pretextan­do ingenuidade e destrói, impiedoso, a cultura da dig­nidade.

Surge aparentemente inofensiva numa frase pér­fida para alastrar-se virulenta numa colheita de fel.

Aparece, sorrateira, para imiscuir-se desabrida­mente onde não é esperada, induzindo quantos lhe dão ouvidos à infâmia e ao ódio...

É imprescindível fiscalizar-lhe as nascentes.

O cristão não lhe pode ser complacente. Rigo­roso no respeito aos ausentes, deve vigiar as entradas da mente e as “saídas do coração”.

Cultor da bondade não compactua com as infor­mações aviltantes, devendo eliminar do próprio voca­bulário as expressões dúbias de significação humi­lhante.

Fiscaliza, atento, cada dia, as informações que te chegam ao coração. Se te conduzem vinagre sobre a honra alheia e apresentam as feridas dos outros à tua observação, procura os recursos da oração e da pie­dade, e sempre disporás de bens para não caíres no fascínio negativo das sugestões do mal, renovando todas as. expressões com a mente em Jesus.

O Apóstolo Paulo, advertindo aos Coríntios, pres­crevia na primeira carta aos companheiros de ministé­rio, conforme se lê no capítulo 15, versículo 33: “Não vos enganeis; as más palavras corrompem os bons costumes”.

As conversações doentias são ácidos nos lábios da vida, queimando a esperança em todo lugar. E os que se entregam a tais palestras são “obsidiados que se recusam a reconhecer que o são, (e) se assemelham a esses doentes que se iludem sobre a própria enfermidade e se perdem, por se não submeterem a um regime salutar.”


21

EXAME

“Não basta crer; é preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de tolerância e de desinteresse, sem o que estéril será a - vos­sa fé”.

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte, Capítulo 31º — Ítem 1 —(Santo Agostinho).

Aprofundar a mente na investigação minuciosa das deficiências alheias, mesmo com o propósito aparente de ajudar, seria como derramar precioso bálsamo sobre pântano infeliz com a intenção de saneá-lo ou jogar ácido cruel sobre feridas que demoram a cicatrizar com o pretexto de eliminar o foco infeccioso...

Não convertas a tua caridade mental em sombras densas para que não tropeces em escolhos.

Podes movimentar o tesouro psíquico para reorga­nizar o equilíbrio sem o impositivo de amplir a infelicidade, tornado-a conhecida.

Não transformes a visão em instrumento de obser­vação impiedosa. Nem movimentes o verbo como quem aciona látego cortante, desencadeando sofri­mento.

Exalta a oportunidade de cultivar a esperança.

Difunde a excelência do otimismo.

Distende a alegria junto àqueles que a tristeza venceu.

Louva as mensagens da fé operante ao lado do amigo que caiu fragorosamente.

Acena a todos com novas possibilidades de refa­zimento no bem, demonstrando ânimo sereno e ro­busto.

Supera a tentação de inquirir muito para compre­ender, desdobrando o trabalho que renova e restaura.

Descobre o lado melhor do infeliz e faze o melhor.

E se notares que tudo indica insucesso do seu em­preendimento, agigantando-se o mal, apela para a Es­piritualidade Superior e transforma-te em viva mensa­gem de amor, desdobrando a bondade de Jesus Cristo, sem aguardares de imediato o êxito que te não pertence.

Quando não puderes fazer o bem pensa nele.

A noite para não ser triste veste-se de estrelas.

O espinheiro atormentado, em silêncio, adorna-se de flores.

E com o que tiveres exalta a alegria, embelezando a vida.

Nunca reclames ante a fraqueza dos outros nem examines o erro do próximo com azedume, mesmo por­que, em te voltando contra eles é necessário examinar, no recesso íntimo, quanto tens sido mal sucedido e, se em lugar desses companheiros não estarias complican­do a própria aflição, fazendo o que eles realizam com dificuldade, de maneira pior e mais infeliz.

22

PENSA ANTES

“Se Deus envia os Espíritos a instruir os homens, é para que estes se esclareçam so­bre seus deveres, é para lhes mostrarem o caminho por onde poderão abreviar suas pro­vas e, conseguintemente, apressar o seu pro­gresso.”

O LIVRO DOS MÉDIUNS 2ª parte. Capítulo 31º — Ítem 4 (Um Espírito familiar).

Quando se libertará o homem da aflição? Quan­do começará a aurora da sua redenção triunfante? Como fazer? São perguntas que, diariamente, ocor­rem a muitos companheiros do caminho humano.

Em todo lugar, assistimos às convulsões do sofri­mento castigando os corações.

Lágrimas de saudade e dor sob pesados fardos.

Prantos nascidos na inquietação da soledade di­lacerando esperanças.

Fome e abandono embaraçando os passos.

Enfermidade e limitação produzindo duradouros sinais de desespero...

No entanto, desde há muito, com o Evangelho de Jesus, surgiu a madrugada feliz para o espírito hu­mano.

Essas horas de amargura pertencem às criaturas embrulhadas nos mantos sombrios da “morte”.

Para os que já podem enxergar os clarões do Céu nas brumas da Terra, a amargura é apenas acidente do caminho.

Com o suave Rabi nasceu a oportunidade feliz para a realização da paz interior e, conseqüentemente, para a libertação das almas.

É necessário desfazer os laços que atam o homem aos pesados fardos, libertando o espírito para a reali­zação dos elevados princípios no mundo interior.

Que ninguém se demore nas mentirosas colônias de repouso a que aspira!

Muitas lutas se desdobrarão ainda antes que se possa descansar.

Milênios de treva demoram-se na esteira do “já feito”.

É indispensável caminhar, avançando sempre.

Nesse mister são importantes a tarefa sacrificial e a contribuição aparentemente desvaliosa.

Todavia, é imperioso uma resolução robusta para poupar uma desistência danosa.

O agricultor inteligente, antes da sementeira, es­tuda as possibilidades do solo.

O artífice hábil precede o trabalho de um exame dos recursos de que dispõe para a execução da obra.

O professor capaz antecede as aulas com testes de capacidade para melhor seleção e aproveitamento dos alunos.

O arquiteto prudente visita o terreno e estuda-o, em gráficos, para apresentar depois os projetos da cons­trução.

Ninguém se candidate às tarefas maiores sem a experiência dos serviços menores.

Nada se pode realizar em profundidade sem os cuidados que se impõem como essenciais.

Nos processos evolutivos da alma encarnada a intenção precede a ação e o amadurecimento das idéias dispõe o ser para a difícil operação do renascimento íntimo.

Importa, portanto, trabalhar sem esmorecimento, recordando que, de há muito o Senhor nos aguarda, precedendo-nos os impulsos de renovação com o pró­prio sacrifício.

Busca iluminar-te com a mensagem do seu exem­plo, fixando-lhe os ensinamentos nos recessos do ser, partilhando as lutas e gastando o corpo na faina de produzir e realizar para te tornares digno de, com o Mestre, renascer de coração livre.


23

TESOUROS DE AMOR

À medida que o tecnicismo modifica a face da Terra, imprimindo um glorioso período, fenecem altas expressões dos sentimentos, no âmago das afeições hu­manas.

Aqui, a indústria do “presente” asfixia os nobres impulsos, tudo reduzindo ao mercantilismo, onde o amor pode ser valorizado pelo preço da mercadoria.

Ali, as paredes do cronômetro apertam as ruas da amizade e os atos de entendimento fraterno se redu­zem a uma palavra, contendo significados de ocasião.

Mais além, a cobiça e o empreguismo assassinam as manifestações da ordem, e em nome do progresso inutilizam homens que se desdobram exaustivamente ou se paralizam, lamentavelmente, no comodismo.

Ninguém pode perder a ocasião no jogo social.

Não se dispõe de tempo para “sentimentalismos”.

Os simulacros de amor e respeito, consideração e reconhecimento são encontrados nas salas modernas dos “magazines” que se encarregam de encaminhá-los protocolarmente ao preço de uma taxa simples...

Todo sentimento que se deseja exteriorizar depen­de do dinheiro.

O dinheiro que é servo se faz algoz e sendo fonte de crescimento social se converte em implacável azor­rague que deprecia a humanidade.

Há, no entanto, outros meios de expressar o canto de ternura da alma nas taças reluzentes da afeição.

Tesouros de amor, sim, todos temos para ofertar.

Um singelo cartão manuscrito é verdadeira gema preciosa dirigido a um ser querido.

Uma frase assinalada pela música da esperança pode ser considerada um adereço delicado a quem me­rece carinho.

Duas palavras de cordialidade numa visita pessoal oferecem calor humano a quem se estima e está a sós.

Uma oração em conjunto, ao lado de um leito on­de sofre uma afeição fraternal, é oferenda valiosa e especial...

E o sorriso gentil, o pensamento generoso, o aperto de mão cordial, a atenção dispensada numa pa­lestra, o silêncio discreto, a postura educada são, igual­mente, presentes que transcendem as aquisições lojistas que têm o sabor puro e simples de “dever social”.

Não te deixes corromper na tempestade louca do tempo “sem tempo”.

Sempre podes fazer algo pessoal, intransferível, assinalado pela vibração da tua emotividade.

Na tarefa espírita onde respiras, honrado, aplica esses tesouros na destruição da sementeira negativa.

Respeita o ausente;

Perdoa o ofensor;

Seja tua a dádiva da abnegação;

Faze o trabalho que outros desconsideram;

Ora pelo ingrato;

Sê mais generoso com o exigente...

A ventura do céu começa no piso onde repousa a escada de ascensão espiritual.

Nos detritos oculta-se a vitalidade para o ve­getal...

Honrado na casa de Simão pela mesa farta e a presença de homens de destaque, o Senhor deixou-se comover pelas lágrimas da mulher sofredora que lhe banhavam os pés, enquanto os enxugava com os cabe­los. Era o único tesouro ali que não custara moedas, refletindo em toda a sua grandeza o arrependimento do erro e a sede de amor.


24

JESUS E O MUNDO

“Aquele que se identifica com a vida fu­tura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquele cujos pensamentos se concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 2º — Ítem 6.

Muitos cristãos-espíritas afervorados às questões imediatas, às quais sentem dificuldades em renunciar, procuram justificar suas atitudes fundamentando-as em bases falsas.

Informam-se vinculados ao espírito do Cristo, to­davia...

Gozam, porque o prazer faz parte da vida.

Usurpam, tendo em vista ser a Terra um ninho próprio aos que se nutrem à custa dos menos hábeis.

Exploram, para evitar serem explorados.

Mentem, tendo em vista os fatores circunstanciais.

Enganam, a fim de sobreviverem.

Lutam com todas as armas, já que outros são ad­versários insidiosos.

Não vêem mal algum “nisto” ou “naquilo”, e defi­nem o espírita como alguém que não tem necessidade de abandonar ou fugir do mundo...

Ajustam a expressão “racional” ao vocábulo “as­túcia” e ridicularizam o verbete “místico” como se ele identificasse indignidade.

Pensam no Céu e querem a Terra a qualquer custo.

Tentam conciliação entre Deus e César ao bel-prazer, tirando o melhor proveito para o corpo e a emoção que se desvaira, longe do equilibrio da mente e da renovação do espírito.

“Viver no mundo sem ser do mundo” — eis a questão.

Aplicar o instrumento do sexo na construção da família, facultando a santificante tarefa da reencarna­ção às entidades da própria grei espiritual, a quem se vinculou no passado por créditos ou débitos seguros. O sexo é abençoada porta para a felicidade. No en­tanto, evitar viver para o sexo, considerando os abis­mos de crime e sombra que a ele se identificam, quando desatina.

Utilizar o dinheiro na execução dos deveres nor­mais, consolidando a alegria na esfera das obrigações próximas e dilatando-o na prática do bem geral, em for­ma de agasalho, teto, alimento, remédio e segurança para outros espíritos colhidos pelas rudes provações. O dinheiro é veículo de bênçãos. Todavia, poupar-se a viver para o dinheiro, que se faz verdugo de quem a ele se ata, favorecendo imprevisíveis conseqüências.

Motivar o ideal com os estímulos da vida hodier­na para que o trabalho se enriqueça de frutos sazona­dos, edificando para a alegria geral do domicílio da esperança e o abrigo da paz.

Não esperar, no entanto, as motivações fortes da vaidade e do orgulho para criar e agir. A motivação que estimula, faculta o exercício do bem, mas o estímulo que não prescinde de motivos fortes se converte em degeneração por processo danoso.

Cultiva a beleza como expressão de sensibilidade em expansão, favorecendo o asseio e a higiene, o bom gosto e a distinção. Entrementes viver para cuidar de adornos deste ou daquele jaez é desrespeito à vida em flagrante atentado às Leis da harmonia universal.

Não são as coisas em si boas ou más.

Não é o mundo no sentido etimológico.

É o que fazemos com as coisas do mundo e o como vivemos no mundo que importa considerar.

O sexo não é nobre nem degradante.

O dinheiro não é amigo nem adversário.

A motivação não é necessária nem supérflua.

A beleza não é glória nem castigo.

O uso que lhes damos se encarrega de transfor­má-los em escada de acesso ou rampa de degredo.

A cocaína de tão positivos resultados terapêuti­cos, por degradação dos costumes é responsável por crimes hediondos.

O átomo aplicado na paz, na movimentação do progresso da Humanidade, é arma ameaçadora em mãos despóticas, que já vitimou mais de uma centena de milhar de vidas.

A palavra que ergue impérios, tem levado civili­zações ao caos...

Viver no mundo entre as contingências do mundo mas pensar nas coisas do Alto” e agir consoante os impositivos da Vida Imperecível.

Aos que pretendem considerar impossível a vida sem os atos esconsos, orgíacos e loucos, tentando con­ciliar Jesus e o mundo numa aliança utopista, recorda­mos os que edificaram o Cristianismo nos corações depois do Senhor, com dignidade, e focalizamos o pró­prio Amigo Celeste que, possuindo o mundo, por tê-lo criado, viveu, entre nós, no mundo e junto às suas tentações, para legar-nos, intemerato, a certeza de que para chegar à paz real é necessário, no mundo, tomar a cruz, depô-la sobre os ombros e segui-lo.

25

ESPIRITISMO NO LAR

“Deus permite que, nas famílias, ocorram essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para uns e, para outros, de meio de progresso.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 4º — Ítem 18.

Todos sabemos valorizar o benefício de um copo d’água fria ou de uma ampola de injetável tranqüili­zante, ofertados num momento de grande aflição.

Reconhecemos a bênção do alfabeto que nos des­cortina as belezas do conhecimento universal e bendi­zemos quem nô-lo imprimiu nos recessos da mente.

Mantemos no carinho do espírito aqueles que nos ajudaram nos primeiros dias da reencarnação, ofere­cendo-nos amparo e amamentação.

Somos reconhecidos àqueles que nos nortearam em cada hora de dúvida e não esquecemos o coração que nos agasalhou nos instantes difíceis do caminho renovador...

Muitos há, no entanto, que desdenham e esque­cem todos os benefícios que recebem durante a vida..

Há um inestimável benefício que te enriquece a existência na Terra: o conhecimento espírita.

Esse é guia dos teus passos, luz nas tuas sombras e pão na mesa das tuas necessidades.

Poucas vezes, porém, pensaste nisso.

Recebeste com o Espiritismo a clara manhã da alegria, quando carregavas noite nos painéis mentais e segues confiante, de passo firme, com ele a conduzir-te qual mãe desvelada e fiel.

Se o amas, não o detenhas apenas em ti.

Faze mais. Não somente em propaganda “por fora” mas principalmente dentro do teu lar.

No lar se caldeiam os espíritos em luta diária nas tarefas de reajustamento e sublimação.

Na família os choques da renovação espiritual criam lampejos de ódios e dissenção, que podes con­verter em clarões-convites à paz.

Não percas a oportunidade de semear dentro de casa.

Apresenta a tua fé aos teus familiares mesmo que eles não n’a queiram escutar.

Utiliza o tempo, a psicologia da bondade e do otimismo e esparze as luminescências da palavra espí­rita no reduto doméstico.

Se te recusarem ensejo, apresenta-o, agindo.

Se te repudiarem, conduze-o, desculpando.

Se te ferirem, espalha-o, amando.

Pelo menos, uma vez por semana, reúne a tua família e felicita-a com o Espiritismo, criando, assim, e mantendo, o culto evangélico, para que a diretriz do Mestre seja eficiente rota de amor à sabedoria em tua casa...

Ali, na oportunidade, ouvidos desencarnados se imantarão aos ouvidos dos teus e escutarão; olhos aten­tos verão pelos olhos da tua família e se nublarão de pranto; mentes se ligarão às outras mentes e entenderão... Sim, ouvidos, olhos e mentes dos desencarnados que habitam a tua residência se acercarão da mesa de comunhão com o Senhor, recebendo o pão nutriente para os espíritos perturbados, através do combustível espírita que não é somente manancial para os homens da Terra, mas igualmente para os que atravessaram os portais do além-túmulo em doloroso estado de sofri­mento e ignorância.

Agradece ao Espiritismo a felicidade que possuis, acendendo-o como chama inapagável no teu lar, para clarear os teus familiares por todos os dias.

O pão mantém o corpo.

O agasalho guarda o corpo.

O medicamento recupera o corpo.

O dinheiro acompanha o corpo.

Seja o Espiritismo em ti o corpo do teu espírito emboscado no teu corpo, a caminhar pelo tempo sem fim para a Imortalidade gloriosa.

E se desejares felicidade na Terra, incorpora-o ao teu lar, criando um clima de felicidade geral.


26

REVELAÇÃO E REENCARNAÇÃO

“Com efeito, a lembrança traria gravíssi­mOs inconvenientes.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 5º — Item 11.

Generaliza-se entre os cultores menos avisados do Reencarnacionismo a falsa crença de que, em vidas pretéritas, envergaram roupagens com que se destaca­vam em primeira plana, no mentiroso mundo do poder e da fama.

Muitos dizem recordar os atavios de velhas Cortes onde eram amados e requestados, e procuram manter gestos e hábitos, que seriam remanescentes de tais exis­tências...

Reis e rainhas, príncipes e princesas, nobres e membros de velhas linhagens, podem, fácilmente, ser encontrados entre eles...

Comandantes de exércitos e conquistadores de po­vos, artistas e gênios são apontados por espíritos insen­satos ou obsidiados como sendo eles mesmos, constran­gidos ao obscurantismo da atualidade...

Foram informados — dizem —, tiveram re­velações.

Vivem de puerilidades, acalentando sonhos men­tirosos, que lhes agradem sobremaneira.

Dão a impressão de que aos espíritos que vestiram os trajos da opulência, nos quais invariavelmente fra­cassaram, os Instrutores do Mundo Maior conferem de pronto o renascimento...

Rara ou excepcionalmente são encontrados anti­gos servos domésticos, modestos áulicos e pagens ou palafreneiros humildes, recomeçando as experiências na carne...

Homens e mulheres de vida obscura e ignorada não repontam entre os que cultivam tais aberrações, como fazendo crer, que depois das amargas provações experimentadas não mais lhes foi exigido o retorno ao carro celular.

Mui diversa, no entanto, é a realidade.

Aqueles que dominavam, soberanos, sob o peso de responsabilidades que não souberam ou não quise­ram honrar, chegaram todos ao Mundo Maior em la­mentáveis estados conscienciais.

Amargurados e deprimidos, calcinados pelo hor­ror, sofreram de perto a decepção humilhante e foram obrigados a considerar a extensão do desequilíbrio e da rebeldia a que se entregaram, inertes.

Vítimas desconhecidas, que o crime transformou em verdugos impenitentes, crivaram-nos de motejos e deles escarneceram violentamente, experimentando de­sespero difícil de qualificar, rogando, então, o presídio-hospitalar da carne para esquecerem, recomeçarem, fugindo de si mesmos...

Renasceram e renascem, ainda, em enxergas de miséria física e moral, disfarçados para escaparem à sanha dos perseguidores.

Soberanos vaidosos e cruéis acordam no corpo carnal estigmatizados pela micro, macro ou hidrocefa­lia, recordando as velhas e pesadas coroas...

Triunfadores e generais despertam nas trincheiras da loucura ou nas cidadelas da idiotia...

Viajantes das altas linhagens recomeçam cobertos de pústulas, vencidos pelas diversas manifestações de sífilis, da lepra, do câncer.

Negociantes regalados e administradores eminen­tes ressurgem, após os funestos fracassos, nas amarras da paralisia.

Artistas e religiosos de relevo, intelectuais e estu­diosos prevaricadores reaparecem consumidos pela in­sânia, com desordens psíquicas irreversíveis.

Campeões da beleza física ocultam-se em defor­midades orgânicas e mentais quais esconderijos-fortale­za onde buscam o esquecimento, torturados, quase sempre, pelo sexo, em invencível descontrole...

... E muitos dos seus antigos escravos e servido­res humílimos, profissionais e batedores, ofereceram maternidade e braços em forma de socorro e lar para os recambiarem, trazendo-os de novo ao palco da ma­téria densa.

Filhos e filhas do povo, rogaram, apiedados deles, tomá-los na viagem evolutiva para que pudessem re­encetar a experiência espiritual.

Quando os vires nas ruas ou nos Frenocômios, em Abrigos ou às expensas da dor, sob acúleos ou cercados de novos tecidos finos, para eles sem valor, lembra-te dos a quem esmagaram, zombaram, destruíram no pas­sado, desfilando em carros dourados, pisoteando com seus fogosos corcéis os que tombavam à frente aclamados e invejados, quase sempre, porém, temidos e odiados...

Ora por eles e apieda-te. São lições vivas, falan­do a Linguagem poderosa da Lei.

Reiniciam em pranto o caminho que perderam com orgias.

Retemperam, na forja da soledade e do abandono aparente, o espírito, para aprenderem a valorização do tempo e da oportunidade.

Fixa, da lição deles, a experiência do equilíbrio e da sensatez, aprendendo a servir e a sofrer.

Não te preocupes em teres estado na História...

Se desejas informações, indaga ao presente, e o hoje responderá para onde deves seguir e como deves seguir.

Jesus, o Filho do Altíssimo, apagou-se numa man­sarda, procurando os infelizes e sofredores, o povaréu para elevar o homem aos Cimos Intransponíveis; e o Espiritismo, que nos ensina elevação e liberdade, com vistas ao Excelso Reino, ao cuidar do “esquecimento do passado” elucida que”... havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso van­tagem. Com efeito a lembrança traria gravíssimos in­convenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, as­sim, entravar o nosso livre arbítrio. Em todas as cir­cunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.”


27

EM AGONIA

“A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se quei­xar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece esta e a dor o oprime com todo o seu peso.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 5º — Ítem 13.

Onde vás, onde te encontres, defrontarás a agonia.

Anseias pela paz, buscas segurança, no entanto és surpreendido a cada instante pelo esboroar dos teus sonhos.

Programas elaborados por anos-a-fio, quando pos­tos em execução, não resistem aos testes mais humil­des, e aflições sem nome te povoam a casa mental, arruinando a esperança que anelavas.

Aspirações agasalhadas nas mãos da ternura se ensombram de augúrios pessimistas, quando supõe che­gado o momento de corporificá-las.

Aqui surpreendes o erro como língua de fogo purificador cremando a iniquidade do pretérito.

Ali defrontas a ofensa transformada em chaga viva, reparando a loucura ultriz de ontem.

Além encontras a desdita aguardando, qual lição necessária, a bênção reparadora.

E concluis, ao fim, que a soma dos dias apresenta mais inquietação do que serenidade. Ê que todos so­mos espíritos endívidados com as Leis Divinas em pro­cessos renovadores, pelo cadinho das reencarnações su­cessivas

Enquanto o espírito jornadeia na Terra, em pro­gramas disciplinantes, não pode prever a experiência com que o amanhã lhe cobrará o tributo da evolução.

Quantos, porém, possam atravessar as dificuldades com ô coração dorido mas alçado ao amor, embora opresso, avançam na direção da liberdade.

Não te revoltes com as rudes provações.

O que hoje te falta significa desperdício de ontem.

O de que tens necessidade, malbarataste.

A limitação que te oprime, corrige-te o excesso mal aplicado.

O que te detém, detinhas.

Alonga os olhos nà direção dos horizontes infini­tos e agradece a Deus a agonia que experimentas, mas em cuja trilha haurirás paz.

Reúne as forças da coragem e liga-te de todo o coração aos heróis silenciosos que sofrem e trabalham infatigavelmente, seguindo com eles em busca da ver­dadêira vida, porqüanto ninguém há, na Terra, abasta­do ou mendigo, que desfrute de paz integral, felicidade plena ou desgraça total, no atual estado evolutivo. Apesar das dores que assinalas e das aflições que te aprimoram, as Excelsas Mãos estão modelando em teu íntimo, para mais tarde, a lira sublime que tangirás em harmoniosas vibrações, passado o estágio na abençoada escola terrena de agonias.


28

DESÂNIMO

“O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 5º — Ítem 18.

Insidioso, de fácil propagação, tem caráter pandêmico.

Grassa com celeridade, entorpecendo sentimentos com força que aniquila a vida.

Inimigo desconsiderado fere em profundidade e se agasalha dominador em todas as criaturas a todo ins­tante, sendo difícil de ser erradicado.

Com poder semelhante às viroses contagia mais do que a grande maioria das enfermidades comuns.

Conduz às dissipações, à loucura, ao crime.

Aqueles que lhe caem nas malhas, invariavelmen­te derrapam para os vales desesperadores dos estupefa­cientes, do suicídio.

Suas vítimas apresentam-no refletido no “fácies” característico, deprimente.

São mórbidas, indiferentes, perigosas.

Grande facção da humanidade sofre-lhe a ação deletéria.

Esse adversário soez e destruidor de multidões é o desânimo.

Companheiros da fé valorosos, deesencorajados de prosseguirem, recuam.

Trabalhadores devotados, assinalados pelo sofri­mento, estacionam.

Serventuários da esperança, desiludidos, fogem.

Mantenedores de tarefas socorristas, desajustados, param... sob o império do desânimo.

Prossegue tu!

Todos falam que recolheram, do labor a que se devotaram, espinhos rudes e rudes ingratidões.

Explicam, com argumentos injustificáveis, que a moral evangélica para o momento em que se vive não mais tem aplicação: está ultrapassada.

Crêem que perderam o tempo, aplicado anterior­mente na execução do programa divino, apresentado pelo Espiritismo.

São vítimas inertes do desânimo.

Sem explicações para se justificarem a si mesmos a fuga espetacular para com os deveres assumidos espontaneamente, acusam e acusam.

Não lhes dês ouvidos.

Amigos falam que não conseguem perseverar nos ideais fascinantes e severos da Doutrina dos Imortais.

Também tu.

Alguns reconhecem os erros e a inutilidade de lutarem contra as próprias deficiências.

Dá-lhes razão, pois que não é diferente o que ocorre contigo.

Outros esclarecem que tentaram seguir os postu­lados espiritistas, mas o tributo a oferecer é grande demais, em considerando as incertezas de que se encon­tram possuídos.

Concordas com eles ao auscultares o imo em tor­mentos múltiplos.

Eleva o padrão mental de tuas meditações.

Expulsa o tóxico letal que se infiltra sutilmente na tua organização espiritual.

Faze um exame dos que debandaram das fileiras do dever...

O desanimado é alguém que tombou antes do termo da jornada.

Reage com todas as forças e não possibilites “horas vazias” para se encherem de desesperanças nas províncias do teu pensamento.

Homens e mulheres, que lutaram em todos os tempos para construírem o ideal de felicidade humana, experimentaram o miasma pestilento desse sicário do espírito.

Reagindo, porém, e perseverando abrasados pelos empreendimentos começados, elaboraram o clima de esperança que muitos respiram, abençoados pelo sol de amor que os aquece.

Estuda o Evangelho e vive-o, embora não con­sigas avançar incorruptível.

Se tombares no afã da verdade, recomeça. Se despertares ao peso de irrefreável fadiga, recomeça.­

Se experimentares desespero porque demora a materialização dos teus anseios, recomeça.

O trabalho de valorização do bem é de recomeço e recomeço, porqüanto cada passo dado na direção do objetivo é vitória alcançada sobre o terreno a vencer...

Quando o desânimo, investindo contra os teus propósitos superiores, situar o seu quartel na rotina das tuas atividades nobres, modifica o “modus operandi” e prossegue, renovado, combatendo nos painéis da mente essa vibração desagregadora transmitida por outras mentes que perseguem o Evangelho Redentor, desde há muito, e, exaltando a alegria do serviço em cada minuto de ação superior, destroça as armadilhas bem urdidas desse revel inimigo, alcançando a plataforma superior da glória de ajudar com desinteresse e amor.


29

MENSAGEM DE ESPERANÇA

“Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações sede fortes e corajosos para os suportar.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 5º — Ítem 25.

Abençoa a aflição de agora. Ela te abre as por­tas do salão da paz.

Agradece a chuva de fel a cair sobre a tua cabeça. Ela fertiliza o solo da tua alma para a sementeira da luz.

Rejubila-te com o espinho cravado no coração. Ele te adverte dos perigos iminentes de todos os caminhos.

Sorri ante os obstáculos que te impedem o avanço. Eles expressam o valor da tua resistência que os vence lentamente, à medida que jornadeias em triunfo.

Medita em todas as coisas que causam preocupa­ção e dano e retira da dificuldade a melhor parte, como abençoado adubo para o solo das tuas experiências cristãs.

Nenhuma alma jornadeia na Terra sem a contri­buição da dor. Nenhum espírito avança para a luz sem conduzir dificuldades enleadas nos pés. Nenhum ser ascende para Deus sem a travessia do pantanal onde se demoram os homens...

Jesus veio para nortear a Humanidade, porque esta se encontrava perdida, presa ao matagal das paixões.

Todos temos um ontem perdido nos labirintos do crime, a enovelar-nos nas malhas da inquietude que se reflete hoje.

Guarda nalma a alegria inefável que se expres­sará num amanhã ridente e belo que te espera, após o triunfo sobre as vicissitudes.

Não te desesperes ante o desespero, não te aflijas junto à aflição, não te inquietes ao lado da inquietude, não te atormentes sob tormentos..

A planta que cresce é atraída pela luz, embora repouse sua sustentação na lama das raízes.

A linfa que dessedenta corre aos beijos do sol, embora flua da lama do solo.

O alimento que nutre traz lodo no cerne e o corpo que sustentas é feito de lama.

Mas é com esse material que a alma faz o vasi­lhame para, realizando a obra do bem, sobreviver.

Não chores, não sofras!

Mantém elevado o pensamento ao Senhor sem te envergonhares.

Alça-te à luz, mesmo que nada representes...

Além da ponte há muitas venturas aguardando por ti.

Além do abismo há luz esfuziante esperando pelo teu triunfo.

Luta, agora, vence logo.

Não dês tréguas ao mal, mesmo que ele seja par­tícula ínfima a toldar a visão do teu espírito.

Com­bate-o, sem lhe dares alimento mental.

Todo meio incorreto jamais conduzirá a um fim reto.

Afugenta a nostalgia, espanca a tristeza, surra a melancolia com as mãos ativas do trabalho edificante.

Lutar contra tentações não é somente uma atua­ção mental; é atividade produtiva na realização do bem.

Realiza tua obra em paz, certo de que estás em Jesus, e seguro de que Jesus está contigo.

E quando tudo parecer esmagar as tuas aspirações e os fardos do mundo pesarem demais sobre os teus ombros lembra-te d’Ele, na manjedoura humilde e des­denhada, para renovar a Humanidade inteira com a claridade inapagável do Seu infinito amor.

Evoca-o nas horas de amargura e sorri agrade­cendo a bênção do sofrimento.

Só as almas eleitas são tentadas; só elas têm forças para vencerem a tentação.

O cristão não se deve angustiar porque o erro lhe bate à porta, nem se deve entristecer porque permitiu que o erro tivesse acesso ao coração... Deve alegrar-se quando expulsa o erro de dentro da casa íntima, mantendo júbilo porque o dominou, conservando a integridade do lar, ao invés de ser dominado pelo dese­quilibrio que o afrontava...

Guarda a certeza, alma devotada ao bem, de que Jesus contigo é a vida radiosa e pura em esperança permanente, como mensagem de Deus, em bom ânimo e alento para a tua redenção.

E, disposto a não incidir no capítulo negativo que deve ficar esquecido, reúne as forças e avança resoluto, em demanda da mansão da serenidade que te aguarda, vitorioso, na caminhada do dever.


30

PARADOXOS

“A rigidez mata os bons sentimentos; o Cristo jamais se excusava; não repelia aquele que o buscava, fosse quem fosse; socorria assim a mulher adúltera, como o criminoso; nunca temeu que a sua reputação sofresse por isso. Quando o tomareis por modelo de todas as vossas ações?”.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 11º — Ítem 12.

A um observador apressado muitas atitudes do Mestre, no exercício da Boa Nova, podem parecer estranhas, senão paradoxais.

Cercado pelas necessidades do povo, a todo instan­te necessitava aplicar os nobres ensinos com a persua­são do exemplo, convidado aos mais complexos teste­munhos de fidelidade à mensagem de amor de que se fazia instrumento excelente.

Não buscou o insulamento improdutivo para evitar o contágio do crime ou da leviandade.

Nem se atirou, imprevidente, na solução dos pro­blemas alheios ou na equação das lutas de classes.

Tudo fêz, e disse, tendo em vista o espírito imortal elucidando, incansável, que todas as coisas procedem do íntimo. Logo, renovado, o homem renova a Terra toda.

Difere, essa mensagem de amor, de tudo o que se recebera até então.

Nem a austeridade de Elias, aguardando repasto em gruta erma.

Vive ao sol, veste-se como todos, participa das atividades diárias, trazendo as lições à atualidade das ocasiões entre as emoções e os conflitos do coração popular.

Sua expressão é toda de alento e a ventura escorre-lhe dos lábios em melodias doces e entusiastas.

A Boa Nova, com Ele, é felicidade desde as alvíssaras.

Pregando a castidade, compreende Jesus a mulher surpreendida em adultério.

Lecionando virtude, escolhe mordaz samaritana de vida irregular para arauto da Mensagem...

Ensinando fidelidade ao dever, recebe Judas, um fraco, que trairia a Causa.

Desdenhado pelos nobres de Israel, concede entre­vista a um príncipe do Sinédrio, Nicodemos, o doutor da Lei...

Amando os operosos, esclarece a imediadista Marta...

... E sabia da fraqueza de Pedro, das cobiças de Salomé a atormentada esposa de Zebedeu, das angús­tias da inquieta Maria de Magdala, das iniqüidades dos amigos, das torpezas dos comensais.

Assistiu-os a todos, envolvendo-os nos suaves dos­séis de infinda bondade.

Desses, raros seguiram sua doutrina.

Não os censurou, não lhes reprochou o caráter.

Pediu-lhes, apenas, para que não retornassem aos sítios da degradação nem reatassem os liames com a criminalidade.

Mas não se contaminou com eles, os infelizes.

Desceu às dores, ascendendo a luz.

No Evangelho são essas personagens, aquelas com as quais mais nos identificamos.

Simbolizam esperanças para nós.

Seus gravames refletem nossas dificuldades.

Suas incertezas e limitações, amparadas pelo Mes­tre, estimulam-nos a não desanimar nem retroceder.

Ensinam-nos a cair para levantar e prosseguir.

Ajudam-nos a insistir no bem, de coração ansioso, para conseguir um espírito pacificado.

Embora possa ser estudado em laboratórios, me­diante a comprovação pela pesquisa experimental dos Agentes Imortais, a idéia espírita consoladora é verti­da para as massas desoladas e tristes, para o conturba­do espírito humano.

Penetra as elites intelectuais e detém-se na fragi­lidade da argila moral de todos nós, conduzindo uns e outros aos páramos da luz...

Concita à virtude, ao dever, à nobreza, ao esforço no trabalho produtivo, mas não se detém a imprecar contra as imperfeições e sandices da época.

Atualizado como os ensinos de Jesus à sua época, translada essas lições através dos tempos, para hoje arrotear o pensamento moderno, colocando as sadias sementes da felicidade sem jaça e da paz sem alarde, no âmago das criaturas.

31

AFIRMAÇÃO

“Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 12º — Ítem 8.

Afirma tua convicção seguindo de passo firme.

Enquanto o céu se cobre de raios irisados e tudo sorri o cristão pouco difere do homem comum.

No entanto, quando os dias escurecem, cobrindo-se de cúmulos carregados, faz-se necessário afirmar a fé.

Palavra fácil nos júbilos não pode ficar silenciosa e sem vida nas aflições.

Confiança nos dias de felicidade não deve perma­necer apagada ante os perigos do testemunho.

Crença libertadora em oásis perfumados não desa­parece nas longas travessias dos areais.

Lembra-te de Jesus.

O Enviado Divino exaltou a humildade e não revi­dou a bofetada violenta; engrandeceu a pureza e fez da própria vida um lírio imaculado; abençou a pobreza e desdenhou os tesouros do mundo; homenageou os simples e fez-se ignorar pelos poderosos; exaltou os perseguidos injustamente e deixou-se crucificar em silêncio; alentou os desanimados e os concitou ao resgate necessário; considerou os deserdados e caminhou sem posse alguma; valorizou a dor e ofereceu-se a morrer por todos...

Em Caná, ofereceu a todos a alegria festiva, e, no Gólgota, testificou confiança robusta. No matri­mônio dos jovens rogou ao Pai Celeste que transfor­masse a água em vinho, enquanto na Cruz sorveu o vinagre e o fél como água pura...

Pregando o Reino de Deus alçou o coração à con­dição de santuário excelso, mas fez do caráter nobre a base da Lei, através do dever reto nas linhas do amor e da caridade, acima de todos os outros re­quisitos.

Afirma a fé que te honra os dias, quando tudo parecer distante ou tenebroso. Encontrando-te no campo a cultivar, mesmo que ele esteja eivado de plan­tas daninhas, labora de coração forte e mente esclare­cida como quem ali encontra a oportunidade mantene­dora do próprio equilíbrio, através da afirmação espon­tânea da tua fé n’Aquele que é a Fonte da Vida in­cessante.

32

CONSIDERANDO A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

“Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 15º — Ítem 3.

Conta Lucas, no versículo 25 e seguintes, do Capítulo 10, do Evangelho, que interrogado o Mestre por um doutor pusilâmine que o tentava, a respeito da herança celeste, narrou-lhe o Senhor, após inquiri-lo sobre a Lei, a parábola do bom samaritano, a fim de informar-lhe, na aplicação do amor, quem seria o pró­ximo.

Sintetizemos a narrativa: “Assaltado por malfei­tores, um pobre homem foi deixado à margem da es­trada que descia de Jerusalém a Jericó. Casualmente passou pela mesma via um doutor, e depois um levita que, embora o vissem, seguiram indiferentes. Um sa­maritano, porém, por ali passando e o vendo, tomou-se de piedade e o assistiu carinhosamente, conduzindo-o na sua alimária até uma hospedaria onde o deixou cer­cado de cuidados, dispondo-se a resgatar quaisquer compromissos excessivos, quando por ali passasse de retorno”. E ante o assombro do interlocutor O Mes­tre indagou-lhe, quem seria o próximo do homem so­frido, ao que este respondeu: “O que usou de miseri­córdia para com ele”. Disse, então, Jesus: “Vai, e faze da mesma maneira”.

Considerando as nobres sessões de socorro mediú­nico aos desencarnados em sofrimento, hoje realizadas pelos adeptos da Doutrina Cristã, recorramos ao ensi­no de Jesus, na excelente parábola.

O recinto das experiências medianímicas pode ser comparado à hospedagem acolhedora e gentil; o ho­mem caído na orla do caminho, consideremo-lo o espí­rito tombado nos próprios enganos; o médium doutri­nador assemelhemo-lo ao encarregado da estalagem; os médiuns recalcitrantes examinemo-los como o doutor indiferente e o levita sem piedade; o médium obediente ao mandato do serviço socorrista tenhamo-lo como o bom samaritano e a via entre Jerusalém e Jericó con­vencionemos a estrada dos deveres fraternos por onde todos transitamos. Ainda poderíamos considerar o bálsamo e o ungüento postos nas feridas do assaltado como sendo as orações do círculo de corações devota­dos à tarefa mediúnica; as moedas pagas ao hospedeiro simbolizemo-las como as renúncias e dificuldades, lutas e testemunhos solicitados aos membros da reunião e o doutor da lei, zombeteiro e frio, representemos como sendo os companheiros conhecedores da vida imortal, notificados das surpresas além-do-túmulo, indiferentes, entretanto, às tarefas sacrificiais do auxílio fraterno.

Se abrasado pela mensagem espírita, militas na mediunidade, em qualquer das suas múltiplas manifes­tações, ou fazes parte de algum círculo de socorro es­piritual, unge-te de bondade e dá a tua quota de esforço aos falidos na via da Imortalidade.

Não lhes imponhas verbosidades estrondosas nem debatas, apaixonado, convicções...

Fala-lhes do novo Amanhã e medica-os agora, so­correndo-os com bondade e abnegação.

Sê, em qualquer função que desempenhes na tare­fa espírita de assistência mediúnica, o “bom samarita­no”, considerando todo e qualquer espírito que chegue ao núcleo de trabalho, não como o adversário de on­tem, o obsessor de hoje ou o sempre inimigo, mas como o teu próximo a quem deves ajudar, assim como Jesus, redivivo na Mensagem Espírita, continua ajudando-te carinhoso e anônimo.

33

PALAVRAS E PALAVRAS

“Jesus lho ensina, dizendo: Não te preo­cupes com o corpo, pensa antes no espírito; vai ensinar o reino de Deus; vai dizer aos homens que a Pátria deles não é a Terra, mas o Céu, porqüanto somente lá transcorre a verdadeira vida.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 22º — Item 8.

Modulação inteligível é a palavra o veículo de compreensão entre os homens.

Entretanto há palavras que geram guerras hedion­das e palavras portadoras da mensagem de paz, que amainam convulsões interiores e serenam corações em combates de extermínio.

Palavras que têm o poder de transformar o mun­do alçando-o à condição de paraíso e palavras que têm a magia macabra de o precipitar em perigosos redutos do crime onde o homem recua aos primeiros estados da animalidade.

Expressões que arrancam sorrisos e vocábulos que promovem lágrimas.

Elocuções que conduzem multidões aos páramos da luz e termos que espezinham sentimentos superiores.

Na palavra está a força do pensamento exteriori­zado. Por isso é a palavra perigoso instrumento em bocas viciadas manipuladas por espíritos atormentados.

No entanto, a palavra em si mesma é construção divina a serviço da vida inteligente sobre a Terra. Quantos a exteriorizam, expressam a condição de vida mental em que se demoram.

O criminoso fala “amor” quando desejaria dizer paixão pela posse.

O artista cita o “amor” quando gostaria de expres­sar a visão que o emociona.

O cristão recorda o “amor” quando pensa em re­novar o mundo.

Em todos os casos “amor” é a mesma palavra em todas as bocas, variando, todavia, na vibração que a envolve.

Educa, então, o teu modo de pensar para expres­sares na palavra o teu real modo de ser.

“Eu não vim trazer a paz” disse Jesus.

Move guerra à má palavra, não a pronunciando, não lhe dando valor, vencendo-a em silêncio.

Não dês paz ao erro.

Com tuas palavras, inspiradas na Boa Nova, dece­pa a árvore da criminalidade onde esteja e, afeiçoado ao serviço, difunde a luz na crença, seguindo para Aquele que é “a luz do mundo”.

Enriquecido por esse tesouro, — a palavra que vibra, sonora, em teus lábios, — estende esperança em volta, donde te encontras.

Há dores e desesperos gritantes junto a ti, ansie­dades e angústias inumeráveis.

Desencarcera dos lábios a boa palavra e “ensina o Reino de Deus”. Talvez não possas fazer muito pelos corpos enfermos, mas podes dizer-lhes “que a Pátria deles não é a Terra, mas o Céu, porqüanto so­mente lá transcorre a verdadeira vida”. Podes infor­mar-lhes que estão em trânsito, devendo valorizar sofri­mentos e desesperações como quem sabe identificar nos quartzos grosseiros as esmeraldas valiosas e escondidas, e nos cristais despedaçados as crisálidas de consciências em libertação.

Valoriza, dessa forma, tuas palavras, fazendo-as verter bênçãos, em nome de Deus, o Excelso Verbo.

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DESCUIDOS

“Freqüentemente, ele se torna infeliz por culpa sua e por haver desatendido à voz que por intermédio da consciência o advertia. Nesses casos, Deus fá-lo sofrer as conseqüên­cias, a fim de que lhe sirvam de lição para o futuro.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 25º — Ítem 7.

Mesmo antes que a ulceração interna desse início ao processo enfermiço de desgaste orgânico, a ira foi comensal das tuas horas e a irritabilidade exagerada perturbou o equilíbrio da máquina físio-psicológica, en­sejando o desajuste, agora de complicada erradicação.

Até que a obsessão se transformasse numa distonia psíquica de gravidade compreensível, a intolerância caracterizou os atos da tua vida, dificultando o auxílio espiritual e equilibrante com que amigos encarnados e desencarnados desejaram libertar-te.

Mesmo quando a velhice prematura se apossou da tua organização celular, já permitias que os impulsos inferiores que te vergastavam interiormente, em cho­ques emocionais que dilaceravam o aparelho nervoso em constantes desatinos, conseguissem o desarranjo das peças orgânicas de difícil reparo.

Tombaste no despenhadeiro do desânimo porque consideravas a fé como rotulagem desagradável e pou­co te empenhaste no estudo e observância das questões do espírito, que redundaram em anarquia emocional e desestímulo nos centros vitais do mundo psico-físico.

Diante da aflição que assoma devastadora, acre­ditaste que paz de espírito é oásis de repouso ao revés de campo de trabalho e malbarataste a dádiva do re­pouso, enfrentando, sem forças, os dias de luta.

Ao maldizeres as horas de trabalho com os filhi­nhos bulhentos e sadios, pensa nas mães crucificadas na luta de sofrimentos inenarráveis de filhos paralíticos ou dementes, esperançadas e confiantes em Deus.

Antes de desatrelares o corcel da vindita recorda os heróis do silêncio nobre, os mártires da verdade, os anjos do sacrifício, os santos da paciência, todos incom­preendidos e sofredores construindo as bases da tua e da felicidade de todos.

No ato da crítica mordaz e impiedosa contra alguém considera as próprias forças em luta contra as tuas fragilidades e examina os insucessos ante as ten­tações, concedendo aos outros as mesmas excusas em que te resguardas.

No momento de lamentação contempla os compa­nheiros à tua volta e os problemas que deles conheces te dirão muito: medita, então, nos que possivelmente eles têm sem que o saibas, muito mais graves do que imaginas, e resiste à leviandade de queixar, reclamar, derramar azedume injustificado pelo roteiro de as­censão.

Desejando tranqüilidade radiosa trabalha com hu­mildade no bem, arrimado ao espírito de serviço desin­teressado, anônimo e fiel, conservando as esperanças até à hora da frutescência que te enriquecerá a gleba do coração com as messes de luz.

Zela pela organização que te serve de veículo no caminho evolutivo antes da enfermidade.

Armazena equilíbrio íntimo no curso incessante das horas de atividade antes da desdita.

Oração e vigilância como curso preparatório na academia de aprendizagem reparadora antes do com­promisso negativo.

Exercício de paciência e meditação acurada nos objetivos da vida antes do sofrimento que virá, inevi­tavelmente.

Ação salutar e descortínio de deveres positivos, antes da desencarnação, “enquanto é dia”, porque.

... Porque depois o quadro é diverso.

Tardia a hora do arrependimento, inadequada a contribuição do dito: “se eu soubesse!”

Todos sabemos o que devemos e o que não deve­mos fazer, após travados os primeiros contatos com a mensagem clarificante do Evangelho.

Educação, pois, antes.

Disciplina antes.

Antes Instrução.

Antes Amor.

Caridade e cuidados antes do erro, do crime, da queda.

Mesmo Jesus, o Incomparável Sábio, antes do Gólgota arregimentou amigos, disseminou misericórdia em forma de amor, saúde e alegria, renovou as concep­ções espirituais da vida nas mentes daqueles que O seguiam, distendeu a verdade a todas as gentes, porque à hora do testemunho, levaria consigo o que fez, em nome do Pai, como realmente aconteceu, e não o que desejou fazer no messianato de luz para que veio.

35

ORAR SEM CESSAR

“Pela prece, obtêm o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a lhe inspirar idéias sãs. Ele adquire desse modo a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao caminho reto, se deste se afastou.”

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO Capítulo 27º — Item 11.

Com muita propriedade o apóstolo Paulo, na 1ª Epístola aos companheiros da Tessalônica, assevera: “orai sem cessar”.

Orar, entretanto, não é apenas falar a Deus, em longos recitativos, ou guardar a alma em atitude extá­tica numa contemplação inoperante e improcedente.

Com o Senhor aprendemos que orar é servir, con­vertendo dificuldades em bênçãos e acendendo lâmpa­das da esperança nas sombras por onde seguem as almas.

Com Ele sabemos ser a oração mensagem que flui da Alma em direção ao Criador e reflui do Criador para a Alma como bênção socorrista.

Compreendemos, assim, que o “orar sem cessar” é meditar sempre, aplicando o tempo mental em utili­dade psíquica, laborando, pela edificação íntima ou alongando os braços no serviço de santificação do dever.

Inquietado pelo tumulto das atividades a que se liga, o homem, muitas vezes, não se prepara para a oração constante, reservando no canhenho dos deveres humanos tempos pequenos e determinados para o diá­logo com Aquele que é o hálito e a causa da Vida.

E é natural que sua débil voz se perca no tumulto interno, sem atingir os Ouvidos Celestes.

Mensagens mal impressas ou transmitidas em fre­qüência irregular, não alcançam os portos de destino, perturbadas pela estática ou interrompidas pela falta de potencialidade que as conduza nos veículos deficitários do instrumento transmissor.

Evidentemente que, não recebidas, ficam sem respostas.

... Orar sem cessar para que os recados conti­nuados atinjam as Estâncias do Mundo Superior.

O homem, honrando-se no trabalho do campo, ora.

O oleiro modesto, na confecção nobre do vaso, ora.

O operário eficiente, na materialização do com­promisso, ora.

O sacerdote, em visita à dor, ora.

O instrumentalista, em exercício digno, ora.

O mestre, ministrando as páginas da vida na for­mosa ciência do ensino, ora.

O profissional acadêmico, trabalhando fiel ao ju­ramento, ora.

O estático ou o reverente, o solitário ou o enclau­surado, longe da ação superior que anula todo mal, mesmo em atitude de prece, estão distantes da oração.

Na incomparável prece que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso, encontramos a síntese sublime das aspira­ções humanas, em forma de colóquio ideal com o Ex­celso Criador.

Louvor a Deus e exaltação do Seu Nome e da Sua obra submissão à Sua Lei de sabedoria e justiça e apelo — apelo que é súplica humilde e confiante de filho amado e Pai Amantíssimo cujos ricos celeiros de bênçãos sempre se encontram à disposição daqueles que os buscam.

Orar é mais do que abrir a boca e pedir. É co­mungar com Deus, banhando-se de paz e renovação íntima...

Orar é como arar, agir atuar com Jesus Cristo e os Espíritos Superiores em favor do mundo.

A maior oração da vida transcendental do Cristo foi o verbo amar, conjugado da Manjedoura ao Gólgo­ta, culminando no olvido a todo o mal com a mensa­gem do bem com que Ele partiu da Terra.

E ainda agora, quando fatores variados conspiram na vida moderna contra a serenidade, a paz e a edifi­cação cristã, entre os homens, recorda a necessidade de orar, orar sem cessar, para que o vendaval das paixões não te possa carregar na sua fúria.

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MOMENTO ESPÍRITA

“Ser ou não ser, tal a alternativa.

O CÉU E O INFERNO 1ª parte — Capítulo 1º — Item 1.

“Vivemos, pensamos e operamos — eis o que é positivo.

E que morremos, não é menos certo.

“Mas, deixando a Terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Estaremos melhor ou pior? Existiremos ou não? Ser ou não ser, tal a alternativa. Para sempre ou para nunca mais; ou tudo ou nada: Viveremos eternamente ou tudo se aniquila de vez? É uma tese, essa, que se impõe.

“Todo homem experimenta a necessidade de viver, de gozar, de amar e ser feliz. Dizei ao mori­bundo que ele viverá ainda; que a sua hora é retarda­da; dizei-lhe sobretudo que será mais feliz do que por­ventura o tenha sido, e o seu coração rejubilará!”

Os conceitos acima pertencem a Allan Kardec, que os expressa no Capítulo 1 de “O Céu e o Inferno” donde os tomamos.

Todo homem que raciocina meditará, vez que outra, ao menos, nesta concisa sentença: “Vivemos, pensamos e operamos... E que morreremos não é menos certo.”

Assim fazendo concluirá que duas alternativas se lhe apresentam: vida ou nada.

Buscando, através dos acontecimentos históricos, somente a vida lhe responderá a qualquer indagação.

A intuição lhe fala da vida.

Os fatos lhe atestam a vida.

A razão lhe confirma a vida.

A vida além-da-morte é indubitavelmente o coroa­mento do desgaste celular, no insondável do processo químico no sub-solo.

Cientificado dessa vida, faz-se mister preparar-se para enfrentá-la.

Sábios, pensadores, santos e cientistas, explicando-a, viveram de tal modo que atestaram a certeza de a encontrarem após.

Indispensável, portanto, cingir-se de valor para reservar no painel mental momentos espíritas de medi­tação e na vivência diária momentos espíritas de ação.

Tito, que lamentava o dia como perdido, por falta de uma ação nobre, não trepidou em destruir Je­rusalém.

Carlos Magno, lutando sob a inspiração da Cruz, deixou-se arrastar por crueldade criminosa.

Clóvis, após a batalha de Tolbiac, na qual impie­dosamente aniquilou os alamanes, empunhando o cetro de rei franco, e dizendo-se cristão, prosseguiu, cruel, mesmo quando a velhice e a fé deveriam tê-lo modi­ficado...

É indispensável transformar-se.

O bloco de gelo é água que mudou de estado e requisita temperatura adequada para manter-se...

A porcelana é barro cozido que não voltará àcondição primitiva.

Um sofreu modificação aparente.

Outro se transformou realmente.

Este, o gelo, é estático; aquele, o barro, experi­mentou a dinâmica do calor.

O crente parado enregela-se mas se derrete ante o ardor do testemunho.

O consciente do dever, através da crença, é atuan­te, lutador.

Para o crente morrer e repousar são a mesma coisa.

Para o consciente morrer é viver, crescendo em ação sem fim.

O momento espírita é o instante de exame quanto à conduta íntima — programa de felicidade.

O momento espírita é o ensejo de renovação espi­ritual — sanitarismo psíquico.

O momento espírita é treino, pré-vida — exercí­cio para a vida diária e a vida eterna.

À hora da dor faze o teu momento espírita.

Chamado pelo desespero ou abandonado pela so­lidariedade, realiza o teu momento espírita.

Instado ao desequilíbrio exercita o momento espírita.

De momento em momento chegarás à conduta es­pírita, à vida espírita, qual moribundo que vê a sua hora ampliada pela saúde, longe de toda dor, sendo mais ditodo do que sempre o foi com o coração prenhe de júbilos.

37

CONSIDERANDO O SOFRIMENTO E A AFLIÇÃO

“Se, ao contrário, concentramos o pensa­mento, não no corpo, mas na alma, fonte da vida, ser real a tudo sobrevivente, lastima­remos menos a perda do corpo, antes fonte de misérias e dores.”

O CÉU E O INFERNO 1ª parte, Capítulo 2º — Item 4.

Ei-los misturados em todo lugar.

Sofrimento causado pela evocação de um amor violento que passou célere, e aflição de quem, não ten­do amado, deseja escravizar-se desnecessariamente.

Sofrimento decorrente do desejo de perseguir quando gostaria de fazê-lo, e aflição, porque, persegui­do, não tem oportunidade de também perseguir.

Sofrimento pela dor que se agasalha no coração, santificando o espírito, e aflição em face da dor, por não poder fazer quanto gostaria, comprometendo-se muito mais.

Sofrimento nascido no desequilíbrio da ambição que deslocou a linha básica do caráter, e aflição, por­que, desejando e possuindo tanto não pode fruir quanto pensava gozar.

Sofrimento derivado da revolta de não ser feliz nos moldes que planejou, e aflição por ter a felicidade ao alcance das mãos, constatando, porém, quanta treva e pranto se guardam sob o manto brilhante dessa feli­cidade.

Sofrimento por muito ter e constatar nada ter, e aflição por nada ter e descobrir quanto poderia ter.

Sofrimento na cruz dos desajustes emocionais, e aflição causada pelos desajustes na cruz do dever re­parador.

Sofrimento em quem luta pela reabilitação, e afli­ção em quem, errando, não tem força para reabilitar-se.

Sofrimento que vergasta, e aflição buscada para vergastar.

É, no entanto, o sofrimento uma via de purifica­ção, e a aflição um meio libertador para quem, man­tendo o encontro com a verdade elege, na recuperação dos valores morais, a abençoada rota através da qual o espírito se encontra consigo mesmo, depois das múl­tiplas Lutas do caminho por onde jornadeia, quando desatento e infeliz.

Com Jesus aprendeste que sofrer, recuperando-se interiormente, é libertar-se, e afligir-se, buscando reno­vação, é ascender.

Empenha-te, valoroso, no esforço da eliminação do mal que ainda reside em ti, pagando o tributo do sofrimento e da aflição à consciência. Recorda que antes da manhã clara e luminosa da Ressurreição do Mestre houve a sombra da traição e a infâmia da Cruz, como ensinamento de que, precedendo a madrugada fulgurante da imortalidade triunfal, defrontarás a noite de silêncio e testemunho como prenúncio da radiosa festa de luz e liberdade definitiva, que alcançarás por fim.

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PLANEJAMENTO

“A Doutrina Espírita transforma completa­mente a perspectiva do futuro. A vida futu­ra deixa de ser uma hipótese para ser rea­lidade.”

O CÉU E O INFERNO 1ª parte, Capítulo 2º — ítem 10.

A obra do bem em que te encontras empenhado não pode prescindir de planejamento.

Nem o estudo demorado, no qual aplicas o tem­po, fugindo à ação. Nem a precipitação geradora de muitos insucessos.

Para agires no bem, muitas vezes, qualquer recur­so positivo constitui-se material excelente de rápida aplicação. Todavia, o delineamento nos serviços que devem avançar pelo tempo tem regime prioritário.

A terra devoluta para ser utilizada, inicialmente recebe a visita do agrimensor que lhe mede a extensão, estuda-lhe as curvas de níveis, abrindo campo propício a agricultores, construtores, urbanistas que lhe modifi­carão a fisionomia.

O edifício suntuoso foi minuciosamente estudado e estruturado em maquetes fácilmente modificáveis.

Até mesmo a alimentação mais humilde não dis­pensa a higiene e quase sempre o cozimento, a fim de atender devidamente ao organismo humano.

A improvisação é responsável por muitos danos.

Improvisar é recurso de emergência. Programar para agir é condição de equilíbrio. Nas atividades cristãs que a Doutrina Espírita des­dobra o servidor é sempre convidado a um trabalho eficiente, pois que a realização não deve ser temporária nem precipitada, mas de molde a atender com segu­rança.

A caridade, desse modo, não se descobre na doa­ção pura e simples, adquirindo o matiz diretivo e salvador.

Não somente hoje, não apenas agora.

Hoje é circunstância de tempo na direção do tem­po sem-fim.

Agora é trânsito para amanhã.

Planej ar-agindo é servir-construindo.

Por esse motivo ajudar é ajudar-se, esclarecer sig­nifica esclarecer-se e socorrer expressa socorrer-se também.

Planifica tudo o que possa fazer e que esteja ao teu alcance.

Estuda e examina, observa e experimenta, e, reso­luto, no trabalho libertador avança, agindo com acerto para encontrares mais tarde, na realização superior, a felicidade que buscas.

Para que o Mestre pudesse avançar no rumo da semeação da Vida Eterna, enquanto entre nós, na Ter­ra, meditou dias e noites, retemperando as próprias forças, sentindo o drama e a aflição dos espíritos, a fim de que, em começando a trajetória de amor, nas verdes paisagens da Galiléia e nas frescas margens do Tiberíades não recuasse ante a agressão e a impiedade que investiram contra o Seu Apostolado, planejando e agindo, amoroso, até a morte. E mesmo depois, em buscando os páramos da Luz Inextinguível volveu, para os que ficaram na retaguarda, o coração generoso, ace­nando-lhes com a plenitude da paz depois da vitória sobre eles mesmos.


39

FALANDO AO TRABALHADOR

“O progresso nos Espíritos é o fruto do próprio trabalho; mas, como são livres, traba­lham no seu adiantamento com maior ou me­nor atividade, com mais ou menos negligên­cia, segundo sua vontade, acelerando ou re­tardando o progresso e, por conseguinte, a própria felicidade.”

O CÉU E O INFERNO 1ª parte — Capítulo 3º — Ítem 7.

Trabalhador da vida persevera agindo no bem.

As criaturas na Terra, de certo modo, se parecem com matérias brutas antes de serem trabalhadas.

Diante do solo que te não pode oferecer argila para a olaria ou leiras para a sementeira, evita a blasfêmia.

Trabalha a terra, dando-lhe o amor que te escor­re abundante e amparando-a com a dádiva da linfa vi­vificante.

Ante a montanha não amaldiçoes as pedras.

Trabalha-as e arrancarás formas preciosas.

Frente à árvore retorcida não lhe desprezes os galhos.

Trabalha o lenho, retirando tábuas e mourões que ensejem agasalhos e utilidades.

Face ao ferro envelhedio e gasto não o injuries.

Trabalha nele com o auxílio do fogo e aplica-o em variados usos.

Defrontando o lodo não o insultes.

Trabalha, drenando-o, e conseguirás aí abençoa­da seara que se cobrirá, oportunamente, de flores e frutos.

Há muitos corações, igualmente assim, na estrada dos homens.

Espíritos difíceis de entender, empedernidos na indiferença, retorcidos pelo ódio, envelhecidos no erro, perdidos na inutilidade, comprazendo-se na ignorância e na crueldade.

Não reclames nem os desprezes.

Abre os braços e socorre-os em nome do amor. Quanto te seja possível trabalha junto a eles e neles, confiante no Divino Trabalhador.

Possivelmente os resultados não virão logo nem o êxito do trabalho surgirá de imediato.

Muitas vezes sangrarão tuas mãos na execução da obra e dilacerarás o próprio coração.

De início a dificuldade, o esforço e a perseverança no trabalho.

Mais tarde a assistência carinhosa e o zelo cuidadoso.

Por fim surpreenderás, feliz, a vitória do trabalho paciente, sorrindo como flores na lama, saudando a beleza e a glória da vida em nome de Jesus, o Obreiro da felicidade de nós todos.

40

FRATERNIDADE

“O estado corporal é transitório e passa­geiro. É no estado espiritual sobretudo que o Espírito colhe os frutos do progresso reali­zado pelo trabalho da encarnação; é também nesse estado que se prepara para novas lutas e toma as resoluções que há-de pôr em prá­tica na sua volta à humanidade.”

O CÉU E O INFERNO 1ª parte — Capítulo 3º — item 10.

Saúda a madrugada do dever fazendo luz no entendimento amargurado.

Não digas que é inútil lutar, tendo em vista os insucessos pessoais.

Não creias que tudo seja caos e desordem, porque o mundo íntimo se encontre em desassossego e anarquia.

As dores valem o valor que lhes damos.

As provações significam em aflição a dimensão da taça em que as recolhemoS como se fôssem ácidos ou cáusticos.

Porque mal-estares te inquietem e sombras derra­mem fantasmas na imagem das coisas, não compares os dias a salas escuras de perspectivas negativas.

Abre a porta à fraternidade e alegra-te também. Quem cultiva urze apresenta-se cravado de espinhos.

Quem assimila decepções extravasa pessimismo.

É imprescindível romper as comportas do perso­nalismo infeliz para que as vibrações de felicidade te visitem a casa mental.

O homem que prefere baixadas tudo povoa de limites. Mas quem sonha alcantis altaneiros e céus infinitos perde medidas e limitações para espraiar-se como o ar ou agigantar-se como a luz.

Vives as idéias que te aprazem, e, enquanto te agrades na desdita imaginária ninguém poderá clarear-te com as estrêlas aurifulgentes da serenidade.

O homem transforma-se no que acalenta e vitaliza nos painéis recônditos da mente.

Por esse motivo a desencarnação promove surpre­sas e choques àqueles mesmos que despertam além-da-morte e que, conscientemente se ignoravam em situa­ções lamentáveis.

Fraternidade! — Muitos crimes se cometem em teu nome!

O solo e a mente, a água e o ar, o tempo e a luz em harmonioso conübio oferecem o pão generoso e rico à mesa.

A paciência e o trabalho no labor do artesão se unem para a grandeza da arte.

A argila e o artífice em combinação segura dão forma à cerâmica preciosa.

O buril e o amor identificados renovam as visões e paisagens sombrias da Terra.

Fraternidade — sol para as almas, roteiro para a vida!

Em todo lugar há lugar para a fraternidade.

Os povos a preconizam estimulando a belige­rância.

Pronunciam-lhe o nome, arregimentando soldados.

Lecionam diretrizes em torno dela, assaltando países indefesos para discutirem a paz, demoradamente, nos Organismos próprios, enquanto a hidra da guerra dizima populações...

A fraternidade começa no lugar em que estamos, a fim de atingir a região onde não iremos.

Aceitas a ira que gera conflitos, que cria violên­cias, que estimula o crime.

Agasalhas o ódio que oblitera a razão, que acicatá instintos, que estruge em convulsões.

Corporificas azedumes que consomem o equilíbrio, que facultam desordens, que enlouquecem.

No entanto, a palavra de Jesus é inconfundível:

— “Bem-aventurados os mansos porque herdarão a Terra

Mansuetude para a ação fraternal — eis a rota.

Procurando expressar a própria ventura e home­nagear com a sua gratidão o Mestre Incomparável, conhecido militante espírita, desencarnado, demandou, na noite evocativa do Natal, região pavorosa de angús­tia punitiva e dor reparadora, no Mundo Espiritual, para evangelizar a turbamulta ignara e obscena.

Abrindo pequeno Evangelho, nos apontamentos de Mateus no Sermão da Montanha começou a ler as anotações consoladoras registradas pelo Discípulo Amado.

Enquanto a voz harmoniosa e calma vibrava amor fraternal no reduto purgatorial, antigo sicário de consciências, turbulento e impiedoso, agora entregue àprópria rebeldia, explodindo ira, solícitou o livro sin­gular, e, diante do evangelizador despedaçou as pági­nas, que atirou sobre o charco nauseabundo em que se revolvia.

Longe de revidar, o mensageiro da Palavra da Vida Eterna tomado de incomum sentimento fraternal, exclamou:

— “Perdoa-me não ter conseguido alcançar tua alma com o verbo divino, considerando a minha pró­pria inferioridade!”

Houve uma pausa na densa região de amargura.

— “Compreendo, meu irmão — prosseguiu, co­movido —, tua revolta, no entanto, não conheces Jesus. Reconheço-me indigno de apresentá-Lo; todavia, sa­bendo-O o Médico do Amor por excelência não consi­go recuar... Recorda o Rei singular, nascido em manjedoura e supliciado na Cruz, a balbuciar, em hora de terrível soledade:

— “Perdoa-os, meu Pai!”...

Não pode prosseguir. Não disse mais, nem se fazia necessário.

O verdugo se levantou, em pranto, e acudiu, dizendo:

— “Fala-me d’Ele, esse Homem que te dá forças para vencer a ira e amar a ponto de chamar-me irmão”.

Fraternidade!

Começa agora mesmo o teu programa fraternal, tendo paciência contigo próprio, no caminho evolutivo por onde rumas...


41

FESTIVAL DE AMOR

“Reina lá a verdadeira fraternidade, porque não há egoísmo; a verdadeira igualdade, por­que não há orgulho, e a verdadeira liberda­de por não haver desordens a reprimir, nem ambiciosos que procurem oprimir o fraco.”

O CÉU E O INFERNO — 1ª parte — Capítulo 3º — Item 11.

Canta, alma, as bênçãos da fé viva na ação edifi­cante do bem sem limite.

Não indagues qual a técnica perfeita da arte de ajudar.

Não esperes um curso especializado para o apos­tolado do melhor servir.

Abre os braços e agasalha a luz do dia no coração. Sai, depois, a dilatar claridade em festa incessante de alegria.

Se te perguntarem porque, embora a dor que te oprime, sorris, responde, que apesar do lodo junto à raiz, e por isso mesmo, o lírio esplendente de imacula­da alvura esparze aroma.

Se te interrogarem quanto à utilidade do teu mis­ter, reflete no mecanismo da vida, que transforma a

abelha diligente em serva da tua mesa, e reparte a

grandeza do serviço beneficente.

Ama, e coroarás as horas de luz; serve, e adorna­rás o coração de intérmina ventura.

No turbilhão do vozeiro moderno ausculta a pul­sação do progresso e ouvirás a rés-do-chão um débil gemido ou um choro cansado que não cessa; vasculhan­do a noite com intensa expectativa identificarás ho­mens fracos que o cansaço venceu; flamando pelas rotas do abandono tropeçarás em retalhos de gente, emaranhados na sarjeta do esquecimento, em trapos lodosos e despedaçados; vagueando nos lagos onde a dor se agasalha verás o azeite da vida se acabando nos vasos ressequidos, em que se transformaram organis­mos estiolados pela fome e pela enfermidade.

Muitos desses, ainda crianças, seriam os homens do amanhã que o presente tudo faz por negar a opor­tunidade de avançarem na rota da jornada evolutiva. A destinação histórica do futuro vai esmagada no fre­nesi teimoso do “agora”.

Escuta-os sem as palavras que não ousam arti­cular e recebe-os no coração sem exigências punitivas. Dês que os não podes levar para o lar que te agasalha, sorri e ajuda-os como puderes, considerando que sem­pre podes fazer algo por eles.

Se, todavia, te for possível recebê-los, ama-os como se fossem enflorescências da tua carne.

Pouco te importe sejam grandes ou pequenos, os sofredores.

O amor verdadeiro não escolhe dimensão nem seleciona aparências. É santificante concessão de Deus para enriquecimento da vida.

Urge fazeres algo por eles, os teimosamente aban­donados do caminho: órfãos dos teus olhos não os vias; aflitos, que em soluços junto à tua companhia, não ti­nham ninguém...

Quando alguém ama realmente uma criança que recebe e lhe não pertence pela carne, a humanidade consegue um crédito da vida.

Quando um espírito valoroso derrama a taça da afeição e do socorro legítimo no gral de quem sofre, o mundo se engrandece com ele.

É graças a esses, os irmãos pequeninos e sofredo­res, que a esperança se envolve de bênçãos e permanece entre as criaturas.

Faze da tua comunhão com o Cristo, a Quem di­zes amar, um ato de abnegação junto aos que necessi­tam de carinho, produzindo o teu nobre esforço ao lado deles um excelente festival de amor.

Olhos marejados de pranto, além-da-sepultura fitam os filhos que ficaram ou afetos que permanece­ram na retaguarda e corações que não cessam de pul­sar embora a desencarnação, latejam em apressado rit­mo, quando te acercas desses filhos desses quereres...

Não justifiques enfermidade, se pretendes disfar­çar a indiferença em que te comprazes discretamente, nem te apegues aos sofrimentos da leviandade se que­res desculpar a impiedade que te cerceia os passos.

Os que hoje são pequenos amanhã crescerão. Evita avinagrares a água da misericórdia que lhes ofe­reces, sem o azedume da infelicidade que dizes sofrer. Talvez eles sejam o sorriso dos teus lábios, mais tarde, se souberes o que fazer.

Os que já viveram, sofrem e podem compreender.

Sai da tua enfermidade imaginária para a ação curadora e faze uma doação de ternura, saudando neles, os amargurados que Jesus te apresenta, o sol formoso do dia sem fim da tua Imortalidade.

Quem O contemplasse entre as palhas ressequidas do berço improvisado não suporia que ali estava o Rei do Orbe, e quem se detivesse a contemplá-Lo coroado de espinhos, em extremo ridículo, silencioso e triste, não acreditaria que era o Excelso Filho de Deus. No entanto, foi entre aqueles dois polos, o berço e a cruz, que ele traçou a ponte de libertação, instaurando, de logo, o primado do espírito, com o próprio exemplo de renúncia total e total amor à humanidade de todos os tempos, de modo a conduzir-te ainda hoje, na direção dos Cimos da Vida.

42

LINGUAGEM DO PERDÃO

“Repara em uma vida de provações o que a outrem fêz sofrer em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, por sua vez, uma correção temporária e uma adver­tência quanto às imperfeições que lhe cum­pre eliminar de si, a fim de evitar males e progredir para o bem.”

O CÉU E O INFERNO 1ª parte, Capítulo 5º — Item 3.

A pedra bruta perdoa as mãos que a ferem, trans­formando-se em peça de estatuária valiosa.

A lama suporta o fogo e perdoa o oleiro, conver­tendo-se em vaso precioso.

A fonte desrespeitada perdoa quem lhe revolve o lodo, oferecendo água cristalina depois.

O grão de trigo esmagado perdoa o agricultor que o atira ao solo, multiplicando-se em muitos grãos que enriquecem a mesa.

O ferro deixa-se dobrar sob altas temperaturas e perdoa os que o modelam, construindo segurança e conforto.

A Natureza tudo perdoa, transformando o mal aparente em bem real.

A peça apodrecida sobre o solo é absorvida e re­nasce em nova forma, vitalizando plantas e animais, como mensagem de perdão da terra.

Tudo ama, tudo perdoa...

Perdoa a mão que te ultraja, a boca maldizente que te calunia, o olhar invigilante que te magoa, o es­pfrito que a enfermidade vergasta e que te persegue...

Perdoar é impositivo para cada hora e todo ins­tante.

No laboratório somático que serve de veículo tem­porário ao espírito, o amor de Deus vibra em perdão e harmonia como mensagem atuante e vigorosa, produ­zindo oportunidades e realizando tarefas.

Aprende, assim, a converter o mal que te fazem em bem que possas fazer.

E, se for necessário voltares ao ofensor e dele no­vamente sofreres ultraje, recorda que o Mestre preco­nizou o perdão indistinto e incondicional tantas vezes quantas fossem as ofensas.

Persevera no trabalho com que a vida te honra a reencarnação, perdoando sempre e sem cessar, e des­pertarás, um dia, depois de toda dor e toda sombra, além-da-matéria, libertado das ofensas e da morte no abençoado Reino do nosso Mestre, perdoado e feliz...


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FÁCILIDADE NAS TAREFAS

“Devido às suas imperfeições, o Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual, sen­do-lhe depois facultada a vida corporal como meio de reparação.”

O CÉU E O INFERNO — 1ª parte — Capítulo 5º — Item 6

Em conseqüência de uma observação apressada tem-se a impressão de que mui fácilmente, na atuali­dade, se pode manter conduta cristã.

Porque triunfos e comodidades assinalam a vida moderna, e em se considerando a benignidade das leis, em relação ao culto cristão, julga-se impensadamente que o momento não oferece ensejo para o martírio e a exaltação da Fé que modificou, a partir de Jesus, a estrutura sócio-moral da Humanidade.

O que ocorre, no entanto, é que a acomodação hodierna vem realizando conchavos negativos e convê­nios deprimentes entre a conduta cristã e a vida profa­na pouco recomendável, em que muitos crentes se comprazem.

Enquanto o Evangelho não triunfe no coração clareando as mentes, a fim de poder dirimir com segu­rança dúvidas de qualquer natureza, não conseguirá penetrar vigorosamente os portais do lar, conduzindo com eficiência o sagrado instituto da família.

Com os ensinamentos espíritas, ditados pela expe­riência dos desencarnados, as responsabilidades que assinalam o compromisso cristão se incorporam à vi­vência evangélica impondo diretrizes austeras para o dia-a-dia do homem na existência física.

Advertindo quanto ao despertamento da consciên­cia no Além-Túmulo, os Espíritos Superiores imprimem elevação e nobreza ao crente, elegendo nele o realiza­dor do bem indestrutível onde vive e com quem vive.

Tornando a vida cristã e espírita entibiada, muitos usuários da comodidade adaptam as disposições do Evangelho ao caráter leviano e repousam em agradá­veis bem-estares, crendo passada a época dos flagícios e dos sacrifícios pelo Cristo.

Neste particular, muitos expositores das verdades espirituais preocupados com o culto da personalidade e vítimas de terrível hipertrofia da razão, evitam os te­mas de despertamento moral, tendo em vista agradar aos ouvintes e formar círculos de admiradores em tor­no do “eu”, longe, todavia, dos objetivos elevados a que se propõem.

Campeia o aborto delituoso com falsa ingenuidade a respeito da consideração pela vida, com aplausos mais ou menos generalizados.

Anticoncepcionais são utilizados em larga escala por jovens e matronas que não pretendem a materni­dade, por motivos frívolos e injustificáveis. Evitam-se filhos, por considerações econômicas e outras de some­nos importância, convertendo o matrimônio em comu­nhão menos digna...

Explicam-se viciações ditas simples em se consi­derando as graves dissipações.

Cultivam-se jogos e narcóticos, alcoólicos e liber­tinagens, elucidando-se que as questões morais nada têm a ver com a Doutrina que atualiza o Cristianismo na Sociedade.

Cambistas, agiotas e fumantes, maledicentes e ca­luniadores, preguiçosos e displicentes afogam a cons­ciência nas ondas do não pensar, por enquanto, e todos se acreditam perfeitamente enqüadrados nas disposi­ções renovadoras do Cristianismo.

Leviandades e compromissos infelizes são acalen­tados com sorrisos joviais como se a honra fosse uma das diversas pedras com que muitos se divertem nos tabuleiros de xadrez.

E quantos buscam reunir na vida diária e domés­tica os requisitos mínimos exigíveis que traduzem a pe­netração do Cristo e do Espiritismo neles tão tidos à conta de fanáticos e dementes.

O dia do cristão cedo começa.

A madrugada se impõe sobre as sombras com o poder da luz.

As pequenas realizações fazem grandes os homens.­

As vitórias humildes sobre as paixões aparente­mente insignificantes e os singelos hábitos maus tor­nam valorosos os lutadores.

Somente quem é capaz de ser grande nas peque­nas lutas se faz humilde nas vitórias grandiosas.

Não te empolgues com as fácilidades que te advêm, transferindo o teu campo de ação para a borda de abismos disfarçados e sedutores.

Não te enganes a ti mesmo, persuadindo-te com utopias e sofismas que não aquietam nem harmonizam os ditames de consciência.

Apresenta a verdade sem dureza e usa a bondade sem pieguismo.

O valor do caráter é medido pela perseverança nos empreendimentos superiores, sem aspereza nem amolentamento.

Sê afável e meigo a serviço do Cristo, embora os calhaus que te firam.

Os Espíritos da Luz não improvisaram santifica­ção momentânea. Viveram retamente, na Terra, onde te demoras, perdendo, muitas vezes, para não se per­derem...

Surpreende-te quando tudo correr-te muito bem e mui fácilmente.

Recorda os supliciados e agredidos de todos os tempos.

Entre eles estão os pioneiros e heróis do Conhe­cimento, do Amor e das Artes, e, acima de todos, se destaca um Rei trajado de singela túnica e alpercatas humílimas, que se deixou flagelar para que a Verdade de que se fizera portador não ficasse confundida com a astúcia e a mentira, mas encastelada em luz divina para se derramar sublime pelos tempos em fora, ba­nhando de harmonia todos os corações.


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FIELMENTE

“O bem e mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fon­te de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre.”

O CÉU E O INFERNO 1ª parte — Capítulo 7º — Item 6.

Cônscio das lutas reservadas aos fiéis trabalhado­res da sementeira evangélica, Jesus foi definitivo: “No mundo — disse Ele — só tereis aflições”.

Comparava o Senhor a caminhada cristã ao ingen­te trabalho sobre a gleba humilde e boa, para a aqui­sição do pão.

Aqueles que desejassem serenidade antes da sementeira e bênção antes do merecimento, certamen­te veriam com desencanto a terra cobrir-se de cardo e urze perdendo o tempo e a oportunidade. E, se re­pousam prematuramente, reservam ingentes lutas para a própria subsistência no futuro.

No entanto, cientificados da necessidade de labo­rar, se se dispusessem a aprofundar sulcos, vergastando abismos para que os grãos atingissem a madre interna do solo, sofreriam o acúleo, a tormenta, a canícula e o cansaço, banhando-se de suor, mas de olhos fitos no chão coberto de vegetação e nos dedos do arvoredo, amparados pelos frutos.

Não se revoltariam por lutar nem se deixariam abater se a terra lhes negasse as primeiras dádivas, na colheita.

Pelo tirocínio, o homem sabe que, plantando, a produção advirá se os requisitos necessários forem observados e o trabalho for desenvolvido dentro das injunções tecnológicas.

É compreensível, portanto, o não haver lugar no mundo dos negócios nem dos prazeres para os lídimos cristãos. Não têm eles a pretensão de receber enflo­rescência antes da sementeira nem se podem candidatar à colheita enquanto a terra coberta de urze se consome na inutilidade. Sabem que o tempo desperdiçado na inoperância é abuso da fortuna do Senhor e é roubo àatividade da vida.

Por essa razão, sofrem.

Quanto mais se deixam absorver pela luta fasti­diosa, sob o sol causticante, mais se lhe acentuam as rugas da dor, mais se aprofundam as feridas das mãos, mais se avoluma o cansaço sobre as costas. Porque o trabalhador fiel não se detém a reclamar nem a exi­gir: ele sabe que há tempo para semear como há tempo para colher.

Espíritas! Serviço cristão é sofrimento, porta de serviço para a renovação de si mesmo, estrada longa a percorrer sítios difíceis a transpor!

Náufragos não têm condições de escolher batéis salva-vidas; presidiários não podem escolher sítios para a liberdade; déspotas, no ofício da reparação, não dis­põem de credenciais para as tarefas a executar.

A tua é a acre-doce luta da transformação interior.

Muitas vezes o vinagre da ingratidão ser-te-á o tônico de reconforto sob a canícula solar.

A mão espalmada do “vingador” sobre ti repre­sentará a cobrança da dívida adiada, que não podes reclamar; o desprezo, em forma de escárnio traduzirá o apelo-convite à humanidade que não pode ser des­considerada.

E a solidão, originária nas vergastadas e no aban­dono te conduzirá à trilha por onde chegarás ao porto da espiritualidade maior.

Ninguém guarde, por enquanto, coroas brilhantes para a cabeça nem se iluda com os ouropéis mentirosos que enganam o tempo.

Tapetes estendidos para os teus pés podem escon­der abismos, como muitas pinturas brilhantes disfar­çam manchas e escabrosidades...

Tua tarefa é de sublimação interior no dia-a-dia. Para quem sabe discernir cada dia guarda uma lição; cada lição é mensagem de experiência; cada experiên­cia significa aprendizado; cada aprendizado representa bênção e cada bênção traduz oportunidade evolutiva.

Aproveita, assim, as ensanchas que te surgem mesmo com as suas carregadas tintas e aprende a si­lenciar a ofensa, a desculpar o ultraje, a esquecer a malquerença, pontificando no bem infatigável sob chu­vas de granizo ou vapores terrificantes de calor. Não pretendas melhor dádiva do que aquela com que foi aquinhoado o Mestre a quem serves, que, vendido, açoitado, escarnecido, e plantado numa cruz, ainda foi constrangido pela dúvida de Tomé, companheiro desa­tento que estava ausente...

E, se duvidam de ti — bendize ao Senhor; se zombam de ti — confia no Senhor; se te abandonam — busca o Senhor que recebeu por companheiros, à hora extrema, dois criminosos que a penologia atual, embora não os levasse à cruz, daria a cela úmida e imunda do presídio a fim de cerceá-los do convívio so­cial em nome da ética e dos direitos legais da Socie­dade.

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DINAMISMO PARA A PAZ

“O bem e o mal são praticados pela função do livre arbítrio, e, conseguintemente, sem que o Espírito seja fatalmente impelido para um ou outro.

Persistindo no mal, sofrerá as conseqüências por tanto tempo quanto durar, a persistência, do mesmo modo que, dando um passo para o bem, sente imediatamente benéficos efeitos.”

O CÉU E O INFERNO 1ª parte, Capítulo 7º — Item 20.

Dificuldades, todos enfrentamos pela rota evolutiva.­

Aflições, todos experimentamos no exercício da sublimação.

Ansiedades, todos agasalhamos na execução do programa de libertação íntima.

No entanto, porque acidentes da estrada ocultem a meta de destino não significa isto o desaparecimento do objetivo a alcançar. Nem porque a noite em se assenhorandO da abóbada celeste espalhe sombras, dei­xa de recamar-se o firmamento com astros que fulgu­ram, confirmando o sol presente...

Faz-se necessário que a luta árdua seja contínua para que se comprove a excelência do lidador.

E nesse particular o estudante do Evangelho não tem motivos para estranheza.

Resnacido sob o sinete de débitos passados, é cons­trangido à recuperação na senda da ação enobrecedora, não conseguindo evadir-se da cela do compromisso sem os danos da fuga pela porta da irresponsabilidade.

Estigmatizado interiormente pela aflição punitiva a que faz jus como corretivo adequado, não encontra lugar de repouso nem sítio de paz, senão entre as urzes da tarefa renovadora e os calhaus dos deveres.

Afervorados, porém, ao ideal e vitalizado pelo Evangelho alimenta-se de esperança para, apaziguado, prosseguir sem deserção.

Convidado a doar, todos esperam que te does in­tegralmente.

Instado a amar, todos aguardam que teu amor se individualize em relação a cada um sem que te esque­ças de ninguém, esquecido, no entanto, de ti mesmo.

Levado a ajudar, todos esperam que teus braços sejam sempre como conchas de socorro sem tempo de ajudar-te, consoante os padrões da vida que todos pe­dem viver.

Sucede, desse modo, que o cristão verdadeiro car­rega o Cristo para todos e, ao conduzi-Lo, renova-se e vive naturalmente.

Mas não se pertence.

Não se permite prêmios.

Doando-se não se pode prender, amando não aguarda amor e ajudando não lhe é lícito predileção no tipo de auxílio a distender.

Torna-se o irmão de todos, faz-se compreensão para todos.

É uma gota de paz no oceano dos conflitos.

Não esmorece, pois que, possuindo a paz de espí­rito, é mordomo de tesouros que o capacitam ao sacri­fício e à redenção.

A fim de que a paz do Cristo te afaste os obs­táculos, as aflições e os anseios, faze um programa de manutenção e assistência, fácilitando-lhe a continuida­de nos recônditos do ser.

Disciplina o tempo e estuda a Doutrina dos Espí­ritos na qual haures equilíbrio; seleciona pensamentos, vitalizando apenas os que edificam, para os amadure­ceres pela meditação, a fim de que se corporifiquem como benfeitores; visita dores maiores do que as tuas com alguma freqüência; acompanha um féretro, ao lado dos que experimentam a ausência do ser querido, para te lembrares da própria desencarnação, que logo mais advirá; descarrega a tensão nervosa num trabalho físico com regularidade; distribui algo pessoal para treinares o desapego às coisas que ficam na retaguarda, e ora, com assiduidade, a fim de que as ondas da inspiração superior visitem tua casa mental e lubrifiquem peças e impLementos do aparelho elétrico do sistema nervoso que te serve de sustentáculo.

Liberta-te do ciúme — chaga atroz.

Aniquila a dúvida — sombra perturbadora.

Expulsa a suspeita — adversária cruel.

Dissolve a preguiça — entorpecente maldito.

Anula a cólera — fâmulo criminoso.

Combate a malícia — tóxico aniquilante.

Dá o teu esforço para que recebas o reforço neces­sário.

Não há oferendas sem base de mérito relativo nos arraiais da evolução.

A corrente elétrica produz se o dínamo gera ener­gia e a aparelhagem funciona se ajustada à ciclagem por onde corre a potencialidade energética.

Tendo no Cristo o dínamo potente a gerar corrente incessantemente, ajusta-te ao seu diagrama de serviço para que brilhem e se movimentem em ti a paz e a feli­cidade de que careces, e vencerás dificuldades, aflições, ansiedades, vivendo uma vida harmoniosa numa ascen­são perfeita e libertadora.

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NEGOCIAÇÕES COM DESENCARNADOS

“A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se origina­va nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um re­curso para adivinhações, tal como nos angúrios e presságios explorados pelo charlatanismo, e pela superstição. Essas práticas, ao que pa­rece, também eram objeto de negócio e Moisés, por mais que fizesse, não conseguiu desen­tranhá-las dos costumes populares.”

O CÉU E O INFERNO - 1ª parte — Capítulo 11º — Ítem 4.

Contam que Periandro, o tirano de Corinto, depois da desencarnação de Melisses, sua esposa, mandou evo­car-lhe o espírito, através de famoso médium de Dodona, no Epiro, a fim de informar-se quanto ao local em que fora enterrado um tesouro e cujo segredo levara para o túmulo. O espírito, no entanto, recusou-se a divulgar a informação sob a alegação de que o marido esquecera de prestar-lhe algumas homenagens póstu­mas. Ciente da queixa da “sombra”, mandou Perian­dro que se fizessem as cerimônias, após o que, o espírito deu os pormenores solicitados.

Desde a mais remota antigüidade as sombras dos mortos eram convocadas ao comércio com os homens, em nefandas mancomunações, alongando e mantendo no além-túmulo os vínculos com as paixões turbulentas e mesquinhas que os caracterizavam, com resultados quase sempre decepcionantes...

Em todos os povos as oferendas aos desencarna­dos eram feitas através de evocações burlescas e selva­gens, nas quais se pretendia intercâmbio rendoso e imediato. Tais práticas, apesar de degradantes, alon­garam-se pelos séculos e, ainda hoje, não são poucos aqueles que supõem encontrar nas modernas sessões mediúnicas do Espiritismo cristão, as possibilidades de negociar com os desencarnados em propostas ridículas, vazadas nos mais eloqüentes despropósitos.

Médiuns há que sintonizam com espíritos de todo quilate.

Espíritos há que se comprazem em intercâmbio com médiuns possuidores dos mais abjetos sentimentos.

O Mundo Espiritual é residência fixa dos viajan­tes do mundo corporal...

Cá e lá as condições de vida se assemelham, as circunstâncias morais têm as mesmas nuances.

Não há porque estranhar repontem em todo lugar as informações apaixonadas deste ou daquele negocista das especiarias mediúnicas, relatando descobertas va­liosas, doando possibilidades de vida fácil e sem esforço, deslumbrados pelo que os Espíritos dizem e se propõem fazer...

Os desencarnados, embora considerados mortos vivem, e mesmo os menos esclarecidos podem informar, esclarecer, falar do passado, pensar, homens que foram, espíritos que são, com preferências, com aspirações.

Tens, porém, a Doutrina Espírita para teu con­solo e roteiro. Não te mente para agradar, não te engana para conquistar.

Consola-te e recomenda cuidado com o erro e o crime.

Guia-te e liberta-te das paixões.

Diante do sofrimento não alude à dor com evasi­vas, utilizando o desculpismo de tão bom paladar para os trêfagos.

Mas te fala dos erros de ontem que hoje resgatas, e, quando separado de a quem amas por este ou aquele motivo, não te acena vãs promessas e loucas esperanças, esclarecendo que o óbice de agora é lição para o futuro, preconizando fraternidade e amor em moldes elevados e libertadores.

Não te enganes nem enganes a ninguém.

O Espiritismo é como a luz — não enseja equí­vocos.

Prometido por Jesus e por Ele próprio denomi­nado Consolador, o Espiritismo ajuda o espírito a ascender, embora seja através da cruz de provações que outra não foi, senão aquela mesma que o Mestre con­duziu ao Calvário, e na qual ensinou libertação e feli­cidade perene à Humanidade, milênios afora, em subli­me negociação de amor sem fim.

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O MUNDO E TU

“No mundo dos Espíritos há compensações para todas as virtudes, mas há também penalidades para todas as faltas e, destas, as que escaparam às leis dos homens são infalivel­mente atingidas pelas de Deus.”

O CÉU E O INFERNO — 2ª parte — Capítulo 6º — Item 19. (Comentários — O Espírito de Castenaudary).

Os olhos umedecem quando meditas, consideran­do as pequenas migalhas que te exornam a existência, como minguadas concessões que consegues desfrutar.

Deslizam, ao teu lado, sobre as águas cantantes do rio do prazer as barcaças da ilusão apinhadas de aficionados.

Parecem felizes, competindo com a luz formosa, adereçados de encantamentos, num festival de radiosa febricidade de alegria. Gostarias de ser como eles.

Alguns passam céleres pela tua porta em veículos modernos de extravagante arrogância, com petulante desdém, espraiando o triunfo pessoal que os empolga. Desejarias fruir, como eles, algumas horas de sonhos.

Muitos desfilam, vaidosos, e repousam em tronos de alegria e beleza, imperando vitoriosos, embriagados de poder. Anelarias experimentar as emoções que os amolentam.

Conheces da experiência carnal somente dificul­dades.

O pão te chega à mesa a preço de amorgo suor.

Carpes incompreensão em poço de indescritível soledade.

Consegues o mínimo com esforço inaudito.

A alegria é hóspede desconhecido do teu coração.

Nenhuma extravagância, nenhum excesso.

As horas dividem-se entre deveres e deveres.

Parece-te que a lei da divina justiça te tributa pesado imposto pela honra da vida.

Assinalas nos outros o que eles exibem e que lhes não pertence.

Não creias em felicidade a manifestar-se ruidosa.

Não confundas triunfo com algazarra.

Muitos vencedores foram assassinados após as vitórias, enquanto repousavam em coxins suaves.

Escravos de si mesmos e escravos de outros escra­vos que os dominam às ocultas têm sede de liberdade e vida simples, esses que te exibem sorrisos profissionais de falsa alegria.

Pensas que eles tudo têm mas em verdade não se têm sequer a si próprios. Não conseguem desvenci­lhar-se do cipoal a que se enovelaram nem conseguem sobreviver sem o tóxico que os aniquila vigorosamente.

Choram sem lágrimas, pois que estas secaram pelos caminhos que percorreram na terrível busca desse nada.

Sofrem e não encontram ouvidos que os escutem.

Aqueles que os cercam, quase sempre desejam roubar-lhes o lugar para envergarem as suas amarfa­nhadas fantasias. Embora os aplausos, os sorrisos e os amigos, vivem sozinhos...

És livre, porém, apesar dos elos da cadeia dos deveres nobilitantes.

Ama apesar de não receberes retribuição.

Ajuda mesmo sem a consideração dos socorridos.

Estende os tecidos da esperança embora não te identifiquem os beneficiados.

Podes fruir a paz que dimana da prece e a harmo­nia que se derrama da fé.

Possuis felicidade sem mesclas de crime nem bases de enganos.

Não invejes os que se estão atirando ao autocídio inconsciente.

Pensa nesses triunfadores enganados com simpatia e cordialidade.

Exulta por te encontrares em pleno caminho de redenção espiritual, expungindo enquanto outros se infelicitam, libertando-te ao tempo em que outros se enclausuram.

E se puderes partir os elos mesquinhos da auto-compaixão infundada e desnecessária, bendize o que tens, a vida que experimentas e a fé cristã-espírita que te ilumina interiormente conseguindo sobrepor os ideais incorruptíveis da imortalidade aos jogos vis e escravo­cratas do mundo.

Muito oportuno recordares o ensino de Jesus:

“No mundo só tereis aflições”... mas os que porfiarem fiéis até o fim herdarão a glória excelsa.


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ANTE A SEARA ESPÍRITA

“O Espiritismo, partindo das próprias pa­lavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é conseqüência direta da sua dou­trina.”

A GÊNESE — Capítulo 1º — Item 30.

No campo espírita há lugar para todas as moda­lidades de labor que se possam imaginar, para quem deseja atingir a paz com felicidade plena.

A grande aspiração dos primeiros seguidores do Cristianismo nascente agora se repete entre os adeptos do Espiritismo — o Cristianismo reinante.

O espírita mantém vida pública em inalterável atuação produtiva.

Não tem horas reservadas para o auxílio — ajuda sempre.

Não usa o tempo em contemplação paralisante —age sem cansaço.

Não transforma a oração em petição de auto-bene­ficiamento — faz da prece meio de comunicação com o Senhor.

Não confia, demorando-se em atitude morna e inoperante de espera inútil — utiliza os valores do tempo e conquista mérito.

Não relega aos Anjos Tutelares as tarefas que lhe competem — crê no auxílio do Céu mas trabalha nos deveres da Terra.

Não permuta com o Pai os valores do mundo em negociações ilícitas — reconhece-se como devedor per­manente do Grande Criador e dá-lhe a vida inteira.

O espírita, repetimos, estuda e aprende.

Em círculos de estudos realiza a cultura e, apren­dendo, ilumina a mente.

Ama e engrandece-se pelo trabalho.

Na seara do bem desenvolve e santifica o sentimento.­

Respeita no mundo o Grande Lar que o Genitor Divino erigiu.

E enobrece pela conduta reta o humilde lar que edifica para a felicidade da família.

Difunde a Suprema Misericórdia em exórdios can­dentes e apaixonados.

E realiza discursos de amor em atos de misericór­dia para com os infelizes.

Acata as diretrizes das Leis Cármicas com que a Vida o corrige e educa.

E usa o perdão como medicamento valioso para quantos o ferem na existência física.

Cumpre o dever da prece em conjunto, no Templo de edificações coletivas.

E ora em segredo no silêncio da mente quando realiza, sofre ou é feliz.

Presta culto de sublimação à Sapiente Causa.

E descobre em todos os anciãos a figura do pai alquebrado, necessitando de braços que os amparem.

O Céu é o porto ansiosamente sonhado.

E a Terra é a escola de bênçãos preparatórias.

Sabe que a fé, a demorar-se em êxtase, é impro­dutiva, porque tem em Jesus o Mestre da ação incan­sável.

Dedica-te, assim, se buscas o campo espírita para a realização do auto-aprimoramento, porqüanto a feli­cidade prometida pelo Amigo Inconfundível não édaquele que a assalta mas de quem sabe agir, perma­necer e confiar nela.

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FÉ E CONDUTA

“Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai, porque está na Terra, porque sofre temporariamente e vê por toda parte a justiça de Deus.”

A GÊNESE — Capítulo 1º — Item 30.

Vive o cristão moderno na catedral forense da Fé à semelhança de nobres expositores em inoperância, discursando para ouvintes impassíveis.

Apontam deficiências, apresentam sugestões, im­põem diretrizes, sem resolverem o problema da multi­dão que os contempla em modorra silenciosa.

Não ajudam positivamente. Não se melhoram, embora as respeitáveis afirmações da referência pessoal.

Quando silenciam e demandam a via pública con­duzem valiosos conceitos de bolso e alma vazia.

Alguns, ligados às diretrizes de Rosa, procuram apenas observar fórmulas exteriores, complicando a Promessa Divina em liturgias aparatosas que imprimem respeito às aparências desvaliosas.

Outros, comprometidos com as igrejas nascidas na Reforma, expõem a letra morta da Lei, transforman­do-se em juízes severos, contando consciências salvas, dividindo as criaturas e organizando estatutos de con­duta para o próximo em expressivos discursos teológicos, dominados, muitas vezes, por ódios de grupos que se digladiam.

E outros mais, irmanam-se aos compromissos espiritistas, experimentando a mensagem da Lei infati­gável, no corpo da existência física. Mesmo assim, repetem os equívocos dos aparatosos irmãos romanos e apresentam verbetes onde fulguram luminosos con­ceitos de fé.

Quando, porém, todos despirem a túnica da carne e demandarem o Supremo Tribunal, o Grande Juiz os fitará com a decepção estampada na face, e, precípites, os desconcertados crentes passarão às justificativas a que se habituaram enquanto no caminho.

O filho de Roma dir-se-á ludibriado pela tradição religiosa, transferindo a responsabilidade dos seus insu­cessos espirituais aos mentores que o norteavam.

O discípulo da Reforma fará citações oportunas recordando que a fé salva mas sem justificação para a ausência de anotações de trabalho na ficha de serviço fraterno.

Mais lamentável deverá ser a situação do discípulo de Allan Kardec, que conheceu por experiência pessoal a expressão nobre da fé que descortinou. Não terá justificativa porque sabe que fé é norma de conduta.

Fé é enflorescimento — conduta é fruto.

De mãos vazias, todos estarão aguardando a res­posta no Grande Tribunal.

Aos primeiros, o Grande Magistrado concederá o ensejo de reaprender, retornando à escola da carne pelo caminho do sofrimento...

Aos segundos, o Chefe Supremo oferecerá a opor­tunidade nova de serviço na gleba feliz do mundo, ten­do a mente tarda e ágeis as mãos.

Mas aos servidores negligentes, conhecedores da sabedoria da Lei divina, o Patriarca Celeste sentenciará:

“Tenho piedade de vós! Retornareis ao ilhéu da matéria no oceano da dor... Não somente para servir mas também para meditar e aprender. Ali o tempo caminhará convosco trabalhando, em vosso coração a mensagem viva do dever”.

Tal será o resultado do julgamento quando os pregoeiros da palavra e da crença, na grande catedral forense da fé, retornarem à ribalta do mundo para a sublimação dos ideais, no carreiro da Caridade.

Mergulha, desse modo, o pensamento no estudo e na prática do Espiritismo, assenhoreando-te do conhe­cimento para identificares os móveis dos sofrimentos atuais, corrigindo arestas morais e construindo em volta dos próprios passos uma senda de luz, por onde possam avançar outros pés, no rumo da libertação plena.

50

LUTA E LIBERTAÇÃO

“A vossa visão se detinha no túmulo, nós vos desvendamos, para lá desde, um esplên­dido horizonte. Não sabíeis porque sofreis na Terra, agora, no sofrimento, vêdes a justiça de Deus.”

A GÊNESE — Capítulo 1º — Ítem 62.

Estás empenhado numa grande luta.

Conflito sem quartel a espraiar-se indomável.

Avalanches aflitivas que surgem, soterrando espe­ranças.

Batalhas encarniçadas que aparecem, dizimando corações.

Ninguém está em paz total.

Se por um lado as mentes se alçam às culminâncias da técnica, construindo os admiráveis instrumentos da pesquisa, construção e transporte, por outro lado, as diferenças morais e econômicas proporcionam as que­das desastrosas do sentimento.

E apesar das fácilidades modernas enxameiam misérias indescritíveis.

Com tanta luz projetada nos caminhos da razão as trevas se demoram densas e ameaçadoras..

Das tormentas, porém, advêm as alvíssaras da tranqüilidade.

A luta é, indubitavelmente, uma imposição evo­lutiva.

Mantém-se o corpo através do conflito celular.

Voeja a borboleta com a dilaceração da lagarta. Sustenta-se a árvore com a decomposição dos teci­dos que a adubam.

Comprometido com a retaguarda espiritual, o homem de hoje como o de ontem, recupera os patrimô­nios da vida com que se comprometeu em arremetidas da loucura.

Trazendo à atualidade o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Doutrina Espírita ensina mudan­ça de rumo para o pensamento, e realização edificante para o sentimento.

Objetivando a construção da felicidade no cerne das criaturas oferece a instrumentação do esclareci­mento e dos fatos, convocando as forças atuantes de cada um para a batalha real da libertação total.

Não somente luta externa pelo poder que não felicita.

Nem luta interna sob o guante das seduções dege­neradoras.

Extinção do mal interno angustiante e vigoroso —eis o objetivo essencial.

Libertação de todo gozo fácil e breve, para reali­zação do gozo pleno e total.

Repetindo a sentença do Mestre que “não veio des­truir a Lei mas dar-lhe cumprimento” asseveram os Espíritos da Luz que o Espiritismo “não vem destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução”.

Resolve-te, pois, quanto antes e sem demora, ao empreendimento da auto-libertação e não te faltarão os recursos para a vitória imperiosa e inadiável sobre ti mesmo, nas grandes lutas do momento em que a espécie humana se encontra para a sublime ascensão.

51

EM PAZ

“Desimpedida a visão espiritual das beli­das que a obscureciam, eles o verão de todo lugar onde se achem, mesmo da Terra, porqüanto Deus está em toda parte.”

A GÊNESE — Capítulo 2º — Item 34.

Porque depares a dissipação e o vício nas diversas esquinas do caminho, não consideres a estância terrestre como um pardieiro onde o crime se agasalha.

Porque a enfermidade seja uma constante na caminhada humana, não creias que a Terra seja um hospital de infelizes experimentando tormentos inomi­náveis.

Porque a solidão te ofereça agasalho vigoroso, não permitas o aniquilamento do instinto gregário que a todos impele para a vida em comunidade.

Porque problemas de vária ordem te amesquinhem, abrutalhando os sentimentos que trabalhavas para a sublimação interior, não penses que a dor é operária impiedosa e invencível a soldo da divina inclemência.

Porque a loucura faz caça ao prazer, não justi­fiques a delinqüência pessoal, acumpliciando-te cada vez mais com os verdugos da própria serenidade.

Porque dourados tetos acobertam a intrujice e o crime, como se a vitória do poder fosse áulico dos desonestos não os invejes, revoltado ante as duras penas que expunges...

Há muitos cristãos e espíritas que embora as lides doutrinárias a que se ligam perseguem os lauréis do engano com infatigável destemor.

Dizem acreditar na imortalidade do espírito, mas agem às tontas, às cegas.

Informam acatar a diretriz evangélica, no entanto, vivem distanciados dos nímios postulados da honesti­dade e do equilíbrio.

Afirmam a excelência da fé a que se irmanam, todavia, conduzem as atitudes em sentido oposto aos roteiros que pretendem testemunhar.

Esclarecem o valor da pureza e lecionam solidarie­dade e amor, entretanto, utilizam-se dos ardis que os maus movimentam e pensam sempre em si, criando e mantendo círculos estreitos de amizade.

Acatam as instruções dos Espíritos e se emocio­nam com as narrativas da Erraticidade, conquanto pre­firam o “hoje” e nesse “hoje” somente o “agora”, tendo em vista o “amanhã” nas mesmas bases do “hoje”.

Explica-se que as circunstâncias da vida moderna são os fatores causais da desordem moral e social que estruge vitoriosa em toda parte. Convém, porém, re­cordar que Jesus nascendo na hora e no dia de Augusto, e vivendo no reinado de espoliamentos morais e econô­micos de libério, edificou uma Humanidade em bases superiores, imolando ao ideal do amor a própria vida.

Depois de doutorar-se em Medicina, em Londres, com todas as láureas em todas as disciplinas, e defender com brilhantismo invulgar a cátedra que lecionou por apenas um ano, Vivekananda descobriu que perdera o contato com Deus.

Abandonou tudo: glórias, honras, posição, gran­deza e retornou à Pátria para reencontrar-se, reencon­trar Deus.

Logo chegou foi visitar o seu velho preceptor espiritual. Às primeiras palavras o mestre ordenou-lhe silêncio, com um gesto típico, apontando-lhe humilde assento e o deixando em quietação.

Decorridas algumas horas, este, por sua vez, sen­tou-se-lhe ao lado e o inquiriu bondosamente.

— “Desejava reencontrar Deus” — respondeu-lhe o discípulo emocionado, após minudenciar as conquis­tas e buscas, as lutas e triunfos, a grande frustração espiritual.

Mergulhando em meditação demorada o guru quedou-se, para depois dirigir-lhe ossudo dedo entre a quarta e quinta costela, na direção do coração, como a dizer-lhe que ali, no mundo, ele o encontraria...

Apaga, no mergulho da prece e da meditação, em ensimesmamentos espirituais, as chamas da inquietude e faze bastante silêncio no espírito aturdido.

Examina em profundidade o que desejas realmen­te, como o pretendes, para quanto tempo o queres.

Depois busca a renovação na fé viva e avança pelos rumos difíceis.

Nada te empanará o brilho do entusiasmo, nenhu­ma sombra te perturbará.

Os maus não te farão mau, os doentes não te contaminarão, os infelizes não te inquietarão.

Brilhará a tua luz em toda parte se te ligares a Jesus, o Dínamo Sublime, e estarás tranqüilo mesmo quando soe a hora do despertamento consciencial com a chegada da desencarnação, porqüanto, com Deus, em paz, sentirás, em paz, Deus contigo.

52

APARELHADO

“Tendo o homem que progredir, os males a que se acha exposto são um estimulante para o exercício de sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitan­do-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessida­de o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada in­ventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do pro­gresso.

A GÊNESE — Capítulo 3º — Item 5.

Nas atividades diárias ocultas, numa discreta e aparente tranqüilidade, o vulcão voraz que estruge e arde interiormente, aniquilando-te com lento e seguro vigor.

Cessada a labuta, no silêncio que se faz natural e que deverias reservar à prece e à meditação, dás lar­gas ao desespero, alimentando fantasmas e duendes adversários da paz.

Rebelas-te e te arrojas às furnas hediondas do medo, caindo inerte nos braços da ira.

Os dias são consumidos pela ansiedade de logo passarem, como se desejasses competir com a marcha equilibrada do tempo, a fim de acabar tudo, consu­mir-se para esquecer.

Não ignoras que ninguém consegue esquecer a responsabilidade e sabes que sofrimento é resgate.

Valorizas os problemas afugentes e os vitalizas com a contribuição de forças vivas que os corporificam nas províncias da mente conturbada.

Exclamas que tens dificuldades inumeráveis e que tudo parece conspirar contra os teus desejos.

Mal te apercebes que aquilo que gostarias de possuir e quanto anelas fruir poderia representar uma soma de cruéis suplícios e amargores cujo travo des­conheces.

Cultivas pessimismo e naturalmente recolhes mias­mas pestilenciais.

Uma visão educada para descobrir espinhos, num roseiral apenas encontra acúleos.

Sai, no entanto, do ergástulo do eu e visita a paisa­gem... Há homens e mulheres mutilados e disformes, limitados e sem movimentos, enfermos e atrofiados, bendizendo a vida e sorrindo...

Inundam-se de sol, clareiam-se com a esperança, glorificam a vida.

Observa-os lutando para conseguirem o mínimo que na tua organização celular é abundância. O que lhes falta é fartura no teu corpo. O que não têm, sobra-te.

Não te invejam, não te reclamam.

Lutam, sofrem, empreendem a viagem do esforço contínuo, denodados, tentando vitória sobre as defi­ciências.

Aparelhado como te encontras e enriquecido pela dádiva de um corpo harmônico mutilas-te, deformas-te, limitas-te, emparedas-te na redoma de injustificável rebeldia...

Arrastas-te, vencido, tentando refletir uma sereni­dade que preferes não gozar, inquieto, em nevrose...

A viciação mental exala fluidos tão destruidores como o são os gases letais.

O homem é o que eLucubra e prefere nos rincões da mente, pelo que pensa.

Pensamento — atitude.

Vibram em todas as direções as ondas mentais através dos fluidos teledinâmicos.

Vampirismos e obsessões interligam encarnados e desencarnados, atra­vés de princípios semelhantes aos da indução magné­tica, favorecendo processos de parasitose psíquica, que geram delinqüências multiformes.

Manifestando sua sabedoria o Excelso Pai a todos aparelhou na Criação, para que se realizem na Terra os misteres da evolução.

Os entomologistas, após milhares de observações cuidadosas, apresentam a cada instante o testemunho eloqüente da sábia legislação divina.

Os insetos, por exemplo, respiram através de tubos. Mesmo que os seus corpos aumentem de volume os tubos não crescem na mesma proporção. Graças a isso, o seu tamanho é limitado.

As abelhas, que têm merecido especiais estudos, dão lições de equipe, harmonia e disciplina a muitos homens civilizados.

Entre os peixes, o salmão, à época da desova, abandona as águas onde se encontra e volta ao rio em que nasceu, viajando contra a corrente, pelo lado do afluente que lhe serviu de berço e aí procria.

As enguias sempre retornam às Berrnudas para a procriação, após o que, morrem... Seus descenden­tes, no entanto, aparentemente desprovidos de meios voltam às mesmas águas donde emigraram seus ances­trais e habitam mares, lagos, rios nos diversos pontos da Terra sem se extraviarem.

Refaze o teu caminho e recobra o alento.

Bendize o sofrimento. Ele é, por enquanto, o escoadouro dos teus débitos. Assemelha-se a dreno incômodo mas salvador, sem o qual perecerias.

A humanidade se tem levantado graças às renún­cias e sacrifícios dos sofredores.

O Cristianismo, entoando a melodia da vitória incorruptível da vida, sustenta seus alicerces no marti­rológico... E a mensagem Espírita que agora te fala sobre a imortalidade e a honra de sofrer vencendo a dor, é apresentado pelos que viveram na Terra, aqui sofreram, lutaram, pagando à vida física o seu tributo, e hoje, livres, valorizam no seu legítimo significado a função do sofrimento em que forjaram a paz e a har­monia que agora desfrutam.

53

AMBIÇÕES

“Sabe-se agora que muitos Espíritos desen­carnados têm por missão velar pelos encarna­dos, dos quais se constituem protetores e guias; que os envolvem nos seus eflúvios fluídicos; que o homem age muitas vezes de modo inconsciente, sob a ação desses eflú­vios.

A GÊNESE — Capítulo 3º — Item 14.

Cogitações de longo alcance vibram nas redes da tua mente, desdobrando planos complexos, tendo em vista resultados financeiros favoráveis e vultosos.

Para alcançares a meta das ambições que fulguram nas províncias íntimas, manipulas pessoas como máquinas, cuidando de todos, objetivando apenas o pró­prio “eu”.

Programas revolucionários que concedem somas fantásticas, requerem toda a força da astúcia e pene­tras o labirinto das aspirações com desmedida avidez, atropelando aqueles que se opõem, dificultando o teu avanço.

Assessorado por sicários desencarnados que te espreitam, vingadores, nada vês senão o que ambicio­nas, nada queres senão o que colima nos sonhos que a realidade vai consumir.

A riqueza te parece uma das mais importantes metas e te afervoras em adquiri-las sejam quais forem os meios.

Com ela, supões, poderás ajudar, ampliando o ser­viço de auxílio aos que deambulam sofredores e inertes nos braços da miséria e da aflição.

Mente clarificada enriquece-te de valores que des­prezas por outros valores.

Se parares a meditar, aprofundando as razões do teu renascimento concluiráS que paixão idêntica te con­sumiu ontem, quando resvalaste através das fissuras morais que a imprevidência abriu, asfixiando e malo­grando a experiência carnal...

Providencialmente renasceste em lar humilde, con­vocado a rudes lutas para que as batalhas aspérrimas te felicitassem com forças morais o caráter.

A saúde que te visita as células é concessão para que possas, fortalecido, resgatar, evoluir, edificar.

Além de mil favores com que fôste afortunado desde o berço, alguns dos quais em forma de limitação e dificuldade, outros como inteligência e equilíbrio psíquico, recebeste o tesouro espírita de que te assenho­reaste, como providência salvadora, face à possibilidade de reincidires na mesma loucura dantanho.

Pára, portanto, enquanto não te perturbas ante compromissos mais graves.

Retorna ao ponto de partida com as mãos vazias é certo mas de consciência tranqüila.

Ambição desmedida é portal para a loucura.

Olha em derredor: tudo convida ao equilíbrio, ao respeito à Lei.

O ar de que careces e que te não falta;

A linfa imprescindível e que canta junto às tuas necessidades;

O pão generoso e insubstituível que se multiplica farto no solo;

A paisagem em festa para os teus olhos cansados.

Estendem-se as bençãos do Nosso Pai ao verme do subsolo e às constelações, em toda a parte.

O relógio da criação da vida na Terra assinala para os homens somente alguns minutos transcorridos em relação ao turbilhão inicial das construções geoló­gicas e das primeiras formas...

Não te apresses pelo corredor da irresponsabili­dade que leva à auto-destruição. Estuga o passo na aduana e refaze o caminho...

Conhecimento espírita pode ser comparado a anti­corpo excepcional para o virus da ambição degene­rescente.

Ensinamento espírita é também vigor para o equi­líbrio manter-se sereno embora as vicissitudes.

Nunca estarás a sós nas tuas lutas de sublimação.

Na certeza de que prosseguirás depois da morte com os valores a que te afervores, considera a mensa­gem espírita e cristã da prudência e do amor, e não te deixes aniquilar pelos tormentos de agora, pois que, além das portas do horto de amarguras em que te encontras, frondes protetoras aguardam por ti e cami­nhos amenos esperam teus pés andarilhos na busca sublime da paz, à semelhança d’Aquele que tudo cedeu para tudo possuir.

54

EXULTANTE

“Uma vez estabelecidas relações com os habitantes do mundo espiritual, possível se tornou ao homem seguir a alma em sua mar­cha ascendente, em suas migrações, em suas transformações.”

A GÊNESE — Capítulo 5º — Item 16.

Consoante as lições do Espiritismo, que te acla­ram as razões antes ignoradas da aflição e da angústia, respeita, na provação, o clima de luz necessário à pró­pria felicidade.

Há quem diga que a convicção imortalista nada tem a ver com abnegação ou dignidade moral. É aquele que faz da Revelação espiritista um ingrediente para uso em horas determinadas, sem outras conse­qüências.

Há quem explique que a religião, assentada neces­sariamente numa fé racional, não tem algo a ver com a conduta em sociedade. É aquele que vive aparente­mente filiado à fé religiosa usufruindo os benefícios conseqüentes da corrupção dos fracos, sem se renovar ulteriormente.

Há quem pretenda seja a religiosidade um primi­tivismo emocional, herança dos velhos feitiços que somente aos incultos e débeis constitui motivação espi­ritual. Ë aquele que apregoa crer em Deus por con­clusões resultantes da pesquisa científica e aceita a vida extra-física, prosseguindo amoral, quando não mais seguramente reprochável na conduta particular ou na vida social.

Há quem diga que o princípio espiritual é capítulo da Metafísica e que nenhuma prova existe da imorta­lidade. É aquele que se supõe conhecedor de tudo.

Uns pretendem iludir-se e conseguem-no fácilmen­te — são opiômanos ante a informação espiritual.

Outros disputam fantasias e enfeitam-se de tran­qüilidade — são narcisistas religiosos.

Os demais exibem superação da ignorância, ten­tando livrar-se das atividades que o crer impõe, e des­garram-se — são ególatras arreligiosos.

Conheces, porém, por experiência íntima intrans­ferível — por mais vigorosas sejam as tessituras apa­rentes da argumentação em contrário — o rumo da sublimação através das linhas evangélicas a transuda­rem dos tempos, convocando-te o espírito, na Doutrina Espírita, para a luta enobrecedora sobre ti mesmo.

A mediunidade abriu portas antes fechadas para o teu espírito, apontando-te horizontes felizes.

Em cada experiência novos fantasmas do passado culposo recorporificam-se famanazes e truculentos.

Enflorescem em teu íntimo as plantas da ilusão que não conseguiste destruir.

Refazem-se painéis de angústia e falsas necessida­des nos dédalos da mente sem que logres vitória fácil.

Reacendem paixões que ferem como acúleos cruéis que te maceram, sem libertação integral, malgrado a luta que travas.

Só a fé que te vitaliza, graças ao Espiritismo, ofe­rece força e alento para uma religiosidade atuante, salvadora.

Com ela amparas a dor, compreendes a vida, acen­des esperanças, consolas aflições, espalhas amor.

Amparado por ela, na balbúrdia faze-te silencioSO, na loucura revelas-te sereno, na angústia permaneces tranqüilo, na revolta apresentas-te pacífico.

Não te amedrontes nem te sintas diminuído no campo em que operas.

O míssil balístico que carrega morte num invó­lucro brilhante, veste-se com linhas aerodinâmicas.

A vacina salvadora surge da cultura microbiana perigosa.

A usina potente sustenta-se em bases rochosas ocultas.

A vida orgânica é patrimônio do protoplasma.

Produze com segurança e faze-o com alegria.

Dá a tua contribuição à felicidade geral com a flama da tua devoção e da tua fé.

Obtempera que, incompreendido, Jesus se deixou arrastar, flagiciado, até o madeiro de imolação para ensinar-nos, valoroso, que os hipnotizados na ilusão, os ludibriados no equilíbrio e os enlouquecidos em si mes­mos, embora vencedores aparentes são vencidos que se reconhecem sob o estigma da aflição que os infelicita...

Porfia, pois, exultante, e não recalcitres nem titubeies

55

NO RUMO DA LUZ

“Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa ao fim que lhes cumpre alcançar.”

A GÊNESE Capítulo 11º — Item 9.

Mágoa injustificada nubla a face da tua alegria. Agasalhando-a, concedes tempo precioso a argumen­tação íntima desnecessária que te gasta em combate inútil.

Reclamas, porque companheiros levianos usaram do teu nome, fazendo-te co-autor de infâmias ou por­que, infelizes, se referem maldosamente às tuas expres­sões, envenenando teus melhores conceitos, culminando por coroarem de espinhos os teus mais alentados sonhos.

Sofres, porque desejas esclarecer, pretendendo si­lenciar a boca da calúnia com o esparadrapo da ino­cência.

Consideras que as informações depreciadoras te prejudicam o trabalho tanto quanto a difamação pode corporificar-se em “verdades aceitas”.

O desânimo sulca a gleba onde aras, habilmente instilado pela tua invigilância.

Reserva-te, porém, cuidados especiais.

Acautela-te, não em relação ao que digam, ao que pensem, ao que creiam os que te cercam, mas, em refe­rência a ti mesmo.

As agressões de fora não atingem realmente a quem busca a verdade e a ela se afervora, vivendo-a, quanto possível, nas províncias do mundo interior.

Não te justifiques nem procures esclarecer.

A verdade dispensa explicações. Simples, é per­suasiva, cativando aqueles que a sintonizam.

Policia as palavras e confia na lição do tempo que fará se defrontem as informações e os fatos, ensejando panoramas legítimos.

Tem em mente que segues no rumo da luz, e que nada te poderá deter. Elegeste a vida verdadeira!

Uma grande mazela para o espírito é a impa­ciência.

O tempo, na Terra, é companheiro infatigável, do qual ninguém foge, nem se consegue furtar. Inexo­ravelmente ele gasta o granito, reverdesce o deserto e doa aridez ao solo fértil.

“O tempo é a sucessão das coisas” (*).

Tudo modifica sem pressa nem agitação.

Todas as pessoas que, por esta ou aquela razão se destacam neste ou naquele mister são rigorosamente fiscalizadas, tornando-se do domínio público.

Criam escola sem o desejarem; fazem-se modelo sem o pensarem; ficam atormentadas sem o perceberem.

Se realizam para um ideal superior não têm tempo para as questiúnculas, — incidentes inevitáveis de fácil superação. — Seguem em frente, para além.

Se, todavia, laboram para si mesmas, empenhadas na divulgação do nome e da obra, perdem-se nas cer­canias da estrada e desajustam-se, feridas por susceti­bilidades e bagatelas ridículas.

Ninguém fica indene, quando trabalha, à maledi­cência e à astúcia dos ociosos.

Todos lhes sofrem a perseguição gratuita nascida nas fontes do despeito e da aflição invejosa que os macera.

Age, portanto, fervoroso e confiante.

Os que te amam compreenderão sempre os teus atos: não esperam de ti mais do que és, mais do que tens, mais do que podes dar. Choram com as tuas lágrimas, sorriem com as tuas alegrias, ajudam-te sem­pre na dificuldade ou no triunfo.

Os que te detestam fazem-se mais adversos quer os esclareças ou não. Utilizando um argumento justo crerão que és vivaz; aplicando uma evasiva te chamarão hipócrita; sacrificado, dirão que te exibes nas roupas da falsa humildade; tranqüilo, zombarão, nomeando-te como explorador irresponsável.

Intentar mudar a face das coisas a golpes de pre­cipitação seria como pretender avançar no futuro, anu­lando a sabedoria que os minutos assinalam.

Produze preocupado com o objetivo de fazer o melhor ao teu alcance e, na certeza de que agradar a todos é positivamente ambição descabida, não preten­das realizá-la.

Retornando aos sítios queridos de Cafarnaum, depois de realizar os mais sublimes labores e sucessos junto aos corações humanos em desalinho, o Mestre foi inquirido ardilosamente por aqueles que desejavam “surpreendê-lo nalguma palavra”, para terem meios de O aniquilar.

“É lícito pagar o tributo a César, ou não?”

“Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse:

Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo”.

“E eles lhe apresentaram um dinheiro.”

—“De quem é esta efígie e esta inscrição?”— Indagou o Senhor.

— ‘‘De César.’’ — responderam.

— “Dai, pois, a César — retrucou o Rabi — o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (1)

Sem retoque no ensino que há vinte séculos rutila como advertência insofismável, dá a tua quota de amor, abnegação e trabalho a Deus, na seara onde hoje serves sob os auspícios do Espiritismo e demora-te sereno, porqüanto os aficionados de César terão sempre meios para te perturbarem, desejosos de dificultarem tuas aspirações superiores com o Pai.

(1) Mateus 22 - 17 a 21.

(*) A Gênese — Capítulo 6º — Ítem 2. - Notas da Autora espiritual.


56

OTIMISMO

“Cada Espírito é sempre o mesmo eu antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase de sua existência.”

A GÊNESE — Capítulo 11º — Item 22.

Desalentado, deixas-te envolver pelos vapores pe­rigosos do pessimismo, como se a mensagem da vida valiosa em toda parte tivesse calado sua voz.

Como te encontras, enfermarás indubitavelmente. Nos redutos sombrios proliferam mais abundante­mente aracnídeos e vermes perigosos.

Pessimismo é mortalha característica para quem se compraz nas trevas da ignorância da vida.

Antolho, limita a visão, impossibilitando o conhe­cimento e a bênção da paisagem.

É preciso combater a depressão que se origina nas fibras dilaceradas da amargura, madre onde se desen­volvem muitos males.

O pessimista contamina aqueles com quem vive e empedernece os sentimentos, demorando-se indiferente a tudo.

Deprecia e combate as aspirações alheias e as alheias realizações.

Ególatra, imobiliza-se, e, circunscrito ao que pensa, quase sempre erradamente, espalha os miasmas que o vencem, disseminando dor e suspeita.

Se te encontras no pórtico sombrio da inquietação sob a ameaça do descrédito, pára a meditar na gran­deza do Pai Criador.

Segundo alguns concepcionistas modernos, se se retirassem da Terra os espaços vazios de que se consti­tui, esta ficaria reduzida a uma esfera com apenas oito­centos metros de raio! E se a mesma operação fosse feita num homem que pesasse setenta quilos, este ficaria reduzido a uma partícula invisível a olho nu, pesando, porém, setenta quilos!...

Os fisiologistas calculam que para o milagre da digestão o estômago dispõe de aproximadamente trinta e cinco milhões de glândulas!.

Os embriologistas esclarecem que “se se pudessem reunir todos os genes como os cromossomos que os seguem e que deram origem à população do Globo” — cerca de três bilhões de pessoas — num só vasi­lhame, estes não encheriam um dedal dos que se utili­zam os costureiros! Merece, no entanto, considerar que em cada um desses genes ultra-microscópicos se encontram o caráter moral, a hereditariedade, as linhas da personalidade, a estrutura óssea, a massa orgânica”, aparência e todos os sinais que identificarão o ser adulto, mais tarde, por estarem impulsionados pelo espírito imortal, embora saibamos que não é exata­mente assim... (*)

Os astrônomos informam que no Universo imenso e nosso Sistema Solar é humilde e desconsiderado cor­tejo de astros. E citam Alfa de Hércules, que se fosse colocada no lugar do nosso Sol, conseguiria com o seu volume engolfar o Astro-Rei, Mercúrio, Vênus, Terra e ultrapassar a órbita de Marte!...

Os entomologistas crêem que há no Orbe terrestre aproximadamente 700.000 espécies de insetos, já devi­damente classificados!...

Tudo nos fala uma excelente linguagem: vida estuante!

Uma alegria radiosa invade o pensamento de quem procura ver e busca entender.

Em todas as coisas há um apelo veemente ao espí­rito humano no que diz respeito ao otimismo.

Revelam-se os panoramas da Natureza inundada de luz, de atividade, vestidos do amor. Harmonias extasiam!

Faz-se necessário romper as amarras do cepticismo e da tristeza para avançar.

Otimismo é também confiança e respeito a Deus, nosso Excelso Pai.

Na Obra com que a Divindade nos enseja longos vôos para o pensamento, a linguagem da força do bem vencedor vibra sem interrupção.

Não confines tuas aspirações aos primeiros insu­cessos, nem te limites aos fracassos iniciais.

Segue mais além, em novas tentativas, conside­rando que nenhum triunfo precede ao labor e se tal acontecesse, não seria um louro de vitória legítima mas uma concessão de glória indébita.

No labor a que te afervoras, esfacela a rotina das tuas tarefas e dá da tua própria pessoa entusiasmo e alegria aos teus quefazeres.

Recondiciona conceitos e situações às realidades do momento em que vives, dilata os recursos da ação edificante e, otimista, opera. Se temeres por não con­cluir o serviço, recorda a lição da vida e deixa-te con­duzir pela certeza de que o teu dever é este: fazer a tua parte, e os resultados no amanhã a Deus pertencem como direito d’Ele.

(*) “O desenvolvimento orgânico está sempre em relação com o de­senvolvimento do princípio intelectual. O organismo se completa àmedida que se multiplicam as faculdades da alma. A escala orgânica acompanha constantemente em todos os seres, a progressão da inteli­gência, desde o pólipo até o homem; e não podia ser de outro modo, pois que a alma precisa de um instrumento apropriado à importância das funções que lhe competia desempenhar”. A GÊNESE capítulo 7º — item 7. - (Nota da Autora espiritual).

57

ANTE O SEXO E O AMOR

“À medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é, depura-se, com o subtrair-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e per­cepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional ao progresso realizado. Entre­tanto, como atua em virtude do seu livre arbítrio, pode ele por negligência ou má von­tade, retardar o seu avanço; prolongar, con­seguintemente, a duração de suas encarna­ções materiais, que, então, se lhe tornam uma punição, pois que, por falta sua, ele per­manece nas categorias inferiores, obrigado a recomeçar a mesma tarefa. Depende, pois, do Espírito abreviar, pelo trabalho de depre­ciação executado sobre si mesmo, a extensão do período das encarnações.”

A GÊNESE Capítulo 11º — Item 26.

Como o fogo que necessita ser disciplinado para ser útil, o sexo deve ser dirigido pelo amor a fim de preencher a sua finalidade santificante.

A chama que a fornalha retém, aproveitando-lhe o calor, quando se movimenta a esmo alastra-se em incêndio destruidor.

O sexo, que perpetua a vida humana nos misteres procriativos quando bem conduzido, é o mesmo ele­mento que escraviza a alma quando transborda desgo­vernado.

Se te encontras em tormentos íntimos, açoitado pelo látego dos desejos infrenes, recorda o amor no seu roteiro disciplinante e corrige o desequilíbrio, imolan­do-o ao dever.

Não acredites que a emoção atendida nas fontes turbadas possa oferecer-te a tranqüilidade que almejas. Amanhã, retomarás, voraz, novamente vencido. E enquanto não a submetas ao crivo rigoroso do teu comando, serás conduzido de forma impiedosa e ani­quiladora.

Busca, assim, a linfa pura do amor, e, sacrificando o impulso momentâneo, lava as impurezas emocionais que te maculam.

Educa o pensamento por onde veiculam os pri­meiros gritos da emotividade desequilibrada.

Todo pensamento que se cultiva, transforma-se em ação que se aguarda.

Compreende que as exigências do desejo de agora nasceram ontem, no abuso da função sexual, quando o amor delinqüiu contigo, favorecendo os excessos pre­judiciais.

Enquanto te inclinas sedento sobre as largas faixas do gozo animalizante, procurando as fácilidades que conduzem à lassidão e à morte, outros corações, mar­cados por sinais indefiníveis, arrastam os delitos do passado em alucinantes punições no presente, chorando em segredo, ao sorverem a taça de fel da correção expiatória.

Não convertas as sublimes experiências da conti­nência sexual em favores degradantes que conduzem à loucura e ao crime.

Ausculta o coração dos favorecidos pelas conces­sões do impulso desgovernado e compreenderás o quanto são infelizes e insaciados.

Procura sondar a própria alma em rigorosa dis­ciplina produtiva, fiel ao roteiro do dever mantenedor da vida, e, se encontrares ardência íntima, constatarás que ela prenuncia libertação consoladora que logo advirá. Por essa razão, a vitória sobre a carne não pode ser protelada com pretexto de “falta de forças”. Se na condição de amo não consegues dirigir, na posi­ção subalterna mais difícil será a tua ordenação.

Os que atravessaram os portais do além-túmulo, vencidos pela lascívia e pelos desvios da função gené­sica, permanecem doentes pela emoção atormentada, transformados em párias sociais. Encontrá-los-ás no caminho das criaturas, envergando roupagens masculi­nas e femininas, retidos em invólucros teratogênicos, quais presidiários em cárceres estreitos e disciplinantes, em longos processos de reeducação.

Ama, portanto, embora não recebas a retribuição.

Ama o dever idealista, inspirado pelas Forças Su­periores, oferecendo tuas energias à produção do bem que libertará o homem de todos os males.

Desenvolve a fraternidade no coração, deixando-a espraiar-se como bênção lenificadora, consoante nos amou Jesus Cristo, corrigindo a inclinação da mente em relação àqueles com quem podes privar da intimi­dade, libertando o espírito e enriquecendo os senti­mentos.

Trabalha em favor dos outros, mesmo que estejas transformado em brasa viva, e vencerás a aflição, rece­bendo as moedas de luz qual salário em forma de sere­nidade.

No entanto, se apesar dos melhores esforços não conseguires a desejada paz, continuando aflito, não creias que, sorvendo a taça embriagadora, amainarás a tempestade. Logo cessando o efeito entorpecente, a sede devoradora retornará, agravando o processo liberativo.

O problema do sexo é do espírito e não do corpo, e só pelo espírito será solucionado.

Procura, antes de novos débitos, o amantíssimo coração de nosso Pai, através da oração confiante, entregando-te a Ele, para que a sua inefável bondade, que nos criou e dirige, nos dê o indispensável vigor de conduzir o nosso sexo em direção do amor sublime que nos proporcionará a legítima felicidade.

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MELANCOLIA

“Pululam em torno da Terra os maus Espíritos em conseqüência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flage­los com que a Humanidade se vê a braços neste mundo.

A GÊNESE — Capítulo 14º — Item 45.

Expulsa a melancolia da tua alma, essa hóspede teimosa que te envolve no dossel de mil amarguras, segredando desânimo e desassossego.

Ninguém está a sós na sua dor.

Melancolia é também enfermidade ou síndrome de obsessão.

Olhos vigilantes contemplam tua aflição; ouvidos discretos registram os apelos da tua soledade.

Há muitos que, acompanhados, caminham em indescritível solidão e há solitários que, seguindo, rece­bem a contribuição de acompanhantes afervorados.

Não suponhas que as lágrimas estanques em teus olhos afoguem todas as tuas esperanças, considerando que muitos olhos incapazes de filtrar o raio luminoso se apagaram, experimentando nas lágrimas o doce banho de refazimento.

Sai do casulo do “eu” e analisa as chagas expostas da humanidade em desalinho e não te atrevas a descon­siderar a misericórdia divina, que coloca bálsamo nas feridas ocultas do teu coração.

Estuga o passo na desabalada jornada do deses­pero.

Detém o corcel das tuas aflições e faze a viagem de volta ao oásis da confiança divina.

Além de ti, na véspera ensolarada, o lírio medra esguio e solitário, embalsamando o ar para sofrer o colibri aligeirado que lhe rouba néctar e conduz o pólen que o reproduz adiante!

Longe da tua dor há dores salmodiando sinfonias inarticuladas de resignação.

Se não podes submeter-te ao imperioso testemunho que te vergasta, dobra-te sobre o assoalho da paciência e aguarda a madrugada do porvir.

A noite que faz dormir os seareiros operosos, des­perta vigilantes para as tarefas noctívagas.

Há esplendor em toda a parte para quem deseja descobrir tesouros nas estrelas fulgurantes no crepe noturno.

Espera mais, alenta o bom ânimo!

A característica da fraqueza é a fragilidade de forças no ponto vulnerável do sofrimento.

Rogaste, antes do mergulho carnal, a alta conces­são do testemunho em soledade, em abandono, sem parentes.

Agora, lembra-te de Jesus, e em todas as tuas horas reparte da mesa rica das aflições as pequenas quotas dos teus rápidos sorrisos com aqueles cuja boca se entorpeceu na inanição e não na podem abrir para entoar melodias de alegre esperança.

Esparze a quota do teu suor, enxugando suores que não encontram sequer uma toalha gentil em mãos compassivas para lhes coletar as bagas.

Se desejas sucumbir, porém, ao peso egoísta da inflamação dos teus desencantos doa-te ao Mártir Gali­leu e torna a tua vida, considerada morta, um verda­deiro sendeiro sublimante para aqueles que desejam viver e sobreviver e não possuem combustível que lhes alimente a chama da jornada carnal.

Enxuga as tuas lágrimas e busca aquele Consola­dor preconizado por Jesus, que viria restabelecer a ver­dade na Terra, e ficaria, em Seu nome, ao lado dos homens até a consumação dos evos.

Abraçado a esse sublime consolo da Doutrina Espírita, que te amplia, além dos horizontes da vida, as perspectivas da eternidade, sonha com o teu amanhã ridente e confia no reencontro mais tarde, depois que as sombras da morte se abatam sobre tuas células can­sadas e o sol glorioso da vida te aponte o céu sem fim da felicidade.


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IMPRESSÕES DE OTIMISMO

“É de notar-se que em todas as épocas da História, às grandes crises sociais se seguiu uma era de progresso.”

A GÊNESE — Capítulo 18º — Item 33.

Rememorando as excelentes mensagens do Evan­gelho, constatarás que de todos os ensinos do Senhor ressumbram sempre otimismo, alegria e esperança.

Toda a Boa Nova é um hino de louvor à vida.

Elegendo a Natureza policromada para cenário Jesus, sob a abóbada celeste e sobre a barca levemente balançante, bordou de bênçãos suas palavras, assina­lando com vigor os conceitos de alevantamento moral e coragem.

Diante de enfermos e oprimidos fêz-se saúde e bálsamo; ante a alacridade infantil abriu os braços e agasalhou os pequeninos; aos lamentos dos pecadores respondeu com as dádivas da compreensão; defrontan­do o moço afortunado acenou-lhe com eterna herança; perante a falsa justiça dos poderosos da Terra senten­ciou pelo exemplo da serenidade.

E assim o Evangelho é a mais profunda e perfeita afirmação de alegria e paz que se conhece.

Não te deixes acabrunhar nem entristecer, em mo­mento algum da vida.

Acabrunhamento é sentença fatal e tristeza é som­bra na sombra do problema.

Retempera o ânimo no ardor da luta e renova o entusiasmo.

O ferro, para resistir à umidade, suporta altas tem­peraturas e o diamante espera milhões de anos sob incalculável pressão para formar-se.

Recupera a coragem na forja das transformações que a vida diária te impõe, mas acima de todas as circunstâncias vitaliza a alegria.

Quem serve e sofre com destemor sem os reflexos deprimentes estampados na face produz mais e realiza com melhores resultados.

Alegria é saúde.

Não se faz preciso que o teu júbilo provoque alga­ravia nem que a tua satisfação espalhe balbúrdia.

A alegria pura contamina os que estão em volta. Semelha-se à saúde, conseguindo projetar equilíbrio na­queles que estão ao lado.

Os modernos tratados de Higiene Mental prescre­vem a descompressão moral e mental pelo espaireci­mento, pelos esportes, pela mudança de atividades.

Muito se tem escrito sobre as fórmulas proveitosas dos “pensamentos positivos” elaborando resultados efi­cientes, imediatos.

A Psicologia ao estudar mais profundamente a psiquê humana, através da Psicanálise constata que todas as impressões conscientes ou não se arquivam na inconsciência, de cujos depósitos transitam, retornando à consciência, a seu tempo.

Ora, enviando-se mensagens constantes e positivas aos arquivos da mente, oportunamente estas aflorarão realizando o mister a que se destinam.

Pouco importa que as impressões remetidas sejam acreditadas ou não, O essencial é que sejam enviadas ininterruptamente, de tal modo que consigam expulsar aquelas que criaram o clima de pessimismo em que habitas.

Já o Apóstolo Paulo na sua primeira série de Epís­tolas aos tessalonicenseS, no capítulo cinco e versículo dezessete, ensinava a necessidade de “orar sem cessar”...

Muitos cristãos e também espíritas procuram justi­ficar-se dizendo não saberem orar.

Naturalmente que àqueles que consideram as coisas possíveis, possíveis estas se fazem.

Todavia, a fixação da possibilidade obedece ao mesmo mecanismo de registro, que o tempo consegue dominar com ou sem aceitação consciente disso.

Dize diariamente e muitas vezes “sou feliz, luta­rei, pois, contra as minhas imperfeições, consoante os ditames cristãos”.

Criarás um hábito, empolgar-te-ás com ele, conse­guirás a prática das virtudes evangélicas, a princípio por automatismo psicológico, depois por entusiasmo racional.

Começa a considerar todas as pessoas como sendo bondosas e amigas; refere-te às suas qualidades supe­riores, mínimas que sejam, sem azedume, e descobrirás, surpreso, em breve, que todos são realmente bons nos seus valores afirmativos. .

Também te impregnarás de bondade e cantarás, sem que o percebas, a mesma alegria do Senhor e dos Seus discípulos, começando novos tempos para a pró­pria vida na Terra, sereno e realmente ditoso.

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ANTE O NATAL

“625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?”

“Jesus”.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Considerando a alta significação do Natal em tua vida, podes ouvir e atender os apelos dos pequeninos esquecidos no grabato da orfandade ou relegados às palhas da miséria, em meória de Jesus quando menino; consegues comprender as dificuldades dos que cami­nham pela via da amargura, experimentando opróbrio e humilhação e dás-lhes a mão em gesto de solidarie­dade humana, recordando Jesus nos constantes teste­munhos; abres os braços em socorro aos enfermos, estendendo-lhes o medicamento salutar ou o penso bal­samizante, desejando diminuir a intensidade da dor, evocando Jesus entre os doentes que O buscavam, inf e­lizes; ofereces entendimento aos que malograram moral­mente e se escondem nos recantos do desprezo social, procurando-os para os levantar, reverenciando Jesus que jamais se furtou à misericórdia para os que os foram colhidos nas malhas da criminalidade, muitas vezes sob o jugo de obsessões cruéis; preparas a mesa, decoras o lar, inundas a família de alegrias e cercas os amigos de mimos e carinho pensando em Jesus, o Exce­lente Amigo de todos...

Tudo isto é Natal sem dúvida, como mensagem festiva que derrama bênçãos de consolo e amparo, espa­lhando na Terra as promessas de um Mundo Melhor, nos padrões estabelecidos por Jesus através das linhas mestras do amor.

Há, todavia, muitos outros corações junto aos quais deverias celebrar o Natal, firmando novos propó­sitos em homenagem a Jesus.

Companheiros que te dilaceraram a honra e se afastaram; amigos que se voltaram contra a tua afeição e se fizeram adversários; conhecidos caprichosos que exigiram alto tributo de amizade e avinagraram tuas alegrias; irmãos na fé que mudaram o conceito a teu respeito e atiraram espinhos por onde segues; colabo­radores do teu ideal, que sem motivo se levantaram contra teu devotamento, criando dissensão e rebeldia ao teu lado; inimigos de ontem que se demoram inimigos hoje; difamadores que sempre constituíram dura provação. Todos eles são oportunidade para a cele­bração do Natal pelo teu sentimento cristão e espírita.

Esquece os males que te fizeram e pede-lhes te perdoem as dificuldades que certamente também lhes impuseste.

Dirige-lhes um cartão colorido para esmaecer o negrume da aversão que os manteve em silêncio e à distância nos quais, talvez, inconscientemente te com­prazes.

Provavelmente alguns até gostariam de reatar liames... Dá-lhes esta oportunidade por amor a Jesus, que a todo instante, embora conhecendo os ini­migos os amou sem cansaço, oferecendo-lhes ensejos de recuperação.

O Natal é dádiva do Céu à Terra como ocasião de refazer e recomeçar.

Detém-te a contemplar as criaturas que passam apressadas. Se tiveres olhos de ver percebê-las-ás tris­tes, sucumbidas, como se carregassem pesados fardos, apesar de exibirem tecidos custosos e aparência cuida­da. Explodem fácilmente, transfigurando a face e deixando-se consumir pela cólera que as vence impla­cavelmente.

Todas desejam compreensão e amor, entendimento e perdão, sem coragem de ser quem compreenda ou ame, entenda ou perdoe.

Espalha uma nova claridade neste Natal, na senda por onde avanças na busca da Vida.

Engrandece-te nas pequenas doações, crescendo nos deveres que poucos se propõem executar.

Desde que já podes dar os valores amoedados e as contribuições do entendimento moral, distribui, tam­bém, as jóias sublimes do perdão aos que te fizeram ou fazem sofrer.

Sentirás que Jesus, escolhendo um humílimo refú­gio para viver entre os homens semeando alegrias incomparáveis, nasce, agora, no teu coração como a informar-te que todo dia é natal para quem o ama e deseja transformar-se em carta-viva para anunciá-lo às criaturas desatentas e sofredoras do mundo.

Somente assim ouvirás no imo d’alma e entenderás a saudação inesquecível dos anjos, na noite excelsa:

“Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa von­tade, para com os homens” — vivendo um perene natal de bênçãos por amor a Jesus.

Fim